Artigo de opinião de MST

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Artigo de opinião de MST
« em: Setembro 15, 2004, 02:55:36 am »
Gostava que lessem este texto de MST e comentassem. Obrigado. Cumprimentos.

O Islão e o Terror
Por MIGUEL SOUSA TAVARES
Sábado, 11 de Setembro de 2004

Finalmente, alguém no mundo islâmico pôs a mão na consciência e ousou dizer alto a terrível verdade: "Todos os terroristas do mundo são muçulmanos." O autor desta frase, tão verdadeira quanto cruel, não foi (ainda) algum imã, algum dirigente religioso islâmico, mas sim um "civil": o jornalista Abdul-Rahman al-Rashed, director da televisão Al-Arabya e colunista do jornal "Ashark al-Awsat". Seguramente que al-Rashed irá passar por traidor entre os círculos religiosos e grande parte do mundo árabe e muçulmano, tanto mais que à constatação de facto ele acrescenta uma justificação que contém em si mesma a condenação moral da sociedade islâmica de hoje: "Os nossos filhos terroristas são o produto final da nossa cultura corrompida."

Manda a verdade que se diga que nem todos os terroristas, rigorosamente, são muçulmanos: Israel pratica, com a justificação da autodefesa, uma forma de terrorismo que, nem por ser aprovado e executado ao nível do Estado, deixa de o ser também. O terrorismo político, social e securitário de Israel constitui ainda hoje, aliás, a fonte de legitimação do terrorismo muçulmano aos olhos de uma crescente comunidade de crentes do islão. Reconhecesse Israel, sem subterfúgios de qualquer espécie, o direito dos palestinianos de viverem numa pátria livre e viável, a par do seu próprio direito de viver em fronteiras seguras, e grande parte das justificações políticas ou teológicas do terrorismo islâmico cairia por terra, no mesmo dia.

À parte, porém, a excepção importante de Israel, o que os factos mostram é que desde o assalto de um comando palestiniano à aldeia olímpica israelita, nos Jogos de Munique - uma espécie de "acto fundador" do terrorismo moderno - até ao massacre de Beslan, sábado passado, toda esta desumana barbárie que nos vamos tragicamente habituando a viver tem sempre, na sua génese e na sua autoria, a assinatura de gente que se reclama dos ensinamentos do Corão e das "fatwas" do clero islâmico. Vai um pequeno passo daí até podermos concluir que o mal está no islão, naquilo em que ele se transformou e naquilo que, acima de tudo, ele representa hoje em dia: uma escola de intolerância, ressentimento e ódio, devotada ao ressurgimento de um espírito de cruzada contra os "infiéis", que remete a humanidade para um mundo medieval e obscurantista, onde o serviço de Deus, fosse Ele cristão, muçulmano ou hindu, justificava toda a espécie de crimes. Em nome de Deus, o catolicismo promoveu ou legitimou, sucessivamente, as Cruzadas, a Inquisição, a exterminação dos índios das Américas, a perseguição e a intolerância dos missionários da Índia contra os "gentios" e o tráfico de escravos de África. E, no fim, não foi nenhum movimento redentor, nenhum acto de contrição nascido dentro da própria Igreja Católica, que veio deslegitimar a barbárie e o arbítrio em nome de Deus: foram as ideias da Revolução Francesa, a proclamação dos Direitos do Homem, os movimentos civilistas que finalmente se impuseram no Ocidente às sociedades civilizadas.

