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Conflitos => Conflitos do Passado e História Militar => Tópico iniciado por: João Vaz em Agosto 31, 2010, 11:47:16 am

Título: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Agosto 31, 2010, 11:47:16 am
PARTE I - D. António Prior do Crato, os "piratas hereges" e o trono de Portugal

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Baixo-relevo na Catedral de Canterbury (Kent, Inglaterra), representando a morte no mar de Sir James Hales, tesoureiro da armada de Sir Francis Drake a Portugal em 1589. Trata-se do único monumento iconográfico contemporâneo da expedição identificado pelo autor

A 18 de Abril de 1589, dez meses após a derrota da “Invencível Armada” que pretendera invadir Inglaterra, o célebre corsário e almirante inglês Sir Francis Drake partiu do porto de Plymouth rumo à Península Ibérica. O galeão a bordo do qual seguia denominava-se apropriadamente Revenge. Conjuntamente chefiada por Sir Francis Drake e Sir John Norris, oficial veterano da Guerra dos Países Baixos (indigitados, respectivamente, comandante da armada e do exército), esta foi uma das maiores expedições navais do século XVI.

A bordo da armada seguia a pequena corte portuguesa no exílio desde 1581: D. António, Prior do Crato, pretendente ao trono português, o seu filho D. Manuel de Portugal e mais de 70 partidários portugueses, juntamente com um contingente anglo-holandês de 12.400 soldados. A Inglaterra passava à ofensiva pelo domínio do Atlântico.

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D. António, efémero rei de Portugal ou "pobre rei" nas palavras dos seus aliados ingleses, liderou a resistência portuguesa contra Filipe II e a Monarquia Hispânica. Exilado após a invasão espanhola de 1580, conseguiu regressar a Portugal em 1589, de onde partiu novamente derrotado. A sua pretensão à coroa portuguesa baseava-se no pressuposto da sucessão electiva e não hereditária. Para tal, promoveu uma intensa edição de panfletos em várias línguas publicitando os seus argumentos contra Filipe II

D. António, filho ilegítimo do infante D. Luís (filho do rei D. Manuel), gozara de um reinado efémero: aclamado pelo povo e principais cidades do reino nas vésperas da invasão espanhola em Junho de 1580, o Prior do Crato resistira com o apoio do povo e do baixo clero, mas acabara derrotado dois meses depois na batalha de Alcântara. Não obstante a fácil conquista de Portugal, D. António manteve-se como uma das maiores preocupações do monarca espanhol.

Tencionava repetir-se o êxito dos ataques-surpresa executados com mestria por Drake a Cádiz e Sagres (1587), mas em maior escala e com o objectivo prioritário de destruir as unidades sobreviventes da “Invencível Armada” que haviam regressado ao norte de Espanha. Cedo se estabeleceram dois novos objectivos: repôr D. António no trono português - abrindo uma nova frente contra Espanha - e interceptar a “Frota da Prata” espanhola ao largo dos Açores, interrompendo o fluxo vital de metais preciosos para Espanha e assegurando uma base naval estratégica.

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Sir Francis Drake, o mais famoso corsário e almirante da Rainha Isabel I de Inglaterra. O fracasso da expedição a Portugal de 1589 evitou um golpe decisivo no poder naval espanhol e valeu-lhe o afastamento da Corte inglesa por 6 anos

Dada a penúria das finanças isabelinas, tal como nas expedições anteriores de Drake, investidores privados proporcionaram o grosso da armada, constituída por navios de transporte armados. O investimento seria amortizado pela captura da frota das Índias e o livre acesso aos portos em Portugal.


Assalto à Coruña: primeiras dificuldades

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Os desembarques ingleses, temidos pelas populações peninsulares, caracterizavam-se pelos roubos e violência contra civis mas também contra alvos religiosos, saqueando e destruindo edifícios religiosos. Este também foi o caso na expedição de 1589

Ventos contrários e problemas logísticos atrasaram a armada em seis semanas, criando despesas extraordinárias. Após a partida, a 28 de Abril, desertaram ainda 25 navios holandeses levando a bordo 2.000 homens. Alcançada a Coruña em 4 de Maio, as forças inglesas alcançam o primeiro objectivo da expedição, com o ataque a dois galeões regressados da fatídica "Invencível" Armada no ano anterior, que se encontravam em reparações: eram eles o São João, navio-almirante da esquadra da Coroa de Portugal e o São Bernardo, integrante da mesma. Enquanto a tripulação do primeiro incendiou o próprio navio para evitar que caísse em mãos inimigas, o segundo escapou, não sem antes os ingleses terem capturado a artilharia que se encontrava desembarcada.

Após um desembarque bem sucedido, mas em clara desobediência às ordens da Rainha, os ingleses apenas conseguem tomar a cidade baixa, onde se instalam D. António e o seu filho com as tropas de Isabel I. O alarme soou por toda a Galiza. Na vizinha cidade de Santiago de Compostela, o Arcebispo apelou à defesa da catedral para que o "Santo corpo do Apóstolo (...) não seja profanado por estes bárbaros hereges". A disciplina das tropas inglesas, maioritariamente recrutas inexperientes, provou ser tarefa difícil, sobretudo após a descoberta das adegas locais. Surgiram também os primeiros focos de epidemia provocando muitas mortes por entre os invasores.

Finalmente, depois de confrontados com uma forte resistência popular e desprovidos de equipamentos de cerco, os ingleses reembarcaram no dia 7 de Maio, deixando a cidade baixa saqueada e em chamas. O aviso do desembarque na Coruña tinha sido recebido em Lisboa a tempo de se reforçarem as defesas da capital portuguesa. Era chegado o momento da costa portuguesa se confrontar com o mais famoso corsário da sua época trazendo nos seus navios o rei exilado D. António acompanhado dos "piratas hereges".

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSZYFgf118wI%2FAAAAAAAAACQ%2Fug5uk4iTico%2Fs320%2FInfo_6.jpg&hash=77133b3f9e4e620bea8ca06d7afa7df2)
Itinerário da expedição inglesa liderada por Sir Francis Drake e Sir John Norris em apoio de D. António pelo trono de Portugal em 1589

Desembarque em Peniche: o efémero regresso de D. António a Portugal

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSZYF0QmFvDI%2FAAAAAAAAACY%2F1Qoc1s3QGFg%2Fs320%2FNova_8_cap7.jpg&hash=27038fbdbd798a43709f1db473f92047)
Fortaleza de Peniche (fotografia datada do segundo quartel do século XX. Arquivo Histórico Militar, Lisboa), um dos raros edifícios actualmente existentes que testemunhou o desembarque inglês com D. António.

Pelas 10 horas da manhã de sexta-feira 26 de Maio de 1589, a vila de Peniche foi surpreendida por uma esquadra de 155 navios manobrando ao largo. Perto das 16:00 horas as tropas inglesas iniciam o desembarque de um contingente de 6.500 homens no areal de Nossa Senhora da Consolação, a Sul da península. O jovem conde de Essex arriscou afogar-se para ser o primeiro a tocar em terra.

A defesa da praia revelou-se difícil para a reduzida guarnição espanhola, pois era demasiado ampla e a própria localização desabrigada da forte ondulação e do vento Norte não haviam determinado a sua vigilância. O desembarque inglês prosseguiu durante o final do dia até que na mesma noite sob uma lua quase cheia, Essex e o General Norris entraram na vila abandonada pelos militares espanhóis, que recuaram para novas posições defensivas aguardando reforços.

Em Peniche, o alcaide da fortaleza e muitos habitantes fugiram em pânico mal souberam da presença de Drake. Mas, à vista de D. António que desembarcara com uma cruz levantada e uma "insígnia" da Virgem Maria, o capitão entregou a fortaleza apesar desta se encontrar bem provida de artilharia e munições. O pretendente ao trono não perdeu tempo e distribuíu uma carta-manifesto na qual convocou o povo a recebê-lo enquanto libertador, assim como às tropas inglesas e à armada que o apoiavam. Nos dias seguintes, D. António e o seu filho distribuiram aos portugueses armas e munições capturadas na esperança de os acompanharem até à rendição de Lisboa.

Quanto aos reforços locais convocados pelas autoridades espanholas em Óbidos, Torres Vedras e Alcobaça, não passavam de "gente rústica, e fraca", que debandou "já sem armas e ânimo". No dia 27 de Maio, as forças inglesas dividiram-se: o General Norris iniciou a marcha até Lisboa e Drake partiu pouco depois com a armada rumo a Cascais. Ambas as forças deveriam reunir-se para o assalto conjunto à capital portuguesa.

João Pedro Vaz, Campanhas do Prior do Crato, 1580-1589: Entre Reis e Corsários pelo Trono de Portugal, Lisboa: Tribuna da História, 2005.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Agosto 31, 2010, 12:13:31 pm
PARTE II - O Regresso do "Pobre Rei" D. António

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Infantaria inglesa da época isabelina em marcha. Gravura da obra de John Derrick, Images of Ireland (1581)

Deixando em Peniche os soldados doentes e feridos e 3 navios para assegurar uma eventual retirada, o General Sir John Norris, D. António de Portugal e o conde de Essex iniciaram a marcha para Lisboa com menos de 6.000 homens e 44 cavaleiros, mas desprovidos de artilharia. Essex e o Coronel Sir Roger Williams comandavam a vanguarda, enquanto D. António e o seu filho viajaram na retaguarda da formação protegidos pela cavalaria. Sob um sol escaldante de Primavera, demoraram 6 dias para percorrer os 80 km de caminho sinuoso até Lisboa. No dia 28 de Maio, D. António e as tropas inglesas chegaram à Lourinhã, enquanto as tropas espanholas se retiraram de Torres Vedras para Enxara dos Cavaleiros, mantendo somente uns cavaleiros "sempre à vista do inimigo" e enviando batedores por "todas partes". A estratégia defensiva das forças ocupantes espanholas era prudente, deixando o inimigo desgastar-se na marcha para Lisboa e envolvendo o mínimo de confrontos.

D. António entrou pouco depois em Torres Vedras a 29 de Maio após a retirada da guarnição espanhola e desfilou debaixo de um "pálio" (espécie de toldo portátil) tal como faziam os monarcas nas paradas, procedimento que se repetiu em todas as povoações no seu caminho. Entretanto, juntaram-se-lhes frades, gente pobre e alguns fidalgos que prometiam a adesão de muitos mais apoiantes portugueses.

Contudo, após 8 anos de ausência do pretendente português e da dura repressão espanhola sobre nobres, religiosos e populares, a esperada adesão popular a D. António não se concretizou. O sangrento episódio do Rei da Ericeira (http://http) em 1585 criara tanto medo na população que muitos temiam mais "serem prezos por estes cazos que não pella Santa Inquisição". Só no início de 1589, o rei Filipe II (D. Filipe I de Portugal) ordenara a deportação de 70 fidalgos suspeitos. E durante o cerco de Lisboa movido pelas tropas inglesas seria degolado um irmão do Barão de Alvito por suspeitas de conspiração e o Conde de Redondo encarcerado no castelo de São Jorge. O facto de D. António se fazer acompanhar de uma hoste de "hereges" Protestantes, ainda que libertadores, também comprometeu o pretendido apoio popular.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaXRN2rWq5I%2FAAAAAAAAAFo%2F7vj2azjvvBs%2Fs400%2FCrato_073.jpg&hash=f08f7a69396dc87666e13e47c4a1f820)
Robert Devereux, 2.º Conde de Essex, fidalgo aventureiro e um dos cortesãos favoritos da Rainha Isabel I, acompanhou a expedição de Sir Francis Drake e D. António a Portugal, integrando o contingente militar infringindo a vontade da Rainha que ordenou o seu regresso logo após a notícia da sua partida

A notícia do desembarque inglês provocou o pânico em Lisboa. Nas primeiras horas da manhã, os habitantes abandonaram a capital com os seus haveres, desembolsando fortunas pelo aluguer de simples carroças e quaisquer barcos rumo ao Barreiro e ao Montijo.

No arraial inglês, a falta de mantimentos agravou-se com o cumprimento das ordens do General Norris, proibindo qualquer roubo a portugueses, o que obrigou os ingleses a comer "muitas imundicias... e muitos delles se embebedavão, por aver muito vinho", de que muitos "adoecião e morrião". Na noite de 30 de Maio, os ingleses instalaram-se em Loures. Chegadas aqui, as tropas invasoras sofrem a primeira investida das forças espanholas durante quase 2 dias, causando algumas baixas e fazendo prisioneiros, cujo interrogatório confirma o estado debilitado dos ingleses.

No dia 31, o campo espanhol transfere-se para as imediações da ponte de Alcântara, prevendo a eventual subida do Tejo pelos navios de Drake, enquanto as religiososas dos conventos extra-muros da Esperança, Odivelas e Santos-o-Novo são acolhidas em Lisboa, bem como a população residente nas numerosas quintas dos arrabaldes. O pavor dos invasores hereges levou algumas religiosas a regressarem a casa das respectivas famílias, enquanto outras provocaram escândalo ao refugiarem-se nas celas e nos dormitórios dos frades no mosteiro de São Francisco, dando lugar a boatos maliciosos e à perturbação dos ofícios religosos.


Sir Francis Drake e a armada inglesa na tomada de Cascais

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaV9Uy7HMBI%2FAAAAAAAAAEg%2FkAjVVuf3I5w%2Fs320%2Fcrato_071.jpg&hash=794caf62fa1101834aa3ff89baba55e3)(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaV9VNj6n_I%2FAAAAAAAAAEo%2Fgg__EATILZs%2Fs320%2Ffort_cascais_cap7_substorrsantcascais.jpg&hash=4251244ef575cef22edc4878e62b2a37)
Fortificações de Cascais no século XVI: em cima, gravura de Georg Braun representando a torre joanina e em baixo a fortaleza filipina, construída sobre a primeira e cujo alcaide se rendeu às forças inglesas de Drake em 1589

Terça-feira, dia 30 de Maio, a baía de Cascais é enquadrada pela armada liderada por Sir Francis Drake. Após um rápido desembarque defronte do Mosteiro de Santo António (actuais Salesianos do Estoril), 300 soldados ingleses assumiram a vanguarda de um contingente de 1.500 homens que cercou e tomou a fortaleza de Cascais, apoiados pela artilharia da armada. Simultaneamente, um piloto português desembarcado do Revenge, navio de Drake, convenceu a população local a acolher os invasores e apoiar D. António na sua luta pelo trono português. O alcaide espanhol da fortaleza de Cascais rendeu-se devido às notícias comunicadas pelo seu capelão (padre do mosteiro de Santo António) e depois de Drake ter comunicado que Lisboa também se entregara. O desafortunado alcaide espanhol retirou-se num barco a remos e a sua guarnição abandonou a fortaleza, apenas para mais tarde ser sentenciado à morte por traição e executado em praça pública na Ribeira de Lisboa.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F4.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaVv4E20FcI%2FAAAAAAAAADA%2FOVP_y4B_HYs%2Fs320%2Fcrato_056.jpg&hash=561589e91669d1c38205d4defd4d9615)
As forças navais portuguesas encontravam-se em plena reconstrução após o fracasso da "Invencível" Armada de 1588, não intervindo na defesa de Lisboa contra a expedição inglesa de 1589. Nesta ocasião, a barra e o estuário do Tejo foram defendidos por navios da Coroa de Espanha

No Tejo, as defesas a ultrapassar pela armada consistiam na esquadra de 12 galés de D. Alonso de Bázán (irmão do falecido Marquês de Santa Cruz, idealizador da "Invencível" Armada de 1588), a fortaleza de São Julião da Barra substancialmente ampliada e a plataforma de artilharia erguida no areal da Cabeça Seca (Bugio).

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F4.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaV-GO3kTXI%2FAAAAAAAAAEw%2F_xdzAiRqB70%2Fs320%2Fcrato_053.jpg&hash=66ab8d7f270cf20b649807c0876ff1a3)
Planta hidrográfica da barra de Lisboa topografada em 1589 com indicação das trincheiras feitas pelos defensores espanhóis quando da "vinda dos ingleses". Alexandre Massai, "Discripcaõ Relaçaõ do Reino de Portvgal Segvndo Tratado", 1621 (Museu da Cidade, Lisboa)

Na mesma noite em que as forças de Drake tomaram a fortaleza de Cascais, este soube da chegada do General Norris e de D. António aos subúrbios de Lisboa.

O Inimigo às Portas de Lisboa: o breve cerco da capital

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaV-mukx6wI%2FAAAAAAAAAE4%2FvlHXkcPbQAs%2Fs400%2Finfo2.jpg&hash=44eea76d44ec65595d4bf72b536acf3f)
Após a longa marcha desde Peniche, D. António e as forças inglesas alojaram-se nas colinas dos Moinhos de Vento (Príncipe Real) e do Bairro Alto, onde permaneceram durante os breves mas intensos combates para penetrar as muralhas de Lisboa

Na manhã de 1 de Junho, dia de Corpo de Deus, Lisboa não celebrou a habitual procissão do Santíssimo Sacramento. Concentrando forças e precavendo-se de uma eventual sublevação popular, o exército espanhol coordenado pelo Vice-rei Alberto de Áustria e comandado pelo Capitão-geral conde de Fuentes recolheu para o interior dos muros da capital, distribuindo dezenas de companhias de infantaria pelas praças de armas improvisadas em Nossa Senhora da Graça, no Terreiro do Paço e no Rossio, assim como ao longo da muralha fernandina e entulhando as diversas portas e postigas. A cavalaria portuguesa, liderada por D. Francisco Mascarenhas, conde de Vila da Horta, foi encarregue de patrulhar as ruas da cidade, prevenindo qualquer alteração da ordem. O reforço da defesa da capital foi considerável: na véspera do desembarque inglês em Peniche, Lisboa contava com 6.680 soldados, já durante o ataque às muralhas da cidade, os efectivos atingiram perto de 12.000 homens (dos quais apenas 1.000 seriam portugueses). Os defensores possuíam, assim, quase o dobro de homens das foras atacantes.

Fora de muros, na Pampulha, as autoridades incendiaram deliberadamente os armazéns de cereais e derrubaram as casas enconstadas à muralha medieval no Bairro Alto, impedindo qualquer apoio às hostes invasoras na guerrilha urbana que se antevia.

Na tarde seguinte, após um breve reconhecimento dos bairros abandonados nos arrabaldes da capital, as tropas inglesas entricheiraram-se no casario entre os Moínhos de Vento (actual Rua da Escola Politécnica/Príncipe Real) e em Santa Catarina até à Esperança e Boavista, tomando posição estratégica no alto de uma das colinas de Lisboa facilmente defensável dominando grande parte da cidade e beneficiando de bons alojamentos, situando-se numa zona de eleição da nobreza com diversas quintas e solares. O General Norris estabeleceu o quartel-general improvisado na quinta dos Soares da Cotovia (actual R. da Escola Politécnica, onde hoje se ergue o edifício da Imprensa Nacional). Porém, os defensores espanhóis mantiveram os invasores debaixo de mira e os alojamentos ingleses foram alvo dos tiros da artilharia do castelo de São Jorge no lado oposto do vale, cujos disparos foram recebidos com aplausos e demonstrações de desprezo pelos sitiantes. Um dos tiros atingiu em cheio o quartel-general inglês "salpicando" D. António de cal e pedras, obrigando-o a escolher refúgio seguro mais abaixo, na Calçada do Combro.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaV__F9OgrI%2FAAAAAAAAAFQ%2FI-TxQboe5OA%2Fs320%2FIMG_0051.JPG&hash=7f0c332843c4046dc9864b5b1dd034ab)(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSaV__ciAWTI%2FAAAAAAAAAFY%2FGTuwm6ctVqQ%2Fs320%2FIMG_0045.JPG&hash=126c4bc556f5745f88681b358fcddc11)
Em São Roque e Santa Catarina (Bairro Alto) ocorreram os combates mais intensos na tentativa de assalto das tropas inglesas à capital. Actualmente, algumas ruínas da muralha medieval de Lisboa contíguas às antigas Portas de Santa Catarina encontram-se preservadas (Espaço Chiado, próximo do Teatro da Trindade)

Na madrugada de 3 de Junho, com apenas 200 portugueses reunidos a D. António desde o o desembarque em Peniche, o General Norris inicou o ataque aos muros da capital com uma incursão na igreja do Loreto no Bairro Alto, contígua à muralha fernandina. Aproveitando a baixa-mar, as tropas inglesas aproximaram-se da parte mais vulnerável da muralha na sua extremidade à beira-rio, enconstada ao imponente palácio dos Corte-Reais (ao Corpo Santo, e destruído no terramoto de 1755), propriedade do controverso D. Cristóvão de Moura. O assalto foi impedido, ironicamente, pela pequena nau espanhola María San Juan, única sobrevivente da "Invencível Armada" regressada a Lisboa, cujos tripulantes bascos puderam assim vingar a derrota do ano anterior, desencadeando um potente fogo de barragem juntamente com as galés.

Pouco depois do meio-dia, aproveitando a chegada de 500 soldados veteranos das guarnições do Porto, as forças espanholas dividiram o contra-ataque em duas frentes: pelas portas de Santo Antão saíram 500 arcabuzeiros e "piqueiros" apoiados por 3 companhias de cavalaria, que subiram a encosta da Anunciada ao longo da muralha até São Roque (actual Largo de São Roque ou da Misericórdia), enquanto um contingente de 200 "atiradores" ganhou o interior da igreja do Loreto, onde os ingleses que já tinham a porta da mesma arrombada foram repelidos pelos mosqueteiros no telhado, nas varandas e janelas da igreja de São Roque.

A luta ao redor da quinta da Cotovia revelou-se mais encarniçada, envolvendo-se as forças em luta corpo-a-corpo, depois de os espanhóis, aos gritos de "Viva elRey Dom Antonio!" terem momentaneamente confundido as tropas inglesas. Desalojadas as trincheiras inglesas, a cavalaria espanhola carregou, mas as ruas estreitas limitaram as suas manobras e sofreram fogo dos atirados inimigos situados nas janelas do casario, forçando os cavaleiros a retirar com algumas baixas e atropelando a própria infantaria. Foi necessário o reforço de 200 arcabuzeiros e 50 "piqueiros" para cobrir a sua retirada. A intensidade do contra-ataque inglês, aproveitando a retirada da cavalaria espanhola trouxe os combatentes de ambos os lados envoltos de volta às Portas de Santa Catarina (actual Largo de Camões), frente às quais o conde de Essex desafiou a guarnição defensora a sair e combater. Após este breve mas intenso ocombate, ambos os lados contaram cerca de 40 mortos, entre os quais vários oficiais. Os ingleses enterraram um dos seus capitães em Santa Catarina com muitas cerimónias, enquanto os feridos espanhóis foram transportados para o Hospital Real de Todos os Santos (actual Praça da Figueira).

Contudo, durante esta acção a armada de Drake mantivera-se bem longe, não subindo o Tejo para o encontro combinado com as forças de Norris em Lisboa. Sem este apoio, a situação das tropas inglesas rapidamente se tornou insustentável. O General Norris levantou campo ao final da tarde de domingo dia 4 de Junho e retirou-se furtivamente de madrugada deixando várias fogueiras acesas para iludir os sitiados. Sem o esperado apoio popular e face aos reforço constante da cidade pelas forças espanholas através do Rio Tejo, os comandante ingleses decidiram não arriscar e prosseguiram ao reencontro de ambos em Cascais para decidirem os próximos objectivos.

Para D. António, este foi um efémero e amargo regresso, esfumando-se as esperanças de uma sublevação que o ajudaria a recuperar o trono de Portugal. Filipe II de Espanha (I de Portugal) impedira com sucesso a capital portuguesa de receber o "pobre rei" português exilado, "sem a qual (cidade) o mesmo se encontra arruinado", nas palavras de um dos participantes da expedição inglesa.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: HSMW em Agosto 31, 2010, 01:35:41 pm
Excelentes textos! Bem vindo ao fórum João Vaz.  :G-beer2:
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: Cabeça de Martelo em Agosto 31, 2010, 04:39:44 pm
Sem dúvida! :G-beer2:
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 01, 2010, 11:10:05 am
Agradeço e retribuo os cumprimentos aos novos colegas virtuais  :wink: . E confesso que deixei por falta de tempo ontem as últimas partes desta minha investigação para publicar agora (antes tarde que nunca). Aqui vão:

PARTE III - Derrota e Desilusão

As últimas tropas inglesas que formavam a retaguarda em retirada de Lisboa, em que seguiu D. Manuel de Portugal (filho de D. António) e a cavalaria inglesa partiram na madrugada de 5 de Junho, quando já a vanguarda onde se encontrava D. António passava por Alcântara, cenário da derrota de 1580 frente às tropas espanholas que levou à tomada de Lisboa. A bom passo e por terrenos agrestes, fora dos caminhos mais percorridos devido ao fogo das galés espanholas que os bombardearam novamente, as forças inglesas dirigiram-se para Cascais onde chegaram na mesma noite. Desconfiado, o Capitão-geral da gente de guerra Conde de Fuentes atrasou a saída das tropas defensoras de Lisboa receando uma emboscada., mas envia umas companhias soltas de arcabuzeiros a cavalo e de ginetes (cavalaria ligeira) em perseguição fazendo algumas vítimas e mantendo a vigilância.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSi2ZvAKjbUI%2FAAAAAAAAAH4%2FmZWNqPabyR4%2Fs400%2Fcrato_032.JPG&hash=ab66b8b91d31c34f68f6a9b349a18fdc)
D. Manuel de Portugal, filho de D. António Prior do Crato, integrou a expedição inglesa de 1589 e mais tarde, com o seu irmão D. Cristóvão acompanharam a armada inglesa liderada pelo Conde de Essex contra Cádiz em 1596

Entretanto, em Lisboa, os pedidos insistentes do Conde de Vila da Horta para sair com a cavalaria portuguesa foram ignorados pelo Conde de Fuentes, que os deixou preparados na praça do Rossio sem, contudo, avisá-los da sua saída. Os desentendimentos com o Conde de Fuentes não impediram o general português de se juntar a ele pouco depois na perseguição aos ingleses e a D. António até Oeiras, mas atingem Cascais já tarde no dia 7, com o inimigo entrincheirado na vila e no Mosteiro de Santo António, conseguindo apenas interceptar os retardatários no caminho e nas quintas dos arredores. No dia seguinte o Conde de Fuentes regressou a Lisboa, não sem antes recusar novo desafio pessoal do Conde de Essex para um combate organizado entre as forças adversárias, invocando a impossibilidade de aceitar batalha sem ordem do Rei.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSi2amKBqX6I%2FAAAAAAAAAIA%2FfO83zD70VHg%2Fs400%2Fcrato_057.JPG&hash=8a528b98009551293c0477cd291c5719)
As tropas espanholas asseguraram a defesa de Lisboa adoptando uma táctica passiva com um mínimo de confrontos, deixando os invasores ingleses enfraquecer-se devido às próprias limitações logísticas e à fraca qualidade do contingente militar. (painel de azulejos do Palácio dos Marqueses de Bazán, em Ciudad Real)

Nos dias seguintes, os oficiais espanhóis discutem em Lisboa sobre a melhor maneira de destruir a armada inglesa, enquanto se abrem trincheiras ao longo dos possíveis desembarcadouros na margem Norte do Tejo, e os reforços se acumulam na capital, de entre os quais sobressaía o Duque de Bragança D. Teodósio e o seu irmão à frene de uma hoste de 1.000 homens de pé e 200 cavaleiros. Por seu lado, os ingleses preparam em Cascais o reembarque das tropas, após se terem recomposto com o gado recolhido nas redondezas da vila e de saquearem Colares e Sintra, de onde trouxeram armas e dinheiro. A armada de Sir Francis Drake apresou ainda uma imprudente frota de 60 navios hanseáticos carregados de cereais destinados a Lisboa, mas de pouco valeu a carga, pois a cavalaria portuguesa destruíra as mós dos moínhos em Oeiras e em Barcarena.

Embora ao longo do caminho para Lisboa as guarnições de Peniche, Torres Vedras e Cascais se tenham entregue praticamente sem resistência, as forças inglesas não foram suficientes nem para entrar na capital, nem para obter apoio popular à desejada sublevação portuguesa contra as autoridades espanholas. Em apenas 3 semanas de operações, as hostes inglesas haviam sofrido perto de 4.000 baixas devido a deserções, doença e combates, desde o cerco da Coruña. Confrontado com a sólida defesa organizada pelas forças militares espanholas, Drake saqueou a vila de Cascais e incendiou o castelo, partindo no dia 18 de Junho rumo ao Cabo de São Vicente com 8.500 sobreviventes.

Porém, na viagem de regresso da costa algarvia uma semana depois, a armada inglesa foi interceptada depois de temporariamente imbolizada por uma calmaria ao largo do Cabo Espichel pelas 15 galés espanholas estacionadas no Tejo comandadas pelo Adelantado Mayor de Castela D. Martín de Padilla Manrique (futuro Capitão-geral da Armada do Mar Oceano) e, numa acção inédita na carreira de Drake, este perde 5 navios em combate (3 afundados e 2 incendiados) que durou 3 horas com as forças defensoras na perseguição movida ao largo da costa portuguesa.

Entretanto, alguns navios ingleses enviados a recolher as tropas deixadas em Peniche são recebidos com tiros de artilharia da guarnição espanhola. Descobrem então que o capitão inglês a cujas ordens ficaram os últimos ingleses já havia partido para Inglaterra, abandonando 300 soldados à sua sorte.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSi2bX6oAqDI%2FAAAAAAAAAII%2F30mmqjYytqE%2Fs400%2Fcrato_050.JPG&hash=c4e3e91832e85071b10b6ab04ff28e65)
Apesar da superioridade dos navios ingleses de alto-bordo sob Drake, as fortes defesas da barra do Tejo dissuadiram o avanço da armada inglesa até Lisboa (pormenor de um galeão espanhol num óleo sobre tela representando a derrota da "Invencível" Armada)

Pouco depois, o mau tempo obrigou ao cancelamento do desembarque inglês nas ilhas dos Açores, último objectivo da expedição. Poucas semanas depois, no início de Julho, as cobiçadas naus da Índia ancoraram na Baía de Angra, na ilha Terceira, onde aguardaram em segurança o regresso a Lisboa. Finalmente, a armada de Drake pôs-se em fuga e abandonou o litoral português rumo a Inglaterra, não sem antes saquear e incendiar Vigo, na Galiza. A 10 de Junho, Drake e D. António aportaram em Plymouth, trazendo os navios em mau estado e as tropas em situação miserável. Poucos dias depois estalaram motins e distúrbios entre os soldados que reclamaram soldos em atraso. Em Londres, o Secretário de Estado Walsingham escreveu a D. António, aconselhando-o prudentemente a partir para França pois caíra em desfavor na Corte inglesa.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F4.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSi2cttpmY1I%2FAAAAAAAAAIQ%2FZSWvqJspbYI%2Fs400%2FCrato_018.JPG&hash=900bad70eb0436c0617661ebe1a42912)
A antiga abadia de Buckland (Devon, Sul de Inglaterra), lar de dois grandes corsários ingleses, Sir Richard Grenville e Sir Francis Drake (que a adquiriu ao primeiro), foi lugar de reunião entre o pretendente ao trono português no exílio D. António e o próprio Drake na preparação das iniciativas contra Filipe II de Espanha.

Em Lisboa, celebrou-se a 20 de Julho uma procissão de acção de graças entre a Sé e São Francisco, na qual participaram todas as ordens religiosas, confrarias e gente "principal" e se transportou uma imagem de Nossa Senhora da Guia mutilada pelos ingleses, proveniente de uma ermida de Cascais. Seis semanas depois, a população de Roma assistiu ao regozijo do Papa Sixto-Quinto com a boa nova da retirada da expedição inglesa de Portugal, compondo pessoalmente um salmo e várias preces e liderando 36 cardeais e toda a Corte Pontifícia em mais uma procissão até à igreja de Sant'Antonio dei Portoghesi.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 01, 2010, 11:20:29 am
PARTE IV - Desfecho e Consequências

Em Inglaterra, a Rainha Isabel não poupou Sir Francis Drake pelo fracasso da expedição, sobretudo pela incapacidade em forçar a barra do Tejo para se reunir às tropas de Sir John Norris. Em resultado, o famoso corsário e almirante inglês cumpriu um desterro da Corte isabelina - e dos mares - durante 6 longos anos. Drake comprometera o resultado da grande armada inglesa e mostrara indisciplina face às ordens da Rainha no cumprimento dos objectivos. Ele e Norris foram incapazes de se justificar perante o Conselho Privado da Rainha das acusações de desvio dos objectivos previstos em proveito próprio. A destruição dos navios sobreviventes da "Invencível" Armada refugiados sobretudo no porto de Santander não foi cumprida.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSjFzWktNynI%2FAAAAAAAAAJA%2FuakORiX_zQY%2Fs400%2FA%2BTrue%2BCoppie%2Bof%2Ba%2BDiscourse...1589.jpg&hash=47cfadb75bc070c532646ef38683635d)
Relato testemunhal de Anthony Wingfield, A Trve Coppie of a Discourse written by a gentleman, employed in the late voyage of Spaine and Portingale... (London, 1589) disponível online (http://http). Exemplar na Kraus Collection of Sir Francis Drake, actualmente na Biblioteca do Congresso (Washington DC). Outro relato, em latim (na mesma colecção): Ephemeris expeditionis Norreysij & Draki in Lusitaniam (London, 1589)

A expedição de 1589 poderia ter sido decisiva na Guerra Anglo-Espanhola. A reconquista de Lisboa teria obrigado Filipe II a desviar tropas de outras frentes de guerra e poderia ter levado À negociação de tréguas segundo condições inglesas. De posse desta importante base naval e centro marítimo, a Inglaterra beneficiaria da colaboração das forças navais portuguesas garantindo, a curto prazo, o domínio dos mares e ameaçando seriamente os circuitos comerciais transatlânticos da Monarquia Hispânica. Contudo, a falta de preparação das tropas e de material, aliados à dissociação de interesses da Coroa e dos particulares que ajudaram a financiar a expedição a Portugal, ficaram patentes os limites de acção do emergente poder naval inglês.

Para o fracassso contribuiram, para além das negligências individuais dos comandantes, as crónicas insuficiências logísticas comuns às armadas ingleses desse período. Criara-se um equilíbrio de forças momentâneo no Atlântico, pois a Espanha ainda recuperava do fracasso da "Invencível" Armada de 1588 e reconstruia as suas forças navais. A guerra no mar contra Filipe II recrudesceria na década seguinte sobretudo com recurso aos navios corsários navegando sob bandeira de D. António contra a marinha mercante ibérica. Mas o receio inglês de novas grandes armadas espanholas continuou tão vivo como em 1588.

A própria questão do fortíssimo antagonismo religioso entre Católicos e Protestantes havia sido correctamente previsto pelo líder espiritual da Revolta dos Países Baixos (Philippe Marnix de Sainte-Aldegonde), ao recusar o convite de D. António para integrar a expedição e estabelecer a liberdade de culto em Portugal, invocando as inevitáveis animosidades e fortes desconfianças dos católicos portugueses.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSjQS8X9HtnI%2FAAAAAAAAAJQ%2FZEPveG2H_T0%2Fs320%2FIsabel%2BI%2C%2BThe%2BArmada%2BPortrait%2C%2Bescola%2BGeorge%2BGower%2C%2Bc.%2B1600.jpg&hash=1d5c9bc572c64b6ce279561ce69a285e)(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2F1.bp.blogspot.com%2F_qzFLZUsfPOY%2FSjQTLRrNjmI%2FAAAAAAAAAJY%2Fd4EFcYQh-DI%2Fs320%2FCrato_09.JPG&hash=14cb0b4f20a137ef6707b95f13c05075)
Isabel I de Inglaterra e Filipe II de Espanha (I de Portugal) protagonizaram uma escalada militar que culminou na Guerra Anglo-Espanhola. As armadas espanhola e inglesa defrontaram-se entre 1585 até à morte de ambos os monarcas. Embora a "Invencível" (ou Grande) Armada de 1588 tenha sofrido um sério revés, o poder naval espanhol conseguiu recuperar e reformar-se, prolongando a guerra no mar até ao início de Seiscentos

Filipe II de Espanha (D. Filipe I de Portugal) manteve, através do Vice-Rei Alberto de Áustria, o controle firme de Lisboa e do território português. As grandes armadas espanholas mantiveram a Inglaterra em alerta mesmo após a derrota da "Invencível" Armada de 1588. O seu principal adversário português, D. António Prior do Crato perdeu todas as batalhas contra as forças espanholas, desde Alcântara (1580) até até à derradeira batalha de Lisboa (1589).

Numa das suas derradeiras cartas à Rainha Isabel I, D. António prometia não desistir de regressar a Portugal e procurou auxílio junto do Rei Henrique IV de França, mas sem sucesso pois não passou da fase de planeamento. A 26 de Agosto de 1595, dois dias antes da partida última expedição de Drake, D. António morreu em Paris na miséria. O seu conhecido e apoiante já idoso e apelidado pelos espanhóis de "Francisco Draque el viejo" morreria pouco tempo depois, em Janeiro de 1596 a bordo do seu navio no Mar das Caraíbas, onde iniciara a sua longa luta contra Espanha. Finalmente, no ano seguinte, o General Sir John Norris, último dos três protagonistas da expedição de 1589, já enfraquecido pela doença no regresso de Portugal, sucumbiu às velhas feridas de guerra na Irlanda.

«Amigos de Peniche»?

A história da expedição inglesa de 1589 padece ainda hoje de uma herança enganosa e redutora. Segundo alguns autores do séc. XX, a expressão popular amigos de Peniche deve a sua origem à falta de apoio dos ingleses no regresso de D. António a Portugal, numa acepção pejorativa de falsos amigos apenas interessados em saquear. Contudo, apesar de os ingleses terem retirado sem conseguirem de facto ajudar a causa de D. António, a origem da expressão não terá sido, até prova documental em contrário, contemporânea da expedição ou sequer relativa à mesma. Mais provavelmente, terá que ver com o desembarque das forças liberais em 1833 (aproveitando a fuga da guarnição do partido absolutista), consumado com actos de vandalismo e agressões a populares, atingindo sobretudo as igrejas, mutilando imagens e altares.


Fontes Publicadas

HAKLUYT, Richard, The Principal Navigations, Voyages, Traffiques and Navigations of the English Nation, London: The Hakluyt Society, vol. VII (London: 1907).

LIMA, Durval Pires de, "O ataque dos ingleses a Lisboa em 1589 contado por uma testemunha...", in Lisboa e seu Termo: Estudos e Documentos, Associação dos Arqueólogos Portugueses, vol. I (Lisboa: 1948).

Memorial de Pero Roiz Soares (1565-1628), publicado por M. Lopes de Almeida, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1963.

WERNHAM, Richard B. (ed.), The Expedition of Sir John Norris and Sir Francis Drake to Spain and Portugal in 1589, Aldershot: 1988.


Estudos Principais

CAEIRO, Francisco, O Arquiduque Alberto de Áustria, Vice-Rei e Inquisidor-mor de Portugal, Cardeal Legado do Papa, Governador e depois Soberano dos Países Baixos, Lisboa: edição do autor, 1961.

CASTRO, José de, O Prior do Crato, Lisboa, 1942.

MacCAFFREY, Wallace T., Elizabeth I: War and Politics, 1588-1603, Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1994 (2.ª ed.).

VAZ, João Pedro, Campanhas do Prior do Crato, 1580-1589: entre Reis e Corsários pelo Trono de Portugal, col. Batalhas de Portugal - 19, Lisboa: Tribuna da História, 2005.

VAZ, João Pedro e FONSECA, Luís Falcão da, "Sir Francis Drake and the «Poor King» D. António: the Portugal Voyage of 1589", in The British Historical Society of Portugal 23rd. Annual Report and Review 1996(Lisbon, 1997), pp. 25-53.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 01, 2010, 02:28:30 pm
Só umas pequenas questões:


Que tropas espanholas são essas, já que o que havia em Portugal era a guarda Tudesca (alemães e austriacos) e mercenários italinos ?
Seria interessante explicar porque havia tão poucos dispostos a lutar. Já agora, o que acontece quando um mercenário deixa de receber o soldo ?
Também seria interessante explicar o que aconteceu com o exército do Duque de Bragança, que acorreu para lutar contra as tropas de D. António. O exército reunido por D. Teodósio, Duque de Bragança tinha entre 6.000 a 12.000 homens.

