Falha técnica: NASA adia missão para auscultar Marte
Apesar da distância a que está da Terra, Marte já revelou muitos dos seus segredos geológicos à superfície: conhecem-se ali hoje crateras e vales, antigos leitos de ribeiros e montanhas, sabe-se que já ali houve água abundante e que talvez ainda hoje ela ali desponte, quando a temperatura é menos gelada. Mas como é Marte por dentro? Que movimentos internos tem e o que está na sua origem? Eis um vasto território desconhecido que tão cedo não será, afinal, desvendado, porque a missão que ia fazer estas medições acaba de ser adiada.
Coordenada pela NASA, a missão internacional InSight tinha lançamento agendado para março de 2016, mas um problema com um dos instrumentos, um sismómetro, que não pôde ser reparado a tempo, fez abortar a missão, para grande desapontamento dos seus responsáveis e dos cientistas planetários. A sonda InSight deveria pousar no Planeta Vermelho para ajudar a traçar um retrato da sua estrutura interna.
Se os custos da espera forçada compensarem, na melhor das hipóteses só volta a haver nova opor- tunidade de lançamento em 2018. Mas essa é uma decisão que a NASA só vai tomar dentro de alguns meses. No anúncio da decisão, a agência americana sublinhou, no entanto, que se mantém "totalmente empenhada na exploração científica e na descoberta de Marte".
O problema ocorreu no sismómetro, o Seismic Experiment for Interior Structure, o SEIS, um instrumento concebido para medir movimentos tão mínimos quanto o diâmetro de um átomo. A precisão do equipamento e as condições extremamente agrestes do ambiente marciano impunham que os três sensores do SEIS estivessem selados no interior de um compartimento de vácuo, mas a equipa francesa do CNES, a agência espacial francesa, que construiu o instrumento, não conseguiu garantir a selagem de vácuo. Os técnicos ainda estiveram até à última a tentar resolver o problema, mas a fuga no compartimento selado não pôde ser resolvida. Os últimos testes, na segunda-feira, mostraram que ele persistia.
Este é um desaire para a missão, mas também para a equipa francesa. "É a primeira vez que se constrói um instrumento deste tipo com tamanha precisão. Estivemos muito perto de conseguir fazê-lo, mas ocorreu uma anomalia que exige mais investigação. A nossa equipa vai encontrar uma solução para resolver o problema, mas não a tempo do lançamento em março", lamentou Marc Pircher, o diretor do Centro Espacial de Toulouse, do CNES, onde o instrumento foi cons- truído.
Entre os mais desapontados estão também os cientistas planetários que estavam a contar com os dados da InSight. "Estamos muito dececionados, devastados seria até uma palavra melhor", confessou a bioquímica norte-americana Lisa Pratt, da Universidade de Indiana, que trabalha com a NASA e cuja equipa ia estudar os dados. "Temos estado todos à espera de um instrumento sismológico em Marte, depois das missões Viking", sublinhou.
DN