Visão curtinha. Pensar que se se desenvolvesse um caça o retorno seria dado pelo número de caças vendidos.
Só no desenvolvimento de materiais compósitos e software (AI) que seria desenvolvido o salto tecnológico e/ou know how seria gigante. As aplicações na indústria nacional seriam para lá de muitas. Mas o pessoal o que quer é montar chapas de metal umas às outras e fazer munições. Cenas que embora dessem retorno acrescentam zero ao know how nacional.
O problema é que para desenvolveres um caça de forma "bilateral", tinhas que espetar uns 2% do PIB só no desenvolvimento, e isto é assumindo que os suecos comportam a maioria dos custos. Depois, em vez de pagares 5500 milhões por 27 caças, tinhas de pagar 7/8 mil milhões por 20, ou se calhar até mais, por ser um caça novo, mais caro e que terá produção em números relativamente limitados.
Depois a pergunta que faço é qual seria a nossa contribuição real para um programa desses? Só euros, e os outros fazem o resto, e depois nós temos o benefício de produção parcial da aeronave? Ou conseguiríamos participar em alguma coisa importante, mesmo sabendo que os suecos terão que recorrer a muita coisa "off the shelf"? Vendo a nossa participação de uma forma realista, qual seria o know-how ganho, que não podia ser obtido com outro projecto aeronáutico menos arriscado?
Vamos agora pegar num valor base (fora do orçamento de Defesa e da LPM) de
2000 milhões (exemplo), para investir na indústria de Defesa e/ou participação em programas específicos até ao ano X.
Opção 1:
-investes a totalidade desta verba no desenvolvimento do novo caça da Saab, e não te sobra mais nada
Opção 2:
-investes 500 milhões na construção naval, capacitando 1 ou 2 estaleiros nacionais para produzir navios militares mais complexos (nomeadamente fragatas)
-investes 500 milhões na indústria de drones, nomeadamente para desenvolvimento de UAVs e UCAVs, loitering munitions, etc
-investes 500 milhões na indústria de munições, e com este valor tens um enorme leque de opções, que vão desde a fabricação de munições mais convencionais, até participação directa no desenvolvimento e produção de munições mais complexas (participar no programa 3SM por exemplo)
-os restantes 500 milhões podes aplicar no reforço dos pontos acima, podes investir num sector específico, podes dividir por alguns programas mais pequenos, podes investir num programa de oportunidade que surja na altura (um possível avião de treino avançado em conjunto com Espanha)
Eu acho a Opção 2 muito menos arriscada, e permite-nos entrar em vários mercados, e não apenas um. Ganhas competências e know-how em várias frentes. Quem sabe, o investimento na construção naval permitisse que futuros submarinos já fossem parcialmente fabricados em Portugal (facilitando a sua recepção pela opinião pública). Quem sabe se o investimento em drones nos permite estar na linha da frente para programas multinacionais de drones "loyal wingman" e IA.