A intervenção dos «espanhois» que como sabemos na sua maioria nem sequer eram espanhois nem de qualquer reino da peninsula,foi minima.
Quem ganhou o confronto foi o Duque de Bragança, que preferiu defender o rei Habsburgo de Madrid, que lhe concedia grandes benefícios (que o comprou) em vez de defender a independência de Portugal.
E o conflito de 1589, foi acima de tudo resultado do ódio de morte que D.Teodósio (Duque de Bragança) nutria por D. António (Prior da ordem do Crato).
D. Teodosio sabia perfeitamente que se D. Antonio tomasse o poder em Lisboa, tudo o que pertencia à Casa de Bragança (a família nobre mais rica de toda a peninsula ibérica) seria perdido.
D. Teodósio o Duque de Bragança, não lutou sequer contra Portugal, ou pela Espanha, lutou sim para manter as suas riquezas.

Como a casa de Bragança voltou ao poder em Portugal após 1640, a participação aviltante do duque ao lado dos Habsburgos espanhóis foi sendo esquecida e desvalorizada.
A coroa castelhana (sobre a qual recaia o peso das despesas militares de toda a coroa, já desde o tempo de Carlos V - como o próprio Carlos V afirmava ) estava falida e era incapaz de pagar aos mercenários para defender qualquer área de Portugal. Por isso, só quem poderia ajudar a manter o Satus Quo eram as elites portugueses, com a Casa de Bragança à cabeça.

Filipe II disse em 1581, A Portugal herdei-o, conquistei-o e comprei-o.


O resto, é conversa...
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 01, 2010, 06:39:24 pm
Caro papatango, realmente nada como boas questões para uns bons esclarecimentos. Não admira, pois este é um período histórico ainda mal estudado e pejado de preconceitos e desconhecimentos. Como deverá imaginar, todas essas questões foram objecto de apreciação e investigação durante o meu trabalho neste e noutros livros, a partir de arquivos tanto portugueses, como espanhóis.

Vamos então por partes:

Citação de: "papatango"
Que tropas espanholas são essas, já que o que havia em Portugal era a guarda Tudesca (alemães e austriacos) e mercenários italinos ?...

Ora, as tropas espanholas eram isso mesmo: destacamentos das forças militares da Coroa de Espanha (leia-se profissionais e não mercenários)  em Portugal. Esta foi, aliás, uma das principais violações dos Acordos de Tomar assinados em 1581 na investidura de Filipe II enquanto D. Filipe I de Portugal, ou seja, a ausência de tropas estrangeiras da força dominante. Obviamente, sem essas tropas, nunca teria sido possível à Coroa de Espanha dominar Portugal. A força de ocupação espanhola era formada nem mais nem menos do que por alguns dos famosos Tercios, ou Terços em português, e dividiam-se em companhias, das quais existem dezenas de "livros de mostra" no Arquivo da Torre do Tombo contabilizando mês a mês os efectivos e os pagamentos, a nível individual e pormenores quanto às movimentações das companhias e dos Tercios. Estas tropas espanholas formaram as guarnições das fortificações continentais e das ilhas adjacentes. Possuíam uma hierarquia bem definida, encabeçada pelo Capitão-Geral da Gente de Guerra do Reino e por um Mestre de Campo Geral do Reino residente no castelo de São Jorge. Ambos os cargos resultam da manutenção em Portugal das forças militares espanholas enquanto durou o domínio dos reis Filipes, ou seja, até 1640.

Tanto os oficiais, como os soldados da maioria dos Tercios eram espanhóis. Existiram, como sempre sucedeu ao longo de Quinhentos, companhias e até Terços inteiros de tropas alemãs e italianas, com algumas companhias soltas de flamengos, irlandeses e escoceses (estes sim, não regulares mas a sua força era mínima). Algumas unidades de veteranos do famoso Exército da Flandres (o maior e melhor exército de todo o século XVI na Europa) integraram as forças invasoras (sendo o Tercio de Flandres o mais reputado), e pouco depois lideraram a tomada da ilha de São Miguel (1582) e da Terceira (1583), incluindo unidades de infantaria de marinha (os predecessores dos fuzileiros), no caso do Tercio de Nápoles. A Guarda Tudesca do rei já existia em Lisboa anteriormente à invasão espanhola mas, tanto quanto se sabe, não viu combate pois tratava-se de uma simples guarda de honra, além dos seus efectivos serem mínimos. No decurso da expedição inglesa de 1589, as poucas tropas portuguesas que intervieram fizeram-no apenas como auxiliares e, mais uma vez, foram controladas pela hierarquia espanhola ao ponto de quase não entrarem em combate. Sobre este tema das forças militares espanholas em Portugal poderei em breve quantificar os efectivos e terei todo o gosto em partilhar aqui esses resultados. Acho surpreendente que hoje em dia só nós neste cantinho à beira-mar ainda não reconheçamos os factos acerca da potência ocupante em Portugal e da sua máquina militar, tanto terrestre, como naval.

Resumindo, a acção das forças espanholas não foi "mínima", foi, isso sim, unica e totalmente responsável pela defesa da capital e pelo domínio do território. A missão das guarnições espanholas (que, após a conquista de Portugal e tomada dos Açores, se resumiu a cerca de 11.000 - 12.000 soldados) era dupla: consistia na controle do território contra eventuais sublevações internas enquanto mantinham a segurança contra ameaças externas. Recordemos - e para isso bastará ler com atenção os meus textos, não somente os que coloquei nos "posts" acima, como no livro referido, onde encontrará todas as notas necessárias - que para o fracasso da expedição inglesa contribuiram o mau planeamento e a péssima logística da parte de uma força conjunta entre interesses privados (comerciais) e de Estado (militares). As chefias e as forças militares espanholas em Portugal souberam tirar o maior partido dessas deficiências.

Citação de: "papatango"
Seria interessante explicar porque havia tão poucos dispostos a lutar. Já agora, o que acontece quando um mercenário deixa de receber o soldo ?

Duas razões explicam a falta de apoio popular à expedição inglesa em favor de D. António: a repressão eficaz (hoje chamar-se-ia "contra-insurreição") e o medo generalizado. Ambos provocados pela extensa rede de informações de Filipe II e que se encontram amplamente documentados, com prisões indiscriminadas, deportações e execuções de todos os potenciais partidários de D. António contra Espanha. Aqui também não se deverá omitir o papel das elites que, grosso modo, contribuiram para a pacificação forçada do reino através da sua vassalagem pública prestada em 1581 nos Acordos de Tomar para com Filipe II enquanto D. Filipe I de Portugal. As inevitáveis rivalidades e colaborações da maior parte da nobreza dificultaram ainda mais a articulação de uma sublevação.

Quanto à questão dos "mercenários", confesso não entender como isso cabe neste tópico, uma vez que não houve da parte espanhola qualquer envolvimento militar fora do âmbito profissional. Uma vez mais, não há qualquer referência nas diversas fontes portuguesas, espanholas, italianas e inglesas que consultei. O teatro de operações convencional dos mercenários circunscrevia-se sobretudo à Europa Central, entre os Países Baixos, as Províncias Unidas, a França e aos estados italianos.

Citação de: "papatango"
Também seria interessante explicar o que aconteceu com o exército do Duque de Bragança, que acorreu para lutar contra as tropas de D. António. O exército reunido por D. Teodósio, Duque de Bragança tinha entre 6.000 a 12.000 homens.

Esta questão não se colocou nesses termos. Aliás, quem escolheu e acedeu prestar vassalagem ao candidato mais poderoso ao trono de Portugal não foi o jovem D. Teodósio, mas sim sua mãe a Duquesa D. Catarina. Obviamente, o facto de Filipe II ter pago o resgate de D. Teodósio ainda adolescente prisioneiro após Alcácer-Quibir contribuiu muito para essa conclusão (para além do facto de, segundo as leis sucessórias da época, as mulheres perderem sempre para os homens na candidatura ao trono).
A participação na defesa de Lisboa em 1589 do Duque de Bragança à frente da sua famosa comitiva de 10 ou 12.000 camponeses bem vestidos mas mal armados e completamente "maçaricos" apenas reforçou a sua lealdade ao rei espanhol, compreensível dado os interesses mútuos. Tratava-se mesmo de uma obrigação sua em apoio do seu soberano legitimado. A questão de uma hipotética sucessão de D. Teodósio de Bragança ao trono de Portugal contra Filipe II simplesmente nunca se colocou. Finalmente, não se tratou de "vitória" de D. Teodósio de Bragança porque:
a) as suas forças já chegaram tarde demais para intervir, visto que os ingleses haviam levantado o cerco à capital. A sua contribuição prática foi nula, para além de vistosa. Os próprios testemunhos e cronistas dos acontecimentos pouca atenção prestam.
b) o Duque nunca demonstrou interesse em liderar uma sublevação, nem sequer dispunha de apoio para tal, ao contrário do imenso partidarismo popular à causa de D. António, assim como da comunidade cristã-nova (na maioria grandes comerciantes) e do baixo clero incluindo alguns fidalgos e membros da nobreza.

Citação de: "papatango"
A intervenção dos «espanhois» que como sabemos na sua maioria nem sequer eram espanhois nem de qualquer reino da peninsula,foi minima.
Quem ganhou o confronto foi o Duque de Bragança, que preferiu defender o rei Habsburgo de Madrid, que lhe concedia grandes benefícios (que o comprou) em vez de defender a independência de Portugal.
E o conflito de 1589, foi acima de tudo resultado do ódio de morte que D.Teodósio (Duque de Bragança) nutria por D. António (Prior da ordem do Crato).
D. Teodosio sabia perfeitamente que se D. Antonio tomasse o poder em Lisboa, tudo o que pertencia à Casa de Bragança (a família nobre mais rica de toda a peninsula ibérica) seria perdido.
D. Teodósio o Duque de Bragança, não lutou sequer contra Portugal, ou pela Espanha, lutou sim para manter as suas riquezas. Como a casa de Bragança voltou ao poder em Portugal após 1640, a participação aviltante do duque ao lado dos Habsburgos espanhóis foi sendo esquecida e desvalorizada.


Não há nada nos arquivos, ou em qualquer estudo da época que aponte para um alegado "ódio de morte" de D. Teodósio, Duque de Bragança contra D. António Prior do Crato.

Citação de: "papatango"
A coroa castelhana (sobre a qual recaia o peso das despesas militares de toda a coroa, já desde o tempo de Carlos V - como o próprio Carlos V afirmava ) estava falida e era incapaz de pagar aos mercenários para defender qualquer área de Portugal. Por isso, só quem poderia ajudar a manter o Satus Quo eram as elites portugueses, com a Casa de Bragança à cabeça.

Esta afirmação não encontra qualquer fundamento nas análises históricas nem nos extensos fundos de arquivos investigados. Além de ser confuso (não houve "mercenários", mas sim forças regulares da Coroa de Espanha em Portugal), as elites portuguesas tinham interesses próprios compatíveis com os de Filipe II na sua gestão do domínio espanhol em Portugal. Recordemos que o rei se encontrou quase sempre ausente e por isso as elites reforçaram algum do seu poder (excepto o militar, por razões óbvias) nos respectivos territórios da nobreza.

Caro papatango, a minha reconstituição e análise da campanha inglesa de 1589 a Portugal deve-se a uma década de estudos, investigações, debates prolongados sobre estes temas tão mal estudados da máquina militar e naval em Portugal durante o final de Quinhentos. E a primeira evidência absoluta e inabalável é justamente a co-existência de uma máquina administrativa e militar dupla, portuguesa e espanhola sediada em Lisboa...à imagem da Monarquia Dual luso-espanhola que caracterizou a União Ibérica iniciada em 1580. Enquanto não nos libertarmos de alguns velhos fantasmas, podemos investigar e revelar muito mas as opiniões continuarão a ofuscar os factos. O que é uma pena  c34x
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 02, 2010, 12:39:09 am
Citar
Ora, as tropas espanholas eram isso mesmo: destacamentos das forças militares da Coroa de Espanha (leia-se profissionais e não mercenários) em Portugal. Esta foi, aliás, uma das principais violações dos Acordos de Tomar assinados em 1581 na investidura de Filipe II enquanto D. Filipe I de Portugal, ou seja, a ausência de tropas estrangeiras da força dominante. Obviamente, sem essas tropas, nunca teria sido possível à Coroa de Espanha dominar Portugal.

Meu caro João Vaz, permita-me que em primeiro lugar coloque as coisas no seu contexto:

Em 1589 não havia nenhuma Coroa de Espanha.
Não havendo Coroa de Espanha, logo não poderia haver tropas da Coroa de Espanha.

Em segundo lugar, no século XVI, o soldado profissional é por natureza e definição um MERCENÁRIO.
As tropas mercenárias, são constituídas por soldados de Elite, que têm a guerra como profissão.
É a primeira coisa que deve entender quando estuda a guerra no século XVI. O Mercenário, é o soldado de Elite, porque evidentemente ninguém paga a um mercenário se ele não for um bom soldado e não tiver experiência.

Portanto, não entendo a sua expressão «leia-se profisionais e não mercenários».

No século XVI não há tropa profissional que não seja mercenária. Mercenário, é o nome que se atribui ao militar que vende os seus serviços como militar a um senhor. No século XVI e até ao século XIX não há o conceito de Nação e de serviço à Nação. Há apenas o conceito de serviço ao Senhor. Seja Rei, Duque, Conde ou Bispo.

Desde o período de Carlos V, que a maior parte das tropas de elite da Coroa dos Habsburgos são militares mercenários católicos de origem germânica.
Fora os militares de origem germânica, havia também bastantes italianos dos estados do Sul de Itália além de holandeses católicos (ou flamengos para ser mais correcto).

Na Península ibérica, a principal força militar da Coroa de Castela e Leão (A principal potência militar de entre os países da península ibérica) era constituída por Galegos.
A Galiza era uma região rica em termos de agricultura e por isso tinha uma grande densidade populacional. Mas como havia muita gente, os segundos, terceiros e restantes filhos não herdavam e isso levava-os a imigrar, sendo o serviço militar uma das soluções.

Dos reinos da Coroa de Aragão não havia grande numero de militares para forças terrestres. Tanto a Catalunha como o reino de Valência eram Talassocracias, muito mais interessadas em aumentar e manter o seu poder naval. Normalmente mandavam o rei em Madrid dar uma volta quando este pedia dinheiro para tropas.

É por isso que a Coroa de Castela é praticamente a única que contribui sempre para o esforço militar. É assim desde Carlos V, que fala dos «meus pobres e fiéis súbditos castelhanos», os únicos que ainda pagam as despesas dos seus exércitos.
É também isso que explica as revoltas separatistas da Andaluzia em meados do século XVII, protestando contra a injustiça a que os castelhanos estavam submetidos, por pagarem muito mais que os outros reinos da Coroa dos Habsburgos.
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A força de ocupação espanhola era formada nem mais nem menos do que por alguns dos famosos Tercios, ou Terços em português, e dividiam-se em companhias, das quais existem dezenas de "livros de mostra" no Arquivo da Torre do Tombo contabilizando mês a mês os efectivos e os pagamentos, a nível individual e pormenores quanto às movimentações das companhias e dos Tercios

Como você mesmo disse, uma das exigências nas Cortes de Tomar era que o Reino continuasse a ter as suas próprias defesas e forças. Em parte isso aconteceu e é por isso que havia muito poucas tropas directamente dependentes da Coroa em Portugal.
Aliás, não acha estranho que tendo em 1589 a Coroa dos Habsburgos problemas tão graves (a coroa estava praticamente falida por causa das despesas com a Armada), conseguisse ainda assim dinheiro para sustentar os Terços em Portugal ?

E se essas forças eram realmente poderosas, e os documentos a que alude  não constituíam apenas (confirmando a ilustre  tradição portuguesa de roubar utilizando a burocracia) um artifício para justificar o envio de ouro desde Madrid para Lisboa para os braços da nobreza corrupta, então porque D. Teodósio, Duque de Bragança,  armou primeiro um exército de 6.000 homens e depois um segundo exercito de 13.000 às suas próprias custas (pago pela Casa de Bragança) para defender o Reino ?
(in Oliveira Martins, Guimarães Editores p.308).

As forças comandadas pelo Duque de Alba, enviadas contra Portugal em 1580, eram sem dúvida  forças poderosas, constituídas pelos melhore mercenários alemães e italianos, MAS NENHUM EXÉRCITO mantém uma força de elite numa região ocupada, ainda mais quando conseguiu através da corrupção, comprar a nobreza mais influente.

= = =
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Tanto os oficiais, como os soldados da maioria dos Tercios eram espanhóis. Existiram, como sempre sucedeu ao longo de Quinhentos, companhias e até Terços inteiros de tropas alemãs e italianas, com algumas companhias soltas de flamengos, irlandeses e escoceses (estes sim, não regulares mas a sua força era mínima).
= = =

Será como diz, mas veja o que nos diz Domingos Ortiz na sua obra «três milénios de História de Espanha»:
«En los momentos culminantes España llegó a tener en Flandes cerca de ochenta mil hombres, pero apenas la tercera parte eran españoles;
el resto, italianos, alemanes y flamencos, y a finales del siglo también ingleses e irlandeses.
Era la mejor fuerza armada que había en el mundo, pero profesional, costosa; si faltaban las pagas se relajaba la disciplina, se producían motines y a veces se produjo el lamentable espectáculo de los saqueos de ciudades; el más famoso, el de Amberes en 1576,consecuencia directa de la bancarrota estatal del año precedente, que había bloqueado el envío de numerário.


Quer dizer-nos o que aconteceu em termos de pagamentos às tropas reais exactamente no ano de 1589, aquando do ataque dos ingleses e relacionar o ocorrido com o paragrafo em que o historiador espanhol afirma que quando não recebiam pagamento as tropas eram indisciplinadas e chegavam a saquear as cidades ? ? ? ?

Quer relacionar o facto com a urgente tomada de posição de Dom Teodósio, organizando à pressa um exército constituido exclusivamente por portugueses para atacar os ingleses  ?
Se alguns dos famosos Tercios de elite estavam em Portugal, numa altura em que a coroa cortava nos salários porque estava quase falida, não acha estranho que o homem mais rico da península ibérica tivesse que pagar um exército do seu próprio bolso ?
Lembre-se que falamos de 1589, um ano a seguir à derrota da armada invencível e não de 1580. As tropas de elite de 1580/1581 foram-se todas embora após a saída do rei em 1583 (se não me equivoco).

A ideia de que os portugueses não participaram no conflito é apenas resultado da tradição histórica da Espanha castelhana de menosprezar qualquer participação militar portuguesa em todo e qualquer acontecimento. Essa tradicional arrogância que às vezes chega a roçar o patético por parte dos espanhóis, também tem que ser considerada por nós quando analisamos este tipo de temas.

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A coroa castelhana (sobre a qual recaia o peso das despesas militares de toda a coroa, já desde o tempo de Carlos V - como o próprio Carlos V afirmava ) estava falida e era incapaz de pagar aos mercenários para defender qualquer área de Portugal. Por isso, só quem poderia ajudar a manter o Satus Quo eram as elites portugueses, com a Casa de Bragança à cabeça.
Esta afirmação não encontra qualquer fundamento nas análises históricas nem nos extensos fundos de arquivos investigados. Além de ser confuso (não houve "mercenários", mas sim forças regulares da Coroa de Espanha em Portugal),

Quanto aos mercenários, creio que deverá analisar um pouco a História Militar. Ou então devemos tentar definir o que é para si um mercenário.

Peço que não leve a mal a minha impertinência, mas mais uma vez, a maior parte dos livros que li sobre a Espanha e a História de Espanha, todos apontam no sentido de a Coroa de Castela e Leão, ter sido o principal sustentáculo económico das aventuras militares de Carlos V e de Filipe II.
Isto prende-se com o facto de o rei em Madrid não ter por exemplo acesso aos direitos aduaneiros cobrados nos seus restantes domínios.

O tradicional erro que nós portugueses cometemos, é não tentar entender a Espanha do século XVI. Em Aragão, por exemplo, Filipe II pouco podia cobrar de impostos. Em Portugal nem se fala.
Em 1588, a armada foi mandada sair, porque só o seu aparelhamento, praticamente todo feito às custas da Coroa de Castela estava a consumir cerca de 80% dos impostos cobrado aos castelhanos (A coroa de Castela e Leão arrecadava uma média de 900.000 ducados por mês em impostos e desse dinheiro, 700.000 ducados eram enviados para Portugal todos os meses para sustentar a armada ).
A armada saiu com enormes faltas de material, porque pura e simplesmente a coroa estava praticamente falida e não tinha mais dinheiro. (A fonte não é de origem espanhola, é apenas o livro de Augusto Salgado e João Pedro Vaz sobre a armada Invencivel da "Tribuna da História", 2004, que até tem o patrocinio do Instituto da Defesa Nacional). A Fazenda Real, declarou bancarrota em 1557 em 1575 e em 1596, mas os problemas financeiros e as dificuldades de pagamento eram endémicas.

No ano seguinte à derrota da armada a situação financeira era muito complicada e naturalmente o dinheiro para as tropas nas regiões menos importantes e consideradas mais seguras era tudo menos prioritário.
Só isto explica a necessidade de recorrer às tropas locais de D. Teodósio, o Duque de Bragança.
Não eram evidentemente tropas de elite, mas foram o suficiente para mostrar aos ingleses, que quem conseguia reunir forças eram os partidários do rei espanhol.

A situação continuou a degradar-se continuamente, com a cobrança de mais e mais impostos que seriam pagos pela Coroa de Castela, ainda na última década do século XVI.
No século XVII, para tentar aliviar a pressão sobre a depauperada coroa castelhana, tentou-se a famosa lei da "união de armas" e a partir daí, foi o colapso.

Nós não fomos ocupados pela Espanha durante 60 anos. As nossas elites optaram por «chular» os castelhanos até ao tutano. Quando Castela estava seca e já não dava nada  e ainda por cima começaram a pedir às nossas elites que pagassem impostos, então apareceram os nobres nacionalistas e proclamaram a independência.
Também não creio que encontre nenhuma evidência documental disto.
Mas eu acredito que nós também vivemos de mitos e a realidade não é facilmente aceitável pelo nosso ego. Habituamo-nos a dizer que fomos invadidos pelos espanhóis, e parte do nosso sentimento nacionalista a partir da quarta dinastia baseou-se nisso.

Se contestamos isso, ficamos sem nada. O país continua a ter razão para existir, o problema é que fica complicado explicar as razões ao maralhal.
Afinal, somos um povo que se habituou a viver de expedientes, a roubar os outros (periodo romano) a roubar os mouros (reconquista) a invadir as terras dos outros (invasão de Ceuta), a roubar as riquesas dos outros (império da India), a viver dos impostos que os outros pagavam (dinastia Filipina) a explorar o trabalho dos outros (Império do Brasil) e a viver de dinheiro emprestado (União Europeia).

Trágico ... :mrgreen:
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 02, 2010, 12:30:21 pm
Sempre às ordens para esclarecimentos:

Citação de: "papatango"
Em 1589 não havia nenhuma Coroa de Espanha.
Não havendo Coroa de Espanha, logo não poderia haver tropas da Coroa de Espanha

Pode-se discordar. Aquilo que aponta é apenas um preciosismo arcaico, o qual os próprios historiadores espanhóis já ultrapassaram com toda a razão, uma vez que, além de Portugal, só existiu mais um monarca na Península Ibérica, o rei de (toda a) Espanha desde Carlos V de Habsburgo (Carlos I de Espanha). O termo Espanha também é empregue no século XVI. Toda a historiografia contemporânea aceita e é perfeitamente concordante nesse pormenor.

Citação de: "papatango"
Em segundo lugar, no século XVI, o soldado profissional é por natureza e definição um MERCENÁRIO.
As tropas mercenárias, são constituídas por soldados de Elite, que têm a guerra como profissão.
É a primeira coisa que deve entender quando estuda a guerra no século XVI. O Mercenário, é o soldado de Elite, porque evidentemente ninguém paga a um mercenário se ele não for um bom soldado e não tiver experiência.

Portanto, não entendo a sua expressão «leia-se profisionais e não mercenários».

No século XVI não há tropa profissional que não seja mercenária. Mercenário, é o nome que se atribui ao militar que vende os seus serviços como militar a um senhor. No século XVI e até ao século XIX não há o conceito de Nação e de serviço à Nação. Há apenas o conceito de serviço ao Senhor. Seja Rei, Duque, Conde ou Bispo.

Tal definição incorre noutro erro, não sustentado por qualquer estudo ou documento da época e completamente cego à modernização dos estados ocidentais europeus no final do Renascimento. É reconhecido que o século XVI teve um grau de desenvolvimento considerável (daí o "Renascimento") diferente de uma "pré-história" militar em que apenas mercenários actuam ao serviço dos monarcas e estadistas. É mais uma noção antiquada e totalmente descartada na historiografia militar desde há muito tempo. Seria conveniente actualizar as fontes em que se baseia. Deixo-lhe no entanto um dado há muito adquirido pelos estudiosos da matéria: o século XVI é justamente o século de profissionalização das forças militares e navais. Isto porque se criam os primeiros exércitos segundo conceito moderno, ou seja, forças profissionais permanentes. Os mercenários simplesmente co-existiram, mas já não dominavam o campo de batalha e sempre foram numericamente inferiores precisamente porque eram dificilmente controláveis. Essa lição já tinha sido aprendida com as prolongadas guerras no final da Idade Média e no início do Renascimento. O século XVI (e isto não é anda revolucionário, é ensinado nas Universidades há muito tempo) assistiu ao nascimento dos Estados Modernos, com o desenvolvimento de administrações complezas, permanentes que por seu lado apoiaram o início dos primeiros exércitos nacionais e o embrião das futuras marinhas de guerra.

Além de não encontrar nenhuma relação entre o que escreve e os meus textos na insistência de "mercenários" no final do século XVI na Península Ibérica, tambem se percebe muita confusão entre Mercenário e Soldado de Elite, conceito ausente no Século XVI.


Citação de: "papatango"
Desde o período de Carlos V, que a maior parte das tropas de elite da Coroa dos Habsburgos são militares mercenários católicos de origem germânica.
Fora os militares de origem germânica, havia também bastantes italianos dos estados do Sul de Itália além de holandeses católicos (ou flamengos para ser mais correcto).

Mais uma vez, há confusão de épocas históricas e uma ideia redutora e simplista do período em causa. Mesmo assim, merce correcção básica, mas necessária:
1) Na segunda metade de Quinhentos, "A maior parte das tropas de elite" não foram "mercenários católicos de origem germânica" e não há estudos actuais que sustentem tal afirmação. Trata-se, uma vez mais, de um conceito totalmente ultrapassado.
Indico-lhe para leitura as obras do Professor Geoffrey Parker, o especialista pioneiro no estudo do Exército da Flandres e das forças militares espanholas na segunda metade do século XVI. Em particular, recomendo vivamente um dos principais estudos da História Militar dos Séculos XVI e XVII, The Military Revolution, onde é apresentado e sustentado o modelo evolutivo de transição europeu entre as "hostes" feudais e os mercenários para exércitos profissionais permanentes (assim como se operou no domínio naval).
2) Se conseguir ler com atenção as minhas explicações no primeiro "post" de resposta, verá que lá descrevo a composição do exército de invasão espanhol que actuou em Portugal nas décadas de 1580 e de 1590 e a necessária explicação acerca da intervenção de tropas estrangeiras nos exércitos de Espanha (e não se trata de mercenários). Penso, por isso, ser desnecessário repetir-me neste tópico.


Citação de: "papatango"
Na Península ibérica, a principal força militar da Coroa de Castela e Leão (A principal potência militar de entre os países da península ibérica) era constituída por Galegos.
A Galiza era uma região rica em termos de agricultura e por isso tinha uma grande densidade populacional. Mas como havia muita gente, os segundos, terceiros e restantes filhos não herdavam e isso levava-os a imigrar, sendo o serviço militar uma das soluções.

Dos reinos da Coroa de Aragão não havia grande numero de militares para forças terrestres. Tanto a Catalunha como o reino de Valência eram Talassocracias, muito mais interessadas em aumentar e manter o seu poder naval. Normalmente mandavam o rei em Madrid dar uma volta quando este pedia dinheiro para tropas.

Essa explicação poderia colher algo se tivesse sido proferida há 60 anos. Porém, não há qualquer novidade nem ligação entre estes dois parágrafos e a minha descrição e análise da expedição inglesa a Portugal em 1589. Isto, para além de verificar, mais uma vez, que os compêndios em que se baseia são antiquados e referem-se a épocas anteriores àquela estudada e apresentada aqui. Já agora, mais uns esclarecimentos úteis:
1) a Galiza sempre foi o parente pobre em Espanha nesta época.
2) Aquilo que escreve diz respeito sobretudo à Idade Média, uns quantos séculos atrasados quanto ao âmbito da minha apresentação.
3) "Mandar o rei dar uma volta" é interessante para explicar o facto de a Catalunha nunca se ter autonomizado completamente. A dura repressão da Revolta (ou Alterações) de Aragão em 1591 deu um sinal forte da intransigência do rei em relação às pretensões autonómicas. Trata-se de uma afirmação exagerada e desprovida de realidade no último quartel do século XVI (o período em questão), devido à forte centralização do poder em Madrid e do consequente reforço militar na Península. Daí que Espanha seja uma realidade já no século XVI, facto reconhecido pela historiografia há muito tempo.


Citação de: "papatango"
É por isso que a Coroa de Castela é praticamente a única que contribui sempre para o esforço militar. É assim desde Carlos V, que fala dos «meus pobres e fiéis súbditos castelhanos», os únicos que ainda pagam as despesas dos seus exércitos.
É também isso que explica as revoltas separatistas da Andaluzia em meados do século XVII, protestando contra a injustiça a que os castelhanos estavam submetidos, por pagarem muito mais que os outros reinos da Coroa dos Habsburgos.

E então...? Além de mais conceitos confusos, apenas se reforça a constatação de que as forças militares da Coroa de Espanha eram...espanholas em Espanha...

Citação de: "papatango"
Como você mesmo disse, uma das exigências nas Cortes de Tomar era que o Reino continuasse a ter as suas próprias defesas e forças. Em parte isso aconteceu e é por isso que havia muito poucas tropas directamente dependentes da Coroa em Portugal.
Aliás, não acha estranho que tendo em 1589 a Coroa dos Habsburgos problemas tão graves (a coroa estava praticamente falida por causa das despesas com a Armada), conseguisse ainda assim dinheiro para sustentar os Terços em Portugal?

Sinceramente, gostaria que desenvolvesse mais as suas dúvidas sem misturá-las com afirmações e opiniões que simplesmente não correspondem aos factos hoje conhecidos, pois não entendo o que pretende questionar. As forças militares da Coroa de Espanha em Portugal eram pagas por vezes com atraso, mas isso era algo comum a todas as forças dos principais estados europeus. E aqui em Portugal, apesar dessa situação, nunca deixaram de servir. Apenas denoto que continua a insistir na qestão de "tropas de elite" e de "mercenários", tema totalmente marginal no tema e no período em questão.

Citação de: "papatango"
E se essas forças eram realmente poderosas, e os documentos a que alude  não constituíam apenas (confirmando a ilustre  tradição portuguesa de roubar utilizando a burocracia) um artifício para justificar o envio de ouro desde Madrid para Lisboa para os braços da nobreza corrupta, então porque D. Teodósio, Duque de Bragança,  armou primeiro um exército de 6.000 homens e depois um segundo exercito de 13.000 às suas próprias custas (pago pela Casa de Bragança) para defender o Reino ?
(in Oliveira Martins, Guimarães Editores p.308).

Estes documentos nem sequer passaram por mãos portuguesas, trata-se de documentos oficiais da administração militar (Vedoria-Geral de Guerra) espanhola em Portugal. Não existiu qualquer conspiração envolvida...
O Duque de Bragança, que era bem mais pacífico do que alguns antepassados seus, não fez mais do que a sua obrigação como principal nobre do reino em serviço do seu monarca legitimado e fê-lo à medida das suas posses, que eram consideráveis (graças em parte, ao apoio de Filipe II).
Poderia ficar aqui a esclarecê-lo com todo o gosto as suas dúvidas - até porque é um tema que muito aprecio - mas reparo aqui que chegamos ao cerne das suas dúvidas. As suas fontes têm um atraso de muitas décadas em relação aos estudos modernos dos últimos 50 anos e sobretudo relativamente ao que tenho investigado em arquivos de Espanha e Portugal. Está explicada a causa das suas dúvidas. Para afirmar algo peremptoriamente, é indispensável munir-se de actualizações, dados recentes e não de obras ultrapassadas.


Citação de: "papatango"
As forças comandadas pelo Duque de Alba, enviadas contra Portugal em 1580, eram sem dúvida  forças poderosas, constituídas pelos melhore mercenários alemães e italianos, MAS NENHUM EXÉRCITO mantém uma força de elite numa região ocupada, ainda mais quando conseguiu através da corrupção, comprar a nobreza mais influente.

Não sei o que pretende questionar aqui? Após a conquista espanhola, houve uma desmobilização e durante 60 anos permaneceram tropas espanholas (sobretudo guarnições) em Portugal, tendo havido posteriores mobilizações consoante preparativos defensivos e organização de grandes armadas.

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Tanto os oficiais, como os soldados da maioria dos Tercios eram espanhóis. Existiram, como sempre sucedeu ao longo de Quinhentos, companhias e até Terços inteiros de tropas alemãs e italianas, com algumas companhias soltas de flamengos, irlandeses e escoceses (estes sim, não regulares mas a sua força era mínima).
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Citação de: "papatango"
Será como diz, mas veja o que nos diz Domingos Ortiz na sua obra «três milénios de História de Espanha»:
«En los momentos culminantes España llegó a tener en Flandes cerca de ochenta mil hombres, pero apenas la tercera parte eran españoles;
el resto, italianos, alemanes y flamencos, y a finales del siglo también ingleses e irlandeses.
Era la mejor fuerza armada que había en el mundo, pero profesional, costosa; si faltaban las pagas se relajaba la disciplina, se producían motines y a veces se produjo el lamentable espectáculo de los saqueos de ciudades; el más famoso, el de Amberes en 1576,consecuencia directa de la bancarrota estatal del año precedente, que había bloqueado el envío de numerário.


Quer dizer-nos o que aconteceu em termos de pagamentos às tropas reais exactamente no ano de 1589, aquando do ataque dos ingleses e relacionar o ocorrido com o paragrafo em que o historiador espanhol afirma que quando não recebiam pagamento as tropas eram indisciplinadas e chegavam a saquear as cidades ? ? ? ?

O motim das tropas reais e o subsequente saque de Anvers em 1576 deveu-se à prolongada falta de pagamentos a parte das tropas mais reputadas do Exército Espanhol da Flandres em luta contra os rebeldes holandeses. Nunca mais se repetiu tal acto. Tratava-se, afinal, do principal teatro de operações e maior linha da frente da Monarquia Hispânica naquela que foi denominada de Guerra dos 80 anos. Tal como já apontei mais acima, houve também atrasos repetidos em Portugal (e é Portugal que me interessa aqui, não me refiro aos Países Baixos que já foram muito bem estudados), mas isso nunca chegou perto de qualquer motim.
E é aqui que pode radicar mais alguma confusão: Dominguez Ortíz refere-se exclusivamente ao Exército Espanhol da Flandres, enquanto eu apenas me refiro à Península Ibérica e, mais concretamente, a Portugal.
Se confundir dois teatros de operações completamente distintos, é natural que acabe por ver "mercenários" estrangeiros e "tropas de elite" em demasiados teatros. A composição maioritária do exército de invasão espanhol em Portugal em 1580 era espanhola. E a subsequente ocupação e pacificação do reino foi realizada nas décadas seguintes exclusivamente por tropas espanholas. É isso mesmo que a documentação inédita nos mostra e a vária documentação publicada confirma. Consulte por exemplo a Coleccion de Documentos Inéditos para la Historia de España, onde se encontra parte considerável da correspondência dos principais oficiais espanhois na campanha de 1580 e também sobre a Conquista dos Açores consulte a correspondência régia dos anos de 1582 e de 1583 publicada por Cesáreo Fernández Duro, ambas publicadas no final do século XIX e disponíveis na Biblioteca Nacional.
Quanto à sua dúvida acerca do "pagamento às tropas reais" em 1589, é simples: não ocorreu nada de anormal.


Citação de: "papatango"
Quer relacionar o facto com a urgente tomada de posição de Dom Teodósio, organizando à pressa um exército constituido exclusivamente por portugueses para atacar os ingleses?

Se alguns dos famosos Tercios de elite estavam em Portugal, numa altura em que a coroa cortava nos salários porque estava quase falida, não acha estranho que o homem mais rico da península ibérica tivesse que pagar um exército do seu próprio bolso?

1) Também já expliquei isso mais acima. Conveniência mútua: mostrar serviço ao rei e obrigação de vassalo. Ainda assim, a iniciativa foi tardia e não obteve qualquer benefício prático para a defesa de Lisboa. A prática da formação de contingentes territoriais a partir de senhorios terratenentes era bem antiga e considerada um dever de cada nobre de acordo com as suas posses.
2) Nova confusão: não encontra escrito meu afirmando haver "Tercios de elite" em Portugal em 1589? Houve sim Tercios viejos, ou seja, de veteranos (que em Portugal também se denominmavam de "aventureiros") entre 1580 e 1583 e novamente entre 1587 e 1588 embarcados na "Invencível" Armada. Esses eram reputados pela experiência e combatividade.


Citação de: "papatango"
Lembre-se que falamos de 1589, um ano a seguir à derrota da armada invencível e não de 1580. As tropas de elite de 1580/1581 foram-se todas embora após a saída do rei em 1583 (se não me equivoco).

Por acaso "lembro-me" desse facto da "Invencível" Armada, pois sucede que tive oportunidade de publicar em 2002 (reeditado em 2004) o primeiro livro em português dedicado em exclusivo ao estudo dessa campanha naval. Já expliquei logo acima.

Citação de: "papatango"
A ideia de que os portugueses não participaram no conflito é apenas resultado da tradição histórica da Espanha castelhana de menosprezar qualquer participação militar portuguesa em todo e qualquer acontecimento. Essa tradicional arrogância que às vezes chega a roçar o patético por parte dos espanhóis, também tem que ser considerada por nós quando analisamos este tipo de temas.

Repare: acabou de falar em "ideia". Eu baseio-me nos factos.
Essa afirmação é totalmente incorrecta. Se ler com atenção e sem preconceitos a análise por mim apresentada, denotará a participação portuguesa, ainda que marginal. Mas isso teve as suas razões, compreensíveis à luz da documentação e da situação vivida na época, não deve ser alvo de opiniões automaticamente redutoras e simplistas. Se o sentimento nacional fica beliscado, isso não pode transparecer numa investigação imparcial. Quando se realiza uma investigação demorada e se prepara a sua publicação seriamente (penso que não estará a pensar de outro modo em relação aos estudos que divulguei em parte neste tópico), apenas uma coisa interessa: factos concretos, a partir de documentação fidedigna.
Por isso, mais uma vez aponto que utilizei (não por acaso!) documentação e iconografia da mais diversa proveniência, oficial e privada, desde os arquivos espanhóis, portugueses, ingleses e italianos. Obviamente, trata-se da única maneira de trabalhar, esclarecer e divulgar temas históricos. Se ainda por cima tenta contradizer os factos que apurei com opiniões e ideias retiradas de obras completamente ultrapassadas, julgo que fica claro a validade da argumentação. Existe boa e má historiografia tanto em Espanha, como em Portugal. O que é necessário é discernimento e traçar um caminho válido por entre as inverdades ou as deficiências identificadas.


Citação de: "papatango"
A coroa castelhana (sobre a qual recaia o peso das despesas militares de toda a coroa, já desde o tempo de Carlos V - como o próprio Carlos V afirmava ) estava falida e era incapaz de pagar aos mercenários para defender qualquer área de Portugal. Por isso, só quem poderia ajudar a manter o Satus Quo eram as elites portugueses, com a Casa de Bragança à cabeça.
Esta afirmação não encontra qualquer fundamento nas análises históricas nem nos extensos fundos de arquivos investigados. Além de ser confuso (não houve "mercenários", mas sim forças regulares da Coroa de Espanha em Portugal).[/quote]

Citação de: "papatango"
Quanto aos mercenários, creio que deverá analisar um pouco a História Militar. Ou então devemos tentar definir o que é para si um mercenário.