É justamente o que não se vê existir hoje no mundo islâmico e, em particular, no mundo árabe: um movimento civilista, o triunfo do homem, da ciência e do progresso sobre o fanatismo religioso. O que outrora fez o esplendor da civilização árabe parece ter sucumbido para sempre na trágica rendição de Granada, como se em 1482 não tivesse caído apenas uma cidade, mas verdadeiramente toda uma civilização. Hoje, sentados sobre os lençóis de petróleo de que depende a sustentação económica do Ocidente, tanto parece bastar aos árabes para justificar a sua superioridade. Mas, em todos os domínios que caracterizam as sociedades evoluídas do nosso tempo - a saúde, o sistema de ensino, o domínio das tecnologias modernas, o sistema de segurança e protecção social, a produtividade do trabalho, a tributação fiscal e o exercício inteiro da cidadania -, não há uma só contribuição que não tenha origem no Ocidente. Quer sigam ou não à risca os mandamentos da sua religião, sempre e sempre invocada, quer respeitem ou desprezem os valores do Ocidente, todos os dias há multidões de cidadãos de países muçulmanos que tentam atravessar o estreito de Gibraltar para Espanha, que tentam emigrar da Argélia para França, da Turquia para a Alemanha, do Paquistão para Inglaterra ou da Palestina para os Estados Unidos. Não vão apenas à procura de trabalho e de condições materiais de vida dignas - que é uma vergonha não encontrarem nos seus países de origem -, mas vão também à procura de tudo o que lhes pode oferecer uma sociedade livre e laica. E é por isso que não existe o movimento contrário: que, mesmo os ocidentais fascinados com o mundo árabe, como eu próprio, não estão dispostos a trocar o modo de vida em que se funda a sua cultura e os seus valores por um outro mundo onde quem manda em nós, na nossa casa, nos nossos hábitos, na nossa família e no nosso país são uns guardiões de um texto dito sagrado, escrito por um Profeta há mais de mil e quinhentos anos, e destinado a povos nómadas do deserto e a sociedades que ou já não existem ou há muito deveriam ter deixado de existir.

É preciso que não haja confusão nem pudor algum sobre isto: nós temos razão e eles não. O quinto mandamento dado a Moisés, "não matarás!", é o que distingue os homens dos assassinos. A liberdade individual é infinitamente mais justa e própria da condição humana do que o cumprimento das "verdades" reveladas no código penal medieval que é o Corão. O Estado laico é o único que assegura a liberdade e a dignidade da pessoa, face ao arbítrio e ao obscurantismo do Estado religioso. Deus é um assunto e uma vontade individual de cada um, inalienável a favor do Estado, da escola ou de intermediários autonomeados.

Na última edição da PÚBLICA vem uma entrevista feita por Paulo Moura ao marroquino-francês Thami Bréze, presidente da UOIF, a maior organização muçulmana actuante em França. O objectivo que ele diz pretender é conciliar os valores do islão com os da República Francesa. Ora, isto é, em si mesmo, impossível, contraditório e deve levar-nos a desconfiar e a ficar imediatamente alerta: trata-se de um cavalo de Tróia. Não há convivência possível entre os ensinamentos do Corão e os valores civilistas de 1789. Repare-se, por exemplo, como ele coloca a questão do uso do véu islâmico: as raparigas muçulmanas têm a "liberdade" de o não usar, mas, se quiserem seguir a "verdade" que lhes é ensinada nas escolas corânicas e dentro de casa, têm de o usar - ou seja, resta-lhes a liberdade de poderem trair, porque a verdade, essa, há-de permanecer imutável para sempre.

Mas Thami Bréze também sabe que o Corão é um texto datado, cuja leitura literal não faz hoje o mais pequeno sentido, mesmo para os próprios crentes. Isso torna-o, reconhece ele, um "texto muito perigoso", que requer interpretação e regras, "não se faz como se quer". Logo, "o problema é quem faz a interpretação, quem é a autoridade". Justamente: eis a fragilidade do islão. Não subsiste sem autoridade religiosa, sem clero, sem intérpretes autolegitimados da palavra divina. Só que, ao contrário do catolicismo, não existe uma autoridade suprema que fixe a melhor doutrina, não há concílios, não há encíclicas: cada escola interpreta o Corão como entende ou como melhor lhe serve para outros fins. No Irão, o "ayatollah" Khomeini interpretou-o de tal forma que, de um dia para o outro, o país regrediu cinco séculos; no Afeganistão dos taliban, o extremo chegou ao ponto de as mulheres serem proibidas de estudar, trabalhar, sair à rua e até serem atendidas nos hospitais; na Arábia Saudita, as escolas corânicas formaram os ideólogos da Al-Qaeda, e em Marrocos, na Argélia, no Egipto ou no Sudão, formam hostes de assassinos, para quem matar os próprios vizinhos e irmãos é uma forma suprema de cumprir os mandamentos do Profeta. Qual é então, afinal, a verdade única revelada pelo Corão?

