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Economia => Mundo => Tópico iniciado por: Paisano em Maio 13, 2006, 05:26:44 am

Título: Gás da Bolívia - Da Nacionalização à Provocação
Enviado por: Paisano em Maio 13, 2006, 05:26:44 am
As surpreendentes mudanças de Morales*

Fonte: www.tribunadaimprensa.com.br/ (http://www.tribunadaimprensa.com.br/)

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Da nacionalização à provocação

O leitor é testemunha: desde o primeiro momento compreendi perfeitamente a posição do presidente Morales da Bolívia em relação ao seu petróleo e gás. Depois de ter perdido oportunidades com o cobre, a prata, salitre, estanho e cassiterita, a Bolívia tinha todo o direito de usar o gás e o petróleo para satisfação e enriquecimento do seu povo, e não para o permanente empobrecimento.

Aceitei e defendi o decreto de nacionalização dessas riquezas, a Bolívia tinha todo o direito de recorrer a esses recursos. Mas deixei bem claro, sempre, que a nacionalização, legítima, tinha que ser seguida pela negociação, também legítima, mas indispensável. A nacionalização era a forma de preservar a riqueza. A negociação, o caminho para industrializá-la, colocá-la a serviço do povo da Bolívia.

Este é o quinto artigo que escrevo sobre o assunto, não mudei uma linha que fosse em relação à Independência do Brasil e a conseqüente Independência da Bolívia. É a minha orientação de sempre, defesa do interesse nacional e defesa dos mesmos interesses de países que pretendem simplesmente enriquecerem ou pelo menos diminuírem a pobreza, negociando de forma justa aquilo que possuem.

Mas o título do terceiro artigo já deixava bem clara minha preocupação com os rumos dos acontecimentos. Quando coloquei na matéria "A MARCHA DA INSENSATEZ", pretendia mostrar que o que caminhava para ficar bem visível era o confronto e não o entendimento. Critiquei os dois lados, o Brasil e a Bolívia.

O Brasil, por não acelerar a negociação. A Bolívia, por abandonar essa mesma negociação, se convencer do impossível: que o gás embaixo da terra, sem ser retirado, pode significar riqueza. E a Bolívia, sem o Brasil, não tem a menor condição de vender esse gás pelo preço que estipular, naturalmente encontrando um comprador interessado, que só pode ser o Brasil.

Esse terceiro artigo foi escrito sob o impacto da manipulação vergonhosa do presidente Chávez sobre o presidente Morales, na presença omissa do presidente Lula. E o desinteresse do presidente Kirchner, que nem sabia o que fazia ali. O quarto artigo, o de ontem, antes da provocação, revelava a possível entrada da Índia e da China como potenciais (mas impossíveis) compradores desse gás.

Agora, Morales, insensato, comete a mais absurda provocação. E relembra, apelando para total inverdade, a questão do Acre há mais de 100 anos. Isso não é apenas insensato, mas também longe da realidade, demonstrando a clara manipulação que Morales está sofrendo. E se rendendo gostosamente a ela.

É total ignorância histórica ou até mesmo leviandade dizer que a Bolívia "como pagamento por ter perdido o Acre recebeu apenas um cavalo". Isso é ridículo e inverídico. A Bolívia nem sabia onde ficava o Acre em 1867. O Brasil era dono e senhor de todo o território, que nem é tão grande assim, são apenas 153 mil quilômetros. Que esse ato de provocação sem base na realidade não impossibilite as negociações indispensáveis.

Em suma

1 - A Bolívia tem todo o direito de nacionalizar suas riquezas.

2 - Tem todo o direito de cobrar por essas riquezas o preço que bem entender.

3 - Não pode esquecer que esse preço pode ser ilimitado desde que haja comprador.

4 - Também não pode ser insensato a ponto de hostilizar quem já está lá, a Petrobras, que está disposta a conversar sobre preço.

PS - Minha posição não mudou uma linha que seja, como está demonstrado. Mas reiterando o que está no título destas notas: a negociação não pode ser substituída pela provocação. A Bolívia sabe disso, o Brasil não ameaça a Bolívia.

PS 2 - No momento, a grande ameaça ao futuro da Bolívia vem da Venezuela. Por causa da subserviência de Morales a Hugo Chávez.

(...)

*Helio Fernandes
Título:
Enviado por: Marauder em Maio 13, 2006, 09:24:26 am
Verdade, aqui na Alemanha eu li no Der Spiegel que, o homem até tem coração bom, mas que precisa de aprender muita coisa. E pronto, tenta fazer as coisas à maneira dele. É como meter um simples agricultor de coca a comandar um país (hum...isto não é exemplo..é a realidade).

  E claro, a influencia de Chávez..
Título:
Enviado por: AugustoBizarro em Maio 13, 2006, 10:29:16 pm
Do ponto de vista do Interesse Nacional Boliviano, Evo Morales é um Patriota.