Peço que não leve a mal a minha impertinência, mas mais uma vez, a maior parte dos livros que li sobre a Espanha e a História de Espanha, todos apontam no sentido de a Coroa de Castela e Leão, ter sido o principal sustentáculo económico das aventuras militares de Carlos V e de Filipe II.
Isto prende-se com o facto de o rei em Madrid não ter por exemplo acesso aos direitos aduaneiros cobrados nos seus restantes domínios.

Caro papatango, não tenho que levar a mal, embora não entenda a obstinação de tentar fazer valer argumentos já ultrapassados. Eu também não pretendo mais do que divulgar assuntos desconhecidos da nossa história. E está à vista porque razão o faço, justamente porque há demasiado tempo que perduram preconceitos e noções ultrapassadas, além de profundo desconhecimento acerca do Portugal sob domínio espanhol, em particular nas vertentes militar e naval que tenho vindo a estudar nos últimos 15 anos. Faço-o porque se trata de um tema verdadeiramente complexo e denso e simultaneamente espectacular devido aos protagonistas e à escala e sucessão dos acontecimentos. Sempre fui imparcial e sou exigente quanto ao rigor comigo mesmo e com o que faço.

Citação de: "papatango"
O tradicional erro que nós portugueses cometemos, é não tentar entender a Espanha do século XVI. Em Aragão, por exemplo, Filipe II pouco podia cobrar de impostos. Em Portugal nem se fala.
Em 1588, a armada foi mandada sair, porque só o seu aparelhamento, praticamente todo feito às custas da Coroa de Castela estava a consumir cerca de 80% dos impostos cobrado aos castelhanos (A coroa de Castela e Leão arrecadava uma média de 900.000 ducados por mês em impostos e desse dinheiro, 700.000 ducados eram enviados para Portugal todos os meses para sustentar a armada ).
A armada saiu com enormes faltas de material, porque pura e simplesmente a coroa estava praticamente falida e não tinha mais dinheiro. (A fonte não é de origem espanhola, é apenas o livro de Augusto Salgado e João Pedro Vaz sobre a armada Invencivel da "Tribuna da História", 2004, que até tem o patrocinio do Instituto da Defesa Nacional). A Fazenda Real, declarou bancarrota em 1557 em 1575 e em 1596, mas os problemas financeiros e as dificuldades de pagamento eram endémicas.

Esse João Pedro Vaz sou eu  :D
Repare: para colocar as coisas no seu contexto devido, façamos uma comparação elucidativa, senão o texto fica infindável: a Espanha do final de Quinhentos era uma potência militar e económica comparável aos Estados Unidos do final do século XX. Mesmo com dívidas continuadas de bilhões de dólares, as operações de guerra não páram, até aumentam. A Espanha sofreu nas décadas de 1580 e de 1590 uma das maiores receitas anuais de todo o século XVI em metais preciosos da América e contraía pesados créditos nas principais praças financeiras e junto da próspera comunidade cristã-nova. As sucessivas bancarrota em Espanha serviram para se "livrar" das cobranças, tal como hoje sucede com alguns empresários duvidosos.

Citação de: "papatango"
No ano seguinte à derrota da armada a situação financeira era muito complicada e naturalmente o dinheiro para as tropas nas regiões menos importantes e consideradas mais seguras era tudo menos prioritário.
Só isto explica a necessidade de recorrer às tropas locais de D. Teodósio, o Duque de Bragança.
Não eram evidentemente tropas de elite, mas foram o suficiente para mostrar aos ingleses, que quem conseguia reunir forças eram os partidários do rei espanhol.

Os responsáveis pela anulação da ameaça da expedição inglesa de 1589 foram:
1) o mau planeamento e a péssima logística da mesma, somados ao conflito de interesses entre interesses privados (financeiros e comerciais) e da Coroa (objectivos militares e políticos).
2) o serviço de informações espanhol que manteve sempre bem informadas as autoridades em Madrid e Lisboa e também, obviamente as forças espanholas de ocupação que guarneciam as fortificações, souberam reforçar-se e manter o inimigo à distância até ao único confronto (ocorrido no actual Bairro Alto), em que as tropas expedicionárias inglesas foram previsivelmente derrotadas.


Citação de: "papatango"
A situação continuou a degradar-se continuamente, com a cobrança de mais e mais impostos que seriam pagos pela Coroa de Castela, ainda na última década do século XVI.
No século XVII, para tentar aliviar a pressão sobre a depauperada coroa castelhana, tentou-se a famosa lei da "união de armas" e a partir daí, foi o colapso.

Nós não fomos ocupados pela Espanha durante 60 anos. As nossas elites optaram por «chular» os castelhanos até ao tutano. Quando Castela estava seca e já não dava nada  e ainda por cima começaram a pedir às nossas elites que pagassem impostos, então apareceram os nobres nacionalistas e proclamaram a independência.
Também não creio que encontre nenhuma evidência documental disto.
Mas eu acredito que nós também vivemos de mitos e a realidade não é facilmente aceitável pelo nosso ego. Habituamo-nos a dizer que fomos invadidos pelos espanhóis, e parte do nosso sentimento nacionalista a partir da quarta dinastia baseou-se nisso.

Não vejo razões para discordar, em traços gerais. Aliás, os recentes estudos de Rafael Valladares em Espanha são concordantes nesses pontos e documentam-nos muito bem.
Só para concluir, é evidente que a invasão, ocupação e domínio espanhol em Portugal não foi um mar de rosas (embora também tenha aberto algumas oportunidades), e a situação após a morte de Filipe II (D. Filipe I de Portugal) não parou de piorar com os dois monarcas seguintes.
Mais uma vez, a falta de conhecimento actualizado destes temas em geral no nosso país é culpa nossa. Contam-se pelos dedos de uma mão os estudiosos que permaneceram imparciais e souberam entender o contexto próprio, contando com as fontes documentais cuja existência (mas não a análise) é conhecida e acessível desde há mais de um século.
Os debates devem, por isso ser bem sustentados, para conveniência de todos. Sem questões, não há evolução.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: teXou em Setembro 02, 2010, 01:02:08 pm
Caros amigos sff só ... continuar ... continuar ... continuar, discussão e trocas bem interessantes.  :G-beer2:
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: YOMISMO em Setembro 02, 2010, 04:09:29 pm
Caro João, simplemente magnífica su descripción de los "hechos" y recalco "hechos" que no es lo mismo que "suposiciones".

Algunos foristas todavía piensan  que España nunca existió y que nuestros ejércitos y colonizadores eran "mercenarios" y similares.

Lo dicho, sublime sus comentarios.

Cumprimentos.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 02, 2010, 07:51:44 pm
Vamos por partes, concentrando-nos na questão principal:

Em 1589, os ingleses organizam uma incursão a Portugal, como vingança pela tentativa de invasão pela Armada Invencível.
As tropas inglesas devem tomar o país, com o apoio dos portugueses que D. António afirma que poderá reunir.
Ao contrário do que foi prometido por D. António, não houve nenhum levantamento popular de Portugueses contra o rei Filipe I (Felipe II de Castela / Felipe-I de Navarra, etc…).

Em 1589, não havia tropas da coroa suficientes para debelar a invasão britânica. No total a armada inglesa conta com 27.600 homens e 12.400 são soldados de pé [1].

Para lhe dar um termo de comparação, na Primavera de 1588 (29 de Abril para ser mais preciso),  o Duque de Parma envia uma carta ao rei, a informar que não tinha homens suficientes para participar na campanha contra Inglaterra. Nessa carta, Parma informa que não tem o total de 380.421 coroas necessárias para pagar às tropas do exército da Flandres.

O exército da Flandres, o mais poderoso exército da Coroa dos Habsburgos, considerado por muitos historiadores espanhóis como o melhor exército do mundo, praticamente não tinha capacidade (por falta de dinheiro para pagar aos soldados mercenários) para movimentar ou dispensar 17.000 homens de pé e 1.000 de cavalaria ligeira.[2].
Foram enviadas tropas desde a Peninsula Ibérica, constituidas pelos tércios castelhanos de D.Antonio de Manrique e de D.Antonio de Zuniga, mas em 1588 estas forças estavam reduzidas a uma mole de espanhóis esfarrapados e doentes com Tifo.
Em 1588, antes do episódio da Armada, o principal exército dos Habsburgos hispânicos era constituído pelo seguinte:

Infantaria Espanhola: 8.718 homens (Espanhóis são os habitantes da península ibérica, na altura não havia distinção)
Infantaria Italiana : 5.339 homens
Infantaria da Borgonha, Irlanda e Escócia: 3.278 homens
Infantaria da Valónia : 17.825 homens
Infantaria Alemã: 19.925 homens
Cavalaria ligeira: 1.180 homens.


Em 1588, a coroa de Castela estava com tal falta de homens, que em vez de mandar os militares castelhanos para o norte de África, para onde costumavam ser mandados antes da colocação nos Tércios principais (a título de treino e preparação), os recrutas foram enviados directamente para o exército da Flandres (incluídos em infantaria espanhola).
Estas tropas sem treino e por isso de péssima qualidade, enviadas desde a Península, ficaram conhecidas como «Tercio de la Zarabanda» ou Tércio dos dançarinos, porque não sabiam lutar e dançar era a única coisa para que tinham capacidade.

Logo, após a catástrofe da armada invencível, e considerando que a crise económica e demográfica não acabou de um dia para o outro, em 1589, menos de um anos depois, a situação era no mínimo idêntica (não há milagres, por muito que acreditassem neles na altura).
A Coroa não tinha sequer tropas de elite para colocar nos Tércios do exército da Flandres, o seu mais poderoso exército terrestre, mas aparentemente, segundo a sua tese tinha tropas de elite para colocar em Portugal, onde o Duque de Bragança tinha sido subornado pelo rei ?

Para colocar tropas castelhanas na Flandres, em preparação da invasão, houve Tércios que tiveram que ser enviados com um e dois anos de antecedência (1586 e 1587) [2]. Logo não nos vai dizer que, no meio de uma crise enorme, a coroa consegue enviar tropas de elite para Portugal em apenas alguns dias …
Vai ?

Mesmo o exército da Flandres, o mais poderoso de todos os exércitos na monarquia Hispânica, era assolado por crises de disciplina, por causa da falta de pagamentos. Este é um problema que assola todos os exércitos de mercenários.
O soldado (aquele que recebe o soldo) tinha que pagar comida, alojamento e fardamento com o dinheiro que recebia. A monarquia Hispânica não pagava com regularidade aos seus soldados (chegavam a estar um ano sem receber) e isso levava a indisciplina motins e deserções.

A sua tese não conta com estes factos e basicamente ignora-os. Mas estes factos podem explicar a necessidade de D. Teodósio, Duque de Bragança, organizar o seu próprio exército à pressa, para combater os ingleses.

Assim, o Duque de Bragança sentiu necessidade de organizar um exército, porque a soldadesca às ordens do Rei hispanico não lhe dava qualquer segurança e teria sido dizimada pelos ingleses.

D. Teodósio temia a chegada ao poder de D. António, o Prior da Ordem do Crato.
D. Teodósio-II, temia que ocorresse a mesma coisa que tinha ocorrido com o seu antepassado D. Fernando-II, o 3º Duque de Bragança, assassinado por D. Manuel em Évora sob acusação de traição.

Se D. Antonio tivesse sido aclamado Rei de Portugal com o apoio dos ingleses, era evidente que D.Teodósio II, o Duque de Bragança, perderia todo o seu dinheiro e poder, dado ser considerado um apoiante do rei.

Os ingleses são por isso combatidos pelos portugueses e não pelos espanhóis.
Os ingleses foram derrotados, mas acima de tudo desistiram. Desistiram quando perceberam que a força que D. António afirmava poder reunir, não poderia ser reunida e ao contrário eram os partidários portugueses do monarca espanhol que conseguiam reunir um exército.

Sem apoio popular, não fazia sentido a continuação da operação.

A tese de que havia uma sofisticada rede de informações organizada pela coroa hispânica, é interessante.
No entanto pense uma coisa:
Apenas alguns meses antes, a Armada invencivel saiu de Lisboa com destino à Flandres. Quando lá chegou, o Duque de Parma ficou espantado, porque não tinha recebido informação sequer da partida da armada meses antes de Lisboa.
O sistema de comunicações espanhol, não conseguia dizer ao Duque de Parma, na Flandres, que uma esquadra tinha saído de Lisboa, mas você afirma que alguns meses depois, esse mesmo sistema completamente falido conseguia informações precisas sobre a invasão inglesa...

Há quem acredite em bruxas...

Para terminar, a sua tese sobre a não existência de mais que duas monarquia na peninsula está completamente ultrapassada. Essa é a tese defendida pelos historiadores nazi-fascistas do periodo da ditadura de Francisco Franco. Essa é a tese da historiografia da Espanha Castelhana, que ainda hoje, com alguma razão, alega ter direitos que os outros países não devem ter, porque afinal, foram os impostos da Coroa de Castela que pagaram tudo.
Nesse aspecto eles têm razão. É um facto indesmentível, que foi o dinheiro da Coroa de Castela e Leão que suportou a maior parte dos gastos militares até ao ano de 1700, daquilo que alguns insistem em chamar (erradamente, de qualquer ponto de vista minimamente honesto) como Reino de Espanha.


Outro dos problemas da tese que nos apresenta, é que ela parece ser antiga, muito antiga de décadas ou mesmo séculos. A tese permite desculpabilizar os portugueses do ocorrido entre 1580 e 1640, apresentando os espanhóis como invasores e como gestores da defesa do país, responsáveis pela situação.
É importante frisar isto, especialmente no momento actual, em que passamos por uma situação idêntica à anterior a 1580, de apodrecimento da sociedade e em que as elites, profundamente corruptas, se prostituem com a mais despudorada facilidade.

Da mesma forma que as elites portuguesas se prostituíram em 1580, com o Duque de Bragança no carro da frente como Prostituto-Mor, também as elites actuais se prostituem da mesma maneira.
É importante entender, que os mesmos que se prostituíram, pagaram com os proventos da sua própria prostituição, um exército para apoiar aqueles que os colocaram na posição dominante em que se encontravam depois de 1580. E isso é importante hoje.

Na minha humilde opinião, a tese que nos apresenta é interessante, mas pouco inovadora. poderia ter sido escrita por qualquer espanhol. O seu problema, é que não tem coragem para fazer perguntas e para questionar a História.
Mas é apenas a minha opinião.


Depois você dá um exemplo que demonstra uma certa confusão, ao tentar demonstrar que a Espanha dos Habsburgos do final do século XVI é mais ou menos os Estados Unidos do final do século XX.
Esta é uma tese muito típica da historiografia mais tradicionalista dos espanhois. É no entanto uma tese sem cabeça tronco e membros.
Em primeiro lugar, os Estados Unidos são a potência marítima dominante, SEM QUALQUER DISCUSSÃO DE PODER. A monarquia hispânica nunca foi uma potência marítima capaz de impor o seu poder no mar.
Derrotou os turcos em Lepanto com o dinheiro e os navios de Veneza e utilizando as mesmas tácticas utilizadas pelas galés romanas, mas nunca controlou o Atlântico. Mesmo no auge do seu poderio, a Espanha era atacada no seu próprio território pelos ingleses.

A Espanha, foi quando muito a mais importante potência terrestre, mas mesmo assim, esse poder decorria do dinheiro que vinha das Américas e que servia para pagar a um exército de mercenários, sem os quais não havia poder militar.
Isso torna-se óbvio quando comparamos a dimensão demográfica dos reinos Habsburgos com a dimensão demográfica, daquele que será a Nemesis do poder hispânico: A França.

No final do século XVI, a população francesa ronda entre 18 e 20 milhões de habitantes. Castela terá entre 6 e 7 milhões e é o principal contribuinte com tropas. A Coroa de Aragão terá menos de 1 milhão, Portugal ligeiramente mais.
Só o dinheiro das Américas, e a taxação pesadíssima sobre os súbditos de Castela[3] (70% das receitas da coroa) permite ao ramos espanhol da Casa de Áustria, uma capacidade militar superior à sua dimensão demográfica, pagando o serviço de soldados estrangeiros. E mesmo assim é um poder contestado pela França, que ocupa uma posição estratégica entre a península ibérica e a Flandres e que também separa a península ibérica dos reinos da Itália.
Quando acaba o dinheiro das Américas, a Coroa dos Habsburgos hispânicos desaparece lentamente e a própria Coroa acaba por ceder ao inevitável, sendo absorvida. Em 1700, será um Francês a ascender ao trono, então sim, pela primeira vez da Espanha.
Mas de uma Espanha, que é nada mais que um satélite de uma França que cem anos antes era já um gigante do ponto de vista demográfico.

Não podemos deixar de considerar todos estes factores.



[1] – Batalhas de Portugal, Augusto Salgado / João Pedro Vaz
[2] – The Armada Campaign, John Tincey / Richard Hook
[3] - No século XVI, os subditos de Castela são os que estão sujeitos à maior carga fiscal em toda a Europa (três milénios de História de Espanha / Dominguez Ortiz)
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: YOMISMO em Setembro 03, 2010, 12:53:20 pm
ja,ja,ja  :shock:  :lol:

Que gran relato de ciencia-ficción nos ha descrito este fanáico antiespañol.

Menos mal que las personas con CI normal (es decir, menor que el de este señor) saben distinguir entre HECHOS y CIENCI-FICCIÓN.

Lo siguiente será que la Tierra no es redonda....
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 03, 2010, 01:14:49 pm
Citação de: "papatango"
Vamos por partes, concentrando-nos na questão principal:

Em 1589, os ingleses organizam uma incursão a Portugal, como vingança pela tentativa de invasão pela Armada Invencível.
As tropas inglesas devem tomar o país, com o apoio dos portugueses que D. António afirma que poderá reunir.
Ao contrário do que foi prometido por D. António, não houve nenhum levantamento popular de Portugueses contra o rei Filipe I (Felipe II de Castela / Felipe-I de Navarra, etc…).

A realidade é mais complexa do que uma vulgar "vingança", até porque a organização financeira e logística de uma armada numa escala sem precedentes na história inglesa não se poderia basear unicamente num tal pressuposto.

Na verdade, os objectivos da expedição inglesa de 1589 dividiam-se em 3:
1) Destruição dos navios sobreviventes do regresso da "Invencível" Armada nos portos espanhóis, neutralizando de facto o poder naval espanhol no Atlântico.
2) Desembarque em Portugal e conquista de Lisboa em apoio a uma sublevação em nome de D. António afim de o colocar no trono português.
3) Intercepção nos Açores das naus portuguesas de torna-viagem da Índia.

Nenhum destes objectivos foi alcançado e foi por isso que a Rainha aplicou castigos aos seus oficiais, nomeadamente a Drake que só voltou a comandar uma armada em 1595.
Os documentos só foram publicados na integra (e anotados) por Richard B. Wernham, The Expedition of Sir John Norris and Sir Francis Drake to Spain and Portugal in 1589, Aldershot: The Navy Records Society, 1988.


Citação de: "papatango"
Em 1589, não havia tropas da coroa suficientes para debelar a invasão britânica. No total a armada inglesa conta com 27.600 homens e 12.400 são soldados de pé [1].

Ora bem, visto que acaba de citar o meu livro acerca da participação portuguesa na "Invencível" Armada, poderá ler no capítulo relativo à expedição de 1589 um resumo do que publiquei aqui mesmo neste tópico que abri (aliás, tenho notado pelas suas questões que não leu nada bem esse livro, nem sequer os meus "posts" em que lhe providencio esclarecimentos). Encontrará aí as informações que explicam quem defendeu o território e a capital portuguesa, assim como os efectivos envolvidos.
Ressalto, porém, que não encontrará nesse meu livro, ao contrário do que supõe, a afirmação de que "não havia tropas da coroa suficientes para debelar a invasão britânica" (!). A afirmação é sua e não sei em que se baseia para chegar a essa conclusão.
Se ler com atenção a minha descrição (que, recordo novamente, está publicada e deu origem a este mesmo tópico), as guarnições de Lisboa apenas entraram em combate uma única vez e derrotaram os ingleses junto às antigas Portas de Santa Catarina. A capital foi recebendo reforços paulatinamente ao longo da Primavera devido às informações que chegaram a Madrid e a Lisboa acerca das intenções da ofensiva inglesa. E, de facto, nem sequer foi necessário recorrer à totalidade das forças espanholas para afastar a ameaça inglesa.
Por outro lado, o contingente anglo-holandês vindo de Inglaterra estava enfraquecido pela viagem (tinham sofrido perdas no caminho devido ao assalto falhado da Coruña e a doença, sendo que uma parte dos soldados seguiram na armada de Sir Francis Drake para Cascais, após a partida de Peniche para Lisboa do contingente com D. António e o General Sir John Norris) e as suas capacidades bélicas não se mostraram previsivelmente à altura das forças profissionais espanholas. Todas estas informações encontram-se num resumo maior no respectivo capítulo do meu livro Campanhas do Prior do Crato, 1580-1589.


Citação de: "papatango"
Para lhe dar um termo de comparação, na Primavera de 1588 (29 de Abril para ser mais preciso),  o Duque de Parma envia uma carta ao rei, a informar que não tinha homens suficientes para participar na campanha contra Inglaterra. Nessa carta, Parma informa que não tem o total de 380.421 coroas necessárias para pagar às tropas do exército da Flandres.

O exército da Flandres, o mais poderoso exército da Coroa dos Habsburgos, considerado por muitos historiadores espanhóis como o melhor exército do mundo, praticamente não tinha capacidade (por falta de dinheiro para pagar aos soldados mercenários) para movimentar ou dispensar 17.000 homens de pé e 1.000 de cavalaria ligeira.[2].

Aqui há que distinguir um "detalhe" importantíssimo:
O Duque de Parma nunca foi grande entusiasta dessa colossal operação combinada fadada ao insucesso (tal como foi planeada) que foi a "Invencível" Armada. O Duque era um oficial experiente e a sua relutância em apoiar essa campanha nos moldes em que o rei o obrigava a fazer indispuseram-no a aceitar facilmente uma contribuição das suas tropas do Exército da Flandres para uma armada duvidosa, retirando efectivos preciosos na manutenção da linha da frente contra os "rebeldes" holandeses. Há que perceber os interesses por detrás das palavras e das decisões. A decisão obsessiva de Filipe II no envio da Grande Armada de 1588 colocou pressão adicional no principal teatro de operações da Monarquia Hispânica, ou seja, na fronteira entre os Países Baixos (católicos) e as Províncias Unidas (protestantes). Algo dificilmente suportável para um grande comandante como o Duque de Parma. Os acontecimentos subsequentes deram-lhe inteira razão, visto que não houve condições mínimas para efectuar a transferência dos contingentes na costa da Flandres para os navios da Armada na sua passagem pelo Canal da Mancha, onde foram derrotados e postos em fuga.
O Exército Espanhol da Flandres (tal como já o referi mais de uma vez nas minhas respostas às suas questões) foi a força militar permanente mais numerosa e mais poderosa de todo o século XVI na Europa Ocidental. Por isso mesmo, a sua manutenção significou igualmente um dispêndio colossal ao Tesouro de Espanha. Essa foi uma das razões, a longo prazo (juntamente com a obsessão de novas armadas), das tréguas anglo-holandesas em 1609 e que conduziram ao colapso do poder espanhol na Europa no segundo quartel de Seiscentos, bem mais tarde. Uma vez mais, refiro-lhe o principal estudioso desta matéria consultado e indicado em todas as obras da especialidade: Geoffrey Parker, The Army of Flanders and The Spanish Road, 1567-1659: the Logistics of Spanish Victory and Defeat in the Low Countries' Wars (http://http) (2.ª ed., Cambridge, 2004) e The Military Revolution, 1500-1800: Military Innovation and the Rise of the West ) (http://http) (2." ed., Cambridge, 1996).


Citação de: "papatango"
Foram enviadas tropas desde a Peninsula Ibérica, constituidas pelos tércios castelhanos de D.Antonio de Manrique e de D.Antonio de Zuniga, mas em 1588 estas forças estavam reduzidas a uma mole de espanhóis esfarrapados e doentes com Tifo.
Em 1588, antes do episódio da Armada, o principal exército dos Habsburgos hispânicos era constituído pelo seguinte:

Infantaria Espanhola: 8.718 homens (Espanhóis são os habitantes da península ibérica, na altura não havia distinção)
Infantaria Italiana : 5.339 homens
Infantaria da Borgonha, Irlanda e Escócia: 3.278 homens
Infantaria da Valónia : 17.825 homens
Infantaria Alemã: 19.925 homens
Cavalaria ligeira: 1.180 homens.

Não concordo com a sua afirmação de que "na altura não havia distinção" entre nacionalidades portuguesa e espanhola. Veja com atenção o quadro das forças integrantes no meu livro acerca da Invencível Armada. A participação do contingente português está claramente registada: as "bandeiras" portuguesas ascenderam a um total aproximado de 2.000 homens se não me falha a memória.
Também é preciso ter em conta que o número de efectivos foi muito inconstante entre o período da chegada das primeiras unidades a Lisboa até à sua partida do Tejo e ainda no decurso da viagem. Entre o Verão de 1587 e a Primavera de 1588 houve dezenas de revistas às tropas (as "mostras" ou "muestras"), mas estas variam bastante.
Não tenho os números totais presentes à mão, mas o estudo mais actualizado e autorizado concernente aos efectivos militares da "Invencível" Armada encontrá-lo-á na sólida investigação de Manuel Gracia Rivas, Los Tercios de la Gran Armada (I587-I588), Instituto de Historia y Cultura Naval, Serie Gran Armada no. VI. Madrid: Editorial Naval, 1989.


Citação de: "papatango"
Em 1588, a coroa de Castela estava com tal falta de homens, que em vez de mandar os militares castelhanos para o norte de África, para onde costumavam ser mandados antes da colocação nos Tércios principais (a título de treino e preparação), os recrutas foram enviados directamente para o exército da Flandres (incluídos em infantaria espanhola).
Estas tropas sem treino e por isso de péssima qualidade, enviadas desde a Península, ficaram conhecidas como «Tercio de la Zarabanda» ou Tércio dos dançarinos, porque não sabiam lutar e dançar era a única coisa para que tinham capacidade.

De novo, está a confundir e misturar elementos.
Era característica comum à maioria dos Tercios ganharem alcunha. Uma das histórias acerca do Tercio de la Zarabanda (apenas um Tercio entre muitos, assim como as Legiões romanas). terá tido que ver com a dança do mesmo nome introduzida pelos soldados espanhóis na Flandres, uma anedota histórica no resto dos contingentes imensos da Monarquia Hipânica. Outros Tercios ganharam outras alcunhas sem que isso tivesse ligação directa com as reais capaciddes operacionais das mesmas unidades. Aliás, os Tercios espanhóis foram praticamente invencíveis na Europa até ao século XVII
.

Citação de: "papatango"
Logo, após a catástrofe da armada invencível, e considerando que a crise económica e demográfica não acabou de um dia para o outro, em 1589, menos de um anos depois, a situação era no mínimo idêntica (não há milagres, por muito que acreditassem neles na altura).
A Coroa não tinha sequer tropas de elite para colocar nos Tércios do exército da Flandres, o seu mais poderoso exército terrestre, mas aparentemente, segundo a sua tese tinha tropas de elite para colocar em Portugal, onde o Duque de Bragança tinha sido subornado pelo rei ?

"Tropas de Elite"? Onde?  :roll:  c34x  :lol:

[1] – Batalhas de Portugal, Augusto Salgado / João Pedro Vaz
[2] – The Armada Campaign, John Tincey / Richard Hook
[3] - No século XVI, os subditos de Castela são os que estão sujeitos à maior carga fiscal em toda a Europa (três milénios de História de Espanha / Dominguez Ortiz)[/quote]
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 03, 2010, 06:16:30 pm
Bom, descontando o facto de nenhuma das minhas afirmações ter sido realmente contestada, gostaria de acrescentar mais alguns detalhes.


As revoltas dos mercenários [1] eram constantes ainda com Carlos V. É verdade que na maior parte dos casos, os mercenários pura e simplesmente recusavam-se a lutar.
Mas houve muitas revoltas violentas. Em 1527, ainda durante Carlos V, as tropas amotinadas por causa da falta de pagamento saqueiam Roma, resultando da acção milhares de mortos, de entre os quais mil guardas do Papa assassinados.

Os problemas financeiros da Coroa dos Habsburgos hispânicos, vinham de havia muito tempo. Já Carlos V, deixara a seu filho Felipe, uma enorme dívida em 1556.

A coroa Hispânica é sustentada com o dinheiro da prata da América, mas mesmo esse dinheiro mostra-se insuficiente para sustentar as tropas às quais é necessário pagar o soldo.
O historiador espanhol Fernando Diaz Plaja, afirma claramente que não havendo dinheiro para pagar às tropas (que consumiam praticamente todos os recursos), a coroa tinha que pedir dinheiro emprestado aos banqueiros alemães, que adiantam o dinheiro necessário tendo como garantia a próxima remessa de prata e ouro do México e do Peru.
A situação é tal, que há casos durante o reinado de Felipe-II, em que os agentes dos banqueiros estão em Sevilha e embargam os navios da coroa no dia em que eles lançam ferro.
Durante o século XVI (2ª metade) A Espanha dos Habsburgos, e o seu núcleo principal, o Reino de Castela, é basicamente um país subdesenvolvido, que importa praticamente tudo o que é manufacturado

Cinquenta anos mais tarde, um outro massacre importante o de Antuérpia (Amberes em Castelhano) vem mais uma vez lembrar o que pode acontecer com tropas mercenárias que ficam fora de controle.
É claro, que o massacre de 7.000 pessoas (sete mil) às mãos dos mercenários que não recebiam o soldo que lhes era devido, foi um caso excepcional, mas foi apenas um episódio demonstrativo da enorme dificuldade que a coroa tinha para sustentar os custos do exército dos Habsburgos espanhóis na Holanda e para controlar esse exército.
O massacre, ocorrido em 1576, ocorre no ano seguinte à primeira declaração de Bancarrota por parte da Coroa dos Habsburgos Hispânicos no reinado de Felipe-II de Castela e Leão.
(aparentemente há quem afirme que as declarações de falência por parte da coroa eram apenas questões meramente burocráticas).

Henry Kamen, no seu livro «How Spain Became a World Power 1492-1763, Harper Collins, New York, 2003 » fala dos problemas financeiros crónicos da coroa hispânica, e afirma que em 1566 a coroa gastou 2 milhões de ducados por ano em despesas militares. Em 1570 gastou 4 milhões (38% desse valor com a Holanda) e em 1598 gastava 10 milhões de ducados. A somar a isso houve a preparação da armada invencível, que também segundo Kamen custou no total outros 10 milhões de ducados.

Isto implica, que a Coroa dos Habsburgos Hispânicos, sofreu continua e constantemente com problemas financeiros que inevitavelmente se reflectiram nas tropas, especialmente em 1589, o ano seguinte ao enorme esforço financeiro efectuado.

Uma tropa sem dinheiro não luta. É o primeiro sinal de protesto por parte das tropas.
Se há a possibilidade de as tropas se absterem de lutar, então há que fazer alguma coisa.

Não há nenhuma explicação razoável, para que D. Teodósio tenha armado duas forças militares importantes (12.000 homens era mais que o que toda a Espanha tinha no exército da Flandres) se as tropas espanholas que estavam em Portugal fosse capazes de dar conta do recado.



Ora, foi feita a afirmação de que a maioria das tropas do Habsburgo eram espanholas. Ora tal afirmação não encontra respaldo nas publicações mais recentes sobre o tema.

Henry Kamen afirma que Filipe II tinha em 1587 um exército de 100.000 soldados PAGOS.
Desses 100.000 homens, já vimos anteriormente (The Armada Campaing, 1588 / John Tincey / Osprey / 1988/95/96 – a páginas 9 e 10) que cerca de 60.000 faziam parte do exército da Flandres e destes 60.000, menos de 9.000 eram de origem hispânica.
Isto quer dizer, que mesmo que por absurdo, não houvesse mercenários não hispânicos em nenhuma outra força dos exércitos de Felipe-II, pelo menos 51% ou mais de metade do exército do Habsburgo era constituído por estrangeiros não hispânicos.

Por esta razão considero que a afirmação de que « Tanto os oficiais, como os soldados da maioria dos Tercios eram espanhóis.» é desprovida de fundamento ! ! ! [2]

Acredito no entanto, que a afirmação resulta também ela da enorme confusão criada com o termo Espanha, Império Espanhol, súbditos de Espanha, súbditos da Coroa etc…

Há autores, que referem como espanhóis, os súbditos de Felipe-II que não eram peninsulares. Como o nacionalismo castelhano é abrangente e tende a chamar Espanha a todos os domínios do monarca, os Flamengos, os Valões e os Italianos, são em alguns casos considerados súbditos espanhóis, para os distinguir por exemplo dos irlandeses, dos ingleses e dos católicos alemães.
Neste caso se considerarmos como hispânicos apenas os espanhóis (todos os peninsulares), temos que apenas 15% do exército da Flandres era constituído por hispânicos.
Mas se fizermos uma análise nacionalista muito ao gosto castelhano, teremos que tanto os italianos como os valões como os flamengos são súbditos de Felipe-II e para muitos são considerados súbditos espanhóis. Logo, neste caso teríamos que o exército da Flandres seria constituído por 60% de subditos espanhóis.

Um analista racional, dirá que o exército da Flandres tinha 15% de espanhóis.
Um nacionalista espanhol, dirá que o glorioso exército da Flandres era constituido por uma maioria de 60% de subditos espanhóis.

É evidente que esta última análise é absurda e naturalmente desonesta, porque não havia nenhum país chamado Espanha em 1588. Os súbditos flamengos de Felipe-II eram seus súbditos MAS NÃO ERAM ESPANHÓIS. E isto aplica-se a TODOS, com excepção dos portugueses naturalmente.

= = = = = = = = = = = = =

Há um problema com que sempre nos debatemos e que tem que ver com a questão do que é a Espanha.
A visão mais antiquada e mais fácil, pretende que a Espanha foi fundada pelos Reis Católicos (Isabel de Castela e Fernando de Aragão) e que a partir daí se criou um Estado-Nação, ou se caminhou para ele.
Esta visão da Historia é muito querida dos nacionalistas espanhóis de origem castelhana e foi a visão OFICIAL da História no período Nazi-fascista de Franco.
Prova disto é que até o símbolo do movimento Nazi espanhol «Falange» era o feixe de flechas que significava o amor entre Isabel de Castela e Fernando de Aragão.

Esse amor obviamente foi apenas uma fachada. Nada de concreto unia a Coroa de Aragão e a de Castela que não um casamento periclitante. A União esteve à beira do fim, após a morte de Isabel. O Império Espanhol foi desde aí, como o designa Felipe Fernández-Armesto, um Império Improvável.

Já no século XXI, há historiadores que se têm desviado dessa visão arcaica da Espanha, apontando claramente noutros sentidos. Entre eles está Henry Kamen.
Eu não invento nada, apenas me limito a ler o que as mentes desempoeiradas têm para dizer:

Leiam o seguinte:
Citar
More recently, historians [10] have managed to distance themselves
from the old myths,
which continue to survive because
nationalist and religious ideologies in Spain still nurture them. In
perspective, the reigns of the ‘Catholic Monarchs’ (a title granted
to Ferdinand and Isabella by the pope in 1496) coincided with
important innovations that justify the admiration of later generations,
but not the belief that they created a new state. They certainly
did not unite Spain
(see later), nor did they add substantially
to royal power, nor did they reform the Church (on this, see
Chapter 5). Isabella, moreover, played little part in the formation
of the Spanish Empire. She helped to finance Columbus, but when
she died in 1504 Hernan Cortés had only just landed in America.
The queen’s testament did not even mention the existence of the
New World and claimed no sovereignty over Naples [11].
(…)What were the ‘crown’, the ‘monarchy’ and the ‘state’? The power of the
‘crown’ was personal and also symbolic, but if there were any
pretensions to absolute power they could be found only in the Kingdom of Castile.

(…) The Spanish ‘monarchy’ was an association
of multiple kingdoms
like the original union of the Crown of
Castile and the Crown of Aragon in the persons of Ferdinand and
Isabella, in which each state functioned separately but under the
aegis of a single crown. The dynastic principle was fundamental.
‘All past monarchies began in violence and force of arms’, wrote
Gregorio López Madera in his Excellences of the Monarchy of Spain
(1597), ‘only that of Spain has had just beginnings, great part of it
coming together by succession’. When Ferdinand was recognised
as king of Naples in 1504, so bringing to an end the wars in southern
Italy, the crown was deemed to be his personally; and by no
means was Naples subjected to Spain. In the same way, Ferdinand
claimed to be king of Navarre in 1512 by dynastic right; the kingdom
that he occupied remained independent of but associated
with Spain.
(…)Dynastic right was also the fundamental issue that led to the occupation
of Portugal much later in 1580 by Philip II. Portugal too
remained independent of Spain.
Over and beyond the associated
and independent states of the ‘monarchy’, Spain during these
years built up control of other territories that contemporaries
came to look upon as an ‘empire’ (see Chapter 3).
The various realms associated with early modern Spain retained
their complete independence in government, laws, coinage and
armed forces (there were, for example, autonomous parliaments
in the Netherlands, Naples and Sicily) and were joined together
only by obedience to a common sovereign.
The French historian Pierre Chaunu in 1970 referred to this as a multiple monarchy or
‘dynastic Grand Alliance of the seventeen crowns’, and was among
the first to emphasise the complex nature of an empire
bound
together by dynastic right

Spain, a Golden Age, Henry Kamen
First published 2004 by
PALGRAVE MACMILLAN
ISBN 1–4039–3337–5 paperback

Creio que é fácil entender, porque contesto quando alguém fala da Coroa Espanhola e das tropas da Coroa Espanhola. Isto gera confusão e distorções, como vimos acima.

O entendimento da Espanha, passa por ler por exemplo Ortega y Gasset no seu «España Invertebrada» e interpretar as realidades de que fala, à luz das visões mais modernas sobre o que realmente foi o século XVI e XVII em Portugal e na Espanha.


[1] – A definição de Mercenário não é pacífica.
[2] - Esta razão leva-me a considerar que quanto maior for o numero de estrangeiros mal pagos, menos seria a eficiência de qualquer soldadesca espanhola que pudesse estar em Portugal em 1589, o que justificaria a intervenção do Duque de Bragança.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 06, 2010, 01:13:27 pm
Ora então vamos lá esmiuçar isto...

Citação de: "papatango"
Bom, descontando o facto de nenhuma das minhas afirmações ter sido realmente contestada, gostaria de acrescentar mais alguns detalhes.

É o único a achar isso, característico da sua obstinação confusa.
Há uma diferença entre a ignorância e a burrice: os que sofrem do primeiro mal não têm culpa, enquanto os segundos são premeditamente os que insistem orgulhosamente no erro e não sabem ou não querem aprender.
Se diminuísse o seu orgulho e lesse com atenção o que tenho escrito, não seriam necessárias tantas explicações da minha parte. Mas como hoje acordei bem disposto e sou realmente interessado por estes temas tão pouco conhecidos, aqui vão mais umas informações (que decerto irá ignorar?)


Citação de: "papatango"
As revoltas dos mercenários [1] eram constantes ainda com Carlos V. É verdade que na maior parte dos casos, os mercenários pura e simplesmente recusavam-se a lutar.
Mas houve muitas revoltas violentas. Em 1527, ainda durante Carlos V, as tropas amotinadas por causa da falta de pagamento saqueiam Roma, resultando da acção milhares de mortos, de entre os quais mil guardas do Papa assassinados.

Pois eu também posso regressar a D. Afonso Henriques para explicar o estado actual das coisas militares..., mas com certeza não fará muito sentido. O mesmo se passa com a sua insistência inútil em épocas anteriores (Reis Católicos, Carlos V) aos factos aqui estudados e apresentados (Filipe II). Chama-se a isso anacronismo.

Citação de: "papatango"
Os problemas financeiros da Coroa dos Habsburgos hispânicos, vinham de havia muito tempo. Já Carlos V, deixara a seu filho Felipe, uma enorme dívida em 1556.