Ideólogos e dirigentes como Thami Bréze, que vivem no Ocidente e beneficiam da sua cidadania, não podem, não devem acreditar e, honestamente, também não julgo que acreditem nestas visões extremas do texto sagrado. Mas não só a sua condenação do terrorismo islâmico nunca é linear ou aparece sempre mitigada - como se ele não fosse o Mal absoluto do nosso tempo - mas também a sua visão da república e da liberdade é selectiva. Em França, Thami Bréze é a favor da laicidade do Estado, "porque ela nos protege"; mas, se vivesse em Marrocos, seria seguramente contra. Em França, é a favor das liberdades republicanas de que os muçulmanos podem tirar benefício - a liberdade de expressão, de culto, de voto, de greve, de recurso judicial independente, do ensino laico nas escolas públicas - mas já não seria a favor num Estado islâmico e, mesmo em França, consente (porque não pode impedir), mas não legitima, o uso de outras liberdades como o de as raparigas não irem para a escola sem o "chador".

Porém, ao contrário do que ele defende, nós sabemos que a liberdade não é compartimentável nem fragmentária. Também Álvaro Cunhal jurava sempre defender "as mais amplas liberdades" - como se houvesse liberdade relativa. A liberdade ou é absoluta e idêntica em todas as latitudes ou não é um valor em si mesma, mas apenas um disfarce - e fatalmente provisório. É por isso que, nesta questão da proibição do uso do véu islâmico em França, e contra muitas opiniões bem argumentadas e que dão que pensar, o instinto sempre me disse que a França tem razão. O Estado de direito, o Estado republicano, deve consentir a todos o exercício do seu culto religioso, mas não deve consentir nem a ostentação de símbolos que pretendem invocar uma diferença ou superioridade em razão da religião, nem práticas religiosas que ofendem os princípios em que se funda a democracia e a república. Do mesmo modo que eu, quando vou a um país muçulmano, respeito os valores, os símbolos e as práticas aí existentes e abstenho-me de exibir ou fazer uso dos meus, de modo a poder ofendê-los.

Na sua génese, o terrorismo é uma batalha ideológica, que o Ocidente tem de travar e de vencer.
"If you don't have losses, you're not doing enough" - Rear Admiral Richard K. Turner
 

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Luso

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« Responder #1 em: Setembro 15, 2004, 10:56:14 am »
Nada tenho a acrescentar a este texto, a não ser subscrevê-lo.
Excelente!

É boa leitura para os intelectualóides que pretendem dialogar com o monstro.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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alfsapt

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« Responder #2 em: Setembro 15, 2004, 12:59:57 pm »
Surpreendido! Porque contrariamente ao que estou habituado de MST concordo com a essência do que diz, neste caso.

Mas também as contradições quer em palavras ou acções do Escritor raramente se encontram num único texto ou no mesmo tempo. Passo a tentar explicar a minha opinião:

Individualmente as suas intervenções têm cabeça, tronco e membros, de conteúdos geralmente com significado e sempre com direcção ou alvo. Critico no entanto que umas contradigam outras.

Nem será preciso lembrar que uma vez por outra se veja obrigado a retrair ora formalmente pedindo desculpa ora de forma dissimulada com nova intervenção de sentido antagónico.

Neste texto, qual será o caso? Onde encaixam estas ideias na continuidade do seu pensamento?

Pegando no essencial do texto "Todos os terroristas do mundo são muçulmanos" qual a mensagem a retirar?

Na sua realidade onde já não existem a ETA e o IRA, o grande mal do ocidente (sendo a ideia de mundo ocidental uma perspectiva pouco usual em MST) passou a ser o terrorismo; “como se ele não fosse o Mal absoluto do nosso tempo”.

Mas tal caracterização não deixa de ser logo acompanhada por um culpado: uma religião secularmente ultrapassada; “...o Corão é um texto datado, cuja leitura literal não faz hoje o mais pequeno sentido...”

Sem se alongar na possibilidade de a religião estar a ser usada como instrumento de controlo de massas apresenta o caso da proibição do véu em França (agora a favor) como prova da existência de “uma batalha ideológica” acusando-a de “terrorista” e assim lançando o veredicto “o Ocidente tem de travar e de vencer”.  

Esta conclusão nascida de um encadeamento de opiniões disfarçado de sentido lógico não me surpreende vinda de um jornalista. Nem o seu fervor contra o envio de tropas quer aquando da invasão quer após a deposição do ditador do Iraque. Mas só encontro razão para a sua coexistência numa mente apenas se regida pela ocasião.