Porque motivo a riqueza mineral e energética da Bolivia há-de sair do País a troco de uma esmola, sendo o grosso do lucro amealhado por Empresas estrangeiras?

Num cenário ideal, 100% do Gás e minérios da Bolívia seriam extraídos por Empresas Bolivianas para que 100% do lucro fique no País.

O Gás é Boliviano, quem o pretender, que pague.

Claro que com a típica corrupção e traição por parte de indivíduos que vendem o País a troco de umas migalhas, fenómeno bastante recorrente na America Latina, e noutros pontos do Globo mais vulneráveis.

O cenário ideal não sendo possível (Ou seja, A Bolívia não tendo AINDA a capacidade industrial e tecnológica de desenvolver tais projectos independentemente),  então é fazer como Evo Morales acaba de fazer, forçando as Empresas Estrangeiras a pagar 50% de imposto , em vez de 18%.  

E parece-me que o valor até está baixo. Sendo o Gás 100% Boliviano,  sai do País e somente 50% do lucro fica na Bolívia.

E um indivíduo que se considere Latino, tem é que aceitar esta medida como positiva, pois o sucesso de qualquer país Latino, é do interesse de todos os Latinos.

Para que um dia os "gringos" engulam as palavras de desprezo pelos povos Sul Americanos.

P.S. - Eu suspeito que o Brasil nunca veria com bons olhos, que por exemplo 100% da produção nacional de açúcar estivesse em mãos estrangeiras. E não se pode culpar a Bolívia por não querer financiar as necessidades energéticas do Brasil a preço de desconto, tendo a Bolívia ainda por cima tanta miséria. Tal como o Brasil em situação idêntica nunca aceitaria.
Título:
Enviado por: Bravo Two Zero em Agosto 22, 2006, 08:15:36 am
Do DD:

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Bolívia: Decreto de nacionalização não cumprido

O Ministério dos Hidrocarbonetos da Bolívia anunciou na, segunda-feira que encontrou «indícios» de que o presidente da petrolífera estatal YPFB, Jorge Alvarado, não cumpriu o decreto de nacionalização do sector.

 


O incumprimento estaria no facto de Alvarado ter assinado com uma empresa intermediária um contrato de exportação de crude para o Brasil.

A irregularidade terá sido descoberta ao ser revisto um contrato que a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) assinou, em Julho, com a empresa Iberoamérica.

A tutela da Hidrocarburos já tinha denunciado aquele contrato, o que desencadeou um escândalo político que chegou até ao presidente Evo Morales.

Alvarado recebeu o relatório da auditoria do Ministério na semana passada e tem dez dias para contestar, enquanto o Chefe de Estado aguarda ainda os resultados de uma investigação do Ministério Público para tomar uma decisão.

Diário Digital / Lusa

 


Bem, o presidente da petrolífera já não se safa.................mais um "inimigo da revolução"
Título:
Enviado por: Paisano em Setembro 15, 2008, 04:37:09 am
A receita Bush para balcanizar a Bolívia*

Fonte: http://www.tribunadaimprensa.com.br/ (http://www.tribunadaimprensa.com.br/)

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Apesar dos equívocos de sua linha editorial nos últimos anos, a "Folha de S. Paulo" ainda é capaz de surpreender e fazer diferença - ao contrário do resto da grande mídia - organizações Globo, "Veja", "Estadão" etc. Um crítico gringo-brasileiro dessa mídia, Colin Brayton, chamou atenção em seu blog irreverente (leia aqui: Sousaphone Tupiwire (http://http)) para um artigo profético publicado há 15 meses pela "Folha".

Sob o título "A Balcanização da Bolívia", era assinado por Luiz Antonio Moniz Bandeira, jornalista que se tornou cientista político sem perder o vício de escrever para jornais. Desde que lançou o livro "Presença dos EUA no Brasil", no início da década de 1970, tem sido um dos melhores analistas das relações entre os EUA e a América Latina. E em julho do ano passado previu a missão oculta de Philip Goldberg: dividir a Bolívia.

Goldberg é o embaixador que o presidente boliviano Evo Morales expulsou do país devido à ingerência nos assuntos internos da Bolívia em meio à atual crise. A 15 de julho de 2007, Moniz Bandeira tinha ido direto ao ponto, ao alertar: "Esse diplomata tem experiência em conflitos étnicos e tendências separatistas, que irromperam no Leste europeu após a desintegração da Iugoslávia."

A missão e as credenciais

Ele lembrou que de 1994 a 1996, Goldberg trabalhara na questão da Bósnia, no Departamento de Estado; fora assistente especial do embaixador Richard Holbrooke, o artífice da desintegração da Iugoslávia; e servira como chefe da Missão dos EUA em Pristina, Kosovo (2004-06), onde orientou a separação dos Estados da Sérvia e Montenegro, após haver sido ministro conselheiro na Embaixada dos EUA em Santiago do Chile (2001-04).