A coroa Hispânica é sustentada com o dinheiro da prata da América, mas mesmo esse dinheiro mostra-se insuficiente para sustentar as tropas às quais é necessário pagar o soldo.
O historiador espanhol Fernando Diaz Plaja, afirma claramente que não havendo dinheiro para pagar às tropas (que consumiam praticamente todos os recursos), a coroa tinha que pedir dinheiro emprestado aos banqueiros alemães, que adiantam o dinheiro necessário tendo como garantia a próxima remessa de prata e ouro do México e do Peru.
A situação é tal, que há casos durante o reinado de Felipe-II, em que os agentes dos banqueiros estão em Sevilha e embargam os navios da coroa no dia em que eles lançam ferro.
Durante o século XVI (2ª metade) A Espanha dos Habsburgos, e o seu núcleo principal, o Reino de Castela, é basicamente um país subdesenvolvido, que importa praticamente tudo o que é manufacturado.

De volta à sua confusão obstinada e limitada a três temas, vamos recomeçar a aula de explicações:
A questão financeira da Monarquia Hispânica sob Filipe II foi alvo de estudos sérios e aprofundados. Esse não é o caso do autor que indica, Fernando Diaz-Plaja, romancista histórico. É que não tem nada a ver com estudos históricos, seria o mesmo que eu utilizar o Equador para explicar a colonização portuguesa em África no início do século XX... Se quiser ler estudos históricos genuínos, pode sempre voltar às indicações que deixei há uns "posts" atrás. Neles irá aprender que aquilo que diz com tanto alarme já foi explicado há muito tempo. Empréstimos? situação vulgaríssima em que todas as Coroas europeias se encontravam. Simplesmente, nenhum estado europeu encaixou tanta receita como o Tesouro de Espanha no século XVI. Se, por acaso, tivesse lido as minhas respostas anteriores, verá que não é nenhuma novidade a constatação das dificuldades económicas de Espanha no final do século XVI e que, apesar disso mesmo:
- Nunca a Monarquia Hispânica sofreu uma derrota dos seus exércitos sob Filipe II
- Nunca voltou a ter uma situação de descontrolo pontual como a do saque de Anvers / Antuérpia / Antwerpen. Se souber de algo novo para a historiografia, sff indique-o
- Nunca essa situação fez mais do que atrasar ligeiramente o programa de reconstrução do poder naval espanhol e português.
- A situação foi de facto muito compensada pelo aumento significativo do encaixe em ouro e prata da América a partir do final da década de 1580, somado à aprovação nas Cortes de Madrid do novo imposto dos "Millones" em 1589 para um novo programa de construção naval, génese da primeira esquadra ibero-atlântica de carácter permanente, a "Real Armada do Mar Oceano". Finalmente, os créditos constantes da importante comunidade de banqueiros-mercadores cristãos novos foi um recurso fácil e constante, pois efectivamente as declarações de "bancarrota" espanhola significaram apenas a reavaliação, ou mesmo a anulação do pagamento dos juros, quando não das próprias dívidas.
- Sugestão de leitura actualizada:
Pierre et Huguette CHAUNU, Séville et l'Atlantique (1504-1650). Paris: S. E. V. P. E. N., (1955-1960), 8 vols.

 
Citação de: "papatango"
Cinquenta anos mais tarde, um outro massacre importante o de Antuérpia (Amberes em Castelhano) vem mais uma vez lembrar o que pode acontecer com tropas mercenárias que ficam fora de controle.

Errado. Não se trata de tropas mercenárias, e sim de Tercios, ou seja tropas regulares que formavam então o Exército Espanhol da Flandres, o primeiro exército profissional permanente na Europa.

Citação de: "papatango"
É claro, que o massacre de 7.000 pessoas (sete mil) às mãos dos mercenários que não recebiam o soldo que lhes era devido, foi um caso excepcional, mas foi apenas um episódio demonstrativo da enorme dificuldade que a coroa tinha para sustentar os custos do exército dos Habsburgos espanhóis na Holanda e para controlar esse exército.

Errado. O massacre ocorreu em Antuérpia (na costa da Flandres), não na Holanda.
Ora nem mais, nunca mais se verificou tal situação: o controlo do exército foi tão eficaz sob as ordens do Duque de Alba (muito mais merecedor da alcunha "Duque de Ferro" do que Wellington alguma vez o foi). Logo, a "enorme dificuldade" que afirma nunca significou perda militar para o Exército Espanhol da Flandres.
Já agora, nunca é demais repetir as minhas explicações (mesmo que insista em ignorá-las, nem consiga contestá-las):
"Tal como já apontei mais acima, houve também atrasos repetidos em Portugal (e é Portugal que me interessa aqui, não me refiro aos Países Baixos que já foram muito bem estudados), mas isso nunca chegou perto de qualquer motim." Além disso,"eu apenas me refiro à Península Ibérica e, mais concretamente, a Portugal." Acredite que não vale a pena dramatizar a História. Para isso há a ficção dos romancistas...
Repare bem nas evidências: Seja qual for o teatro de operações (Países Baixos ou Portugal), não há motins na Península Ibérica nem descontrolo das tropas com cidades saqueadas após 1576. Isso aconteceu porque eram tropas disciplinadas, profissionais, regulares. Pode teimar quanto quiser, estará apenas a perder tempo face a um facto.


Citação de: "papatango"
O massacre, ocorrido em 1576, ocorre no ano seguinte à primeira declaração de Bancarrota por parte da Coroa dos Habsburgos Hispânicos no reinado de Felipe-II de Castela e Leão.
(aparentemente há quem afirme que as declarações de falência por parte da coroa eram apenas questões meramente burocráticas).

Já explicado acima, mais de uma vez. É só querer ler e alargar o entendimento.

Citação de: "papatango"
Henry Kamen, no seu livro «How Spain Became a World Power 1492-1763, Harper Collins, New York, 2003 » fala dos problemas financeiros crónicos da coroa hispânica, e afirma que em 1566 a coroa gastou 2 milhões de ducados por ano em despesas militares. Em 1570 gastou 4 milhões (38% desse valor com a Holanda) e em 1598 gastava 10 milhões de ducados. A somar a isso houve a preparação da armada invencível, que também segundo Kamen custou no total outros 10 milhões de ducados.

Isto implica, que a Coroa dos Habsburgos Hispânicos, sofreu continua e constantemente com problemas financeiros que inevitavelmente se reflectiram nas tropas, especialmente em 1589, o ano seguinte ao enorme esforço financeiro efectuado.

Pois isso "implica" algo para si talvez, mas não para toda a historiografia recente e muito menos para os fundos de arquivo que também nos contam a realidade. Pois então não leu nesse livro que refere a parte que fala do novo imposto dos "millones" aprovado nas Cortes de 1589?
Sugiro-lhe então que leia, do mesmo autor, a biografia muito bem documentada de Filipe II. Cujo título é Felipe de España (Philip of Spain, edição original, 1997) (curioso, não é?)...estão lá indicadas muitas fontes documentais de primeira importância que explicam as suas dúvidas recorrentes


Citação de: "papatango"
Uma tropa sem dinheiro não luta. É o primeiro sinal de protesto por parte das tropas.
Se há a possibilidade de as tropas se absterem de lutar, então há que fazer alguma coisa.

Não há nenhuma explicação razoável, para que D. Teodósio tenha armado duas forças militares importantes (12.000 homens era mais que o que toda a Espanha tinha no exército da Flandres) se as tropas espanholas que estavam em Portugal fosse capazes de dar conta do recado.

Aqui novamente se depara com deduções forçadas e desencaixadas, que originam essa visão limitada dos acontecimentos e que apenas pode sustentar no seu próprio pensamento.
1) Continue então a ler o Henry Kamen e folheie o livro até à Bibliografia, procure as entradas de "PARKER, Geoffrey" e verá (talvez para surpresa sua, mas só sua), que lá se encontram os estudos fundamentais desse professor, cujos títulos já lhe indiquei na semana passada. Acredite que poupará tempo indo directamente às melhores fontes, estudos e conclusões actualizados acerca da matéria que tanto o tem atormentado. Está tudo bem explicado há mais de uma dúzia de anos. Vai ver que vale a pena, em vez de perder tempo com romances históricos.
2) Então agora já não é suficiente um contingente do Duque de Bragança em 1589, mas sim "duas forças militares importantes"?! Isso ultrapassa-me...
3) Se pesquisar as inúmeras fontes existentes em Portugal e Espanha, aquilo que apelida de "forças militares importantes" não passaram na realidade de um contingente de "maçaricos" recrutados à pressa.
4) as forças expedicionárias inglesas que chegaram às portas de Lisboa em 1589 foram efectiva e unicamente confrontadas e derrotadas pelas tropas espanholas de ocupação em Portugal. Se tiver algum documento inédito e especialíssimo que contrarie estes factos, apresente-o e publique-o. Teria todo o interesse em ler tal ficção.

Já percebi que lhe custa ler as minhas explicações, mas não me importo de repeti-las apesar do caro papatango insistir em ignorar (ao contrário de toda a gente com conhecimento da época):
"Também já expliquei isso mais acima. Conveniência mútua: mostrar serviço ao rei e obrigação de vassalo. Ainda assim, a iniciativa foi tardia e não obteve qualquer benefício prático para a defesa de Lisboa. A prática da formação de contingentes territoriais a partir de senhorios terratenentes era bem antiga e considerada um dever de cada nobre de acordo com as suas posses. O Duque de Bragança, que era bem mais pacífico do que alguns antepassados seus, não fez mais do que a sua obrigação como principal nobre do reino em serviço do seu monarca legitimado e fê-lo à medida das suas posses, que eram consideráveis (graças em parte, ao apoio de Filipe II)."
E também, como já escrevi:
"as guarnições de Lisboa apenas entraram em combate uma única vez e derrotaram os ingleses junto às antigas Portas de Santa Catarina. A capital foi recebendo reforços paulatinamente ao longo da Primavera devido às informações que chegaram a Madrid e a Lisboa acerca das intenções da ofensiva inglesa. E, de facto, nem sequer foi necessário recorrer à totalidade das forças espanholas para afastar a ameaça inglesa.
Por outro lado, o contingente anglo-holandês vindo de Inglaterra estava enfraquecido pela viagem (tinham sofrido perdas no caminho devido ao assalto falhado da Coruña e a doença, sendo que uma parte dos soldados seguiram na armada de Sir Francis Drake para Cascais, após a partida de Peniche para Lisboa do contingente com D. António e o General Sir John Norris) e as suas capacidades bélicas não se mostraram previsivelmente à altura das forças profissionais espanholas. Todas estas informações encontram-se num resumo maior no respectivo capítulo do meu livro Campanhas do Prior do Crato, 1580-1589."


Citação de: "papatango"
Ora, foi feita a afirmação de que a maioria das tropas do Habsburgo eram espanholas. Ora tal afirmação não encontra respaldo nas publicações mais recentes sobre o tema.

Ora, face à insistência continuada no seu argumento insustentado, cá vai mais uma repetição de explicaçao minha (cuja sustentação se encontra nos estudos mais actualizados e nas fontes de arquivo espanholas e portuguesas, não me canso de apontar)
"Se confundir dois teatros de operações completamente distintos, é natural que acabe por ver "mercenários" estrangeiros e "tropas de elite" em demasiados teatros. A composição maioritária do exército de invasão espanhol em Portugal em 1580 era espanhola. E a subsequente ocupação e pacificação do reino foi realizada nas décadas seguintes exclusivamente por tropas espanholas. É isso mesmo que a documentação inédita nos mostra e a vária documentação publicada confirma. Consulte por exemplo a Coleccion de Documentos Inéditos para la Historia de España, onde se encontra parte considerável da correspondência dos principais oficiais espanhois na campanha de 1580 e também sobre a Conquista dos Açores consulte a correspondência régia, relatos de viagem e listas das armadas e tropas dos anos de 1582 e de 1583 publicada por Cesáreo Fernández Duro em La Conquista de las Azores en 1583, ambas publicadas no final do século XIX e disponíveis na Biblioteca Nacional.
Fica mais uma vez evidente a sua falta de leitura dos meus esclarecimentos:
Como já deveria ter lido, eu sempre me referi às tropas espanholas em Portugal, mas a sua teimosia impede-o de se afastar dos seus "mercenários", "tropas de elite" nos estados alemães...
As minhas investigações confirmam os dados existentes em algumas compilações documentais, ou seja, em Portugal sod domínio filipino, as tropas de ocupação são espanholas a 90%, com única excepção na fase conquista do reino e das ilhas dos Açores, i.e. entre 1580 e 1583, sendo que, mesmo neste período, as unidades estrangeiras eram a minoria e também incluiam soldados espanhóis (ou também não sabe o que era o Vice-reinado espanhol de Nápoles?).


Citação de: "papatango"
Henry Kamen afirma que Filipe II tinha em 1587 um exército de 100.000 soldados PAGOS.
Desses 100.000 homens, já vimos anteriormente (The Armada Campaing, 1588 / John Tincey / Osprey / 1988/95/96 – a páginas 9 e 10) que cerca de 60.000 faziam parte do exército da Flandres e destes 60.000, menos de 9.000 eram de origem hispânica.

Pois qualquer um desses autores (sendo que John Tincey não é nem nunca se assumiu como especialista da História militar peninsular, antes o livro dele estuda apenas a particpação das forças militares inglesas) cita os estudos do professor Geoffrey Parker, já referidos acima. Não existe outro estudo publicado mais aprofundado acerca do Exército Espanhol da Flandres desde o final da década de 1570 para além desses. Mais uma razão para levar em conta as minhas sugestões de leitura.
Geoffrey Parker, The Army of Flanders and The Spanish Road, 1567-1659: the Logistics of Spanish Victory and Defeat in the Low Countries' Wars (2.ª ed., Cambridge, 2004) e The Military Revolution, 1500-1800: Military Innovation and the Rise of the West (2." ed., Cambridge, 1996).


Citação de: "papatango"
Isto quer dizer, que mesmo que por absurdo, não houvesse mercenários não hispânicos em nenhuma outra força dos exércitos de Felipe-II, pelo menos 51% ou mais de metade do exército do Habsburgo era constituído por estrangeiros não hispânicos.

O "absurdo" que refere é da sua imaginação. Se olhasse para os factos em vez de conceber deduções descabidas, e se lesse o que tenho escrito (incluindo as minhas sugestões bibliográficas), corrigiria num instante a enormidade das suas conclusões.
E não perca de vista este elemento tão importante: para além de outras confusões, o raciocínio do caro papatango perde-se na mistura que acaba por fazer entre teatros de operações distintos: uma coisa são os Países Baixos, outra coisa totalente diferente é Portugal. Fala constantemente em "mercenários" e em "estrangeiros". Se tivesse lido os estudos indicados ou pelo menos as explicações que me dou ao prazer de lhe conceder, constataria que:
- não há "mercenários" na Península Ibérica sob Filipe II
- as tropas espanholas em Portugal são (oh surpresa  :)) até portugueses, decerto concordará que está a ser "mais papista que o Papa". Além de que no estudo que desenvolvi, tais pormenores são pensados para não levar "gato por lebre". É que eu baseio-me em documentos e estudos, também eles sustentados, não em "ideias" e sentimentos.
Mesmo assim, incorre noutro erro de apreciação: "espanhóis" não eram "todos os peninsulares", isso é um absurdo não verificado. Obviamente, a administração régia em Madrid e Valladolid obviamente que sabia distinguir as "nuances" de nacionalidades e pertenças étnicas, pois isso vem exaustivamente registado através de milhares de maços de documentação militar, naval, burocrática nos Arquivos em Sevilha e Simancas (Valladolid).
E diga-me, conhece algum outro monarca na Península Ibérica reinando em Espanha no século XVI? Não concorda com a realidade histórica de ter existido apenas um? O rei de Espanha? Não?


Citação de: "papatango"
Neste caso se considerarmos como hispânicos apenas os espanhóis (todos os peninsulares), temos que apenas 15% do exército da Flandres era constituído por hispânicos.
Mas se fizermos uma análise nacionalista muito ao gosto castelhano, teremos que tanto os italianos como os valões como os flamengos são súbditos de Felipe-II e para muitos são considerados súbditos espanhóis. Logo, neste caso teríamos que o exército da Flandres seria constituído por 60% de subditos espanhóis.

Um analista racional, dirá que o exército da Flandres tinha 15% de espanhóis.
Um nacionalista espanhol, dirá que o glorioso exército da Flandres era constituido por uma maioria de 60% de subditos espanhóis.

É evidente que esta última análise é absurda e naturalmente desonesta, porque não havia nenhum país chamado Espanha em 1588. Os súbditos flamengos de Felipe-II eram seus súbditos MAS NÃO ERAM ESPANHÓIS. E isto aplica-se a TODOS, com excepção dos portugueses naturalmente.

Que grande confusão. Continua tão enredado nas suas próprias questões, que ainda não entendeu ser o caro papatango o único a levantá-las
Da minha parte não coloquei qualquer questão quanto a este tema, mas desejo-lhe boa sorte para localizar o tal "nacionalista espanhol" nas minhas explicações... Se o encontrar, diga-me  :wink: )
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 07, 2010, 12:30:30 am
Meu caro, eu dei-me ao trabalho de evitar entrar em considerações pessoais, e o senhor fará o favor de fazer a mesma coisa se não quer que eu responda no mesmo tom…
Mas lembre-se de que não terei o mais pequeno problema em fazê-lo.


Tento desvendar e retirar algum sumo das suas afirmações, que estão cheias de absoluta PALHA sendo que, perante as evidências e as referências que lhe apresentei, documentadas e identificadas, prefere olhar para o lado, ignorar e passar em frente, desconsiderando historiadores apresentados como referência e chegando ao ponto de distorcer os dados, porque evidentemente nem sequer se deu ao tabalho de ler o que escrevi.

Lembro mais uma vez, que me refiro ao período de 1589, ano que se seguiu ao do desastre da armada invencível e que foi um ano de enormes gastos militares (10 milhões de ducados para despesas militares e o necessário para prefazer outros dez milhões que foram o custo da armada).
Fiz referências circunstanciais a outros períodos, para lhe demonstrar que o que aconteceu em 1589 não foi facto isolado. Mesmo sem ter havido grandes massacres, a coroa dos Habsburgos em Madrid, era mal administrada e o proprio Felipe-II afirmava que não percebia nada de finanças.

Demonstrei porque razão defendo que a coroa dos Habsburgos nunca teve o controlo absoluto sobre as suas tropas mercenárias. REPITO MERCENÁRIAS ! ! !
Era péssima a reputação que as tropas fandangas do Habsburgo tinham, especialmente depois do massacre de Antuérpia, origem da famosa Lenda Negra, que pintava os Tercios dos Habsburgos, como grupos de vândalos e assassinos que queimavam tudo à sua passagem, violavam as mulheres, matavam as crianças e torturavam até à morte os homens com as mais horrendas torturas, quando não tinham o soldo em dia.

Quando os ingleses chegam a Portugal em 1589 (a sua chegada é conhecida por traição de um dos homens de confiança de D. António), os nobres mais poderosos e naturalmente em especial a casa de Bragança (a mais poderosa e a mais corrupta casa nobre do país e praticamente a DONA de Portugal) trataram de salvar o que podiam, sabendo de antemão que o exército dos Habsburgos não tinha condições para os defender.
De Madrid, sabemos (ver História de Portugal Veríssimo Serrão) que vieram 3.000 homens de um Tercio Velho, (mais propriamente um Tercio de estropiados) cuja qualidade era sofrível, sendo constituído por soldados veteranos, com experiência, mas sem força para lutar. Os Tercios velhos eram tropas de elite mas também eram constituídos por militares doentes ou mutilados, como resultado dos combates.

Há alguns absurdos e informações gratuitas, que também me permito contestar:
Você não pode separar os monarcas de uma Dinastia, quando faz análises sobre um período da História.
Com o fim da dinastia dos Trastamara, há na península uma realidade nova com os Reis Católicos que são uma espécie de interregnum. A União Dinástica esteve à beira de se dissolver, será salva com uma solução de recurso com Carlos V, que inaugura a dinastia dos Habsburgo.

É perfeitamente legítimo referir o rei Carlos-I de Castela e Leão, porque praticamente todas as guerras em que o seu filho Filipe II esteve envolvido, são consequência das guerras em que o seu pai também esteve envolvido como imperador Carlos V.
Os problemas financeiros da dinastia, são contínuos e não podem ser encarados ou analisados separadamente. Filipe II herdou uma coroa falida, com um deficit constante, que nunca conseguiu equilibrar. O dinheiro da América nunca equilibrou o Deficit e mesmo o recurso a pesadíssimos impostos sobre os subditos do reino de Castela permitiu ultrapassar o problema

Os massacres, resultado da falência da coroa:


Em Novembro de 1576, a soldadesca mercenária, após estar muitos meses sem receber pagamento assassina entre 7 a 8 milhares de pessoas na cidade de Antuérpia roubando 20 milhões de ducados. No entanto, o massacre de Antuérpia é apenas um dos muitos episódios em que os comandos perderam completamente o controlo das tropas.
Houve revoltas em várias cidades da Flandres onde se fala flamengo, que é um dialecto holandês. Isso aconteceu também em Zierkirk e Aalst que foram também tomadas pelos mercenários, mas os motins foram GENERALIZADOS. O problema é que só em Antuérpia é que atingiram a cifra dos oito mil mortos. A destruição de Antuérpia levará à ascenção do porto de Rotterdão, que ainda hoje é o maior da Europa.

A falência da Coroa e a guerra contra a Holanda


A Coroa era cronicamente deficitária e o espectro da falência pairou sempre sobre a monarquia dos Habsburgos hispânicos. Para dar o exemplo de Carlos V (que foi seguido por Filipe) durante o seu reinado pediu emprestados 37 milhões de ducados e recebeu das Américas o equivalente em ouro e prata a 35 milhões de ducados.

Mas a principal consequência da falência da Coroa em 1575, não foram os massacres mas sim o inicio da chamada «Lenda Negra» e mais importante ainda, o que ocorreria dois anos mais tarde em 23 de Janeiro de 1579 (um ano antes da declaração de Filipe-I como Rei de Portugal pelo Conselho do Reino),  a instituição da União de Utrecht, que mais tarde viria a ser conhecida como Províncias Unidas da Holanda.

Eu sei que isto não está directamente relacionado com o caso português, mas é importante entender a realidade financeira catastrófica da coroa dos Habsburgos para que possamos entender o que se passou em Portugal e para podermos entender os medos de D.Teodósio.
A incapacidade financeira dos Áustrias, esteve desde a primeira hora na origem da decadência do seu poder.

A Espanha recebeu na décadas de 1580 a 1590 receitas elevadas de ouro e prata, a saber 12100 kg de ouro e 2.103.000 kg de prata.
No entanto, as remessas de ouro e prata são irrelevantes para analisar as finanças da monarquia dos Habsburgos, porque na década seguinte, entre 1591 e 1600, as remessas de ouro subiram de 12.100kg para 19.500kg (+61%) e as de prata também atingiram o valor mais alto de sempre com 2.708.000kg (+29%). Mas mesmo nessa década, com as maiores remessas de sempre, a monarquia dos Habsburgos espanhóis voltou a entrar em bancarrota em 1596, exactamente a meio da década em que recebeu mais ouro e prata das Américas.
A grande quantidade de ouro recebido, nunca teve qualquer correspondência com qualquer situação de desafogo financeiro.
A nítida incapacidade financeira da Coroa em 1589, tinha que ser interpretada pelas elites portuguesas, que se viram na contingência de ter que fazer algo para evitar um perigo maior.

Você tem a obrigação de saber isso, e por isso tem a obrigação de saber que após a crise de 1588 em que a coroa perdeu milhares de homens com o desastre da armada, houve uma pressão militar adicional resultado da crise em França e uma correspondente pressão dos holandeses, além de problemas financeiros que levaram a um longo periodo de motins por parte das tropas.

Em 1589, na mesma altura em que os ingleses se preparavam para agir contra Portugal, ocorreram graves problemas com a sucessão do trono francês durante a Primavera desse ano. Em 1589 a atenção militar da coroa dos Habsburgos espanhóis está (como era normal) na Holanda e na França e não em Portugal.

Como a atenção do rei não está em Portugal, isso implica inevitavelmente consequências para as tropas reais que estão no país, as quais inevitavelmente sofreriam sempre em termos de qualidade.
O «Tercio Viejo» que é enviado de emergência em 1589 é apenas isso: Um recurso de emergência.

Mas há mais:
Ocorre que a partir de 1589 (QUE É EXACTAMENTE O ANO DA INVASÃO INGLESA) começa um período que vai durar até 1607, em que as continuas faltas de pagamento vão provocar motins sucessivos nas tropas dos Habsburgos espanhóis.
Este problema está documentado e só não o analisaria quem não estivesse realmente interessado em estudar a História da Espanha.

A conclusão:
As tropas que se encontravam em Portugal em 1589, como as restantes tropas dos Habsburgos espanhóis, não tinham garantido o pagamento regular e por isso começou a haver receios de que se amotinassem. LEMBRE-SE DE QUE MOTIM NÃO IMPLICA REVOLTA OU MASSACRE.
Como já vimos, Portugal não era uma frente de especial importância, por causa da pressão holandesa e por causa dos problemas em França, que levaram à intervenção militar dos Habsburgos espanhóis ainda em 1589, com o envio de grande parte do exército da Flandres para França.
Como resultado do desastre da invencível armada e dos milhares de mortos, havia graves problemas para formar novas unidades.

A situação militar em França, a situação militar na Flandres, a situação das finanças da Coroa, o perigo eminente de revoltas por falta de pagamentos, tudo aponta numa só direcção:

Perante esta situação de catástrofe e decadência, não restava à elite portuguesa absolutamente nenhum recurso.
Não havia ninguém a quem pedir auxilio que não fosse a Filipe II, o qual manda uns pífios 3.000 «estropiados».
É por isso que D. Teodósio se vê forçado a organizar uma força de 6.000 homens e mais tarde outra de 13.000 (isto se os livros de História de Portugal não estão todos errados).
A invasão inglesa teve que ser rechaçada pelos portugueses e não pelos soldados/mercenários hispânicos. E só isso justifica a reunião por parte do Duque de Bragança de um exército que foi praticamente o dobro do que foi reunido em 1580 para defrontar o Duque de Alba.

E é apenas isso que defendo.

Para mim a interpretação do que aconteceu em 1589, como em 1580 é importante, porque nos pode ajudar a tirar conclusões sobre o comportamento da sociedade portuguesa, ainda que 400 anos depois.
Há coisas que não mudam !
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 07, 2010, 12:40:57 pm
Citação de: "papatango"
Meu caro, eu dei-me ao trabalho de evitar entrar em considerações pessoais, e o senhor fará o favor de fazer a mesma coisa se não quer que eu responda no mesmo tom…
Mas lembre-se de que não terei o mais pequeno problema em fazê-lo.

Lembre-se: quem iniciou a discussão foi o caro papatango, encapotando sob algumas vagas questões uma enxurrada de afirmações avulsas que mais não são do que uma versão fantasiosa sua acerca de um acontecimento que nem pesquisou. Se essa sua contestação foi liminarmente anulada pelas minhas respostas, entendo a sua indisposição.

Salta à vista que a sua insistência incompreensível em novelas épicas dignas de D. Quixote já se mostrou impermeável aos argumentos válidos que lhe apresentei. E não consegue ultrapassar essa visão limitada. Se considera teimosia uma virtude, então estaremos conversados pois nunca irá ouvir nem entender. O facto é que a sua tentativa desordenada de contestação da minha investigação baseia-se em....nada.

Esmiuçemos:
- A verdade dos factos apurados não lhe basta? Continua cheio de energia para combater os moinhos de vento...perdão, arquivos e a historiografia recente?
- Dá constantes tiros nos pés nas suas afirmações, revelando desconhecer por completo a realidade política e militar do reinado português de Filipe II. Isso é maneira de lhe conferir credibilidade?
- Se realmente nos quer fazer crer que realizou uma pesquisa histórica e documental válida, então dou-lhe toda a força. Investigue, vá aos arquivos, converse com historiadores e investigadores, leia as obras indicadas, escreva, publique e partilhe. Verá que essa é a única maneira sustentada de contestar algo de maneira científica.

Deixe lá o Sancho Pança e o Duque de Bragança, porque nada do que afirmou é sustentável à luz das fontes e estudos históricos.


Citação de: "papatango"
Tento desvendar e retirar algum sumo das suas afirmações, que estão cheias de absoluta PALHA sendo que, perante as evidências e as referências que lhe apresentei, documentadas e identificadas, prefere olhar para o lado, ignorar e passar em frente, desconsiderando historiadores apresentados como referência e chegando ao ponto de distorcer os dados, porque evidentemente nem sequer se deu ao tabalho de ler o que escrevi.

Só o vejo a si a queixar-se  c34x  Mais um tiro na água, caro papatango: não se contradiga, pois acabou de concordar que a vinda da expedição tinha sido conhecida em Portugal com antecedência. Já lhe disse anteriormente: posso mostrar-lhe as centenas de documentos do Arquivo General de Simancas (Valladolid) e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo que o esclarecerão cabalmente quanto à alegada "falta de preparação" das tropas espanholas na defesa de Lisboa.

E agora chegou a minha vez de lhe colocar "só" umas questões (visto que foi assim que o seu "diálogo" comigo se iniciou):

1) As tropas espanholas que defenderam Lisboa em 1589 acaso foram derrotadas?
2) Tem ao menos alguma ideia da organização defensiva de Lisboa aplicada em 1589?
3) Quais as suas fontes acerca do contingente liderado pelo Duque de Bragança em 1589?
4) É capaz de indicar alguma fonte de arquivo que contradiga os factos por mim investigados e descritos acerca da defesa de Lisboa em 1589?
5) Que fontes lhe permitem a sua avaliação supostamente negativa do potencial / desempenho militar das tropas espanholas aquarteladas em Lisboa em 1589?
6) Não tendo, como todas as fontes indicam, o contingente do Duque de Bragança entrado sequer em combate, como explica a derrota e retirada dos ingleses? (não vai copiar as minhas respostas)

Talvez assim chegue lá...


Citação de: "papatango"
De Madrid, sabemos (ver História de Portugal Veríssimo Serrão) que vieram 3.000 homens de um Tercio Velho, (mais propriamente um Tercio de estropiados) cuja qualidade era sofrível, sendo constituído por soldados veteranos, com experiência, mas sem força para lutar. Os Tercios velhos eram tropas de elite mas também eram constituídos por militares doentes ou mutilados, como resultado dos combates.

O Professor Veríssimo Serrão, cujas pesquisas meritórias acerca de Portugal sob domínio espanhol mantêm bastante do seu interesse e validade, não investigou esta expedição. É apenas um pequeno capítulo que não aprofundou, pois o seu tema sempre foi a História Política e Cultural. Além disso, esse volume, o quarto, já foi escrito há mais de 30 anos sem que tivesse actualizado...
Mais, o Professor Veríssimo Serrão recebeu um exemplar do meu livro acerca das Campanhas do Prior do Crato e não contestou uma vírgula sequer dos resultados da minha pesquisa, precisamente porque ainda nunca tinha sido realizada...
Ainda mais, o Professor Veríssimo Serrão, caso não saiba, nunca chegou a concluir o grandioso estudo que iniciou acerca do Reinado de D. António, Prior do Crato. Publicou apenas o primeiro volume, de uma obra que deveria ter alcançado 3 volumes. O primeiro volume (publicado no longínquo ano de 1956) termina ainda antes das campanhas do Açores... Deste modo, este grande investigador da História de Portugal nunca investigou a expedição de 1589.
 

Quanto à sua recorrente obsessão nas falências da Coroa de Espanha, olhe que isso já foi tão estudado por quem de direito que não precisa cansar-se a tentar convencer-me de ideias antiquadas. A História Económica de Espanha tem tido óptimos investigadores e em Espanha e Inglaterra a questão tem sido obviamente estudada e actualizada.
Leia, sff: Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de España con América en la época de Felipe II, Valladolid , 1979-1989. 2 vols.
Sobre esta questão, não me irei repetir mais. As respostas por mim deixadas em "posts" anteriores já o deveriam ter esclarecido.

É surpreendente que nem factos históricos devidamente comprovados o parecem impedir de lutar contra moinhos de vento.
Ainda assim:
- Não foi capaz de me indicar uma derrota das tropas espanholas sob Filipe II
- Não foi capaz de contradizer o facto histórico da recuperação parcial das finanças régias a partir de 1589, pelas 3 ordens de razões que já indiquei nos meus "posts" anteirores e que não irei repetir
- A disciplina das tropas espanholas sempre foi sempre superior às das potências adversárias, por elas admirada e imitada (pelo menos tentaram), por isso a sua superioridade manteve-se incontestada até bem entrado o século XVII.
- A sua alegada situação de "descontrolo" das tropas espanholas em Portugal nunca conheceu nada parecido com motins durante o reinado de Filipe II. Tal como já expliquei, os atrasos de pagamento dos salários eram comuns a todas as forças militares europeias da época e, mesmo assim, nunca deixaram de servir o rei.

Desmontados estes mitos, que não são simples erros de ignorância, mas sim pura e simples teimosia face aos esclarecimentos que lhe tenho providenciado, não se encontra qualquer fundamentação na sua alegação de "estropiados" ou tropas menos válidas para Portugal. Além de significar um contra-senso, pois tratavam-se de tropas de reforço, isso não tem qualquer sustentação nas fontes coevas.


Citação de: "papatango"
(...)
A grande quantidade de ouro recebido, nunca teve qualquer correspondência com qualquer situação de desafogo financeiro.
A nítida incapacidade financeira da Coroa em 1589, tinha que ser interpretada pelas elites portuguesas, que se viram na contingência de ter que fazer algo para evitar um perigo maior.

Você tem a obrigação de saber isso, e por isso tem a obrigação de saber que após a crise de 1588 em que a coroa perdeu milhares de homens com o desastre da armada, houve uma pressão militar adicional resultado da crise em França e uma correspondente pressão dos holandeses, além de problemas financeiros que levaram a um longo periodo de motins por parte das tropas.

A minha "obrigação" é a de fazer trabalhos de pesquisa genuína fundamentados, debatidos com pares, publicar e partilhar os resultados no devido contexto histórico, de modo imparcial e rigoroso.
Essa mesma "obrigação", caro papatango, foi em muito ultrapassada pela minha paciência em conceder-lhe explicações que teima em ignorar. Mesmo assim, apesar da sua obstinação em argumentos totalmente descontextualizados e desactualizados, dei-me a esse trabalho suplementar. Porque me parece importante fazer o ponto da situação de modo correcto e fundamentado. Mesmo que insista em considerações superficiais insustentadas.

Mais uma vez, as incongruências do seu argumentário saltam à vista:
- Diga-me lá qual o documento ou fonte da época em que se baseia acerca da sua opinião de que "as elites portuguesas" se viram na suposta "contingência de ter que fazer algo para evitar um perigo maior"?
Olhe que não... as elites portuguesas estavam bem longe da Corte, preocupadas com as suas terras, os proventos das mesmas e os ganhos potenciais no serviço ao rei. Entre os seus deveres para com a Coroa, obviamente, colocavam-se àd disposição de apoiar as prevenções defensivas do reino. O resto é ficção. O Duque de Bragança não desempenhou mais do que lhe era exigido. E o seu contingente sofrível não teve qualquer parte na defesa activa de Lisboa (felizmente). Isto são factos.


Citação de: "papatango"
Em 1589, na mesma altura em que os ingleses se preparavam para agir contra Portugal, ocorreram graves problemas com a sucessão do trono francês durante a Primavera desse ano. Em 1589 a atenção militar da coroa dos Habsburgos espanhóis está (como era normal) na Holanda e na França e não em Portugal.

Como a atenção do rei não está em Portugal, isso implica inevitavelmente consequências para as tropas reais que estão no país, as quais inevitavelmente sofreriam sempre em termos de qualidade.
O «Tercio Viejo» que é enviado de emergência em 1589 é apenas isso: Um recurso de emergência.

Correcção: isso será "inevitável" apenas para si. Acontece que Portugal foi tão importante no sistema defensivo espanhol no cenário Atlântico que:
1) toda a rede de fortificações marítimas do reino e das ilhas adjacentes foi profundamente reformada e reconstruída, sendo ampliada com a construção de raíz de 6 novas fortalezas e todas as pré-existentes alvo de remodelações importantes.
2) a partir de 1580, o estuário do Tejo contou com a presença permanente de uma esquadra de galés da Coroa de Espanha, substituindo e ampliando as 4 ou 5 velhas da Coroa de Portugal.
3) Em Lisboa ficou instalado a partir de 1584 a novíssima patente de Capitão-geral do Mar Oceano, comandante supremo das forças navais portuguesas e espanholas no Atlântico
4) Também Lisboa foi escolhida como base principal da novíssima Real Armada do Mar Oceano a partir de 1594, a primeira esquadra permanente de navios de guerra de alto-bordo operando no Atlântico.
Isto também são factos.

Em 1589 (tema deste tópico, convém recordar), foram justamente as fortificações renovadas da Barra do Tejo e a esquadra de galés da Coroa de Espanha que afastaram a armada de Drake ancorada em Cascais. O sucesso da defesa de Lisboa deveu-se à intervenção deste sistema defensivo renovado sob Filipe II.

As suas afirmações vão adensando a confusão quanto às suas reais questões: afinal o que é que pretende questionar mesmo? Já me perdi na tentativa de entender as suas contestações.
Segundo escreve, agora acha que as tropas espanholas em Portugal não poderiam ser "de qualidade" porque...o rei não se encontrava junto delas, mas sim no seu país de origem, aqui ao lado? é isso....?  :roll:

Tudo isto não tem nada a ver com mercenários, mas sim com exércitos da Coroa de Espanha, constituídos por tropas regulares, profissionais de carácter permanente. Leia as obras de Geoffrey Parker e toda a historiografia subsequente.
 

Citação de: "papatango"
A conclusão:
As tropas que se encontravam em Portugal em 1589, como as restantes tropas dos Habsburgos espanhóis, não tinham garantido o pagamento regular e por isso começou a haver receios de que se amotinassem. LEMBRE-SE DE QUE MOTIM NÃO IMPLICA REVOLTA OU MASSACRE.
Como já vimos, Portugal não era uma frente de especial importância, por causa da pressão holandesa e por causa dos problemas em França, que levaram à intervenção militar dos Habsburgos espanhóis ainda em 1589, com o envio de grande parte do exército da Flandres para França.
Como resultado do desastre da invencível armada e dos milhares de mortos, havia graves problemas para formar novas unidades.

A situação militar em França, a situação militar na Flandres, a situação das finanças da Coroa, o perigo eminente de revoltas por falta de pagamentos, tudo aponta numa só direcção:

Perante esta situação de catástrofe e decadência, não restava à elite portuguesa absolutamente nenhum recurso.
Não havia ninguém a quem pedir auxilio que não fosse a Filipe II, o qual manda uns pífios 3.000 «estropiados».
É por isso que D. Teodósio se vê forçado a organizar uma força de 6.000 homens e mais tarde outra de 13.000 (isto se os livros de História de Portugal não estão todos errados).
A invasão inglesa teve que ser rechaçada pelos portugueses e não pelos soldados/mercenários hispânicos. E só isso justifica a reunião por parte do Duque de Bragança de um exército que foi praticamente o dobro do que foi reunido em 1580 para defrontar o Duque de Alba.

E é apenas isso que defendo.

É isso que lhe tenho explicado. Defende conclusões absolutamente superficiais, virtuais.