É apenas a minha opinião.
"Se serviste a patria e ela te foi ingrata, tu fizestes o que devias, ela o que costuma."
Padre Antonio Vieira
 

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emarques

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« Responder #3 em: Setembro 15, 2004, 03:45:16 pm »
Discordo numa pequena coisa do texto: a lei do véu em França é uma cretinice. O estado é laico, a escola é laica, mas os alunos devem ter liberdade religiosa. Que existam crucifixos nas paredes afecta a laicidade da escola, mas que algumas alunas tenham um lenço na cabeça não.

Além de que o véu não é um sinal exterior de religião, é um sinal exterior de cultura. Para a cultura de que são originárias muitas das alunas, o cabelo  só deve estar descoberto na intimidade, por questão de pudor. Levando o caso ao absurdo, pode-se pôr a hipótese de que alguém considere as saias um instrumento da repressão masculina e um sinal exterior da religião cristã e proíba as alunas de usá-las.

Ah, e se bem me lembro o tal jornalista árabe não disse que todo o terrorismo é muçulmano, disse que a maior parte o é.

Mas também, não há necessáriamente uma contradição entre defender o combate ao terrorismo e opor-se à invasão do Iraque. Porque esta teve muito pouco a ver com aquele...
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
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alfsapt

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« Responder #4 em: Setembro 15, 2004, 05:13:51 pm »
Citação de: "emarques"
Discordo numa pequena coisa do texto: a lei do véu em França é uma cretinice.

Discordo consigo. Na minha opinião e na prespectiva do estado Francês considero o assunto como de Defesa Nacional. Mas não me alongarei com explicações porque considero o tema além de ainda muito verde, de fácil confusão com extremismo e logo de grande sensibilidade. Infelizmente acredito que no futuro este será o tema a debater a nível mundial.

Nem na pluricultura da CPLP poderemos encontrar analogia de igual impacto só podendo referir como remotamente semelhante por comparação, Portugueses descendentes de imigrantes de PALOP recusarem-se a falar Português (reportagem SIC).

Citação de: "emarques"
Mas também, não há necessariamente uma contradição entre defender o combate ao terrorismo e opor-se à invasão do Iraque. Porque esta teve muito pouco a ver com aquele...


Talvez até seja simplista relativisar as duas posições apenas entre si. Ignorar os acontecimentos no Afeganistão, na Tchetchénia e Rússia, na Indonésia, etc., etc. é não querer ver.

Mas ainda há dúvidas que o terrorismo é a única resposta encontrada pelo lado mais fraco de um mundo dividido em duas realidades?

A contradição que acuso o MST reside no pressuposto que em alternativa à invasão consideraria acções diplomáticas e económicas. Não é então evidente que com explosões em escolas e raptos e execuções apenas com critérios religiosos mostram a inexistência dessas alternativas? Afinal não é esso o âmago do texto que escreveu? Então como se propõe combater o terrorismo em Países como o antigo Iraque?

Espero que os horrores não se repitam mas arrisco na previsão de que independentemente dos resultados, após as eleições presidenciais nos EUA, outros Países se seguirão a sofrer mudanças... autoperpetradas ou impostas.

Não desviando do assunto: há o jornalismo que relata e há o jornalismo que opina! Mas aclamar pelos objectivos depois de criticar os meios sem apresentar alternativas já não é relato e vai além do comentário. É fazer politica.. como um lobo na pele de carneiro.
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fgomes

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« Responder #5 em: Setembro 15, 2004, 06:14:37 pm »
Parece que MST finalmente se apercebeu do perigo islâmico.

Se o diagnóstico é parcialmente correcto, MST começa por fazer considerações históricas disparatadas, como por exemplo a revolução francesa "mãe" das liberdades, quando na realidade foram massacradas centenas de milhares de pessoas por motivos "ideológicos", só para dar um exemplo. Outra barbaridade é meter no mesmo saco o contraterrorismo israelita e o terrorismo islâmico. Mas onde MST falha é que não basta fazer um diagnóstico correcto, é necessário prescrever um tratamento adequado. E quem lê os seus artigos e ouve os seus comentários não pode deixar de notar as suas contradições.