É bem conhecida a atração particular que a riqueza energética alheia exerce sobre a dupla petrolífera Bush-Cheney. E Moniz alertou então para os recursos naturais de Santa Cruz de la Sierra, "onde estão 2,8 trilhões de pés cúbicos de gás dos 26,7 trilhões de reservas provadas da Bolívia. Se somadas às prováveis, o volume sobe a 48,7 trilhões de pés cúbicos".

A suspeita óbvia em La Paz, como também observara Moniz na época, era de que Golberg tinha sido escolhido a dedo para "conduzir o processo de separação de Santa Cruz de la Sierra, caso ela ocorra após a aprovação da nova Constituição e em meio à exacerbação das tensões étnicas, sociais e políticas, aguçadas pelo choque de interesses econômicos das distintas regiões da Bolívia".

Ante o quadro atual naquele país, só resta dizer que Goldberg cumpriu a missão. A presença fortaleceu a rebelião separatista, ratificando o poder da ação quase sempre desagregadora da diplomacia americana quando a riqueza energética de um país está em jogo. Depois da II Guerra, isso ficou claro a partir do caso conspícuo do golpe da CIA no Irã em 1953, para derrubar Mohamed Mossadegh e instalar Reza Pahlevi no poder.

Dividir para tomar a riqueza

No Iraque a primeira aposta dos EUA após a saída das tropas iraquianas do Kuwait foi no separatismo, de novo através da CIA, que armou e financiou os curdos, depois abandonados à própria sorte por George Bush pai. A idéia do separatismo não vingou em 2003 porque países árabes aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, condicionaram o apoio a garantias de que a integridade territorial seria mantida.

Como a prioridade maior é para o controle dos recursos energéticos, o governo Bush não vê incoerência em ficar contra a separação da rebelde Ossétia do Sul, com população de maioria russa, que se declarou independente da Geórgia. Nesse caso só consegue pensar no oleoduto que atravessa a Geórgia, levando o petróleo do Azerbaijão, capaz de reduzir a dependência do Ocidente do produto do Oriente Médio.

Mas do lado de cá do mundo, na nossa América - em oposição à deles, ao norte - a pergunta é se os EUA estão obstinados em retalhar nossos países. Na sua edição do outono de 1999, a importante revista "Foreign Policy" publicou um ensaio sob o título "Too Many Flags?" (Bandeiras demais?), assinado por um pesquisador da Universidade de Harvard, Juan Enriquez-Cabot, reclamando exatamente isso.

Na África, Ásia e África, argumentou Enriquez-Cabot, as nações se dividem em ritmo sem precedentes, mas o hemisfério ocidental tem ficado imune aos impulsos secessionistas. O ensaio alegou que as fronteiras das Américas não são tão estáveis como parecem. E que países pequenos como Luxemburgo, Cingapura e Suíça estão entre os que mais prosperaram depois da II Guerra Mundial.

O porrete sem a fala macia

Entre os exemplos dados por ele estavam as nações indígenas - os maias teriam parte do México e Guatemala; os mapuches, do Chile. Não basta para justificar a paranóia de quem teme complôs contra a Amazônia? Ianomâmis independentes com partes do Brasil e Venezuela, conforme parecem sonhar ONGs da Europa e EUA? Enriquez diz que em países em desenvolvimento os mais pobres dos pobres - maias, mapuches - se perguntam que benefícios reais têm com a atual identidade nacional.

Relacionando o artigo do acadêmico de Harvard a certos dados citados na época pelo "Economist", de Londres, Andrés Oppenheimer, colunista do "Miami Herald" dedicado a questões hemisféricas, apaixonou-se pela idéia. E concluiu que o mapa latino-americano será diferente em 2050. "O mundo tinha 62 países em 1914. Em 1946 o total já era 74. Hoje já pulou para 193", argumentou.

Enriquez vai mais longe. Vê países como corporações no império globalizante do neoliberalismo: "Hoje os governos que querem manter as fronteiras intactas têm de tratar os cidadãos como acionistas, que podem vender as ações, forçar mudanças na administração ou reduzir o tamanho do estado". Quanto mais globalizado o mundo, menos traumática será para os nacionalistas a divisão de seus estados, diz. "A globalização reduz o mundo às suas partes componentes, mesmo quando junta essas partes".

Para ele, os governos do hemisfério só sobreviverão com as atuais fronteiras se derem mais autonomia a grupos regionais sem insistir nas "velhas doutrinas autoritárias obcecadas por soberania". Notaram o horror à soberania alheia? Ted Roosevelt, ao separar o Panamá da Colômbia e roubar o canal, usava porrete ("big stick") e fala macia ("speak softly"). Bush, com a IV Frota no Atlântico Sul, dispensa a conversa.

*Argemiro Ferreira