Mais uma vez:

1) indique-me em que fonte / estudo histórico se baseia para afirmar que "havia receios" de motins em Portugal em 1589? Está (como SEMPRE tem feito apesar dos meus esclarecimentos) simplesmente a confundir teatros de operações...pela enésima vez.
2) Portugal foi merecedor de grande atenção por parte de Filipe II, justamente porque o conflito no Atlântico com Inglaterra e as Províncias Unidas sofreu um agravamento crescente a partir de 1580. Portugal encontrava-se vulnerável precisamente a uma incursão estrangeira. É justamente após a invasão de Portugal em 1580 que o pensamento estratégico e as forças operacionais da Coroa de Espanha são transferidas e adaptadas para a guerra no Altântico. Portugal foi o principal baluarte da Monarquia Hispânica nesse conflito e Lisboa a principal base naval.
Os efectivos espanhóis em Portugal não eram inferiores aos instalados nas outras possessões dos Habsburgo de Espanha no Mediterrâneo, como por exemplo, o Vice-reinado de Nápoles (com excepção dos períodos de maior intensidade de conflito, ou seja, nas campanhas de conquista entre 1580 e 1583 e de novo com as preparações da Grande Armada e defesa de Lisboa entre 1587 e 1589).
3) "A invasão inglesa teve que ser rechaçada pelos portugueses e não pelos soldados/mercenários hispânicos"?! Olhe que não...olhe que não. Dupla falsidade:
Primeiro, porque nunca houve "mercenários" aqui em 1589.
Segundo, porque nem um só soldado português viu combate em 1589 na defesa de Lisboa.
Mostre-nos lá as suas fontes fantásticas...
4) As suas contas estão erradas. O contingente (não é "exército" nenhum) do Duque de Bragança não foi, nem de perto, o dobro das tropas portuguesas na batalha de Alcântara em 1580.  
5) Já que fala em livros de História, que tal se consultasse as minhas sugestões de leitura acerca da temática financeira, militar e naval da época? Tem alguma contrariedade com estudos actualizados e as principais compilações documentais? Ou talvez mesmo alergia aos documentos de arquivo que sustentam todas essas pesquisas, incluindo a minha?

"Last, but not the least"...

Lista de leitura:

MacCAFFREY, Wallace T., Elizabeth I: War and Politics, 1588-1603, Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1994 (2.ª ed.).

CAEIRO, Francisco, O Arquiduque Alberto de Áustria, Vice-Rei e Inquisidor-mor de Portugal, Cardeal Legado do Papa, Governador e depois Soberano dos Países Baixos, Lisboa: edição do autor, 1961.

CASTRO, José de, O Prior do Crato, Lisboa, 1942.

CHAUNU, Pierre et Huguette , Séville et l'Atlantique (1504-1650), Paris: S. E. V. P. E. N. (1955-1960), 8 vols.

Coleccion de Documentos Inéditos para la Historia de España, Madrid, 1842-1895. 112 vols.

FERNÁNDEZ DURO, Cesáreo, La Conquista de las Azores en 1583, Madrid, 1886

FERREIRA, J. A. Pinto, A campanha de Sancho de Ávila em perseguição do Prior do Crato : alguns documentos de Simancas, Porto: Câmara Municipal - Gabinete de História da Cidade, 1954.

GRACIA RIVAS, Manuel, Los Tercios de la Gran Armada (1587-1588), Instituto de Historia y Cultura Naval, Serie Gran Armada no. VI. Madrid: Editorial Naval, 1989.

HAKLUYT, Richard, The Principal Navigations, Voyages, Traffiques and Navigations of the English Nation, London: The Hakluyt Society, vol. VII (London: 1907).

KAMEN, Henry, Felipe de España, Madrid: Siglo XXI, 1997.

LIMA, Durval Pires de, "O ataque dos ingleses a Lisboa em 1589 contado por uma testemunha...", in Lisboa e seu Termo: Estudos e Documentos, Associação dos Arqueólogos Portugueses, vol. I (Lisboa: 1948).

LORENZO SANZ, Eufemio, Comercio de España con América en la época de Felipe II, Valladolid , 1979-1989. 2 vols.

Memorial de Pero Roiz Soares (1565-1628), publicado por M. Lopes de Almeida, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1963.

PARKER, Geoffrey, The Army of Flanders and The Spanish Road, 1567-1659: the Logistics of Spanish Victory and Defeat in the Low Countries' Wars (2.ª ed., Cambridge, 2004)

PARKER, Geoffrey, The Military Revolution, 1500-1800: Military Innovation and the Rise of the West (2." ed., Cambridge, 1996)

VAZ, João Pedro, Campanhas do Prior do Crato, 1580-1589: entre Reis e Corsários pelo Trono de Portugal, col. Batalhas de Portugal - 19, Lisboa: Tribuna da História, 2005.

VAZ, João Pedro e FONSECA, Luís Falcão da, "Sir Francis Drake and the «Poor King» D. António: the Portugal Voyage of 1589", in The British Historical Society of Portugal 23rd. Annual Report and Review 1996 (Lisbon, 1997), pp. 25-53.

WERNHAM, Richard B. (ed.), The Expedition of Sir John Norris and Sir Francis Drake to Spain and Portugal in 1589, Aldershot: 1988.

Faça-nos em enorme favor: informe-se primeiro em fontes sólidas, para depois discutir com seriedade e fundamento.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 07, 2010, 10:33:48 pm
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Lembre-se: quem iniciou a discussão foi o caro papatango, encapotando sob algumas vagas questões uma enxurrada de afirmações avulsas que mais não são do que uma versão fantasiosa sua acerca de um acontecimento que nem pesquisou. Se essa sua contestação foi liminarmente anulada pelas minhas respostas, entendo a sua indisposição.

Aqui começamos com a arrogância.

Em primeiro lugar, tenha a dignidade pelo menos ler o que se escreveu anteriormente.
Eu apenas me limitei a corrigir uma sua afirmação que é uma falácia e uma monstruosidade história, quando fala em tropas do Reino de Espanha !
Não há um único documento assinado pelos Filipes em que estes assinem como Rei de Espanha.
A Espanha é uma realidade que começa no século XVIII e é você que menospreza as fontes que lhe foram apresentadas a propósito das visões mais recentes sobre o que foi na realidade a Hispânia dos Absburgos.
Foi você que ficou paranóico com a questão e começou a debitar disparates e a responder a alhos com bugalhos, sem nunca se ter dado ao trabalho de entender o ponto de vista que defendi.

É você que nos apresenta uma versão completamente limitada, que quase se poderia considerar escolástica, no mau sentido, porquanto ultrapassada e profundamente enquilosada.

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Esmiuçemos:
- A verdade dos factos apurados não lhe basta? Continua cheio de energia para combater os moinhos de vento...perdão, arquivos e a historiografia recente?
- Dá constantes tiros nos pés nas suas afirmações, revelando desconhecer por completo a realidade política e militar do reinado português de Filipe II. Isso é maneira de lhe conferir credibilidade?
- Se realmente nos quer fazer crer que realizou uma pesquisa histórica e documental válida, então dou-lhe toda a força. Investigue, vá aos arquivos, converse com historiadores e investigadores, leia as obras indicadas, escreva, publique e partilhe. Verá que essa é a única maneira sustentada de contestar algo de maneira científica.
Meu caro, os tiros no pé estão apenas na sua cabeça e são resultado da sua incapacidade em entender o ponto de vista que lhe foi descrito, seja por algum tipo de debilidade, seja porque você se baseou de tal forma em mitos históricos, que não pode reconhecer que parte do seu trabalho se baseia numa mentira e numa interpretação completamente ultrapassada da História.

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Os seus "mercenários", as suas "falências" da Coroa, os seus Tercios de estropiados, tudo isso daria uma excelente fábula, mas apenas no departamento de ficção histórica. Repito: a teimosia em argumentos datados totalmente desproporcionados não lhe concedem um pingo de razão.
Os mercenários e as falências não são meus, são apenas factos históricos, que qualquer historiador sério relata e documenta.
É você que tenta retirar-lhe a importância que tiveram, apenas por conveniência digamos, jornalística.
(às vezes dá jeito distorcer um facto)

Seja honesto!
Eu apresentei-lhe fontes, autores, desde Karr a Armesto,  Kamen ou Angus Mckay. Apresentei-lhe dados publicados, referencias bibiliográficas que sustentam tudo o que disse. Você não as contestou de forma efectiva em nenhum lugar, limitou-se apenas a desconsidera-las utilizando o sarcasmo mas recusando apresentar qualquer contra-prova com o mínimo de validade.

Meu caro amigo, o sarcasmo não constitui prova histórica. Num fórum de discussão você não pode apenas dizer SIM porque sim, caso contrário tudo o que você diz pode ser considerado apenas uma gigantesca FRAUDE.
E infelizmente, a debilidade e fraqueza da sua argumentação, aponta cada vez mais nesse sentido.


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misturar (como se a sua confusão não fosse já imensa) a famosa "Lenda Negra". Apenas um derradeiro esclarecimento, porque todas as questões indicadas na sua resposta de protesto já foram por mim esclarecidas várias vezes nos diversos "posts" acimas. Os mesmos que tem teimado ignorar e esconder debaixo do tapete. A Lenda Negra começou bem antes dos motins na Flandres. Leia por exemplo o Bartolomé de las Casas para preencher mais essa sua lacuna.
Mais uma vez você se engana. Ou de propósito, ou então por falta de atenção e mete completamente os pés pelas mãos.

A Lenda Negra, pode ser dividida em dois distintos capítulos. Inicialmente a Lenda Negra tem a ver com a repressão na Europa entre católicos, na Itália e só mais tarde aparece a versão da Lenda Negra no Norte da Europa referindo-se especialmente aos desmandos da inquisição espanhola e também à actuação repressiva das forças hispânicas. A lenda na Itália será muito menos importante que a lenda no norte da Europa.

É verdade que poderíamos dar uma data ao nascimento da Lenda Negra no norte da Europa, em 1566, com Martinho Lutero no seu livro «Tischreden» ou Conversas de Mesa. Mas a lenda negra, utilizada como arma de propaganda no norte da Europa só aparece na segunda metade do século quando começam os conflitos entre estados.
Os holandeses estão entre os principais difusores da Lenda Negra e a independência das Províncias Unidas só ocorre depois do massacre de Antuérpia.
Ela assume importância histórica do ponto de vista militar especialmente a partir do último quartel do século XVI e é tremendamente divulgada no século XVII.
À medida que a Lenda Negra vai ganhando força, vão-lhe sendo acrescentados dados posteriormente MAS QUE DIZEM RESPEITO A PERIODOS ANTERIORES AO TERCEIRO QUARTEL DESSE SÉCULO.
A Lenda Negra a que me refiro, é a versão norte-europeia que descreve a actuação dos Tércios.

E meu caro, note bem porque eu não posso continuar a ensina-lo eternamente:

Ainda as histórias dos índios das Américas e a dimensão da catástrofe demográfica que atingiu os Aztecas e os Mexicas (e também os Incas ainda que numa dimensão diferente), não tinham chegado à Europa e já as tropas hispânicas eram acusadas de brutalidade. Quando em 1542, Frei Bartolomeu de Las Casas, é pela primeira vez ouvido pelo imperador, tecnicamente já existia uma Lenda Negra na Europa, por causa da repressão religiosa.

Mas é com o massacre de Antuérpia (resultado da incompetência administrativa de Filipe II), que se transformou o que eram escritos desgarrados, em factos indesmentíveis e portanto prova factual de que as tropas da coroa austríaca-hispânica eram efectivamente constituídas por animais sedentos de sangue. Os holandeses e depois os ingleses, vão aproveitar isso para aterrorizar as populações dos seus países contra os hispânicos e para atiçar o fervor militar necessário para manter uma guerra.
Mas isso só ocorre a partir do último quartel do século XVI. É SÓ NO FINAL DO SÉCULO XVI QUE A LENDA NEGRA CHEGA AOS PANFLETOS PROPAGANDISTICOS DE ORIGEM HOLANDESA E FRANCESA !!! .
A Lenda Negra, serviu para denegrir a imagem dos hispânicos (incluo aqui os portugueses) no norte da Europa, primeiro pela brutalidade, só mais tarde através da compaixão para com os índios, que aliás, quer holandeses quer ingleses também trataram como animais.

Do que é importante para o tratamento das questões do ponto de vista miltiar, a lenda negra, refere-se à actuação dos Tercios de mendigos da coroa dos Habsburgos especialmente na Flandres, que se comportavam como animais.
É uma das explicações para as suas vitórias. O terror que incutiam, era uma das principais armas dos Tércios dos Habsburgos.

Por favor, dê-se ao trabalho de fazer alguma pesquisa antes de responder às questões, ou então evite divagar para assuntos que não está preparado para discutir, porque este simples caso demonstra claramente que é você que dá tiros nos dois pés ao mesmo tempo.

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Vejo que começou finalmente a ler mais sobre o assunto. Mas ainda não leu tudo.
A expedição dos ingleses em 1589 foi conhecida por vários agentes informadores de Filipe II, um dos quais embarcou na armada integrado na comitiva portuguesa de D. António. Como pode ler nos meus "posts" e no meu livro, essa indicação foi confirmada com o assalto inglês à Coruña e foi isso precisamente que deu tempo suficiente às tropas espanholas em Portugal para organizar a defesa eficaz, demonstrada pelos acontecimentos ocorridos nas semanas seguintes.
Em primeiro lugar meu caro, ainda você gatinhava e já eu fazia a barba. Eu não li mais nada que o que já tinha lido sobre o assunto.
Como é do conhecimento das pessoas deste fórum, eu costumo tecer considerações de memoria. Tenho as minhas ideias organizadas, mas não tenho todas as referências na memória.
É por isso que posso sustentar tudo, REPITO, posso sustentar absolutamente tudo o que afirmo.
Posso enganar-me, como já disse várias vezes, e costumo reconhecer quando me engano.
Não é o caso !

Voce ganharia se evitasse uma postura arrogante, pois já teria percebido que apenas coloquei em causa aquilo que me parece ser de sua parte uma visão arcaica e completamente desprovida de fundamento sobre a realidade da Espanha.

Os pontos de vista que defendo neste fórum sobre a questão espanhola são claramente influenciados pelos escritos de um dos maiores Hispanistas conhecidos chamado Henry Kamen.

Como quem tiver lido Kamen pode notar, ele até é um dos autores que apresenta uma imagem muito mais racional e humanizada do que eram os reinos hispânicos e defende naturalmente, que na realidade a Coroa dos Habsburgos foi sempre uma agremiação de países mas nunca jamais um país unificado, com uma coroa e um exército. Nunca houve uma Coroa de Espanha, nuca houve portanto um exército da Coroa de Espanha. E quem o afirma no século XXI insiste numa fraude caduca !

Aida hoje nos referimos a Filipe II de Espanha, esquecendo que ele foi Filipe I em Portugal, foi Filipe I em Navarra e foi Filipe I em Aragão.
Ele é Filipe II apenas em Castela e quando falamos de Espanha até 1700 estamos invariavelmente a referir o Reino de Castela e Leão.
É por isso que lhe perguntei de que tropas espanholas estava você a falar, porque você deve distinguir entre tropas castelhanas, tropas napolitanas, lombardas, germânicas, flamengas ou outras, quando fala dos exércitos da Coroa Espanhola.

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- Casa de Bragança, "dona de Portugal"? pois é o regresso à novela histórica.
- Casa de Bragança "tratou de salvar o que podia"? Meu caro papatango, qual o documento fantástico que lhe permite afirmar isso? E repare que Vila Viçosa fica bem longe do litoral...
A arrogância sarcástica que você começa a demonstrar, não lhe fica bem, porque você acaba por cair no ridículo.

Note o seguinte:
D. Teodósio II, o Duque de Bragança era de muito longe o homem mais rico de Portugal e dos mais ricos de toda Península Ibérica Mais tarde, já no primeiro quartel do século XVII, há quem afirme que era o mais rico nobre de toda a peninsula.
A Casa de Bragança funcionava como uma autentica Corte de Rei no século XVI. Entre as provas do excepcional poder e riqueza dos Braganças, encontra-se o «Registo das Mercês Concedidas», três grandes volumes compilados por um tal Arcádio de Andrade, a pedido do próprio Duque. Nesses registos anotam-se todas as riquezas, benesses e ofertas de D.Teodósio aos seu súbditos.
Estão também registadas as dádivas de D. Teodósio a músicos, cantores, arquitectos, escultores, magistrados e por aí fora.
Esses documentos (que são apenas um exemplo) também demonstram que D. Teodósio mantinha (e pagava) e grande numero de artífices, armeiros, espingardeiros, besteiros, coronheiros, bombardeiros, entre outros.
O registo de dádivas do Duque, prolonga-se por praticamente cinquenta anos e demonstra uma quase inesgotável riqueza, resultado dos seus incontáveis senhorios. (História de Portugal, Portucalense Ed. Vol V/Damião Peres/Queiroz Veloso).
Mas como se não chegasse, a somar a isso veja a descrição de Oliveira Martins (História de Portugal / Guimarães Ed. Pag. 307) sobre as propriedades do Duque:
Duque de Bragança, de Barcelos, de Guimarães, Marques de Valença, e de Vila Viçosa, conde de Ourém, de Arraiolos, de Neiva, de Faro, de Faria e de Penafiel. Senhor de Monforte, Alegrete, Vila do Conde entre outras terras.
Tinha como padroado eclesiástico a colegiada de Guimarães e a de Barcelos.Tinha a apresentação de 80 igrejas, 14 comendas além de um sem número de matrizes e conventos.
Provia 18 alcaidarias-mores, 4 ouvidorias, abraçando a nomeação de mais de 1300 (mil e trezentos) oficiais de justiça e fazenda (hoje seriam boys do PS). Possuía a cidade de Bragança e era dono de 21 vilas além de um numero inquantificável de lugares. Só em Bragança era dono de 202 lugares/aldeias e em Chaves 187. O número de vassalos era de aproximadamente 100.000 (cem mil)

E você chama a isto, novela Histórica. As afirmações ficam consigo, eu nem sequer vou comentar.

= = = = =

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E agora chegou a minha vez de lhe colocar "só" umas questões (visto que foi assim que o seu "diálogo" comigo se iniciou):
1) As tropas espanholas que defenderam Lisboa em 1589 acaso foram derrotadas?

As tropas dos Habsburgos NÃO TROPAS ESPANHOLAS refugiaram-se por detrás das muralhas de Lisboa. As tropas inglesas não tinham armas de cerco. Uma cidade muralhada é inexpugnável, perante um exército que não está armado para destruir as muralhas.
Nos manuais militares, considera-se que normalmente a proporção de um exército atacante para um que defende, tem que ser no mínimo de três para um. No entanto, há vários especialistas que defendem – e acho eu com propriedade – que quando a tropa defensora está em posições defensivas pré preparadas essa proporção pode atingir vinte para um. Atrás de muralhas, com armamento da renascença então nem se fala.
Isto implica que, se houvese 3.000 militares ao serviço do Rei numa posição fortificada, o exército atacante teria que contar com pelo menos 60.000 homens e eles teriam que construir as armas para destruir as muralhas.

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2) Tem ao menos alguma ideia da organização defensiva de Lisboa aplicada em 1589?

A ideia que tenho ou deixo de ter é absolutamente irrelevante, porquanto nunca coloquei em causa tal dispositivo nem a ele me referi. Para mim, a importância do episódio de 1589, está na posição assumida pelas elites portuguesas perante a possibilidade de se libertarem do rei Habsburgo.
O importante para mim, não é o dispositivo que um grupo de castelhanos bêbados e esfarrapados poderia organizar. O importante - e o que vale a pena ser estudado - é a reacção das elites perante a possibilidade de uma convulsão social resultado da chegada ao poder de D. António.

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3) Quais as suas fontes acerca do contingente liderado pelo Duque de Bragança em 1589?

As fontes são as apontadas já em variadíssimas alturas. Os contingentes reunidos variam de historiador para historiador. O total de homens reunidos é apontado como sendo de 6.000 a que se juntaram 13.000 em Oliveira Martins, Veríssimo Serrão refere um total de 20.000 portugueses. Na maioria dos casos, há unanimidade em afirmar que os portugueses vêm os ingleses como inimigos. Seja por serem de um país adversário, seja por serem hereges.  Para mim isso é que é importante. De qualquer forma, acrescento, que considero Oliveira Martins como fonte credível, principalmente porque embora não estando de acordo com muitas das conclusões e deduções, reconheço as suas qualidades no que respeita à importância que dá à pesquisa de dados e à exaustiva referência aos números, em várias das suas obras.

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4) É capaz de indicar alguma fonte de arquivo que contradiga os factos por mim investigados e descritos acerca da defesa de Lisboa em 1589?

Eu não procurei nenhuma fonte de arquivo relativamente à sua tese, porque o que eu coloquei em causa foi a sua referência à Coroa de Espanha e às tropas espanholas, que eu considero não serem tropas espanholas, mas sim tropas da Coroa dos Habsburgos e isto, porque eu considero que é uma falácia falar de Espanha em 1589.

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5) Que fontes lhe permitem a sua avaliação supostamente negativa do potencial / desempenho militar das tropas espanholas aquarteladas em Lisboa em 1589?
Bom. A essa pergunta já respondi, quando referi que havia problemas em 1589 (quando começou uma série de motins por falta de pagamento) numa altura em que o pagamento às tropas de Portugal era a última das prioridades, quando havia problemas tão graves na Holanda e na França
As tropas do Habsburgo não eram nem nunca foram de confiança e matavam quando não recebiam o soldo respectivo. As tropas eram profundamente impopulares e isso é o próprio Filipe II de Castela que o afirma em despachos oficiais enviados para Portugal e endereçados a Sancho D’Avila logo em 1584 em que lhe ordena que controle as situações de abuso das tropas do Rei, especialmente no centro e no norte de Portugal.

Tratava-se de uma tropa sem Lei, constituída por assassinos e criminosos, o que aliás não era específico das tropas do Habsburgo. Praticamente todos os exércitos de mercenários europeus tinham esta característica. Quem escolhia a vida militar era por falta absoluta de opção.

A somar a isto, praticamente todas as fontes apontam no mesmo sentido: A tomada de Lisboa era vital para o sucesso da operação de 1589. Não havendo possibilidade de tomar a cidade, passando a beneficiar das fortificações, o que permitiria apoiar o abrigo da frota, a operação estava condenada.

Mas são as muralhas de Lisboa que acabam por vencer e não o pequeno grupo de mercenários castelhanos e alemães.
Os ingleses arrasaram toda a resistência castelhana e apenas pararam nas muralhas, para trás das quais a soldadesca mercenária tinha fugido.
Foi aliás o mesmo que aconteceu na Corunha, onde os ingleses foram parados pelas muralhas, depois de terem corrido com uma chusma de castelhanos rotos e bêbados. Isto foi consequência do que você afirmou terem sido os erros de preparação da esquadra inglesa, que não considerou a necessidade de artilharia de cerco.

Você afirma, que estava em Portugal quase um sexto do total das forças dos exército dos Habsburgos em toda a Europa, depois da catástrofe da Armada Invencível e dos milhares de mortos que isso implicou apenas alguns meses antes, e quando se sabe que a atenção do Habsburgo estava em França, para onde teve que desviar parte do exército da Flandres.
Você insiste em afirmar que havia uma maioria de espanhóis, que não existiu em praticamente nenhum dos exércitos do Habsburgo e pior, sabendo que a designação «Espanhol» pode ser aplicada tanto a um castelhano, quanto a um português quanto a um lombardo, dependendo da origem do documento.
Ha publicações espanholas sobre o tema que afirmam que nem havia portugueses na defesa de Lisboa contra os ingleses ou pura e simplesmente ignoram o facto.

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6) Não tendo, como todas as fontes indicam, o contingente do Duque de Bragança entrado sequer em combate, como explica a derrota e retirada dos ingleses? (não vai copiar as minhas respostas)
A sua questão é absurda, mas de facto demonstra que você não se deu ao trabalho de ler o que eu escrevi.
Os ingleses apercebem-se de que não há nenhuma capacidade de recrutamento por parte de D. António e que ao contrário, os nobres portugueses controlam a população e conseguem juntar tropas para os combater !
Ora se os ingleses esperavam encontrar aliados entre os portugueses e ao contrário apercebem-se de que os portugueses se organizam mas como seus inimigos como acha que eles interpretam a situação ?

Se você tiver investigado a questão, saberá que D.António tinha feito imensas promessas aos ingleses. Prometeu ouro do tesouro real, prometeu concessões e autorizações para a utilização de portos portugueses. Além disso D. António tinha prometido que oito dias seriam suficientes para rebelar todo o país e acrescentou a isso a promessa de formação um exército português para combater o Habsburgo hispânico. Tudo isso demonstrou ser impossível, quando se tornou óbvio que quem tinha capacidade para reunir tropas era o inimigo fidagal de D. António, o Duque de Bragança.

É a opção dos portugueses, que condiciona a retirada dos ingleses.
Os dados estavam lançados e os ingleses aperceberam-se disso.

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Talvez assim chegue lá...
Eu diria exactamente a mesma coisa, porque parece que é você que ainda não conseguiu lá chegar…

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O Professor Veríssimo Serrão, cujas pesquisas meritórias acerca de Portugal sob domínio espanhol mantêm bastante do seu interesse e validade, não investigou esta expedição. É apenas um pequeno capítulo que não aprofundou, pois o seu tema sempre foi a História Política e Cultural. Além disso, esse volume, o quarto, já foi escrito há mais de 30 anos sem que tivesse actualizado...

Quanto a Veríssimo Serrão ou a quem quer que seja, eu não vou fazer comentários pessoais. Eventualmente, posso apenas aventar que, alguém que tenha lido por exemplo a descrição sobre a empresa dos ingleses de 1589 descrita na Historia de Portugal de Rebelo da Silva, publicada em 1867 (sim, há 137 anos atrás) teria ficado quase com a mesma informação que você nos dá.
Informação que ainda assim eu considero sempre interessante, porque se trata de um período muito cinzento da nossa história. Lamento apenas que num Portugal dentro da realidade dos estados dos Habsburgos, se insista em visões ultrapassadas sobre a Espanha. E não podemos entender Portugal em 1589, sem nos debruçarmos profundamente sobre a realidade espanhola. Não podemos entender Portugal sem a Espanha, ou Hispania, e em 1589, não podemos entender Portugal, sem a realidade multi-nacional que era o braço hispânico da Coroa dos Habsburgos.

Se por conveniência e porque dá jeito negamos essa realidade estamos também a negar a verdade sobre a História de Portugal.

E isso sim, é participar num enredo de novela.


Lamento.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 08, 2010, 12:38:56 pm
Mais um dia, mais moinhos de vento... :roll:
"Apenas" desmontei os seus mitos e expliquei-lhe cabalmente porque as suas fontes em nada sustentam as suas fábulas.
A desonestidade está com quem desde o início da "ofensiva" pseudo-histórica não tem feito mais do que repetir os mesmos erros argumentando sobre ideias baseadas em orgulho e preconceito. Exactamente o oposto da pesquisa histórica e documental - que até hoje foi absolutamente incapaz de providenciar.
Nenhum dos autores indicados é especializado na História Militar do século XVI e nenhum foca a expedição de 1589 em profundidade. Isto são factos.


Citação de: "papatango"
Meu caro amigo, o sarcasmo não constitui prova histórica. Num fórum de discussão você não pode apenas dizer SIM porque sim, caso contrário tudo o que você diz pode ser considerado apenas uma gigantesca FRAUDE.E infelizmente, a debilidade e fraqueza da sua argumentação, aponta cada vez mais nesse sentido.

Curioso. É exactamente essa a minha certeza sobre a novela que nos tem tentado impingir.
Apenas lamento o vão exibicionismo que insiste em partilhar com o resto da comunidade. Podia poupar-nos a tanta imbecilidade com essas acusações infantis e assim o seu orgulho sairía ileso.


Citação de: "papatango"
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misturar (como se a sua confusão não fosse já imensa) a famosa "Lenda Negra". Apenas um derradeiro esclarecimento, porque todas as questões indicadas na sua resposta de protesto já foram por mim esclarecidas várias vezes nos diversos "posts" acimas. Os mesmos que tem teimado ignorar e esconder debaixo do tapete. A Lenda Negra começou bem antes dos motins na Flandres. Leia por exemplo o Bartolomé de las Casas para preencher mais essa sua lacuna.

(...)
A Lenda Negra, pode ser dividida em dois distintos capítulos. Inicialmente a Lenda Negra tem a ver com a repressão na Europa entre católicos, na Itália e só mais tarde aparece a versão da Lenda Negra no Norte da Europa referindo-se especialmente aos desmandos da inquisição espanhola e também à actuação repressiva das forças hispânicas. A lenda na Itália será muito menos importante que a lenda no norte da Europa.

É verdade que poderíamos dar uma data ao nascimento da Lenda Negra no norte da Europa, em 1566, com Martinho Lutero no seu livro «Tischreden» ou Conversas de Mesa. Mas a lenda negra, utilizada como arma de propaganda no norte da Europa só aparece na segunda metade do século quando começam os conflitos entre estados.
Os holandeses estão entre os principais difusores da Lenda Negra e a independência das Províncias Unidas só ocorre depois do massacre de Antuérpia.
Ela assume importância histórica do ponto de vista militar especialmente a partir do último quartel do século XVI e é tremendamente divulgada no século XVII.
À medida que a Lenda Negra vai ganhando força, vão-lhe sendo acrescentados dados posteriormente MAS QUE DIZEM RESPEITO A PERIODOS ANTERIORES AO TERCEIRO QUARTEL DESSE SÉCULO.
A Lenda Negra a que me refiro, é a versão norte-europeia que descreve a actuação dos Tércios.

(...)
Ainda as histórias dos índios das Américas e a dimensão da catástrofe demográfica que atingiu os Aztecas e os Mexicas (e também os Incas ainda que numa dimensão diferente), não tinham chegado à Europa e já as tropas hispânicas eram acusadas de brutalidade. Quando em 1542, Frei Bartolomeu de Las Casas, é pela primeira vez ouvido pelo imperador, tecnicamente já existia uma Lenda Negra na Europa, por causa da repressão religiosa.

Mas é com o massacre de Antuérpia (resultado da incompetência administrativa de Filipe II), que se transformou o que eram escritos desgarrados, em factos indesmentíveis e portanto prova factual de que as tropas da coroa austríaca-hispânica eram efectivamente constituídas por animais sedentos de sangue. Os holandeses e depois os ingleses, vão aproveitar isso para aterrorizar as populações dos seus países contra os hispânicos e para atiçar o fervor militar necessário para manter uma guerra.
Mas isso só ocorre a partir do último quartel do século XVI. É SÓ NO FINAL DO SÉCULO XVI QUE A LENDA NEGRA CHEGA AOS PANFLETOS PROPAGANDISTICOS DE ORIGEM HOLANDESA E FRANCESA !!! .
A Lenda Negra, serviu para denegrir a imagem dos hispânicos (incluo aqui os portugueses) no norte da Europa, primeiro pela brutalidade, só mais tarde através da compaixão para com os índios, que aliás, quer holandeses quer ingleses também trataram como animais.

Mais um paradigma da sua estreiteza de vistas, fruto dos seus preconceitos.
Primeiro, lança uma granada, da Lenda Negra (que afinal era apenas de Carnaval) e depois vai a correr buscar justificações para a sua desatenção. Mas congratulo-me por mais uma vez o ter ajudado na actualização dos seus conhecimentos. Aposto que apreciou a leitura do Bartolomé de las Casas.
E também já percebeu o papel fundamental da Propaganda dos rebeldes holandeses na ampliação dessa mesma Lenda.
Porém...
oh inclemência  c34x
Mas então o que a sua barba contribui para este debate?
Conhecimento não é com certeza, pois todas as suas questões e cenários hipotéticos foram devidamente corrigidos nos "posts" acima. Mesmo que não dê o braço torcer, leia ao menos os livros que lhe indiquei. Tem lá as fontes todas que foi incapaz de consultar até hoje. Constatará assim que o seu enredo não se sustenta nem um minuto.[/b]

Citação de: "papatango"
Como é do conhecimento das pessoas deste fórum, eu costumo tecer considerações de memoria. Tenho as minhas ideias organizadas, mas não tenho todas as referências na memória.
É por isso que posso sustentar tudo, REPITO, posso sustentar absolutamente tudo o que afirmo.
Posso enganar-me, como já disse várias vezes, e costumo reconhecer quando me engano.
Não é o caso !

O problema não me parece ser relacionado com a sua memória, mas pura e simplesmente com esse orgulho e preconceito. Junte-lhe a isto opiniões patrioteiras sobre uma época e um tema que já demonstrou à exaustão desconhecer e verá que aí encontrará a sua falha principal: nos alicerces da sua história virtual.
Se ainda tiver dúvidas, apresente a sua versão dos factos em qualquer Universidade da "Hispânia" e logo verá. Porque não tenta?


Citação de: "papatango"
Voce ganharia se evitasse uma postura arrogante, pois já teria percebido que apenas coloquei em causa aquilo que me parece ser de sua parte uma visão arcaica e completamente desprovida de fundamento sobre a realidade da Espanha.

Dou-me ao trabalho de responder porque a sua "ofensiva", além de insustentável e facilmente repudiável, permite informar e actualizar o resto da comunidade acerca de alguns pontos importantes do trabalho de pesquisa que iniciei há 15 anos. A sua contestação gratuita dos factos históricos apurados providenciou um exemplo paradigmático da falta de evolução nos estudos historico-militares até há bem pouco tempo no nosso país. É, por isso, uma boa ocasião para ultrapassar arcaísmos e amadorismos.  

Citação de: "papatango"
Os pontos de vista que defendo neste fórum sobre a questão espanhola são claramente influenciados pelos escritos de um dos maiores Hispanistas conhecidos chamado Henry Kamen.

Pois não é o mesmo Kamen que escreveu a "tal" biografia de Filipe II de Espanha que já lhe apontei nos últimos "posts"? Já se deu ao trabalho de consultar essa obra? Que nada tem a ver com Reis Católicos nem "Hispanias"? Parece-me que não.

Citação de: "papatango"
Como quem tiver lido Kamen pode notar, ele até é um dos autores que apresenta uma imagem muito mais racional e humanizada do que eram os reinos hispânicos e defende naturalmente, que na realidade a Coroa dos Habsburgos foi sempre uma agremiação de países mas nunca jamais um país unificado, com uma coroa e um exército. Nunca houve uma Coroa de Espanha, nuca houve portanto um exército da Coroa de Espanha. E quem o afirma no século XXI insiste numa fraude caduca !

Aida hoje nos referimos a Filipe II de Espanha, esquecendo que ele foi Filipe I em Portugal, foi Filipe I em Navarra e foi Filipe I em Aragão.
Ele é Filipe II apenas em Castela e quando falamos de Espanha até 1700 estamos invariavelmente a referir o Reino de Castela e Leão.
É por isso que lhe perguntei de que tropas espanholas estava você a falar, porque você deve distinguir entre tropas castelhanas, tropas napolitanas, lombardas, germânicas, flamengas ou outras, quando fala dos exércitos da Coroa Espanhola.

explicado, e re-explicado, mais acima. Tem uma lista de indicações bibliográficos também, que apenas aguardam Va. Exa. dignar-se dirigir a sua vista para tais páginas. Está lá tudo explicado, há anos.

Aproveito, porém, para recordá-lo de algo que já lhe indiquei: muitas centenas de documentos inéditos que investiguei na Torre do Tombo e no Arquivo General de Simancas também estão disponíveis para consulta. Se soubesse contestar seriamente, já saberia disso. E esses documentos são uma das provas cabais acerca do que lhe disse repetidas vezes. As tropas espanholas em Portugal são...espanholas, recrutadas em... Espanha.
E também novo lembrete diário:
- Não são mercenários, ao contrário do que insiste.
- Portugal nada tem a ver com a Flandres no campo militar, houve apenas algumas transferências de unidades em determinados períodos das décadas de 1580 e de 1580. Se soubesse integrar estes dados apurados no seu pensamento, já deveria saber que o Exército Espanhol da Flandres era multi-nacional como é óbvio, mas que as tropas espanholas em Portugal eram...espanholas. Evite confundir ambas as situações e leia os livros que lhe indiquei.


Citação de: "papatango"
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- Casa de Bragança, "dona de Portugal"? pois é o regresso à novela histórica.
- Casa de Bragança "tratou de salvar o que podia"? Meu caro papatango, qual o documento fantástico que lhe permite afirmar isso? E repare que Vila Viçosa fica bem longe do litoral...
(...)
Note o seguinte:
D. Teodósio II, o Duque de Bragança era de muito longe o homem mais rico de Portugal e dos mais ricos de toda Península Ibérica Mais tarde, já no primeiro quartel do século XVII, há quem afirme que era o mais rico nobre de toda a peninsula.
A Casa de Bragança funcionava como uma autentica Corte de Rei no século XVI. Entre as provas do excepcional poder e riqueza dos Braganças, encontra-se o «Registo das Mercês Concedidas», três grandes volumes compilados por um tal Arcádio de Andrade, a pedido do próprio Duque. Nesses registos anotam-se todas as riquezas, benesses e ofertas de D.Teodósio aos seu súbditos.
Estão também registadas as dádivas de D. Teodósio a músicos, cantores, arquitectos, escultores, magistrados e por aí fora.
Esses documentos (que são apenas um exemplo) também demonstram que D. Teodósio mantinha (e pagava) e grande numero de artífices, armeiros, espingardeiros, besteiros, coronheiros, bombardeiros, entre outros.
O registo de dádivas do Duque, prolonga-se por praticamente cinquenta anos e demonstra uma quase inesgotável riqueza, resultado dos seus incontáveis senhorios. (História de Portugal, Portucalense Ed. Vol V/Damião Peres/Queiroz Veloso).
Mas como se não chegasse, a somar a isso veja a descrição de Oliveira Martins (História de Portugal / Guimarães Ed. Pag. 307) sobre as propriedades do Duque:
Duque de Bragança, de Barcelos, de Guimarães, Marques de Valença, e de Vila Viçosa, conde de Ourém, de Arraiolos, de Neiva, de Faro, de Faria e de Penafiel. Senhor de Monforte, Alegrete, Vila do Conde entre outras terras.
Tinha como padroado eclesiástico a colegiada de Guimarães e a de Barcelos.Tinha a apresentação de 80 igrejas, 14 comendas além de um sem número de matrizes e conventos.
Provia 18 alcaidarias-mores, 4 ouvidorias, abraçando a nomeação de mais de 1300 (mil e trezentos) oficiais de justiça e fazenda (hoje seriam boys do PS). Possuía a cidade de Bragança e era dono de 21 vilas além de um numero inquantificável de lugares. Só em Bragança era dono de 202 lugares/aldeias e em Chaves 187. O número de vassalos era de aproximadamente 100.000 (cem mil)

E você chama a isto, novela Histórica. As afirmações ficam consigo, eu nem sequer vou comentar.

Ainda bem, pois não há nada a comentar mesmo... não contesta nada acerca do que apurei sobre a participação do Duque de Bragança na defesa de Lisboa em 1589:
- O Duque tinha posses muito consideráveis (oh novidade) que lhe foram garantidas por Filipe II, e por isso arrastou consigo uma hoste de "maçaricos" do interior do país...
- A participação do Duque foi puramente moral, porque nem sequer entrou em combate (e ainda bem, senão teria sido um desastre)
- O Duque nunca demonstrou qualquer motivação para contestar o seu monarca legítimo, Filipe II de Espanha / I de Portugal (nem sequer tinha apoio para tal). Tal questão nunca se colocou e o Duque de facto nunca foi hábil militar e sim, como o texto que cita comprova, foi sim um grande mecenas das artes. Ele apreciava muito ficar por Vila Viçosa. É que não havia muito mais para fazer. Podia ser dono de muita coisa, mas tinha um Vice-Rei em Lisboa e um Rei em Madrid. E nunca teria sido possível ao Duque derrotar os Tercios espanhóis senão em sonhos. Não se esqueça destes factos também.


Citação de: "papatango"
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E agora chegou a minha vez de lhe colocar "só" umas questões (visto que foi assim que o seu "diálogo" comigo se iniciou):
1) As tropas espanholas que defenderam Lisboa em 1589 acaso foram derrotadas?

As tropas dos Habsburgos NÃO TROPAS ESPANHOLAS refugiaram-se por detrás das muralhas de Lisboa. As tropas inglesas não tinham armas de cerco. Uma cidade muralhada é inexpugnável, perante um exército que não está armado para destruir as muralhas.
Nos manuais militares, considera-se que normalmente a proporção de um exército atacante para um que defende, tem que ser no mínimo de três para um. No entanto, há vários especialistas que defendem – e acho eu com propriedade – que quando a tropa defensora está em posições defensivas pré preparadas essa proporção pode atingir vinte para um. Atrás de muralhas, com armamento da renascença então nem se fala.
Isto implica que, se houvese 3.000 militares ao serviço do Rei numa posição fortificada, o exército atacante teria que contar com pelo menos 60.000 homens e eles teriam que construir as armas para destruir as muralhas.