No entanto é um progresso e pode ser que contribua para alertar aquelas almas caridosas que não se cansam de repetir que não estamos numa guerra de civilizações, pensando que basta isso para a evitar.
 

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emarques

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« Responder #6 em: Setembro 16, 2004, 12:39:42 am »
Noutro tópico...

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Caro emarques, retirando Beslan da equação, não acha que vivemos um real conflito de interesses entre 2 civilizações, ou, melhor dizendo, entre 2 ideologias e conjuntos de valores diferentes?


Tirando do caminho a defesa "fácil" (que quem faz as coisas que os terroristas fizeram e fazem não é civilizado)...

O que eu acho é que ao chamar "conflito civilizacional" ao combate às organizações terroristas está-se a incluir no lado do inimigo muita gente que não o é. Por exemplo, a civilização "oposta" inclui o tal jornalista da Al Arabia que denunciou o terrorismo. Ou aqueles iraquianos que escrevem blogs tão pró-americanos que anda para aí muita gente a dizer que são forjados. Antes do terrorismo islâmico, o terrorismo que existia também era originário quase exclusivamente de uma ideologia: o comunismo. E no entanto, a maior parte dos países não partia imediatamente do pressuposto que comunista=terrorista. Que é o que se está a fazer ao falar de conflito de civilizações. Mas na civilização "deles" há muita gente que discorda dos métodos usados pelos terroristas, e que está de certa forma do "nosso lado". (E também há para aí muitos que ficaram contentes com os atentados de 11 de Setembro e só esperam que tenham reposição, embora estejam supostamente do "lado dos anjos").

É verdade, existe um conflito entre ideologias e valores. Só que os valores dos terroristas não são necessariamente os valores do Islão.
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« Responder #7 em: Setembro 16, 2004, 10:15:47 am »
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Discordo numa pequena coisa do texto: a lei do véu em França é uma cretinice. O estado é laico, a escola é laica, mas os alunos devem ter liberdade religiosa. Que existam crucifixos nas paredes afecta a laicidade da escola, mas que algumas alunas tenham um lenço na cabeça não.


Atenção, meus amigos, que acho que esta Lei tem vindo a ser deturpada pelos meios de comunicação social, e daí mal-entendida por muita gente:

Esta Lei refere-se A TODOS E QQ SIMBOLOS DE QQ RELIGIÃO, seja ela Cristã, Muçulmana, Judaica, Budista, Hindu...etc!!!!!

O facto de os muçulmanos a estarem a usar para "passar a brasa á sua sardinha" está a levar a mtos mal entendidos...

É uma Lei que a meu ver se enquadra perfeitamente no espirito da Constituição Francesa que remonta á Revolução de 1789.

O problema é que só referem a proibição do uso do véu...
(É como os judeus com o holocausto, até parece que mais ninguém a não ser eles foi enviado para os campos de concentração-opositores ao regime, homosexuais, ciganos, etc--e usam essa "cruz" para justificarem todas as sua acções contra os palestinianos)
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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« Responder #8 em: Setembro 16, 2004, 11:29:18 am »
Citação de: "emarques"
Noutro tópico...

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Caro emarques, retirando Beslan da equação, não acha que vivemos um real conflito de interesses entre 2 civilizações, ou, melhor dizendo, entre 2 ideologias e conjuntos de valores diferentes?

Tirando do caminho a defesa "fácil" (que quem faz as coisas que os terroristas fizeram e fazem não é civilizado)...

O que eu acho é que ao chamar "conflito civilizacional" ao combate às organizações terroristas está-se a incluir no lado do inimigo muita gente que não o é. Por exemplo, a civilização "oposta" inclui o tal jornalista da Al Arabia que denunciou o terrorismo. Ou aqueles iraquianos que escrevem blogs tão pró-americanos que anda para aí muita gente a dizer que são forjados. Antes do terrorismo islâmico, o terrorismo que existia também era originário quase exclusivamente de uma ideologia: o comunismo. E no entanto, a maior parte dos países não partia imediatamente do pressuposto que comunista=terrorista. Que é o que se está a fazer ao falar de conflito de civilizações. Mas na civilização "deles" há muita gente que discorda dos métodos usados pelos terroristas, e que está de certa forma do "nosso lado". (E também há para aí muitos que ficaram contentes com os atentados de 11 de Setembro e só esperam que tenham reposição, embora estejam supostamente do "lado dos anjos").