Mais uma cascata de erros básicos:
1) as tropas espanholas em Portugal eram isso mesmo, soldados espanhóis recrutados nas províncias de Espanha. Como você nunca leu documentos dessa época relativos ao ataque inglês de 1589, nunca irá processar essa informação correctamente.
2) Os manuais militares são uma coisa (teoria) e o campo de batalha outra (prática). Na prática, as muralhas de Lisboa datavam da época fernandina (medieval), não eram grande defesa para tropas determinadas. A falta de equipamento dos ingleses e a ausência do apoio popular (já explicados acima) somados à defesa eficaz das tropas espanholas impediram o assalto bem sucedido.
3) A História está repleta de muralhas "inexpugnáveis" que caíram sempre, mais tarde ou mais cedo, às mãos dos sitiadores devidamente preparados...


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2) Tem ao menos alguma ideia da organização defensiva de Lisboa aplicada em 1589?

A ideia que tenho ou deixo de ter é absolutamente irrelevante, porquanto nunca coloquei em causa tal dispositivo nem a ele me referi. Para mim, a importância do episódio de 1589, está na posição assumida pelas elites portuguesas perante a possibilidade de se libertarem do rei Habsburgo.
O importante para mim, não é o dispositivo que um grupo de castelhanos bêbados e esfarrapados poderia organizar. O importante - e o que vale a pena ser estudado - é a reacção das elites perante a possibilidade de uma convulsão social resultado da chegada ao poder de D. António.!

Correcção: é relevante sim, porque você desconhece um elemento fundamental da situação militar do país sob Filipe II. Logo, isso contribui para as suas opiniões...que não são factos.
Algumas companhias portuguesas eram arregimentadas em momentos muito precisos de preparativos defensivos (em 1587, 1589, 1595, 1596, por exemplo). A nobreza portuguesa participava porque era seu dever. E sempre o fizeram controlados pelo comando das tropas espanholas (sim, de Espanha). Se tivesse investigado, saberia disso. Estava mais do que prevista a participação dessas "elites" no sistema de defesa do território sob domínio espanhol. Nada mais natural.
Se afirma que havia "castelhanos" bêbados, então - visto que já disse falar de memória - deve ter esquecido onde leu isso. Mas infelizmente não encontrará registo de tal ocorrência porque isso não é factual.
A sua insistência numa suposta "reacção das elites" é uma bela falsidade. A nobreza e a fidalguia colaboraram alguams vezes com as tropas de ocupação por dever e interesse. O resto é da sua imaginação.


Citação de: "papatango"
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3) Quais as suas fontes acerca do contingente liderado pelo Duque de Bragança em 1589?


As fontes são as apontadas já em variadíssimas alturas. Os contingentes reunidos variam de historiador para historiador. O total de homens reunidos é apontado como sendo de 6.000 a que se juntaram 13.000 em Oliveira Martins, Veríssimo Serrão refere um total de 20.000 portugueses. Na maioria dos casos, há unanimidade em afirmar que os portugueses vêm os ingleses como inimigos. Seja por serem de um país adversário, seja por serem hereges.  Para mim isso é que é importante. De qualquer forma, acrescento, que considero Oliveira Martins como fonte credível, principalmente porque embora não estando de acordo com muitas das conclusões e deduções, reconheço as suas qualidades no que respeita à importância que dá à pesquisa de dados e à exaustiva referência aos números, em várias das suas obras.

Ou seja: foi incapaz de demonstrar uma única fonte de arquivo ou estudo desta época e deste tema que hipoteticamente pudessem apoia-lo nas suas teses...
Infelizmente para si, os historiadores que utilizou não estudaram esta expedição e os números foram simplesmente copiados de um outro documento sem o necessário estudo comparativo do mesmo.
Incluindo Oliveira Martins, que nunca estudou esta expedição, nem muito menos a História Militar de Portugal...
Também se vê incapaz de fundamentar aqui qualquer qualificação acerca das mesmas tropas da hoste do Duque. Para si eram salvadores da pátria que afugentaram os ingleses.
Na verdade, tratava-se de "carne para canhão".


Citação de: "papatango"
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4) É capaz de indicar alguma fonte de arquivo que contradiga os factos por mim investigados e descritos acerca da defesa de Lisboa em 1589?

Eu não procurei nenhuma fonte de arquivo relativamente à sua tese, porque o que eu coloquei em causa foi a sua referência à Coroa de Espanha e às tropas espanholas, que eu considero não serem tropas espanholas, mas sim tropas da Coroa dos Habsburgos e isto, porque eu considero que é uma falácia falar de Espanha em 1589.

Está então a dar-me razão, ao não contestar o meu apuramento dos factos relativos à defesa de Lisboa em 1589. Mais vale tarde do que nunca.
Comprova simultanemente não ter "procurado nenhuma fonte de arquivo". Mais palavras para quê...?


Citação de: "papatango"
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5) Que fontes lhe permitem a sua avaliação supostamente negativa do potencial / desempenho militar das tropas espanholas aquarteladas em Lisboa em 1589?

Bom. A essa pergunta já respondi, quando referi que havia problemas em 1589 (quando começou uma série de motins por falta de pagamento) numa altura em que o pagamento às tropas de Portugal era a última das prioridades, quando havia problemas tão graves na Holanda e na França
As tropas do Habsburgo não eram nem nunca foram de confiança e matavam quando não recebiam o soldo respectivo. As tropas eram profundamente impopulares e isso é o próprio Filipe II de Castela que o afirma em despachos oficiais enviados para Portugal e endereçados a Sancho D’Avila logo em 1584 em que lhe ordena que controle as situações de abuso das tropas do Rei, especialmente no centro e no norte de Portugal.
Tratava-se de uma tropa sem Lei, constituída por assassinos e criminosos, o que aliás não era específico das tropas do Habsburgo. Praticamente todos os exércitos de mercenários europeus tinham esta característica. Quem escolhia a vida militar era por falta absoluta de opção.

Não conseguiu, mais uma vez, sustentar afirmações de uma hipotética "última prioridade" dos pagamentos às tropas em Portugal em 1589. De novo, parece que finalmente estamos a ir na boa direcção...a direcção da verdade histórica.
As suas considerações acerca das tropas espanholas serem de "falta de confiança" e que "matavam quando não recebiam" são uma generalização totalmente desprovida de realidade. Nunca sucedeu qualquer motim em Portugal e, àparte o saque de Antuérpia em 1576, nunca assumiram tal espectro de violência e massacre. É o regresso ao mito, à tal "Lenda Negra".
As situações de abuso pelas tropas de ocupação verificadas em Portugal foram comuns à de todos os exércitos da época na Europa Ocidental. Algo que até hoje sucede no Iraque...isso nunca originou motins nem massacres.


Citação de: "papatango"
A somar a isto, praticamente todas as fontes apontam no mesmo sentido: A tomada de Lisboa era vital para o sucesso da operação de 1589. Não havendo possibilidade de tomar a cidade, passando a beneficiar das fortificações, o que permitiria apoiar o abrigo da frota, a operação estava condenada.

Mas são as muralhas de Lisboa que acabam por vencer e não o pequeno grupo de mercenários castelhanos e alemães.
Os ingleses arrasaram toda a resistência castelhana e apenas pararam nas muralhas, para trás das quais a soldadesca mercenária tinha fugido.
Foi aliás o mesmo que aconteceu na Corunha, onde os ingleses foram parados pelas muralhas, depois de terem corrido com uma chusma de castelhanos rotos e bêbados. Isto foi consequência do que você afirmou terem sido os erros de preparação da esquadra inglesa, que não considerou a necessidade de artilharia de cerco.

Muralha de Lisboa: não foi esta estrutura defensiva arcaica, de todo, que impediu o sucesso inglês em Lisboa, tal como já explicado acima, e no meu livro.
Castelhanos bêbados? só se for numa banda desenhada. Se tivesse tido a imparcialidade devida teria lido, entre outras, na compilação documental inglesa do Professor Wernham (incluida na lista de leitura que lhe deixei no "post" anterior), que todas as fontes são concordantes, caro papatango: os únicos bêbados na Corunha e em Portugal na expedição de 1589 foram os...próprios ingleses. Isto também é factual.
Olhe lá que os seus tiros no pé são incontáveis.


Citação de: "papatango"
Você afirma, que estava em Portugal quase um sexto do total das forças dos exército dos Habsburgos em toda a Europa, depois da catástrofe da Armada Invencível e dos milhares de mortos que isso implicou apenas alguns meses antes, e quando se sabe que a atenção do Habsburgo estava em França, para onde teve que desviar parte do exército da Flandres.
Você insiste em afirmar que havia uma maioria de espanhóis, que não existiu em praticamente nenhum dos exércitos do Habsburgo e pior, sabendo que a designação «Espanhol» pode ser aplicada tanto a um castelhano, quanto a um português quanto a um lombardo, dependendo da origem do documento.
Ha publicações espanholas sobre o tema que afirmam que nem havia portugueses na defesa de Lisboa contra os ingleses ou pura e simplesmente ignoram o facto.

As minhas investigações são baseadas em documentação inédita e publicada nos arquivos portugueses, espanhóis e ingleses, assim como estudos actualizados sobre o tema. Obviamente que é falso o que diz, à luz das mesmas por mim consultadas: não existe qualquer fundamento na sua afirmação de haver fontes que não referem portugueses na defesa de Lisboa em 1589. Absurdo.
Portugueses sob reis espanhóis nunca foram apelidados de "Espanhóis". Isso é um disparate monumental.
Quanto aos "milhares de mortos" da Grande Armada de 1588 que gosta apelativamente de invocar, na verdade morreram mais marinheiros do que soldados. Não significou nenhuma catástrofe aos exércitos de Filipe II, pois já se esqueceu que o grosso das tropas sob o Duque de Parma nunca chegou a embarcar na costa da Flandres.


Citação de: "papatango"
Citar
6) Não tendo, como todas as fontes indicam, o contingente do Duque de Bragança entrado sequer em combate, como explica a derrota e retirada dos ingleses? (não vai copiar as minhas respostas)

(...)
Os ingleses apercebem-se de que não há nenhuma capacidade de recrutamento por parte de D. António e que ao contrário, os nobres portugueses controlam a população e conseguem juntar tropas para os combater !
Ora se os ingleses esperavam encontrar aliados entre os portugueses e ao contrário apercebem-se de que os portugueses se organizam mas como seus inimigos como acha que eles interpretam a situação ?

(...) D.António tinha feito imensas promessas aos ingleses. Prometeu ouro do tesouro real, prometeu concessões e autorizações para a utilização de portos portugueses. Além disso D. António tinha prometido que oito dias seriam suficientes para rebelar todo o país e acrescentou a isso a promessa de formação um exército português para combater o Habsburgo hispânico. Tudo isso demonstrou ser impossível, quando se tornou óbvio que quem tinha capacidade para reunir tropas era o inimigo fidagal de D. António, o Duque de Bragança.É a opção dos portugueses, que condiciona a retirada dos ingleses.
Os dados estavam lançados e os ingleses aperceberam-se disso.

Mais uma vez, é incapaz de sustentar as suas afirmações avulsas com documentação coeva e dados concretos. Não contente com a sua invenção histórica, a tal suposta participaçao heróica do seu Duque de Bragança, ainda nos quer convencer de que os ingleses ficaram com medo da sua hoste de "maçaricos"? Sendo que eles nunca sequer se encontraram, visto que, como já indiquei, chegaram tarde demais e nem sequer possuiam preparação condigna.
Os dados estavam lançados para Júlio César..., mas infelizmente não para os ingleses em 1589, que ainda deram um assalto à parte ocidental de Lisboa e possuiam uma armada que os aguardava em Cascais. Também não leu isso.
Entende-se que não consegue admitir o facto histórico de terem sido os espanhóis os defensores de Lisboa em 1589.


Citação de: "papatango"
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O Professor Veríssimo Serrão, cujas pesquisas meritórias acerca de Portugal sob domínio espanhol mantêm bastante do seu interesse e validade, não investigou esta expedição. É apenas um pequeno capítulo que não aprofundou, pois o seu tema sempre foi a História Política e Cultural. Além disso, esse volume, o quarto, já foi escrito há mais de 30 anos sem que tivesse actualizado...

Quanto a Veríssimo Serrão ou a quem quer que seja, eu não vou fazer comentários pessoais. Eventualmente, posso apenas aventar que, alguém que tenha lido por exemplo a descrição sobre a empresa dos ingleses de 1589 descrita na Historia de Portugal de Rebelo da Silva, publicada em 1867 (sim, há 137 anos atrás) teria ficado quase com a mesma informação que você nos dá.
Informação que ainda assim eu considero sempre interessante, porque se trata de um período muito cinzento da nossa história. Lamento apenas que num Portugal dentro da realidade dos estados dos Habsburgos, se insista em visões ultrapassadas sobre a Espanha. E não podemos entender Portugal em 1589, sem nos debruçarmos profundamente sobre a realidade espanhola. Não podemos entender Portugal sem a Espanha, ou Hispania, e em 1589, não podemos entender Portugal, sem a realidade multi-nacional que era o braço hispânico da Coroa dos Habsburgos.

Está tudo claro, apesar das observações vagas.
Obviamente pesquisei as escassas fontes utilizadas por Rebelo da Silva, há mais de um século, foram levadas em conta, devidamente corrigidas, completadas e comparadas com outras fontes de proveniência diversa e actualizadas com informações e estudos actuais. Ou seja, um método histórico que o caro papatango nem sequer esboçou na sua obsessão de impingir uma versão fantasiosa e épico-nacionalista dos factos documentados.


Realmente, é lamentável esse tendenciosimo e teimosia em relação a algo já investigado e publicado.
A sua obstinada tentativa de contestação de um trabalho rigoroso e actualizado não dá frutos porque é totalmente descabida e repousa naquelas duas características presentes ao longo da sua discussão: orgulho e preconceito.
Essa é uma das razões principais pela qual a historiografia portuguesa da época dos reis espanhóis ainda se encontra tão mal tratada.
Aproveito assim esta óptima oportunidade para prosseguir a divulgação dos estudos que conheço e faço nessa matéria.

A "conveniência" que menciona é toda sua. Eu prefiro ficar com os factos.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 09, 2010, 12:34:55 am
Bom, não continuarei a dar-me ao trabalho de responder ponto por ponto, porque como é óbvio e já toda a gente terá reparado, todas as minhas respostas foram documentadas e a todas as questões que colocou, apresentei as razões dos meus pontos de vista. Você aos costumes disse nada.

Perante as evidências, o senhor insiste, de forma demasiado arrogante em fazer afirmações esdrúxulas e despropositadas, que se destinam apenas a tapar a sua falta de conhecimento sobre vários assuntos, ou então a esconder os erros de uma resposta precipitada.
Pretende também defender uma tese completamente ultrapassada que implica indirectamente a aceitação da existência de uma Espanha, como Estado Nacional, coisa que desde o periodo nazi-fascista nem o mais fervoroso castelhanista defende.

Depois, do cimo dessa mesma arrogância, coloca em causa as fontes que lhe foram apresentadas, como se, de um momento para o outro, toda a História e toda a investigação anterior pudesse ser varrida do mapa, por um qualquer aventureiro que se dá ares e acha que tem algum mérito como investigador.
O nome cria-se, não se inventa, e o seu não está criado nem os seus supostos méritos e créditos estão firmados.


Eu não pretendo ser dono de nenhuma verdade mas sei muito bem do que falo, porque falo do que é História publicada, estou convencido do que digo, porque acredito nas investigações que foram feitas e mostrei sem nenhum tipo de problema, as razões que explicam os meus pontos de vista.

Aparentemente, de nada adiantou ter feito transcrições directas de publicações, onde se apresentam os números de militares da Coroa do Habsburgo Hispânico, com informação sobre as origens étnicas desses militares e até do soldo que auferiam. Tudo o senhor desconsiderou e por meias palavras olvidou ou esqueceu-se de comentar.
De nada adiantou ter colocado textos de Henry  Kamen, quando o senhor, mesmo perante os textos colocados por mim neste fórum, afirma que o que está lá, afinal não está.
Ou seja, meu caro você diz que SIM, porque SIM, ou NÃO porque NÃO, ao estilo de La Palice.

Comete o erro de esquecer que isso não demonstra mais nada que arrogância, ao pretender desmentir tudo o que se disse e escreveu anteriormente, por alguns dos historiadores mais conceituados do país (coisa que você seguramente não é) apenas porque dá jeito, a uma tese que mete água por todos os lados, porque se suporta parcialmente em erros básicos sobre a interpretação do que foi a Coroa dos Habsburgos.
A sua arrogância é um pouco triste, mas a sua má fé ultrapassa os limites.

Dou-lhe um exemplo:
Você pergunta-me de forma insolente (e é na insolência que se nota a sua falta de barba) o seguinte:

Citar
- Casa de Bragança, "dona de Portugal"? pois é o regresso à novela histórica.
- Casa de Bragança "tratou de salvar o que podia"? Meu caro papatango, qual o documento fantástico que lhe permite afirmar isso? E repare que Vila Viçosa fica bem longe do litoral...

Ora passando por cima da insolência, que relevo por característica pueril, e na melhor boa-fé, eu tento explicar-lhe porque afirmo que a Casa de Bragança era praticamente dona do país. A afirmação é em si uma Hipérbole naturalmente (uma Figura de Estilo), mas é algo que é apontado por vários historiadores.
Dei-lhe dois exemplos para sustentar a minha afirmação :
-> O Livro dos Registo das Mercês Concedidas pelo Duque aos seus vassalos.
-> A descrição parcial das posses do Duque em Portugal.


Respondi a uma pergunta feita em tom insolente e eivada de sarcasmo, com uma resposta tão simples e directa quanto me foi possível, transcrevendo excertos e dando referências bibliográficas consultáveis.

A sua resposta ou comentário foi a seguinte:
Citar
Ainda bem, pois não há nada a comentar mesmo... não contesta nada acerca do que apurei sobre a participação do Duque de Bragança na defesa de Lisboa em 1589:
- O Duque tinha posses muito consideráveis (oh novidade) que lhe foram garantidas por Filipe II, e por isso arrastou consigo uma hoste de "maçaricos" do interior do país...
Ora, eu respondi literalmente à sua pergunta. Você perguntou porque é que o Duque era o homem mais rico do país e chamou a isso Novela Histórica.
Quando eu referi as fontes e me dei ao trabalho de transcrever as razões, você passou a criticar o facto de eu não ter respondido a uma questão que você não tinha colocado.
Primeiro você pergunta porque é que eu afirmei que o Duque era o Homem mais rico do país, e no dia seguinte, depois de eu responder você diz que isso não era novidade.

E pior que isso, desconsidera a minha resposta com mais falácias e mentiras, porquanto as riquezas que foram garantidas ao Duque por Filipe II foram de grande monta, mas o Duque já era extremamente rico antes de 1578 e da batalha de Alcácer Quibir, sendo prova disso, o facto de ter armado 2.000 homens e pago do seu bolso, muitos dos navios da esquadra portuguesa que transportou as tropas que foram derrotadas em Alcácer Quibir.

(está a ver onde se notam as características pueris do seu discurso ? )






Mas há mais.

Eu expliquei-lhe que muito do que afirmo sobre a questão da Coroa dos Habsburgos é influenciado por Henry Kamen.
Você responde que não deve ser o mesmo Kamen.

O problema, é que eu dei-me ao trabalho de colocar neste fórum uma transcrição em inglês de passagens da obra de Kamen que suportam o que eu afirmo.
Você lê o que lá está, e perante as evidências, manda-nos ler outra coisa qualquer, dá uma referência bibliográfica e parte do principio de que provou alguma coisa.

Você está num Fórum de Discussão. Ou você apresenta os textos ou as fotos, ou então um raciocínio organizado e coerente que permita chegar aos fundamentos de uma tese, ou então o que você escreveu não pode ser considerado de forma válida.

Exemplo, são os excertos que eu aqui coloquei, de uma obra de Henry Kamen sobre a idade de ouro da Espanha.
Você afirma que o Kamen da transcrição que coloquei no Fórum, não é o mesmo Kamen  que escreveu a "tal" biografia de Filipe II de Espanha.
Mas você está a chamar mentiroso ao Kamen ?
Está-me a chamar a mim mentiroso, acusando-me de ter inventado os excertos ?
Ou está apenas a encher posts com PALHA, onde não diz nada que não sejam desconsiderações e afirmações sem sentido ?

A leitura da biografia de um individuo como Filipe II de Castela (aliás paradigma do espanhol que não o é) é interessante para a história da sua vida, mas você já se deu ao trabalho de simplesmente ler os excertos de Henry Kamen em «A Idade de Ouro da Espanha ?
Contesta o que ali está escrito ?
Estava Kamen certo sobre a Realidade Nacional Espanhola quando escreveu a biografia de Rei e errado quando escreveu a Idade de Ouro da Espanha ?

Eu não lhe peço que leia o livro, apenas lhe peço que leia o que eu próprio transcrevi do livro e que está disponível no fórum.
Você apenas faz referência a uma publicação, onde pode haver ou não, qualquer tipo de matéria que poderia ou não por em causa alguma coisa do que coloquei online.
Ainda que o fosse, seria uma contradição de Henry Kamen, não seria minha.
Mas eu dei-me ao trabalho de fazer uma transcrição (das várias que já fiz) enquanto que você limitou-se a (com alguma arrogância, diga-se) mandar alguém ler alguma coisa, para eventualmente provar um ponto de vista que você teima em defender, contra toda a lógica.

Em que é que ficamos ?
Talvez a publicação referida por mim, seja daquelas desagradáveis, que normalmente não se dão como referência, porque colocariam em causa toda uma linha de raciocínio…
Estarei muito longe da realidade ?
Provavelmente não.


«A questão da Lenda Negra»

Não tendo directamente a ver com a questão de D. António, dou-lhe este terceiro exemplo como prova de Má de sua parte.

Veja, como se desmonta com facilidade a sua forma de actuar:
 
Eu referi a expansão da Lenda Negra, como resultado do massacre de Antuérpia, que foi consequência directa da incompetência administrativa e financeira da Coroa dos Habsburgos. Essa incompetência acompanhou a Coroa dos Habsburgos de forma quase genética até ao ocaso final da Dinastia e a falta de dinheiro endémica, provocou ondas de crises e de motins, que puseram em causa a capacidade militar dos exércitos dos Habsburgos.
Eu afirmei textualmente « … origem da famosa Lenda Negra, que pintava os Tercios dos Habsburgos, como grupos de vândalos e assassinos …»
E eu nem daria mais atenção ao assunto, não fosse o seu comentário depreciativo sobre a questão, afirmando textualmente:
Citar
«A Lenda Negra começou bem antes dos motins na Flandres. Leia por exemplo o Bartolomé de las Casas para preencher mais essa sua lacuna.
Olhe que não...a Lenda Negra teve a sua origem por massacres das populações indígenas na América do Sul.»
Ora, quando eu vi o que você escreveu, dei uma gargalhada, embora não de espanto, mas de pena. É óbvio, que ou você não tinha  ideia sobre o que falava, ou então respondeu demasiado depressa, sem reflectir, resultando daí disparates.
O que eu digo não poderia ter sido mais explicito. «… Origem da famosa Lenda Negra que pintava os Tércios …».

Expliquei-lhe a origem e as diferenças e matises da Lenda Negra porque há tempos atrás eu tive curiosidade em estudar a questão da Lenda Negra, principalmente no que diz respeito à sua propagação no Oriente, quando relacionada com os portugueses na Índia, no Japão e na China. Na altura, ficou bastante claro, que a Lenda Negra foi resultado das campanhas militares e que a sua propagação pelos holandeses na Ásia, ocorre necessariamente após a independência das províncias unidas e especialmente a partir da última década do Século XVI. Não tem origem na questão da América a que você fez referência com Bartolomeu de Las Casas.


Tendo isto em consideração, não é possível deixar de interpretar as suas respostas, não como respostas de Boa Fé, mas sim como uma espécie de FOGO DE VISTA destinado não a esclarecer (se houvesse razão para tal) mas sim a tentar denegrir todas as informações que aqui coloquei, DOCUMENTEI E em alguns casos TRANSCREVI.

As razoes para por em causa a sua tese são demasiadas e você não conseguiu contestar uma única:

O Facto de as circunstâncias internacionais em 1588/1589 (a que aludi profusamente) demonstrarem que o perigo para a coroa estava em França e na Holanda, levando a uma grande movimentação militar no norte da Europa.
O facto de a Coroa dos Habsburgos nunca ter sido nada mais que uma agremiação multinacional de estados sem coesão.
O facto de o Duque de Bragança ter sentido a necessidade de armar o seu próprio exército.
O facto de ser exactamente esse mesmo nobre, aquele que mais perderia com a vitória dos ingleses e que o leva a reagir armando milhares de Homens.
O facto de em 1589 a crise financeira ter provocado motins dos exércitos dos Habsburgos em toda a Europa (problema a que miraculosamente Portugal terá escapado).
Todos estes factos levam a que, a ideia de que ao arrepio de tudo o que acontecia na Europa, os Habsburgos tinham em Portugal tropas com algum valor militar, precisará de muito mais documentação e prova, para poder algum dia ser visto como facto histórico credível.

No entanto acrescento que faria melhor figura e daria mais credibilidade à tese defendida, se não tivesse nas suas contra-argumentações em temas acessórios (mal «amanhadas» e indocumentadas) demonstrado demasiada falta de conhecimento ou então, repito, demasiada precipitação, escondida depois por alguma arrogância despropositada e demonstrativa de alguma falta de confiança.


Termino com o seguinte:

Se você segurar um martelo na mão a um metro do chão em qualquer lugar da terra e de seguida abrir a mão, eu não preciso de uma fotografia do martelo no chão, para saber que ele teve que cair.
Você pode apresentar relatos de que o martelo voou para o lado e fotografias do martelo caído no chão a alguma distância.
Mas nenhuma fotografia ou relato, pode contrariar a Lei da Gravidade.

Para mim, o que você tenta, é desafiar a Lei da Gravidade.


Boa sorte. Saramago, conseguiu mover toda a Peninsula Ibérica.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 09, 2010, 11:18:21 am
Resumindo e concluindo: nada de novo. (a não ser a confusão adicional de não ter interpretado a ironia da referência de Kamen, obviamente é o mesmo, demonstrando que você também não leu a biografia por ele escrita sobre Felipe de Espãna, ou seja, Filipe II...de Espanha)
Ou, nas palavras de Shakespeare: "muito barulho por nada"...

O seu incómodo é proporcional ao seu afastamento cada vez maior àquilo que o trouxe a este tópico: tentar impingir-nos algo vagamente histórico numa discussão para a qual não está objectivamente preparado. Entrou de rajada com uma série de questões aparentemente inocentes para depois, em grande alarido, tentar deflagrar uma carga explosiva que.... nunca soube detonar porque afinal era oca.

Penso que talvez entenderá linguagem jurídica (essa, ao menos, não é passível de distorção  c34x ).
Na condição de "acusador" patrioteiro, o ónus da prova esteve sempre consigo, meu caro papatango. Ou será que a sua barba o impediu de ver isso...?
Você disputou e não conseguiu sustentar absolutamente nada, não tendo sido capaz de produzir prova alguma em defesa das suas alegações. Da minha parte, providenciei-lhe todas as orientações necessárias para desfazer o seu "caso". Caso que está encerrado na própria História. Apresente os recursos que quiser, mas enquanto não ler toda a matéria processual que apresentei (e até está publicada), as suas difamações não passam do habitual rumor de vão de escada.  

Ora acontece, caro papatango, que o seu contributo para este tema foi nulo, pois nada do que apresentou é sustentável para explicação das suas teorias fantasiosas:

Eis as razões:

- Não apresentou qualquer fundamento credível histórico-documental para sustentar as suas opiniões. Admitiu não ter sequer consultado qualquer arquivo. Do punhado de referências bibliográficas que reuniu em desespero de causa, nem uma só trata da expedição inglesa de 1589, nem muito menos da História Militar de Portugal sob Filipe II de Espanha, para além de serem praticamente todas obras ultrapassadas.

- Ao invés de questionar e debater honestamente com mente e ouvidos abertos, apenas tentou impingir sistematicamente uma série desconexa de afirmações avulsas rematadas por uma necessidade extrema de expressar a sua opinião desinformada e desactualizada. Isto, apesar de todos os esclarecimentos e respostas cabais com que foi inevitavelmente confrontado.

- A sua resposta a todos os meus esclarecimentos e indicações bibliográficas actualizadas (fundamentais para a compreensão do tema em questão) resumiu-se a um silêncio obstinado sobre as mesmas e à simples repetição de opiniões gratuitas, erros grosseiros e generalizações redutoras, procurando aqui e ali encaixar à força factos e épocas que pouco ou nada têm a ver entre si e nada explicam a expedição inglesa de 1589, nem o seu contexto histórico.

- Não se recorda dos títulos das obras que sempre estiveram disponíveis para sua instrução na matéria?
A sua vã tentativa de ignorar o estudo por mim publicado há mais de 5 anos não o ilibam da ignorância primária que tão orgulhosamente exibe. Nunca é demais recordar que todas as suas dúvidas teriam sido dissipadas caso tivesse tido o bom senso de frequentar uma livraria da nossa praça e ler, em particular o ensaio bibliográfico e as notas que o sustentam.

Como vê, para seu azar, sei do que falo.
Não vale a pena negar a História, nem alterá-la. Os factos estão suficientemente bem documentados para que os possa alguma vez contestar, tanto nos arquivos que referi, como nos estudos que lhe indiquei.
Não é necessário repetir as minhas notas porque, caro papatango e ao contrário de si, já se encontram disponíveis ao público há muito tempo, facto que também tentou ignorar. Se tivesse interesse genuíno e honesto na matéria que tão ardua e inutilmente tentou contestar, já teria lido os resultados das investigações por mim publicados no meu livro em 2005.
Algo tão simples escapou à sua compreensão limitada. Escusava assim de perder tempo com invenções, indo directamente ao âmago da questão.  

No dia em que o caro papatango tomar a opção construtiva de consultar as obras bibliográficas que, por várias vezes, lhe indiquei terá inteira noção da enormidade dos erros e lacunas em que incorre. Até esse dia, receio bem que a evolução do seu discurso seja mínima, por pura e simples falta de conhecimento da matéria em causa que aqui tão bem evidenciou.

Visto que não existe um único estudo ou documento de arquivo que sustente a sua colecção de opiniões, não faz qualquer sentido insistir em provar o improvável. Aos factos por mim apresentados apenas contrapôs considerações fantasiosas e desconexas. Todas elas rebatidas não por mim, mas pelos factos históricos. Esses sim, provados e publicados.

Aqui fica o seu lembrete diário, para depois não se desculpar que não sabia:

1) Não houve "mercenários" em Portugal no reinado de Filipe II de Espanha (I de Portugal). Esses soldados de fortuna actuaram na Europa Central e no Norte de Itália, não na Península Ibérica.

2) Entre 1580 e 1640, as forças militares de ocupação são espanholas, recrutadas em Espanha. Com duas excepções principais: os períodos compreendidos entre 1580 e 1583 (campanhas de invasão do reino e dos Açores) e entre 1587 e 1588, na preparação da Grande (ou "Invencível") Armada. Tratava-se de tropas regulares, formando um exército permanente totalmente espanhol...de Espanha. Nada tinha que ver com o Exército espanhol da Flandres que, obviamente, incluia várias nacionalidades.

3) Falta de pagamentos às tropas em Portugal: nada de novo, a não ser ausência de motins e massacres na Península Ibérica durante o reinado de Filipe II. Os atrasos nos soldos eram comuns a todos os grandes exércitos da época. Também nos Países Baixos, nem a "Fúria Espanhola" no saque de Antuérpia em 1576 teve repetição, num cenário incomparavelmente mais intenso do que a Península Ibérica.

4) O Duque de Bragança nunca entrou em combate, nem  sequer assistiu ao cerco de LIsboa em 1589. As suas hostes mal preparadas não possuiam preparação militar condigna. O Duque também nunca contestou o legítimo soberano espanhol, sob cujas ordens tinha o dever de defender o território português. Também não existem provas de um alegado "ódio de morte" entre o Duque e D. António (que, alíás, combateram juntos em Alcácer-Quibir).

5) As tropas inglesas da expedição a Portugal de 1589 não foram, de todo, derrotados pelas "elites" portuguesas nem nada que se pareça com esse vago conceito. Estas "elites" nunca intervieram nos combates e o seu dever de assistência foi sempre enquadrado pelas tropas espanholas sob comando supremo...espanhol.

Se estivesse de boa-fé, o caro papatango já teria lido todas estas conclusões devidamente fundamentadas no estudo que publiquei...há mais de 5 anos.

Assim sendo, na ausência de qualquer dado concreto providenciado por si e face à ineficácia da sua argumentação, não se entende a sua obsessão em prosseguir uma "contestação" que nada tem de credível.
A não ser o orgulho e preconceito, tão portuguesinhos.

Boas leituras e sempre ao dispôr!
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: gaia em Setembro 09, 2010, 06:38:26 pm
As vossas interpelações tem sido muito interessantes , e gostei bastante e aprendi.

A minha opinião , é que a situação na espanha  nunca foi pacifica , basta ver a revolta dos comuneros contra Carlos V, devido aos pesados impostos,para pagar subornos aos principes alemães , para eleição e este rei estar rodeado de alemães.
O problema é que espanha sempre foi obrigada a seguir politicas , que só tinham interesse para os Habsburgos e depois borbons .
Existe a revolta dos mouros em Granada , a costa de Valencia é assolada e saqueada pelos otomanos , o desastre da investida no norte áfrica, depois existe a êxodo e expulsão dos mouros de espanha que foi um desastre  económico e demográfico, já para não falar na expulsão dos judeus no século anterior.
A batalha de lepanto não foi decisiva , a supremacia naval no mediterraneo estava comprometida.
O problema principal , já vem de 1580, em que a defesa de Lisboa, foi um buraco, e em que o Duque de Alba , faz autenticas loucuras, e a frota portuguesa não sai ao seu encontro,  em que as probabilidades de sucesso seriam enormes, existia um problema grave de liderança .
Em 1571, diversas praças na india sofrem um embate muito forte e  aguentam, em que o próprio D. Sebastião esteve para deslocar a india face á gravidade da situação.
Este rei , muito controverso, em que quis morrer a se render , tentou com reformas , em diversas areas , nomeadamente a militar , como a criação das ordenanças, para  Portugal aguentar o cerco castelhano e otomano.
Diversos historiadores estão actualmente a rever a sua biografia , e estão a chegar á conclusão que podia ter sido um grande rei, com uma tentativa de Portugal renovar a liderança mundial, mesmo na época era a última esperança dos portugueses , mas o conteúdo revolucionário das suas reformas estavam a preocupar a nobreza , e Filipe estava muito atento .
O facto de D. Sebastião, de ter parado a perseguição da inquisição  , entende o papel dos cristão novos portugueses  no mundo financeiro mundial , a "nação portuguesa", que era a maior rede comercial mundial piramidal e controlada por matriarcas ou patriarcas de Lisboa e Porto.

A perda deste rei foi um desastre .
Prior do Crato não tinha o carisma deste rei , embora tenha conseguido por todos os meios recuperar o trono, e escapando aos sicários de Filipe.
Filipe estava a trabalhar ,desde longa data para conquistar o trono de Portugal, utilizando espiões , mesmo em Marrocos , subornando, etc.

Existe um vazio , em a nobreza portuguesa acomoda-se , e o prório D .António, vai perdendo apoiantes  é lógico quando existe o desembarque em Lisboa os Ingleses , a situação era favorável .
Nessa época existe um ataque inglês na costa algarvia e a população consegue  se defender de uma forma brilhante , o que não aconteceu em espanha, e o próprio Filipe fica admirado e agradece ao governador , pela dinámica da defesa.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: gaia em Setembro 09, 2010, 06:47:26 pm
Aconselho a leitura do livro " História dos judeus portugueses" de Carsten L. Wilke, em que este autor aborda o papel da "nação" portuguesa , na economia mundial, desde México , Peru, Brasil, etc.
É um tema muito pouco conheçido, mas bem interessante.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 09, 2010, 08:19:38 pm
João Vaz, eu não vou obviamente continuar a dar-lhe «trela» porque é evidente que você tem mais tempo que eu, ainda que apenas eu me tenha dado ao trabalho de apresentar excertos e passagens que demonstram as razões da argumentação por mim apresentada, você desconversou, disse que disse e depois voltou atrás quando percebeu os erros, falou do Kamen e depois deixou de falar, e não colocou em causa nada do que eu disse, enfim, uma trapalhada.

Você afirma que eu não contribui em nada para qualquer debate. Você engana-se. Eu não contribui foi para demonstrar a validade de uma tese que eu considero que mete água, porque as circunstâncias históricas a põem em causa.

Os mercenários continuam mercenários e continuam a revoltar-se quando não recebem pagamento.
Uma tropa mercenária não é de confiança e não tem nenhum valor militar, excepto por detrás de muralhas, onde luta apenas para salvar as costas e não por nenhum Rei ou Monarca.

Perante um país defendido por tal corja de maltrapilhos e ladrões (o que não era característica específica dos mercenários de Filipe-II, extendendo-se aos ingleses e a outros), é perfeitamente natural que o mais rico dos nobres portugueses, fizesse a única coisa que podia: Proteger-se !
Se você achar que vai ser assaltado amanhã e souber que a Policia não o pode defender, a primeira coisa que você vai fazer é pelo menos comprar uma fechadura e preparar-se para defender a sua casa.
Você nunca compraria a fechadura e nunca colocaria trancas na casa, se achasse que a Policia era capaz de controlar os ladrões.


Se a Policia da altura (as hostes maltrapilhas do Habsburgo) tivesse capacidade para defender Portugal, o Duque teria que ser muito estúpido ou muito guerreiro para formar um exército.

Ora, toda gente sabe que, pelas suas posses e atitudes, ele estúpido não era.
E você mesmo disse que ele não era grande guerreiro.


Portanto, resta apenas uma possibilidade: Aquela que você tenta negar, ao arrepio da demonstração das circunstâncias em que se encontrava Portugal e a Europa em 1589 !
Vendo-se abandonado pelo Áustria, defendido apenas pela ralé dos Habsburgos que não podia fazer mais nada que esconder-se por detrás da protecção das muralhas (como tinha feito na Corunha e como fez em Lisboa), o Bragança, deitou as mãos aos bolsos e armou não um mas dois exércitos (não fosse o Diabo tece-las).

Não há mais nenhuma explicação razoável.
E ainda que a fraca competência dos ingleses e o pouco prestigio de D.Antonio, tenham contribuído para que a participação das forças portuguesas fosse de pouca importância (o que não está estabelecido), isso não invalida que a análise feita pelo Bragança fosse clara como a água.

Depois fala-nos no Rei da Espanha, sem apresentar uma única prova (o que aliás é seu timbre), sem apresentar um único documento assinado por Filipe II de Castela, em que ele assine como Rei de Espanha.
Você não pode apresentar tal documento, porque como você muito bem sabe, ele não existe. Os extremistas espanhóis também tentaram encontrar uma prova do género sem sucesso.
Por alguma razão Felipe-II de Castela e Leão, ficou conhecido em Portugal como Filipe-I o prudente, exactamente porque sempre agiu exclusivamente como Rei de Portugal e nunca como Rei de Castela (chame-lhe Espanha, se lhe dá jeito).

A utilização do termo Espanha hoje, não é correcta, sem proceder às necessárias ressalvas e chamadas de atenção (o que você não fez), porque em 1589 os portugueses eram tão Hespanhóis quanto os suecos são Escandinavos.
Chama-se Espanhol aos Castelhano, por conveniência, mas isso não transforma uma coisa na outra.
Como já tive ocasião de referir neste fórum, o governador do Texas jura fidelidade à constituição do Estado, perante as quatro bandeiras do Texas, uma delas apontada como bandeira da Espanha.
Mas a bandeira, é a bandeira do reino de Castela e Leão, não a bandeira de uma Espanha, que não tinha bandeira, porque purz e simplesmente não existia.
Veja as palavras do Henry Kamen, que eu transcrevi (vide posts anteriores em que se faz referencia ao facto).
A única bandeira que era comum era a bandeira derivada da cruz da Santo André, utilizada por Filipe o Belo, e que não representava Espanha nenhuma, mas sim o monarca Habsburgo.

Você nega as circunstâncias históricas que rodearam as operações militares em 1589 na Holanda e em França e nega-se a interpretar os factos históricos conhecidos, quando eles apontam necessariamente numa direcção diferente, porquanto Portugal estava longe das principais preocupações da coroa. Quem se preocupava, era quem tinha que se preocupar, o Duque de Bragança e não o rei.
A sua situação lembra alguém que é acusado de matar o sacristão, durante a missa das seis. Esse alguém arranja um álibi, mas a câmara de vigilância mostra-o a entrar na igreja às seis horas.

Prove que a História do século XVI não decorreu como decorreu. Prove que as batalhas que ocorreram em 1589 e as convulsões em França não ocorreram e eu talvez acredite que de facto estavam em Portugal contingentes com algum valor militar e que o Duque armou exércitos apenas para deitar dinheiro fora.

Portanto, tudo como d’antes, Quartel General em Abrantes.
E aconselho a que leia o essencial da minha crítica desde o inicio.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 10, 2010, 10:40:06 am
Gaia, ainda bem que preferiu a abordagem civilizada ao tema. É exactamente a esse tipo de debates que deveríamos habituar-nos. Trata-se de um tema fascinante e há pano para mangas, acredite...

Caro papatango, ainda bem que caíu em si. Acabou de nos presentear com uma opereta que nem Wagner teria composto mais grandiosamente... Tornou-se no autor de uma cenografia teatral para a qual, confesso, tem um enorme talento. Agora, quanto à História...valham-nos todos os santos!  c34x

Enfim... Olhe, agradeço a sua intervenção, pois permitiu-me a oportunidade de esclarecimentos e divulgação de vários aspectos pouco ou nada conhecidos acerca da História de Portugal, militar e política, sob Filipe II. Há que não ter medo em debater e aprender, pois ainda é uma época mergulhada em mitos e preconceitos.

Por maior que seja a tentação, claro que ninguém pode mudar a História. O resultado está à vista: em resultado da aridez inepta da sua ofensiva inócua, qual D. Sebastião, o caro papatango embrenhou-se - convencido de que iria brilhar - num terreno que não conhece, nem domina. Desde logo enterrou-se no seu deserto de provas virtuais e interpretações absurdas.

Os factos históricos documentados e publicados não lhe convêm. Paciência. Não devem estar à altura dos seus devaneios gratuitos, conclusões precipitadas, confusão de elementos e épocas históricas. Tudo isto amalgamado num discurso obsessivo desprovido de qualquer substância. Como é óbvio, a simples obstinação não concede validade nenhuma aos disparates que foi lançando desde que aqui aterrou. Nada histórico, nem factual.

A fossa abissal do seu flagrante desconhecimento só é comparável à sua fixação obsessiva por sub-temas que o deslumbram, mas que não constituem qualquer novidade e nada têm a ver com o tópico que abri, tal como pôde ler nas diversas obras que lhe indiquei para leitura e actualização históricas. Não de novelas, mas sim História factual.

Deixou aqui evidente que, apesar de ter encaixado respostas sistemáticas e cabais às suas alegações infundamentadas, ainda tentou convencer-nos das suas divagações, mesmo confrontado com uma selecção de obras especializadas e actualizadas na matéria em causa.

Como vê, não é fechado sobre si mesmo que conseguirá evoluir e compensar um imenso atraso histórico. Ao invés de questionar honestamente, preferiu brindar-nos com o seu pináculo de ignorância confrangedoramente partilhada. Poderia ter-nos dispensado esse espectáculo no tópico que abri. Por esta altura, já deveria encontrar-se devidamente esclarecido quanto às suas questões. Isso diz tudo quanto à sua postura.

Ficou claro que, na sua estreiteza de vistas, os estudos de História ficaram definitivamente concluídos há meio século e mais para atrás. Espero que consiga digerir em breve todo o avanço histórico consolidado nas últimas três décadas. Também é altamente recomendável que aprenda a consultar arquivos, estão abertos ao público em geral e a sua leitura é indispensável. Leia, documente-se e dispa-se de preconceitos. Vai ver que só tem a ganhar.

A História será sempre mais interessante e surpreendente do que a ficção.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 10, 2010, 02:21:37 pm
O factos publicados e a realidade Histórica que você tenta distorcer não lhe convêm. Essa é uma das razões porque não apresentou no fórum um único trecho, texto ou imagem que pudessem suportar as suas teses mirabolantes.
É você que tem que ler e despir-se do ranço espanholista patético a que tresanda.

Não adianta prosseguir com afirmações pseudo literárias sobre enterros. As suas qualidades literárias, serão porventura mais apreciadas enquanto romancista. Dedique-se a escrever uma jangada de pedra, talvez algum espanhol lhe arranje um subsidio.  :roll:

Os meus pontos de vista são claros e absolutamente límpidos, baseando-se na análise das circunstâncias históricas e dos factos conhecidos e RECONHECIDOS e dos comportamentos dos intervenientes.
As circunstâncias históricas, que você não pode negar, deitam por terra a parte disparatada da sua argumentação, sobre miticos Reis de Espanha, ou Gloriosos Tércios da sua sagrada raça Hispana, gloriosa e triunfadora.
Tenha dó. Já dei para esse peditório.

Mas entendo o seu objectivo principal :
Não há publicidade má ou boa, há apenas publicidade.
Está explicada a sua recusa em apresentar fontes e coloca-las online ...  :mrgreen:  :mrgreen:

Depois mando-lhe a factura pelos meus serviços de publicidade.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 10, 2010, 02:26:10 pm
...ao contrário de si, que nada produz e tudo confunde, não é?

Pois abra lá um tópico só seu, e despeje para lá todo o entulho que ainda lhe vai atravessado. Pode ser que assim se alivie das suas obsessões fantasiosas e dos seus filmes à la Manoel de Oliveira.

É que já cansa o seu lixo trazido para aqui todos os dias. O seu caso de falta de inteligência é grave. Pior ainda a fraca figura que teima em fazer, apesar da falsa barba senatorial c34x
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Setembro 10, 2010, 02:29:49 pm
Filho, não te vou ajudar a vender livros encalhados ...
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 10, 2010, 02:35:22 pm
Encalhado, só o vejo a si neste tópico e na sua cabeça frustrada e decadente.

Sabe que há uma vida lá fora, para além do seu teclado bafiento e da sua suprema burrice? Ou no Lar em que o enfiaram não lhe explicaram isso? Entretenha-se com o dominó e os sedativos, porque já nem aprender consegue.

Cumprimentos, ó Paizinho da ex-Area Militar  c34x
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: PereiraMarques em Setembro 10, 2010, 02:40:13 pm
Mais considerações de ordem pessoal serão eliminadas e apresentadas à Administração para análise. Se não houver mais argumentação de carácter intelectual sobre assunto, talvez seja melhor "arrumar" este tema.

Pel'A moderação,
B. Pereira Marques
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: Jorge Pereira em Setembro 15, 2010, 03:22:20 pm
Volto a reabrir este tópico com a esperança e, quase certeza, de que dois membros do fórum com este “calibre” não voltarão a cometer o mesmo erro.

A minha admiração pelos vossos conhecimentos!
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: Templário em Setembro 20, 2010, 06:37:55 pm
Meus Caros Amigos:

Foi muito interessante o debate entre João Vaz e Papatango - que já li (na quase totalidade) - lamento os ataques pessoais na segunda metade do mesmo. Acho que são ambos inteligentes - e bastante inteligentes, independentemente das diferentes linhas interpretativas e modo de analisar as fontes passadas, mais actualizadas, redescobertas e reinterpretadas (portanto permitam-me discordar de ambos completamente nesse campo pessoal de "acusações").

Tenho formação em História, mas segui outras áreas profissionais - mas à mesma pretendo retornar.
Bebi com muito interesse os factos que aqui nos deram a conhecer com mais profundidade. Todos agradecemos a contribuição de ambos. A história é para todos e não só para os Académicos - e na investigação e divulgação - trabalho que sonho um dia fazer - incluo todos nós, tenhamos formação académica na área por um lado ou sejamos auto-didactas com  longo percurso na investigação.

Sei que abordaram mais os Tercios em Portugal naquele período - para além do centro do tópico que é a invasão inglesa com o Prior do Crato D. António em 1589 - ou a Contra-armada de Drake e Norris.

E a discordância(uma delas) entre ambos(se me recordo bem!) assenta mais na composição étnica destes Tercios em todo o periodo de 1583-1640(e na defesa da invasão inglesa de 1589) do que na invasão espanhola do Reino continental e dos Açores em 1580-82; - nesta ultima parece-me que estão ambos de acordo em relação à sua característica multi-nacional, talvez maioritáriamente Castelhana que aragonesa, italiana, alemã ou flamenga(que não própriamente "espanhola" - poderemos chamar-lhe no entanto espanhola num sentido actual) no exército de terra do Duque de Alba (na interpretação de João Vaz), mas de facto, completamente multi-nacional e europeia.

E quanto ao termo "Espanhola", entendamo-lo num sentido actual, ou baseado ainda nas primeiras separações dos termos ensaiadas nas cortes de Tomar, quando se falava de "Portugueses" de um lado e de reinos "Hespanhoes" do outro em três artigos. No entanto era ainda um termo geográfico e penínsular. E Ambos têm razão (Papatango e João Vaz) porque de facto a transição deste conceito naquela época tornou ambígua e duplice o seu emprego.

O próprio Felipe II de Castela ou Espanha (I de Portugal) num retrado e num selo dizia-se "PHILIPPUS II HISPANIAR ET LUSITANIAE REX DIVI CAROLI V...ISABELLA EMANUELIS LUSITANIAE REGIS F. CAROLI V IMP. MAX. UXOR"

"PHILIPPUS DEI GRATIA REX HISPANIARVM VTRIVSQVE SICILIAE HIERVSALEM ET PORTVGALLIAE"

Mas eram excepções, no resto era:

"Don Phelippe, por la Gratia de Dios, Rey de Castilla, de Leon, de Aragon, de las dos Sicilias, de Hierusalem, de Portugal, de Navarra, de Granada, de Toledo, de Valentia, de Galicia, de Mallorca, de Sevilla, de Cerdena, de Cordoua, de Corcega, de Murcia, de Jaen, de los Algarbes, de Algezira, de Gibraltar, de las Islas de Canaria, de las Indias Orientales y Occidentales, Islas y Tierra firme del Mar Oceano,
Archiduque de Austria,

Duque de Borgoña, de Brauante y de Milan,

Conde de Habspurg,de Flandes, de Tirol y de Barcelona,

Senor de Bizcaya y de Molina, &c."

E os Filipes I, II, e III também de Aragão e Navarra - como de Portugal - ao contrário de Castela(II, III, IV)

E aliás, nos foros, leis, línguas, moeda, fronteiras etc. estes Reinos penínsulares mantiveram-se virtualmente separados(e de facto) até à "Nueva Planta" de Filipe V no inicio do século XVIII - não obstante as tentativas centralistas do Conde-duque de Olivares no século anterior.

Mas voltando à outra componente da invasão de 1580, podemos comprovar os mercenários alemães(em que aparentemente o soldado polaco se integra) italianos etc.  -a fonte é espanhola e penso que segura, em relação a este documento:


"La conquista de Portugal. Diario de un soldado Polaco (De la frontera a Belem)
LA CONQUISTA DE PORTUGAL
DIARIO DE UN SOLDADO POLACO (De la frontera a Belem) [1]


El 27 de Junio, despues de haberse reunido todas las fuerzas de tropa y entregado Elbas (Elvas), una ciudad de Portugal, á tres millas de Badajoz, y también la Villaviciosa con algunas otras de alrededor, el campamento se puso en marcha, y en pleno órden de batalla desfilé delante del Rey, que estuvo esperando en una elevación, haciendosele salvas de gruezos cañones, acompañadas de las de los cazadores y mosqueteros, y luégo á dos millas, en proximidad de unas aguas que llaman Rio de Portugal ó Arroyo de Caya, se planteé el campamento.


El 28 de Junio, despues de un alto á una media milla fuera de Elbas, seguimos dos millas de camino hasta un monasterio de Nuestra Señora de los Remedios, y el 29 del mismo descansamos.
El 30 de Junio proseguimos dos millas adelante, hasta la Hirente de los Zapateros.
El 1.0 de Julio hicimos otras dos millas de camino, y el 2 tambien dos millas, hasta una villa y el castillo Estremoza que se nos entregó al instante y donde nos quedamos el 3 del mismo mes.
El 4 de Julio seguimos dos millas de marcha, hasta Casar Blanco (Casal Branco): la ciudad de Evora situada á nuestra izquierda á una milla, nos mandó sus llaves, entregándose.
El 6 de Julio tuvimos un descanso.
El 7 de Julio proseguimos de nuevo hasta un rio que llamavam Andivar.
El 8 de Julio dos millas más. Este dia, el marqués salió con sus galeras de Cádiz.
El 9 de Julio una milla más, hasta una villa llamada Monte Noro (Montemor o Novo), que se rindió al momento. Este campamento la bautizaron los alemanes de Manzanar, por una cantidad prodigiosa de manzanas que alli encontraron.


El 10 y 11 de Julio tuvimos un descanso. Aquí mandó el señor coronel ahorcar al alférez Balthauser, suizo, por haber pegado á un mercader portugues. Sin embargo, á las repetidas instancias y súplicas de los capitanes y jéfes, se le perdoné la vida, dejándole largo tiempo cargado de cadenas.
El 10 llegó el marqués con la armada á Ayamonte, y embarcó alli á D. Antonio de Ocrato, señor de Cascaes, que se sometió poco ántes al Rey, aconsejándole descansar despues de los sufrimientos que pasó en el pais.
El 11 de Julio llegó el marqués á Faro, ciudad de Algarbes, que se entregó sin demora.
El 12 de Julio hicimos dos millas de camino, hasta las aguas Esparraguera llamadas.
El 13 de Julio adelantamos tres millas, más hasta un riego llamado Valle Longa. El mismo dia vino el marqués con la armada á Lagos, que junto con la Villa Nova de Pordiman (Portimdo), se entregó sin demora.
El 14 de Julio marchamos una milla más, hasta Huebra (ó Huelva).
El 16 de Julio llegó la armada al cabo S. Vicente, cuyas plazas fuertes se entregaron voluntariamente al marqués, y por este motivo los dejó á cargo de sus jefes antiguos.
El 17 de Julio llegamos á una hermosa, grande y cerrada villa, llamada Setuval, situada á tres millas sobre el mar; al principio nos resistió con un castillo de Palmella, a una milla distante, y construido en una alta montaña. El dia siguiente la ciudad se rendió, y sus barrios han sido saqueados.
El 19 de Julio se llevaron unos 3.000 hombres cuatro banderas nuestras, es decir, las del señor Coronel de Arzt, Wotsch y Lydel un cañón al sitio del castillo. La Torre Othan (de Ouko), llamada, situado sobre el mar, á la entrada y á una milla de Setuval. Cerca de este Castillo hubo tres grandes galeones.
El 20 de Julio el marqués de Santa Cruz, despues de haber tomado la costa de Algarbez, llegó con nuestra armada junto al regimiento de D. Rodrigo Zapata, á las afueras del puerto; en la tarde, el galeon San Antonio que estacionó alli, despues de un vivo fuego contra nosotros, se rindió, y al entrar en el puerto, apercibido por el capitan y la torre, recebió algunos disparos.
El 21 de Julio el castillo Othan, junto con los dos galeones restantes y el castillo Palmella, se rindieron, y nuestra armada entró en el puerto; Antonio Moreno con alguna gente ocupó el castillo de Othan.
El 25 de Julio se fueron bastantes mosqueteros y caballeria á tierra.
El 27 de Julio se embarcó en galeras muchissima infanteria con unos setenta jinetes.
El 28 de Julio salimos del puerto en galeras, y fuimos hasta el cabo Spinchel (Espichel). El 28 del mismo, al venir á Sizimbra, se nos rindió ésta al instante.
El dia 30 de Julio pasamos delante de la plaza fuerte de San Juan (5. Julido), que está á la entrada del puerto de Lisboa, y más arriba de una villa, y del castillo llamado Cascais, llegamos al continente; los portugueses que defendiam el paso para impedir nuestros desembarcos, fueron rechazados por nuestros tiros de galeras; descendimos con fuerza, y les cogimos algunas piezas, marchando en órden de batalla adelante.
El 31 de Julio los portugueses se retiran, la pequeña ciudad de Cascais se rinde y sufre sin demora un saqueo.
El 1.° de Agosto á mediodia se empezó el bombardeo de la plaza fuerte de Cascais, y por la noche, viéndolo serio, se rendió: (mi bandera quedó desde luégo de guardia en el reducto). El guarda-almacen de artilleria, junto con dos armeros, han sido colgados en una ventana del castillo.
El 2 de Agosto por la mañana, volvieron las galeras á Setuval para llevarse las tropas y el resto de caballeria. Hacia la hora de visperas, nuestro capitan general, en la plaza del mismo Cascais, mandó degollar á D. Diego de Meneses sobre un cadalso por un verdugo aleman; D. Diego mandaba el castillo de Cascais; procedia de una familia noble, fué ántes virey de las Indias, y capitan general de D. Antonio en otros tiempos; el circulo de la ejecución lo formaban dos banderas nuestras.
El 6 de Agosto volvieron las galeras con tropas.
El 7 del mismo se levantó el campo entero, y nosotros los alemanes nos quedamos con la artilleria.
El 8 del mismo seguimos nosotros tambien á los demás; quedó la bandera del señor Ramminger en Cascais, con algunos cañones y munición.
El 9 de Agosto vinimos con la artillería á la plaza fuerte de San Juan, las galeras y naves que quisieron impedirnos establecer el campamento, fueron rechazadas por mucha artilleria, y nosostros con 500 hombres, entre ellos seis banderas alemanas, primeramente acampamos delante, luégo, la demas gente de guerra se quedó en la villa de Oers.
El 10 de Agosto empezaron los tiros contra la plaza á 500 pasos de distancia.
El 11 de Agosto adelantaron en la noche nuestras trincheras, y sin tiros unos 300 pasos; entónces acercamos 28 piezas de gran calibre, y los cazadores del señor Próspero Colonna, ocultos en la proximidad de la plaza entre las piedras del mar, tiraban á ella de modo que nadie podia asomarse á los bastiones para defenderlos; al acercarse completamente á las puertas para rechazarlos, un fuego del castillo contra ellos les hizo sufrir algunas bajas; viendo esto nuestro coronel, mandó al capitan Steighammer con unos cuantos soldados en su auxilio, de los cuales algunos perecieron.
El 12 de Agosto, habiendo conseguido el castellano Tristan Paz della Vega (Tristo Vaz da Veiga) por conducto de dos mujeres, escolta de seguridad de nuestro capitan general, para entenderse con el, salió a caballo y entregó la plaza, á condición de poder retirar sus tropas con armas. Asi se hizo; el prior con su caballeria entró dentro, el castellano se quedó también y D. Gabriel Niño con alguna gente. (Por entónces mi bandera estuvo también encargada de guardar la batería en la trinchera).
El 13 de Agosto entraron nuestras galeras y naves en el puerto, y se rindió la trinchera establecida en la proximidad de la entrada al puerto, sobre una elevación que llaman Cabeza Seca, ó Los Cachopos.
Amparados delante San Juan (S. JuliAo), el capitan general se fué una tarde á una galera, rehusando una entrevista con D. Antonio, porque observaba que este tomaba aires del rey; mas el Obispo de la Guarda, por sus consejos, le impidió adelantar más en este sentido.
El 14 de Agosto nos acercamos con el campamento á la mencionada villa
de Oers.
El mismo día Ludovico, pariente mio, cayó prisionero en manos de los por- tugueses, y se lo llevaron á Lisboa.
El 21 de Agosto, despues de haber recibido las baterias y caballería, que se mandaron de Setuval, rompió el campamento entero, poniéndose en marcha, y siguiendo su movimiento, tuvo escaramuza con el enemigo.
El 22 nos quedamos todo el dia en órden de batalla, y por la noche adelantamos hasta el monasterio de Belem, delante de la torre del mismo nombre, que está en medio del puerto enfrente del monasterio, y allí nos establecimos con la batería.
El 23 del mismo cañoneamos la torre, la cual, viéndolo serio, se rindió, y tiramos algunos disparos al castillo, que situado en otra parte del puerto, no quiso entregarse.
Belem es un hermoso y suntuoso monasterio de la orden de San Jerónimo, en que descansan los restos de muchos reyes de Portugal, en magníficos y preciosos mausoleos de piedra, colocados sobre elefantes del mismo material.
El 24 de Agosto entró nuestra armada con tiros de gran triunfo enfrente de la torre, en el puerto, y nuestro coronel tomó una casa cerca de una ermita, con cuatro banderas alemanas, tiroteándose todo el tiempo con el enemigo; dos galeras que salieron de Lisboa para rechazarle de la casa, fueron recibidas con algunos tiros, tan acertados que al instante se retiraron.
En la misma fecha, el duque de Alba con su hijo prior vino á la ermita, presenció las escaramuzas, y tomó medidas para rechazar al enemigo de las trincheras.

[1]Diario de un soldado polaco. STEBWVO, Erich, Bassota "de Diario". "


Um dia outros Duques de Albas cairiam e recuariam às mãos dos nossos exércitos Restauradores.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 21, 2010, 05:20:50 pm
Caro Templário,

Quanto ao pormenor dos títulos múltiplos de Filipe II de Espanha, também se poderia invocar a titulatura formal dos reis de Portugal desde D. Manuel... "Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Na prática, ninguém cita estes títulos. "Rei de Portugal" é suficiente e totalmente explícito.

Porém, as evidências históricas permanecem:
Em Espanha, a partir de meados do século XVI, existe apenas um monarca soberano (ninguém se dirige a Carlos V ou Filipe II como rei de Aragão), uma moeda (não existem maravedis aragoneses, reales andaluzes ou ducados catalães), forças militares unificadas (não existe exército catalão ou aragonês, mas sim da Coroa, ou seja, do Estado moderno criado no Renascimento), uma capital (Madrid, fundada por Filipe II no centro geográfico da Península Ibérica).
A centralização e o desenvolvimento do Estado moderno foi justamente uma das principais vertentes e heranças da política de Filipe II. Um governo central forte, mantendo uma vasta confederação de territórios peninsulares e extra-peninsulares: a Monarquia Hispânica

Os termos "Espanha" e "espanhol", tal como já disse em outros "posts", surgem no final de Quinhentos, utilizados tanto por súbditos dos monarcas espanhóis como pelos seus adversários, estão documentados e eram empregues sem qualquer confusão comparável àquela que hoje em dia ainda se mantém avivada por quem não leu documentos coetâneos, nem estudos mais actualizados. Prova disso são as centenas de estudos históricos realizados nas últimas três décadas em que a discussão e entendimento sobre esse conceito já foi mais bem arrumada, não caindo em confusões cronológicas, nem misturando épocas. Nenhum oficial do Exército Espanhol da Flandres, nem qualquer estadista holandês ou inglês, se refere às tropas como do Rei de Castela. Este velho debate é injustificado no que concerne Portugal. Repare-se na invocação oficial do monarca espanhol: PHILIPPUS II HISPANIARUM ET LUSITANIAE REX   (entre muitos outros títulos)...

Algum mal-entendido duradouro entre o designativo geográfico "Hispania", nome com o qual os romanos designavam geograficamente a Península Ibérica, resultou na formulação de diversas teorias sobre a sua origem, qual delas a mais controversa e anacrónica. Mas isso é outra história, que nada tem a ver com o presente tópico. Toda a historiografia recente aceita Filipe II de Espanha. É o tipo de discussão que não resolve nada.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.fiscaldeposturas.com.br%2Fmunicipal%2Fwp-content%2Fuploads%2F2010%2F07%2Fordenacoes-manuelinas-400x330.jpg&hash=833754d0d42e98b8f2c99ad5b9d420c0)
Brasão de Portugal nas Ordenações Filipinas, publicadas em Portugal sob D. Filipe II (Filipe III de Espanha)

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fpurl.pt%2F13209%2F2%2Fe-4830-p_JPG%2Fe-4830-p_JPG_24-C-R0072%2Fe-4830-p_0001_1_p24-C-R0072.jpg&hash=1a40336d0bd7b5087786014b28c4ae4a)
Retrato gravado de Filipe II, com legenda de Rei de Espanha

Concluindo, Portugal manteve sempre a sua identidade sob Filipe II. Não se verifica qualquer assimilação Português/Espanhol indiscriminada sob um hipotético designativo "Hispânico". Co-existiram, sim, Portugueses e Espanhóis sob a mesma Monarquia Hispânica.

O excerto que o Templário cita, do soldado polaco Steblovo, encontra-se também traduzido em Português:
Eugénio do Canto (ed.), Diário de Erich Lassota de Steblovo, polaco ao serviço de Philippe II, 1580-1584 (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1913), extraído da tradução castelhana publicada por Javier Liske, Viajes de Extranjeros por España y Portugal en los siglos XV, XVI y XVII (Madrid, 1878).

Trata-se de um dos soldados estrangeiros que integraram o exército de invasão espanhol em 1580.
Àparte o relato sucinto dos seus percursos, não há qualquer novidade nisto:
- Alemães e flamengos integraram desde o séc. XV os exércitos de Portugal e Espanha, mas numericamente eram marginais.
- Steblovo, natural da Silésia - um polaco germanizado, portanto -, alistou-se no exército de invasão espanhol onde serviu durante 4 anos entre Portugal continental e os Açores. Não se trata de mercenário, mas sim integrante das tropas regulares da Coroa de Espanha.
- Tal como indiquei anteriormente, as tropas de Filipe II em Portugal a partir de 1580 eram essencialmente espanholas, excepto nos períodos de grandes mobilizações de 1580-1583 para invasão de Portugal e de 1587-1588 na preparação da Grande Armada contra Inglaterra, onde intervieram várias unidades estrangeiras, provenientes do Exército Espanhol da Flandres. Trata-se, portanto de uma evidência a distinção entre dois teatros de operações: Países Baixos e Portugal. Parece-me que já repeti isto umas 3 vezes aqui.
- Em 1582, o exército da Flandres sob o Duque de Parma contava 60.000 homens, tendo sido mobilizados 2 Tercios espanhóis e um italiano veteranos para as campanhas da conquista de Portugal e da expedição aos Açores. Nos Países Baixos, estas unidades formavam a ponta de lança do avanço espanhol contra os rebeldes holandeses.

Dos estados italianos tinham vindo 9.000 soldados reunidos pelo general Pietro de Medici, divididos em 3 destacamentos de 3.000 homens sob as ordens do coronel Prospero Colonna (florentinos), Carlo Spinelli (napolitanos) e o Prior de Hungria (napolitanos). No total, as tropas reunidas nos arredores de Badajoz contavam 24.000 a 25.000 homens (21.000 a 22.0000 infantes e 3.000 cavaleiros).
Vide Geoffrey Parker, The Dutch Revolt (2.a ed., Middlesex, 1979), p. 209.
Consulte-se também o estudo imprescindível do mesmo autor: The Army of Flanders and the Spanish Road, 1567-1659: The Logistics of Spanish Victory and Defeat in the Low Countries' Wars (Cambridge, 1972), que não me canso de indicar.

Pouco depois da vitória de Alcântara e da submissão de Lisboa, o Duque de Alba propôs a desmobilização do exército mantendo apenas 6.000 homens em Portugal. Guarnições maioritariamente espanholas, sendo que algumas (poucas) unidades estrangeiras permaneceram devido à preparação das campanhas de submissão dos Açores, facto imprevisto quando do planeamento da campanha.

Também me parecem necessários esclarecimentos adicionais.
As forças militares de Filipe II na invasão de Portugal compunham-se da seguinte forma:

- 11 Tercios de infantaria (piqueiros e arcabuzeiros)
- 3000 "gastadores" (sapadores)
- 23 companhias de cavalaria ("hombres de armas"/cavalaria pesada, ginetes/ligeira e arcabuzeiros a cavalo)
- 100 cavaleiros da Casa Real

A infantaria, por seu turno, dividia-se nas seguintes unidades:

- Tercio de Nápoles (tropas espanholas e italianas veteranas da Guerra dos Países Baixos, comandadas por oficiais espanhóis)

- Tercio de Lombardia (idem)

- Tercio de italianos

- Tercio de alemães

- 7 Tercios de "bisoños" (noviços recrutados em Espanha)

- Guarda do Rei

(excluindo o trem de artilharia, médicos, etc.)

Total de 24 a 25.000 homens, sob comando supremo do Duque de Alba, Capitão-geral, acompanhado do seu filho bastardo o Prior de San Juan D. Fernando de Toledo, seu lugar-tenente, Sancho de Ávila, Mestre de Campo-geral e D. Francés de Álava y Beamonte, General da artilharia. Todos espanhóis.

Veja-se, não me canso de repetir, toda a documentação fundamental publicada na Coleccion de Documentos Inéditos para la Historia de España (Madrid, 1842-1895), em particular os tomos XXXI, XXXIII e XXXIV, e retomada por J. Suárez Inclán, Guerra de Anexión en Portugal Durante el Reinado de D. Felipe II (Madrid, 1897), 2 vols.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.lessignets.com%2Fsignetsdiane%2Fcalendrier%2Fimages%2Faout%2F25%2F1%2Fbatalha_de_alcantara1.jpg&hash=ed9cf473710d7cd919355768a12e4672)
Panorâmica legendada da Batalha de Alcântara (1580), anónimo (Biblioteca Nacional de Lisboa)
(cópia em alta definição: http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b2/Batalha_de_Alc%C3%A2ntara.jpg/300px-Batalha_de_Alc%C3%A2ntara.jpg&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Alc%25C3%25A2ntara&usg=__mq9VJ_X6wWMNxpyh0Kux0ZBGQQM=&h=228&w=300&sz=24&hl=pt-PT&start=9&zoom=1&um=1&itbs=1&tbnid=8hU-i2nnlboxwM:&tbnh=88&tbnw=116&prev=/images%3Fq%3D%2522batalha%2Bde%2Balc%25C3%25A2ntara%2522%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26gbv%3D2%26tbs%3Disch:1 )

A partir de 1580, a máquina militar espanhola instala-se de forma duradoura em Portugal. Estão presentes os três ramos: Armada, Exército e Artilharia, cada uma das quais chefiadas pelo respectivo Capitão-Geral.
Desde logo, Filipe II estabeleceu uma estrutura orgânica paralela à escala do reino recém-conquistado como extensão da administração militar espanhola. E fê-lo de modo particularmente eficaz, "racionalizando" custos e obtendo a pacificação e controle do território, pois estava em jogo o equilíbrio político e militar da Península Ibérica e da Monarquia Hispânica.
Em Portugal, tanto a administração, como as chefias militares eram exclusivamente espanholas.

A partir das pesquisas que realizei sobre este tema, elaborei a seguinte lista dos sucessivos comandantes supremos das forças terrestres em Portugal sob Filipe II de Espanha:

Capitães-gerais da gente de guerra do Reino de Portugal (1580-1599)
- Duque de Alba (1580-1582)
- D. Carlos de Borja, Duque de Gandia (1582-1583)
- Marquês de Santa Cruz (1584-1588), cargo acumulado com o de Capitão-Geral do Mar Oceano
- Pedro Enríquez de Acevedo, conde de Fuentes (1588-1593)
- D. Juan de Silva, conde de Portalegre Capitão-geral da gente de guerra do reino de Portugal (1593) e Governador do Reino (1593-1599). (ex-embaixador de Espanha em Portugal sob D. Sebastião, trata-se de um espanhol de mãe portuguesa)

Todos espanhóis...

Tratam-se das autoridades militares que repartiam entre si a coordenação dos sistemas defensivos em Portugal: organização das armadas, recruta e mobilização de tropas (atribuições do Capitão-Geral), o comando da defesa urbana e a superintendência das fortificações (por ex., Governador e Capitão-Geral conde de Portalegre na década de 1590).
Note-se que o pessoal administrativo e efectivos militares espanhóis beneficiavam de uma jurisdição própria (e de privilégios tais como a isenção da fiscalidade vigente no reino) que os colocava ao abrigo da intervenção das instituições e magistrados portugueses.

O cruzamento de dados obtidos na abundante documentação do Arquivo de Simancas e da Torre do Tombo permitiu uma recolha que pensamos ser muito completa. Esta informação, inédita na sua maior parte, foi completada com outras referências obtidas em publicações, desde crónicas e obras contemporâneas até compilações documentais e estudos históricos. Recolhi um total de cerca de 100 nomes, onde se incluem todas as altas patentes (elite militar e administrativa) da máquina militar da Coroa de Espanha em Portugal nas últimas duas décadas do século XVI.

Relativamente ao exército, encontram-se pelo menos 20 nomes, entre Capitães-Gerais (do Exército e da Artilharia), Mestres de Campo-gerais, Mestres de campo e subordinados e de cerca de 35 nomes relativos aos órgãos administrativos (Provedores-gerais e Vedores-gerais) e suas dependências (auditores, contadores, pagadores e mordomos). Como seria de esperar na Monarquia Hispânica, há uma prevalência clara da nobreza nas altas patentes militares ao invés dos cargos administrativos, como se verifica nos títulos de “Don”, condes, duques e marquês.
Todos espanhóis... de Espanha.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fupload.wikimedia.org%2Fwikipedia%2Fcommons%2Fthumb%2F5%2F58%2FDesembarcoislasterceiras.jpg%2F350px-Desembarcoislasterceiras.jpg&hash=1d098a9961ff769b37d2700051e10af3)
Conquista da ilha Terceira (1583). Fresco na Sala das Batalhas do Mosteiro do Escorial (Valladolid)


Quanto ao recrutamento das tropas de Filipe II que passaram por Portugal:

- As zonas de recrutamento militar em Espanha para a força de desembarque da “Invencível” Armada na Flandres, indicadas pelo Consejo de Guerra a Filipe II em 1587 previam o levantamento de companhias de Castela, de Aragão, da Catalunha, de Valencia e de Navarra. Estas regiões, assim como a Extremadura, foram os principais "berçários" do grosso das tropas espanholas sob Filipe II.
(Veja-se a documentação no Archivo General de Simancas, G(uerra) A(ntigua), legajo 196, entre outros, e o estudo de Hugo O'Donnell y Duque de Estrada, La Fuerza de Desembarco de la Gran Armada contra Inglaterra (1588) (Madrid, 1989), pp. 39-47 e mapa, p. 41).  

Em resultado desta constante actividade administrativa em apoio das mobilizações e operações em Portugal quase constantes nas últimas duas décadas de Quinhentos, foram produzidos milhares de documentos, alguns (poucos) sobrevivem na Torre do Tombo e a maioria no Arquivo de Simancas. Esta massa documental dispersa entre Portugal e Espanha contem inúmeras informações sobre aspectos da actividade militar peninsular durante o reinado dos reis espanhóis. Entre estes documentos, na sua maioria inéditos guardam-se os livros de mostras de mais de 60 companhias espanholas entradas em Portugal neste período. As "mostras", ou alardos, consistiam numa revista das tropas com frequência regular, mensal ou quinzenal, com vista a contabilizar e identificar os efectivos disponíveis nas respectivas unidades, registando minuciosamente os pagamentos das mesmas.

Encontramos assim dispersos na secção tão ignorada do Corpo Cronológico na Torre do Tombo cadernos ("livros de mostra") de pelo menos 64 companhias (infantaria e cavalaria), entradas em Portugal entre 1580 e 1597. (cada Tercio era composto em média por 12 companhias)
Comparando estes dados inéditos com a documentação relativa à enorme mobilização de 1587-1588 reunida em Portugal para a Grande Armada, minuciosamente estudada por Manuel Gracia Rivas, Los Tercios de la Gran Armada, 1587-1588 (Madrid, 1989), percebe-se e confirma-se a composição das companhias que formavam os Tercios espanhóis em Portugal sob Filipe II.
Na sua vasta maioria...espanhóis...recrutados em Espanha.


Apenas para completar o panorama que nos é relatado de forma fidedigna pelas fontes de arquivo e publicações coetâneas:

- A questão dos reforços misturando fantasiosos Tercios de estropiados ou mais histórias de mercenários permanecem no reino da ficção. Em seguida, apresento apenas exemplos entre as muitas centenas que recolhi sobre as forças de socorro entradas em Portugal para reforçar a defesa do território.

Reforços de Lisboa em 1589:
Temos, por exemplo, o Capitão D. Gonzalo Ronquillo: serviu em 1580 com uma companhia de 200 arcabuzeiros, “con que la villa de Arevalo sirvio a V.M. en aquella ocassion”, em seguida nos Açores “y ultimamente haviendo ydo a servir Entre Duero y Miño con una compañia de infanteria fue con ella al socorro de la çiudad de Lisboa quando la armada enemiga vino sobre ella”. Pede mercê de 1 companhia de cavalos. Participou no desembarque espanhol na tomada da Terceira, em 1583. Cf. Archivo General de Simancas, GA, leg. 364, doc. 36, Consulta do Consejo de Guerra (Madrid, 6 de Março de 1592) e Gaspar Frutuoso, Livro Sexto das Saudades da Terra (Ponta Delgada, 1963), Cap. 28.º, p. 204.

Reforços do litoral português em 1595:
Várias companhias de cavalaria e infantaria espanhola provenientes de Espanha alojadas entre Peniche e Cascais:
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 269, doc. 235 (Lisboa, 22 de Junho de 1595), (cópia) recibo do pagador Aranda pela entrega que lhe fez Juan de Espinosa, pagador das cinco companhias de arcabuzeiros a cavalo vindas de Castela.
Em Peniche e Cascais: “Alojáronse en Peniche y dos leguas lo más lexos docientos cavallos a cargo de Don Luys de Zúñiga, de su compañía y la de Quirós, agregadas otras veynte lanças, y de las dos compañías ginetes también se pondrá allí la una, y todo lo demás se ha alojado de veras a Cascaes y encargándose a don Fadrique del Aguila; don Sancho Bravo no ha llegado; a ambas partes se embiará la infantería con brevedad a cargo de los mismos. A Peniche podrá yr de aquí a tres o quatro días, y a Cascaes quando llegue la otra tropa (...)”.
Archivo General de Simancas, GA, leg. 427, doc. 126, carta de D. Juan de Silva para Filipe II (Lisboa, 20 de Maio de 1595).

Reforços do litoral português em 1596:
“El año de 96 que los ingleses vinieron a Andaluçia, no huvo en Madrid quien creyesse los avisos que de aqui se embiaron de ser cosa çierta que trayan gran fuerça y determinaçion de tentar a Lisboa o a Cadiz y assi se fue dilatando el socorro de Castilla [medidas de prevenção] (…) y que Don Diego Brochero con la parte de armada que aqui tenia y con algunas galeras se opusiesse a impedirles la entrada por la mar (…). Assi estava quando los enemigos se descubrieron en las Verlingas (…)”. Neste mesmo documento, é indicada a chegada do Adelantado de Castela para aprestar armada contra Inglaterra e de D. Francisco de Bobadilla com cavalaria de Castela.
Archivo General de Simancas, GA, leg. 540, doc. 71, carta do conde de Portalegre a Filipe II (Torre de Caparica, 18 de Fevereiro de 1599).

Reforços do litoral português em 1599:
Em Janeiro de 1599, a Coroa de Espanha mobilizou um conjunto de companhias para Portugal, lideradas por D. Antonio de Zúñiga. “A Don Antonio de Zúñiga han hecho Mestre de Campo general del rey (sic) de Portugal, que estaba vaco por muerte de don Gabriel Niño”. “Vino nueva estos dias de La Coruña que la Inglesa (Isabel I) enviaba 8.000 hombres y 600 caballos à Irlanda, lo cual ha hecho advertir acá, para acudir à proveer la costa, y se mandó ayer partir para Portugal al maestre de campo don Antonio de Zúñiga, y asimesmo se han mandado encaminar para allá las compañias de soldados que se han levantado en el reino; aunque la peste de Lisboa no está remediada, y el Adelantado de Castilla está en Sevilla haciendo provision para las galeras, y dando órden como se embarquen los navios que vinieren à la costa de Andalucia, para tener hecha prevencion en la ocasion que se ofreciese”.
Luis Cabrera de Córdoba, Relaciones de las cosas sucedidas en la Córte de España, desde 1599 hasta 1614 (Madrid, 1857), pp. 12 (notícia de 20 de Janeiro de 1599) e 16 (notícia de 17 de Abril de 1599).