É verdade, existe um conflito entre ideologias e valores. Só que os valores dos terroristas não são necessariamente os valores do Islão.


Caro emarques,

Como é óbvio um choque de civilizações não engloba a generalidade dos indíviduos mas representa, e é isto o seu significado, uma incapacidade de coexistência entre duas ideologias numa qualquer questão/questões relevantes para a sua existência.
Os valores dos terroristras não são os valores do Islão, tal como os valores dos governos pró-ocidentais não são os valores da maioria da população. E é aqui que reside o principal problema: a incapacidade de interpretar o Corão de uma forma simples, clara e única.
Quando a grande maioria da população árabe é anti-ocidental - influencidade por um qualquer imã que pensa que a Pizza Hut é satânica - estamos claramente num conflito de opiniões entre pessoas.
Ignorar isto é admitir a morte do artista. Mas é exactamente isto que se tem de lutar.
A luta ao terrorismo não se ganha apenas com intervenções militares. Ganha-se com a educação, desenvolvimento e combate à pobreza de outros povos, mas, até existirem um punhado de tipos que pensam que o meu modo de vida é satânico e deve ser eliminado a todo o custo vou presumir que existe aqui um grande conflito de valores nem que seja pelo facto de a liberdade e valor da vida humana assumirem um significado secundário para a generalidade destes povos.

Sempre existiu ao longo da história um choque entre o Islão e o Cristianismo - mais do que entre quaisqueres outros 2 povos - e estou inclinado a acreditar que ela se irá manter. Contudo, e concordando um pouco consigo, assumo que isto seja mais uma questão de semântica. Choque não é propriamente a palavra mais apropriada. Eu preferia falar numa "incompatibilidade constante de valores" - pois se no Corão está escrito, tal como na Bíblia, que a vida é o valor mais importante, a generalidade da população muçulmana não o entende dessa maneira.

Cumprimentos,
Ricardo Nunes
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« Responder #9 em: Setembro 16, 2004, 12:21:53 pm »
Ricardo Nunes, tem razão, isto acaba por ser mais uma questão de semântica. O nome que se dá aos acontecimentos acaba por não ter grande importância. O que é preciso é encontrar soluções. E talvez lembrar-se que nem todas as acções não violentas equivalem a negociar com terroristas.

P44, eu falei nos "lenços na cabeça", mas o mesmo raciocínio também se aplica a usar aqueles "quicos" (como é que se chama aquilo) dos judeus, que também não são permitidos, ao que parece. A razão de tanta atenção se centrar sobre o "chador" (eh, lembrei-me do nome do véu! ;)) penso que seja porque, segundo me lembro, a polémica surgiu precisamente devido ao seu uso nas salas de aula. Ainda segundo a minha memória, primeiro começou a discussão sobre o véu islâmico nas aulas, e por causa disso aprovou-se a lei. Continuo a achar que a liberdade de culto dos cidadãos não prejudica a laicidade do estado.
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« Responder #10 em: Setembro 16, 2004, 02:49:10 pm »
Citação de: "emarques"
P44, eu falei nos "lenços na cabeça", mas o mesmo raciocínio também se aplica a usar aqueles "quicos" (como é que se chama aquilo) dos judeus, que também não são permitidos, ao que parece. A razão de tanta atenção se centrar sobre o "chador" (eh, lembrei-me do nome do véu! ;)) penso que seja porque, segundo me lembro, a polémica surgiu precisamente devido ao seu uso nas salas de aula. Ainda segundo a minha memória, primeiro começou a discussão sobre o véu islâmico nas aulas, e por causa disso aprovou-se a lei. Continuo a achar que a liberdade de culto dos cidadãos não prejudica a laicidade do estado.


emarques, ok, de acordo, só quis deixar bem claro que esta "polémica" é apenas um aproveitamento por parte de fundamentalistas muçulmanos de uma Lei que na verdade ENGLOBA todas as religiões e NÃO É dirigida a uma religião em particular, ao contrário do que querem fazer parecer...e infelizmente a comunicação social tb não refere esse aspecto, a meu ver essencial.

E esta mania de emigrarem para outros países e quererem estar ACIMA das leis desses mm países, com o "blablabla" da descriminação e do racismo, francamente a mim já me cansa...
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« Responder #11 em: Setembro 16, 2004, 03:23:49 pm »
Bem, eu lembro-me de uns protestos dos portugueses nos EUA quando a água de Vidago foi proibida lá por lhe ser aplicada a mesma lei sobre concentrações de mineirais que às outras águas engarrafadas. Sim, não tem nada a ver, mas lembrei-me disto... :)
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« Responder #12 em: Setembro 16, 2004, 06:00:59 pm »
A lei do véu francesa, embora no seu texto se dirija a todas as religiões, foi feita a pensar no islamismo. Na minha opinião é uma perfeita estupidez, havendo situações muito mais graves, como por exemplo as violações a mulheres, quando não são consideradas como boas muçulmanas ou mesmo o assassínio de raparigas que namoram não muçulmanos. No entanto neste momento um recuo na aplicação da lei seria visto como uma vitória para os islamistas.
O grande problema é que a liberdade religiosa como é vista no Ocidente, que é um conceito que nasceu no século XVIII na Prússia, aplica-se às várias confissões cristãs e ao judaismo, em que existe uma clara separação entre política e religião. No caso do islamismo essa separação não existe, o seu fundador, Maomet foi simultâneamente um chefe político, militar e religioso, ao contrário de Abraão e de Jesus Cristo que tiveram actividade apenas no plano religioso. Para um muçulmano a separação entre religião e política não faz sentido.

Quanto a França fazia melhor em preocupar-se com o facto de neste momento o islamismo ser a religião com mais praticantes. Outro problema são as taxas de natalidade dos franceses nativos e as dos muçulmanos, três vezes mais altas. Isto junto com a a imigração maciça de muçulmanos, vai provocar uma mudança radical da composição étnica e religiosa da população francesa. Será que dentro de 50 anos a França se vai tornar numa república islâmica, como afirmam alguns dirigentes muçulmanos ?
 

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« Responder #13 em: Setembro 21, 2004, 12:31:09 pm »
Em relação á lei do véu, em França, que eu próprio vi com os meus proprios olhos pois estive em França, e as aulas começaram relativamente cedo, tenho de dizer que estou de acordo.

Na escola (por exemplo) acho que todos devem ser iguais. Não acho que deva existir uma distinção, entre muçulmanos e cristãos, num espaço de ensino.

Mais acho que devia isso sim, ser probido o uso do véu, que é um sinal religioso, noutros locais destinados a crianças. Sim a crianças porque se o estado francês pedi-se a todos os muçulmanos para retirarem o véu, em qualquer local, tinhamos uma revolta muçulmana, e além disso acho que era uma medida muito extremista, com a qual não concordo absolutamente.

Emarques, você falou do exemplo da cruz católica numa escola, mas esqueçe-se que em França, está-se em França, num estado maioritariamente católico. Logo seria ridiculo retirar cruzes católicas dum espaço cristão católico. Acho o seu exemplo um bocado trapalhão.

Pelo contrário, e como já referi, andar de véu no meio de uma escola, pode provocar distinções, e pior, divisões entre os alunos e o resto do pessoal escolar. Dum lado ficam catolicos do outro muçulmanos. Bof.

Você diz ainda que, o véu é um sinal de cultura, mas esqueçe-se dos Taliban que obrigavam as mulheres a usarem véu... devido á religião. Há que ver também, que a maior parte da cultura islâmica, provem da sua religião.
 

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emarques

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« Responder #14 em: Setembro 21, 2004, 01:22:08 pm »
Mas as escolas do estado laico que é a República Francesa não são um espaço católico. Ou de nenhuma outra religião. É um espaço laico, para todos os cidadãos da república. É essa noção que supostamente se quer defender com a lei. E por isso é que eu digo que as paredes das salas de aula decoradas com crucifixos prejudicam essa noção de espaço laico. Independentemente de a população francesa ser maioritaria e tradicionalmente católica. Um crucifixo nas paredes é uma declaração de religiosidade de uma escola supostamente laica. Um crucifixo no peito de uma aluna é uma declaração de religiosidade de alguém com liberdade de culto. O primeiro caso é ilícito, o segundo é um direito que se supõe incontestável num estado como a França.

Para não falar da ligeira diferença entre a burqa e o chador...
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.