Recordo que estes são apenas alguns exemplos, entre muitas centenas de documentos e dezenas de obras carregadas de informação similar que não sofrem qualquer contestação acerca da origem das tropas de Filipe II em Portugal.
Os reforços de Portugal sob Filipe II são espanhóis...oriundos de Espanha.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: Templário em Setembro 22, 2010, 12:45:36 pm
Caro João Vaz,

Na minha anterior mensagem, em que sublinhei o vasto conhecimento que têm mostrado - o João Vaz e o Papatango (independentemente das contradições e conflitos de interpretações entre ambos)  não referi que este tópico, no fundo, nasce da sua parte e do meritório trabalho que realizou. Fica a justiça feita.

Agradeço-lhe a resposta e o extenso acervo de informação que acrescentou. O João Vaz(para além daquilo que publica) transformou este tópico do Fórum Defesa numa fonte de informação detalhada sobre este assunto(e em boa parte sobre aquele período - para além até do aspecto militar espanhol em Portugal) inclusivamente com fontes e informação inédita. Só temos que agradecer. Outro mérito que lhe damos, normal na investigação, é reunir dados dispersos e transformá-los em História. Aliás em vastos conhecimentos, Autores e fontes, para além do agradecimento ao João Vaz, agradecemos também ao Papatango na sua parte.

Em relação aos muitos dados dignos de nota e fontes que nos dá a conhecer sobre o aspecto militar e a governação espanhola da época - nada a contradizer como é óbvio (da minha parte) para já - o João é quem está bem informado sobre a matéria e mostra ser um erudito na mesma.

Sobre a questão as Coroas Penínsulares e sem contradizer os esclarecimentos do João Vaz sobre a centralização política do tempo de Filipe II em Espanha, queria só acrescentar que coloquei ênfase nos titulos de I(I) III (II) IV(III) ainda que símbólicos, dos Austrias sobre Portugal, Castela, Aragão, Navarra etc. - e não tantos nos títulos dos Algarves, Sevilha, Jaén, Córdoba, Barcelona(Catalunha), Valência etc.. Estes Reinos, Principados e Condados integravam-se nas Coroas abrangentes da Península (aos penínsulares me refiro) - na maioria com instituições e foros próprios(e até "governador" ou Vice-rei), ao contrário do nosso Algarve, que era mais um titulo honorífico e era virtualmente extenção do Reino de Portugal  - à excepção do período filipino em Portugal, em que a tradição espanhola foi transposta para o nosso país e no "Reino" do Algarve foi instalado durante algum tempo um Governador ou Vice-rei, não tanto no plano da operacionalidade governativa ou militar, mas creio que investido mesmo directamente para o "Reino do Algarve" - mas o João Vaz corrigir-me-á se assim não foi, porque estou a dizê-lo de memória do que leio ou creio ter lido algures - Seja como for, por cima de tudo isso estavam os foros próprios fundamentais dessas Coroas que se mantiveram até 1707(no caso Espanhol).

Não contradizendo o João Vaz sobre os factos históricos dessa centralização Espanhola - no tempo em que os Estados modernos estavam em pleno desenvolvimento - fui pesquisar na net sobre o caso do António Perez e o seu conflito com Filipe II (lembrava-me do assunto desde que li um texto há tempos atrás sobre Filipe II de Espanha) e de que como ele ilustrava esse "conflito" entre a centralização espanhola(e prevalência de Castela) e os foros e limites mantidos a custo entre o território da Coroa de Castela, o de Aragão etc.. Aliás o refúgio que este antigo "valido" do Áustria encontrou ao abrigo da Justiça de Aragão e dos seus foros limitou por longo tempo a sua captura poelo mesmo Filipe II. Uma tardia intervenção militar provocou a indignação e a revolta (já anterior) das instituições aragonesas contra a ilegitimidade castelhana em Aragão.

Um trecho da wikipédia hispânica que também encontrei entretanto: "En abril de 1590, ayudado por su esposa, Juana Coello, Antonio Pérez escapó de su prisión en Madrid y huyó a Zaragoza, dónde consiguió la protección de los fueros. En el Reino de Aragón encontró el apoyo del duque de Villahermosa, el conde Aranda y principalmente de Diego de Heredia (de la baja nobleza). Mientras tanto y en su ausencia, en Madrid fue condenado a muerte (sin saberlo). Felipe II hizo un alegato ante el Justicia de Aragón contra Antonio Pérez por los cargos de asesinato de Escobedo, tráfico de secretos de Estado y huida de prisión. Felipe II, desesperado por la lentitud de la justicia aragonesa y porque no esperaba una condena favorable, retiró los cargos y usó un tribunal contra el que los fueros aragoneses y la Justicia aragonesa no podían oponerse: la Inquisición. Pérez no era un hereje, pero no fue difícil construir un caso contra él. En mayo de 1591, Antonio Pérez fue trasladado de la prisión del Justicia a la de la Inquisición, por lo que sus defensores organizaron una revuelta en Zaragoza, conocida como revuelta de Antonio Pérez o Turbaciones de Aragón. Se le devolvió a la prisión de la Justicia aragonesa y desde allí llevó una campaña contra la Corona. En septiembre se le trasladó de nuevo a la prisión de la Inquisición. Heredia y sus seguidores lo volvieron a sacar y en esta ocasión le dejaron libre, con lo que la situación derivó en una crisis en Aragón por la defensa de los fueros.

En octubre de 1591 Felipe II envió un ejército a Zaragoza que puso fin a la sublevación y Antonio Pérez huyó a Bearn, donde recibió el apoyo de Enrique de Navarra para intentar una invasión francesa, que fracasó. Más tarde Pérez se trasladó a Inglaterra, donde ofreció información, que sirvió para el ataque inglés a Cádiz en 1596, y estimuló la leyenda negra contra Felipe II. Tras intentar conseguir el perdón de la Corona sin éxito, Antonio Pérez falleció en París en la más absoluta pobreza en 1611.


E não querendo desviar o tema do tópico, deixo a título de curiosidade a ideia que os espanhóis (e nós portugueses porventura em face deles) tinham de si face ao estrangeiro. O João Vaz está certo (porventura mais na questão do Estado, da acção política e administrativa espanholas de então e da Espanha vista de fora como um todo - no resto da Europa por exemplo), mas o Povo e as Instituções locais, ainda no século XVII, mais arreigadas à terra, à língua ou ao reino, mantinham as diferenças. O sevilhano ou andaluz via-se como castelhano ou da Coroa de Castela em grosso modo. Os portugueses; os bascos - mesmo que pertencentes aos senhorios integrados na coroa de Castela desde o final do século XII (tal como os bascos de Navarra ou os da Baixa Navarra ou de França) ou os catalães, ainda eram vistos em Sevilha como "estrangeiros"(e os portugueses, por razões óbvias assim permaneceriam) tal qual os franceses, ingleses, alemães, italianos ou flamengos:

"A Colónia Portuguesa de Sevilha.

Uma Ameaça Entre a Restauração Portuguesa e a Conjura de Medina Sidónia?

Santiago de Luxán Melendez
Universidad de Las Palmas de Gran Canaria

I. A População Estrangeira em Sevilha: os Portugueses

«Durante aquella verdadera Edad de Oro andaluza, la zona gaditano-hispalense (pero también otras alejadas de la costa) fueron el punto de atracciónde marinos vascos, casas castellanas, mercaderes genoveses y flamencos,franceses que ejercían todas las actividades, desde aguadores y lacayos hasta elgran comercio, pilotos de Ragusa, portugueses, alemanes (...) esta riada degentes diversas explica el persistente crecimiento, el ambiente cosmopolita quecaptó Cervantes y la mezcla de sangres que allí se operó». (Domínguez Ortíz,A.: «La Andalucía del Renacimiento» in Historia de Andalucía, IV, 1980, pp.232-233).

As palavras anteriores de Domínguez Ortíz expressam plasticamente a importância da presença estrangeira na bacia do Bétis durante toda a época moderna. Centrando-nos especialmente em Sevilha, e na conjuntura de 1640, conviria ressaltar o peso específico que a minoria lusitana chegou a alcançar, desde logo o sector depopulação estrangeira maioritário na cidade hispalense, como o documento que apresentamos põe em evidência.

A formação do Portugal dos Filipes a partir de 1580(1) incrementou o número de portugueses, muitos deles conversos, que habitavam Sevilha e que, juntamente com Madrid, seria um dos locais preferidos pela colónia lusitana para se estabelecer. Num trabalho recente, Fernando Bouza demonstrou claramente a sua presença em Madrid e a sua afiliação à «Irmandade dos devotos de Santo Antonio dos Portugueses da Corte», confraria fundada em Valladolid em 1604(2). Durante o reinado de Filipe III, os marranos portugueses viram alterar-se a atitude de tolerância em relação as condições de saída do reino vizinho para uma posição contrária, adoptada em 1610 perante as pressões do clero português que havia sido consultado para o efeito pelo Conselho de Portugal. A chegada ao poder de Olivares, e sobretudo a sua importante intervenção nas finanças da Monarquia desde 1627(4) melhorariam, de novo, a sua condição, provavelmente cerca de 1630, quando a chegada de portugueses a Sevilha se incrementa, até ao ponto de se afirmar que um quarto da população da cidade teria aquela origem e que o seu idioma seria dominante em determinadas ruas, inclusive sobre o castelhano(5).

Assinalou-se que uma das causas fundamentais para o escasso aumento da população portuguesa por volta de 1640 foi a emigração motivada pela defesa das fortalezas e feitorias do Oriente e de África, o desenvolvimento do Brasil e a saída, por motivos religiosos e económicos, de muitos cristâos-novos em direcção à França, aos Países Baixos e à Espanha, especialmente a Sevilha:«Muitos naturais haviam-se fixado na outra parte da fronteira, situação quea Monarquia dualista favorecia»(6)

O aumento da população portuguesa em Castela durante o reinado de Filipe IV não foi um facto isolado como o mostram os protestos do Conselho da Fazenda em 1622 contra os homens de negócios ou o do procurador de Burgos nas cortes de 1624(7). Fruto desta preocupação com o estabelecimento de estrangeiros são tambémos inventários de portugueses realizados pela Inquisição das Canárias em 1626 paraa cidade de La Laguna, para Orotava e até para a ilha de Gomera(8).

No momento da insurreição portuguesa de 1640 que poria fim à união, calculou-se que haveria em Sevilha uns 2000 negociantes portugueses contra os 4000 da capital do reino (9). Em qualquer caso, a guerra com Portugal, cuja fronteira estava tão próxima de Sevilha, provocaria medidas que afectariam toda a região, como a proibição do comércio, especialmente da exportação de trigo e prata, e colocariam a população portuguesa estabelecida em Sevilha numa situação delicada, agravada pela queda de um dos seus principais protectores, o conde-duque de Olivares. Fiel reflexo deste ambiente psicológico pode ser a missiva do presidente do Conselho de Castela a Filipe IV, referindo-lhe que:«La ciudad está tan llena de portugueses y extranjeros que tienen por ciertola entrará el portugués si se determina a ello»(10)

II. O Recenseamento dos Estrangeiros de Sevilha de 1642

1. Apresentação

Entre a documentação de Guerra Antigua do Archivo General de Simancas(11) ,encontramos um cálculo do número de estrangeiros residentes em Sevilha que consideramos de grande interesse, tanto para o conhecimento da sua estrutura demográfica e social na cidade(12) como para poder realizar uma avaliação mais precisa donúmero de portugueses que se fixaram em Castela. Trata-se de uma relação mandada fazer pelo magistrado da Audiência Juan de Santelizes, a 2 de Dezembro de 1642. Recordemos que o mesmo funcionário havia julgado no processo do duque de Medina Sidónia, ouvindo os testemunhos e recolhendo os rumores que indicavam apresença de navios franceses, portugueses e holandeses entre Cádis e Sanlúcar(13). Assim, na pessoa de Santelizes recaíram duas tarefas que relacionam a conjura do duque e o perigo de uma invasão portuguesa que poderia ter em Sevilha uma «quintacoluna» entre os lusitanos que habitavam as suas paróquias. O primeiro assunto, napossibilidade que levantava de um possível desembarque aliado, parece que ficou no campo das suposições. O segundo, o potencial perigo da colónia portuguesa, expresso claramente pelo presidente do Conselho de Castela, será o objecto do recenseamento que apresentamos e também resultará no desmentido oficial. O inventário distingue entre naturais e estrangeiros considerando como tais, por ordem de importância, os portugueses, franceses, biscainhos, ingleses, flamengos, catalães, genoveses e, finalmente, os escravos.

O documento é o resultado de uma investigação realizada por agentes eclesiásticos sobre os recenseamentos de confissão desse ano, pelo que se deverá ter emconta que não figuram nem clérigos nem religiosos, como nele se indica. Como é realçado na nota justificativa, Santelizes dá conta de que fez com «que cada cura volviese a recorrer por las casas de las suyas [parroquias] los Padrones deste año con todo secreto diligencia y cuydado...» O objectivo desta averiguação que se confia aos párocos é saber se a cidade se encontra em perigo pela presença excessiva de estrangeiros, ainda que, de modo implícito, as atenções convergessem sobre a colónia portuguesa, como era natural pensar naqueles anos: «Como en tantas ocassiones he representado a esta ciudad y otros particulares a VM el numero excesibo que en ella ay de Portugueses, Franceses y de otras nasiones...»

Sobre os recenseamentos da confissão, aos quais a historiografia atribui uma grande veracidade, do ano que terminava, verificou-se e recolheu-se informação casa a casa, paróquia a paróquia. O resultado é uma informação tranquilizadora, pois que muitos deles se encontram casados e estabelecidos na cidade:«Lo que alcanzamos del numero de extranjeros desta Zuidad hallarse muchos cassados y avecindados en ella. Junto com el estado y disposición de las cossas, parece que ay poco que Recelar de las Naciones».Viver em Sevilha e estar casado com uma espanhola não era o mesmo que ocupar o posto de soldado em presídios como os das Canárias, os dos arquipélagos portugueses da Madeira e Açores, etc., pelo que uma das primeiras preocupações em 1640 foi substituir os elementos portugueses da guarnição, chegando-se inclusivamente a duvidar da lealdade dos espanhóis casados com portuguesas(14). Devemos finalmente precisar que o conceito de natural se restringe, como pode observar-se, aos habitantes do reino de Castela e não como noutros inventários em que se estende aos súbditos do império na Itália e na Flandres(15)(...)

(...)

Tradução de Nuno Miguel Camarinhas


PENELOPE
FAZER E DESFAZER A HISTÓRIA
PUBLICAÇÃO QUADRIMESTRAL — N»9/10 • 1993
DIRECTOR
A. M. HESPANHA


Seja como for, voltanto á matéria, o João Vaz é, creio, um especialista neste periodo e está bem informado.
Isto são só mais dados que deixei (alguns um pouco laterais ao tema) para a complexidade da Espanha de então e de Portugal (Nós Portugueses eramos bem mais definidos como nação já então) e das nossas relações.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Setembro 23, 2010, 01:43:03 pm
Caro Templário,

São questões que têm merecido o meu interesse genuíno desde há muito tempo. Estes temas têm estado há demasiado tempo a ganhar teias de aranha. Injustificadamente, pois há um manancial de fontes para pesquisar.

Sobre a diversidade de foros e leis das comunidades, e graus de autonomia provinciais em Espanha sob Filipe II, é evidente, basta olhar para o brasão dos Habsburgos de Espanha. Brasão esse, acrescentado após 1580 com a sobreposição do escudo português ao conjunto Leão-Castela/ Aragão-Catalunha-Nápoles-Sicília. Filipe II concedeu às armas de Portugal o lugar de peça mais honrosa do escudo, colocadas no ponto heráldico mais importante e digno do escudo.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi48.tinypic.com%2Fmuv3hj.jpg&hash=50966e20b2195d93cc2740ac0f1b6163)

A noção de "Espanha" surgida na segunda metade de Quinhentos deriva da forte centralização política imposta por Filipe II. A sua força reside (ainda hoje) no conjunto das comunidades reunidas sob o mesmo monarca, convergindo riquezas e meios. A imagem de Espanha desenhou-se e formou-se sobre este conjunto, simbolizando o domínio de Castela sobre os mesmos. Castela e Espanha são equivalentes, a nível simbólico. De outro modo, não se entenderia, por exemplo, que a Coroa de Castela possuísse uma armada, pois não tem fronteiras marítimas. O simbolismo tem razão de ser.

Por outro lado, outro testemunho que não tive tempo de indicar consiste na titulatura oficial de Filipe II "Rei de Espanha" inscrita nalguns exemplares em espécimes numismáticos e em algumas peças de artilharia conservadas no Museu Militar de Lisboa.

Algumas destas peças guardam-se hoje no Páteo dos Canhões, no Museu Militar de Lisboa

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.oronoz.com%2Falbum%2Fshow-midres.php%3Freferencia%3D010581.jpg&hash=cfa2e48c1c73e60f1ed0efe29b1d39e9)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.oronoz.com%2Falbum%2Fshow-midres.php%3Freferencia%3D010578.jpg&hash=0d53c68ee29a7e88ff81d62deeb9579c)

Mais uma vez, a documentação do expediente administrativo-militar na Torre do Tombo providencia dados concretos:

ANTT, CC, P. III, M. 21, doc. 2 (1585. Janeiro, 3. Lisboa) contas das armadas espanholas de 1580, 1581, 1582, 1583 e 1584 e das obras de fortificação em São Julião da Barra e São Filipe de Setúbal.
Referência às "galeras de España" no Tejo.

ANTT, CC, P. III, M. 24, doc. 1. relação da artilharia, “balas” e pólvora entregues ao galeão Santa Maria de la Misericordia, da esquadra Ilírica (esquadra proveniente de Nápoles destinada a formar a coluna vertebral da primeira Real Armada do Mar Oceano).
As inscrições gravadas num meio-canhão fundido em 1591 incluiam "las armas reales que al pié dellas está un letrero que dice FELIPE SEGUNDO REY DE ESPAÑA", assim como uma uma meia-colubrina fundida em 1592 ostentando o mesmo título.

Idem, doc. 21, várias datas (6/9/1599-19/9/1599-12/1/1602). Lisboa (castelo) / Torre de Belém / São Filipe de Setúbal. (cópia) Relação da artilharia, munições e apetrechos entregues em diversas fortificações marítimas portuguesas.
Só no castelo de Lisboa foram registados pelo menos 5 canhões fundidos em 1589 ostentando inscrição idêntica.


Mas o que é notório no final do século XVI em Espanha é a noção já popular e comum aos habitantes das províncias que a compunham. Apenas por curiosidade, parece-me interessante deixar aqui algumas referências que encontrei na documentação da Torre do Tombo, secção Corpo Cronológico:

Referências coevas a Espanha:
ANTT, CC, Parte II, Maço 257, doc. 33 (1586. Agosto, 31. Angra), recibo da entrega de 79 quintais de biscoito pelo tenedor de bastimentos y municiones Martín Ibañez de Ugarteburu aos mestres Domingos Vaz e Mateus Vicente e ao marinheiro Rodrigo Rafael.
Excerto:
"Matheos Vicente marinero de los que vinieron rrobados en un navio que venia de Magallanes quattro quintales y çinquenta libras del dicho viscocho para el y para los demas marineros y jente que venia en el dicho navio para su matalotaje para yrse a España (...)".

Do mesmo modo, quanto à denominação das tropas de Espanha em Portugal:
ANTT, CC, P. II, M. 256, doc. 46 (1583. Julho, 7. Lisboa), “Libranza” de pagamento do duque de Gandia para o pagamento dos soldos dos oficiais administrativos e funcionários do Hospital Real de São Filipe e Santiago do castelo de Lisboa.
Refere-se o hospital "... donde se curan los soldados enfermos de las compañias de ynfanteria española que estan el el [sic] castillo y su comarca".

E ainda:
ANTT, CC, P. II, M. 263, doc. 54 (1593. Julho, 23), ordem do conde de Portalegre para que o pagador Aranda pague os 700 escudos do trigo que o capitão Juan Fernandez de Luna tomou, para aprovisionamento das fortalezas de Sagres e do Cabo de São Vicente.
Excerto:
"Juan Fernandez de Luna, capitan de ynfanteria española y castellano del castillo de Sagres...". (aqui, "castellano" equivale a alcaide, não a Castela)

Uma das galés da esquadra estacionada no Tejo para defesa de Lisboa tinha nome "Española".


Sobre a sublevação de Aragão em 1591, pude referir-me a esse incidente num dos primeiros "posts" mais acima. A resposta pronta de Filipe II resolveu as "Alterações" locais fomentado pelo episódio da fuga de Pérez, foragido da Corte que tentou refugiar-se ao abrigo dos foros regionais (algo ingénuo, face a um monarca com os recursos e a vontade política de Filipe II). Não surtiu efeito, precisamente pelo poder central de Madrid. Acabou por se auto-exilar em Inglaterra.

Algarve: é verdade. Assemelha-se a uma espécie de região militar. Os motivos eram quase intemporais: a presença constante de corsários argelinos e ingleses (sendo que a costa algarvia era ponto de referência obrigatória no trecho final da tonra-viagem das valiosas armadas das Índias de Espanha entre os Açores e Sevilha), e o apoio próximo às praças portuguesas em Marrocos. Na Biblioteca do Palácio da Ajuda, por exemplo, encontram-se alguns tomos manuscritos relativos ao Governo do Algarve ainda no segundo quartel do séc. XVII. Como seria de esperar, a quase totalidade dos assuntos prende-se com questões do foro militar: fortificações, armadas e tropas.

Finalmente, o autor cujo artigo citou, Luxán Meléndez, é de facto um investigador de referência embora as obras dele não se encontrem traduzidas, àparte esse artigo. O que é particularmente interessante neste artigo é que os "Portugueses" a que se refere são na verdade os Cristãos-Novos, ou judeus recém-convertidos (na verdade, não completamente) e que constituiram provavelmente a comunidade portuguesa que mais beneficiou com a União Ibérica. Esse é outro tema que tem vindo a ser investigado sobretudo em Espanha (pois é lá que se encontra o grosso da documentação; vejam-se os estudos de Fernando Serrano Mangas da Universidade de Extremadura, António Marques de Almeida da Universidade de Lisboa e Maria da Graça Mateus Ventura, da Universidade Nova de Lisboa), acerca destes poderosos empresários, financiadores da Coroa que obtiveram grande sucesso nos seus negócios diversos, desde a logística das armadas da Carreira da Índia portuguesa, em Lisboa, e das Índias espanholas, em Sevilha, até aos vultuosos créditos que concederam à Coroa em Madrid. Isto, claro, adiou em muitos anos a sua perseguição e condenação pelo Santo Ofício.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: carlos duran em Outubro 16, 2010, 07:25:38 pm
Estimado Sr Vaz
son Carlos Duran Cao, galego, que  teño escrito algunhas veces neste forum sobre historia militar, fiquei impresionado pola calidade do seu traballo, realmente ista expedición dos ingleses motivada por diversos motivos non só de vinganza mais tamen comerciais e políticos foi un gran desastre e inda non e ben coñecida na espanha, e ben certo que a nación inglesa e tan destra en conseguir vitorias como en ocultar derrotas como ista e como a de Cartagena de Indias no 1741 outro gran desastre , tan so quero facer dous apuntes, un deles e o fracaso dos ingleses no ataque a cidade da Coruña, o coronel inglés Anthony Wingfield, participante da armada inglesa escriviu na sua crónica o seguinte: "os soldados ingleses non estan acostumados a faceren guerras de sitio e cercos, e por isto as accións mais duras dos días 14 e 15 de maio o peso da loita caeu en grupos de soldados experientes que non chegaban para a importancia da operación, inda esto a resistencia da cidade foi durísima", a isto teño que engadir a actuación da nosa heroina galega Maior Fernandes da Cámara (Maria Pita) que tivo unha importante actuación contra os ingleses unha vez morto o seu home.
Enquanto ao ataque final de Drake a vila de VIgo compre decir que catro anos antes, no 1585, Drake foi derrotado nun primeiro intento contra a cidade pola actuación do conde de Gondomar Diego Sarmiento que o derrotou, mais agora a vila, sen murallas, non tivo tanta sorte e Drake queimou 300 casas e as crónicas galegas falan de que houbo dura loita e os ingleses tiveron 700 baixas, seguramente cifras exageradas sen dubida.
En fin en quanto ao señor Papatango xa coñezo as suas opinións, semellan ser escritas con o coraçon, con odio e non pouco rigor histórico ainda que ten o meu respeito e teñen algunhas verdades, mais na defensa de Portugal por o imperio hispánico no ano 1589 hai moitos nomes "espanhois" maiormente castelans, non tudo eran mercenarios ainda que escasa poboación dos pobos espanhois non permitía acadar soldados para tantos frentes de batalla. Moitos mercenarios mais tamen moitos terços na Flandes dos reinos espanhois, valencia, castela, aragao etc, galegos poucos inda que tamen, e houbo moitos militares portugueses nos terços de flandes mais isa e outra historia. Ao final vai resultar que un dos grandes militares da historia (onde tamen esta dende logo o gran militar Nuno Alvares Pereira) o gran Capitao Gonzalo Fernandez de Cordoba vencedor dos portugueses do bispo de Evora na batalha de Albuera no 1479, vencedor dos franceses en moitas batalhas, conquistador de gran parte da Italia, vencedor dos musulmans de Granada, dos moriscos etc ao millor vai resultar que tamen era un mercenario extranxeiro. E dificil para alguns portugueses separar a verdade histórica do coraçon, fai pouco tempo puiden ler noutro foro portugués a unha persoa que decía que os espanhois nunca gañaran nengunha batalha aos portugueses (non sei si se refería aos reinos da Galiza, Leao, Castela, Aragao, etc) e o mais abraiante e que o decia a serio. Eu son galego espanhol e sempre digo que a historia militar portuguesa e impresionante e que os portugueses sempre foran valentes e grandes militares e non necesitan falsear a historia por nacionalismo ou vitimismo, tamen Portugal sempre tentou conquistar a Galiza e eiqui non temos nengun "odio" aos portugueses, todo o contrario.

Finalmente meu caro sr Joao Vaz foi un prazer leer o seu traballo. Se nalgun momento quer contactar conmigo para cambiar informacións meu correio e : linhos59@hotmail.com
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: teXou em Outubro 16, 2010, 08:08:35 pm
Citação de: "carlos duran"
...  sempre digo que a historia militar portuguesa e impresionante e que os portugueses sempre foran valentes e grandes militares e non necesitan falsear a historia por nacionalismo ou vitimismo, ...
:G-beer2:
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: João Vaz em Outubro 18, 2010, 10:25:16 am
Citação de: "carlos duran"
Estimado Sr Vaz
Finalmente meu caro sr Joao Vaz foi un prazer leer o seu traballo. Se nalgun momento quer contactar conmigo para cambiar informacións meu correio e : linhos59@hotmail.com

Ilustre Carlos Duran (deixe lá o Senhor c34x ),

Antes de mais, agradeço as suas palavras.
Quanto aos episódios bélicos ocorridos na Galiza na época da denominada Guerra Anglo-Espanhola tive oportunidade de visitar Santiago de Compostela e a Coruña numa das minhas primeiras visitas ao Arquivo de Simancas, que muito apreciei. Foi na Coruña que pude comprar dois livros indispensáveis para este tema, da autoria da Professora Maria del Carmen Saavedra Vázquez, ambos publicados no quarto centenário da expedição de Drake e do Prior do Crato, utilizando valiosas fontes de arquivo:

Maria Pita y la defensa de La Coruña en 1589 (1989)

La Coruña durante el Reinado de Felipe II (1989)

O primeiro acerca da famosa heroína local e o segundo, mais aprofundado, acerca do desenvolvimento da cidade e arredores no final do reinado de Filipe II, enfatizando a revitalização militar deste porto estratégico no conflito com Inglaterra, algo muito semelhante ao verificado em Lisboa na mesma época.

De facto, a História desta época não tem merecido todo o estudo que merece. O vazio acerca dos 60 anos do domínio filipino em Portugal é imenso. No entanto, há um manancial por explorar e é necessário avançar em várias frentes, tendo em conta também os estudos mais recentes publicados noutros países permitindo estabelecer comparações e obter esclarecimentos preciosos para completar as informações que nos dizem respeito. Por isso vou partilhando algumas das conclusões das pesquisas que tenho efectuado.

Um abraço lusitano e cumprimentos à Galiza
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: Luis G. Santos em Novembro 06, 2011, 05:28:42 am
Soy el historiador y escritor gallego Luis Gorrochategui Santos. Siento no poder escribir en portugués, pero lo entiendo perfectamente. Antes de nada quiero felicitar a Joao Vaz por su extraordinaria obra CAMPAHAS DO PRIOR DE CRATO. También al ForumDefesa por su calidad y variedad. Llevo doce años investigando la expedición Drake-Norris de 1589. En 2002 publiqué La guerra de la Sirena, que se centraba en el ataque a La Coruña. Este año 2011 he publicado Contra Armada. La mayor catástrofe naval de la historia de Inglaterra que trata el ataque a Lisboa. Son 436 páginas, 8 planos, 60 ilustraciones. He localizado cientos de documentos inéditos que me han permitido reconstruir con gran detalle, y día a día, las operaciones en Lisboa.
Debo decir que los hombres que zarparon de Plymouth eran 27.667 en 180 barcos. Una flota más grande que la “Invencible”. Los que defendieron Lisboa fueron 5.000 soldados españoles y miles de soldados portugueses, incluyendo una potente caballería. Las fuerzas portuguesas se apostaron en el frente marítimo, flanco débil de Lisboa, pues ahí ya no existía la cerca fernandina.  El ejército luso luchó del lado de Felipe, hijo legítimo de Isabel de Portugal y nieto de Don Manuel. Su primo, el Prior de Crato, firmó unas clausulas con Isabel según las cuales le permitía al ejército invasor doce días de saco en Lisboa, convertía a Portugal en un estado vasallo de Inglaterra, obligado a mantener a su costa guarnición inglesa en todos los castillos portugueses y a pagar un tributo anual de 300.000 ducados. Además, le permitía acceso al imperio luso. La victoria hispano-portuguesa en Lisboa cerró los imperios ibéricos a las ansías de expansión anglo-holandesas. Fue beneficiosa para todos nosotros y nos permitió consolidar la presencia de la cultura ibérica en América. Para más información visitar http://www.contraarmada.com (http://www.contraarmada.com).
 Moito obrigado
Luis G. Santos
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: papatango em Dezembro 12, 2011, 12:35:39 pm
Uns pequenos reparos e questões...

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La mayor catástrofe naval de la historia de Inglaterra que trata el ataque a Lisboa.
A maior catástrofe naval britânica foi o resultado do cerco de Cartagena das Indias.
Dificilmente a operação contra a Corunha e Lisboa a poderia suplantar.
Mais ainda, porque como sabemos, em 1589, grande parte dos navios que participaram no ataque eram mercantes.
Muitos desses navios, perante o fracasso, voltaram para casa (e não necessariamente para Inglaterra, pois não pertenciam à frota real).
Mas porque os navios não voltaram para o porto de Plymouth, não é legítimo concluir que foram afundados.


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Debo decir que los hombres que zarparon de Plymouth eran 27.667 en 180 barcos. Una flota más grande que la “Invencible”

Seria importante realçar que «Mais Grande» quer dizer maior em número de navios, mas será assim em termos de poder militar ?
Era «mais grande» por ser mais numerosa, mas de quantos canhões seria uma bordada de toda a frota inglesa ?
A «felicíssima armada» era constituida por um numero relativamente pequeno de galeões de guerra, especialmente os galeões da Coroa de Portugal, alguns dos galeões mais pesados da coroa de Castela e pelas quatro grandes Galeaças do Reino de Napoles. A armada britânica não tinha nada disso.
Logo, não me parece correto afirmar que a contra-armada era mais poderosa que a Felicissima armada. Era mais numerosa, mas isso não valida a utilização da expressão maior, porque maior numa formação militar implica maior poder militar. Poder que a armada inglesa realmente não tinha.

Citar
Las fuerzas portuguesas se apostaron en el frente marítimo, flanco débil de Lisboa, pues ahí ya no existía la cerca fernandina.

Aqui eu não entendi muito bem. A entrada em Lisboa era protegida pelos fortes da zona estreita, entre os quais o de Almada e a torre de Belem.
Já em 1580, mesmo controlando a margem sul, as forças dos Habsburgo tinham desembarcado em Cascais, porque era suicidio entrar na zona estreita de Lisboa sem tomar a Torre de Belém.

A muralha fernandina, de facto defendeu a cidade contra vários cercos castelhanos, com a muralha a cidade podia ficar cercada também por mar.
Por causa disso as defesas de Lisboa passaram a contar com vários fortes na zona estreita, o mais icónico de todos é desde 1514 a torre de Belém.
Seria suicídio entrar na barra de Lisboa e atacar a cidade. Por isso não sei se entendi muito bem o que a cerca fernandina na frente marítima teria a ver com isto.
A não ser que se esteja a referir a forças de patrulha ou de prevenção, para a possibilidade de algum golpe-de-mão.
Mas 5.000 homens para precaver um golpe de mão ... ?

Citar
El ejército luso luchó del lado de Felipe, hijo legítimo de Isabel de Portugal y nieto de Don Manuel. Su primo, el Prior de Crato, firmó unas clausulas con Isabel según las cuales le permitía al ejército invasor doce días de saco en Lisboa, convertía a Portugal en un estado vasallo de Inglaterra, obligado a mantener a su costa guarnición inglesa en todos los castillos portugueses y a pagar un tributo anual de 300.000 ducados

Bom, o exército português, as forças comandadas ou que obedeciam ao Duque de Bragança...
Relativamente ao exército espanhol:
Quantos eram os castelhanos?
Quantos eram aragoneses ?
Quantos eram alemães ?
Quantos eram italianos ?

Relativamente ao estado-vassalo da Inglaterra, uma das razões que permite entender o fato de os portugueses pouco terem feito para apoiar D.Antonio, explica-se quando sabemos que Portugal já era um estado vassalo da coroa dos Habsburgos. Deixar de ser vassalo de um, para passar a ser vassalo do outro, não trazia aos portugueses nenhuma vantagem.
E isso explica o resultado da campanha.

A manutenção de uma guarnição tinha custos e ao contrário da estrutura burocrática dos reinos Habsburgos, especialmente da coroa castelhana, que tinha uma grande capacidade para cobrar impostos, os ingleses não a tinham. Por isso, a defesa da cidade tinha que ser paga pela própria cidade.
Nisso os ingleses sempre foram muito pragmáticos.

Portanto temos como conclusão:

Os portugueses não se mexeram e não apoiaram nenhum dos lados.
Entre a bota do castelhano e a bota do inglês, ficaram-se como estavam.
Quem fez alguma coisa, foi quem tinha mais a perder, ou seja, D.Teodósio, Duque de Bragança.
É o Duque que junta tropas e se as junta, por alguma razão o faz (e ainda mais quando o faz duas vezes).
A contra-armada, ainda que menos poderosa, com parte dos homens doentes e sem canhões, consegue algo que a felicíssima nunca conseguiu:
Desembarcou duas vezes.


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La victoria hispano-portuguesa en Lisboa cerró los imperios ibéricos a las ansías de expansión anglo-holandesas. Fue beneficiosa para todos nosotros y nos permitió consolidar la presencia de la cultura ibérica en América.
Este é provavelmente o maior erro de todos, mas advém - eventualmente - de uma menor intensidade de investigação na questão do império do Oriente.

A questão é que é completamente FALSO que os ingleses e os holandeses tenham sido impedidos de se expandir.
Eles não se expandiram para os territórios diretamente na posse da coroa castelhana, porque acharam que mais facilmente atrairiam a atenção e a ira do rei em Madrid.

Quem pagou por tudo foram os portugueses. Foi sobre as possessões portuguesas em África e na India, que se abateram ingleses e holandeses, irritados, atiçados pela questão portuguesa.
Portugal pagou o mais alto, o mais caro o mais terrível dos preços !

A aristocracia, nobreza e a burguesia castelhanas - dentro da Coroa dos Habsburgos - mantiveram as suas possessões.
Já Portugal, perdeu praticamente tudo.
Tanto durante o periodo da União Dinástica, como depois, quando teve que dar o resto, para conseguir o apoio que desperdiçou em 1588.

Pagámos MUITO MUITO MAIS que as libras que os ingleses pediam em 1588 com a expedição do Prior do Crato.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: Luis G. Santos em Dezembro 13, 2011, 02:17:03 am
La contestación, por extenso, y rigurosamente documental, a las preguntas formuladas, se haya en el libro mencionado Contra Armada. La mayor catástrofe naval de la historia de Inglaterra. Entraría de buena gana en un cotejo documental con documentos ingleses, portugueses o españoles. Por ejemplo: sabemos con precisión la composición de las fuerzas españolas, y la actuación de cada compañía. No hubo durante esa primavera compañías extranjeras. Sabemos la tipología de los barcos ingleses, más que mercantes, los barcos eran piratas o corsarios, eran fundamentalmente los mismos que habían defendido Inglaterra el año anterior. Conocemos el número de barcos y hombres que se perdieron, y que la catástrofe de 1589 supera a la 1741 en número de bajas y barcos perdidos. También aportamos los informes que explican el hecho de que las torres defensivas del estrecho no hubieran tenido tiempo para dañar una flota de 180 barcos con corriente y viento a favor (se pensó en cerrar la barra desde la torre de Belén a Caparica con una cadena de troncos enlazados). Sabiendo esto, fue cuidadosamente diseñada la disposición defensiva en el perimetro lisboeta, sabemos donde estaba cada cañón y cada compañía protegiendo el débil frente marítimo... Conocemos las fuerzas que aporta, ya al final, Teodosio II, el Duque de Braganza con su llegada, y que no debemos confundirlas con el grueso de las fuerzas portuguesas, que ya estaban en Lisboa. Reconstruimos cada una de las batallas... etc.  También conocemos las razones por las que este episodio sea fundamentalmente desconocido... Nuestras razones se basan en documentos. Sólo puedo contestar otras razones que se basen en documentos. El libro pone a disposición del público interesado un enorme cuerpo de documentos inéditos que nos permite acercarnos como nunca se ha hecho hasta ahora a lo ocurrido en Lisboa en 1589. Son documentos que nadie ha leído en los últimos 422 años. Esa es su intención. Para que cada cual tenga la mayor información y juzgue con más conocimiento una parte muy importante de la historia de Portugal, de España, y de Iberoamérica.
En lo que se refiere a la defensa del Imperio, y especialmente la de Brasil ante la tentativa holandesa durante el primer tercio del XVII, resulta crucial para la presencia ibérica en el mundo. La unión ibérica hizo la fuerza en aquella época. A título personal, estoy seguro que puede volver a hacerla, pues los pueblos ibéricos están tan próximos como los idiomas que nos unen.
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: iorik em Março 23, 2019, 07:57:11 pm
Estimado João Pedro Vaz. Não obstante os 9 anos de atraso, cumpre-me desde já agradecer o interessantíssimo texto que aqui generosamente partilhou e também felicita-lo pelo brilhante trabalho de investigação sobre o assunto. Não é de facto a minha época, mas vim aqui parar por causa duma investigação sobre o ataque à Terceira (não este do Blake que não se concretizou), mas o posterior de Robert Devereux, 2º conde de Essex, em 1597. Estive a ver um relato desse ataque e saque às diversas ilhas, por uma fonte inglesa, e que não é de todo coincidente com outras fontes, que negam por exemplo, que o mesmo tenha conseguido desembarcar na Terceira. Se entretanto me puder indicar alguma fonte credível sobre o assunto (de época ou actual), agradecia-lhe. Não obstante, reitero os meus agradecimentos pelo prazer da leitura do artigo (assim como as longas e demoradas respostas ao arrazoado provocatório :-D ) Melhores cumprimentos. NS
Título: Re: A "Vinda dos Ingleses" a Portugal em 1589
Enviado por: iorik em Março 23, 2019, 09:42:29 pm
Estimado Luis Santos.
Veré si puedo encontrar su libro que me parece muy interesante.
Me gustaría hacerle la siguiente cuestión, a ver si usted puede contestarme. Muchos relatos de la fracasada Contra-armada mencionan que Drake ha renunciado a aquel que fue otro de sus principales objetivos: las Azores- y que pronto regresaría a Inglaterra. Todavía, según otras fuentes, fue a las Azores en 1589, y que habrían sido "los cañones del fuerte de San Sebastián, en Angra, bajo el gobierno de Juan de Horbina" que impidió que el pirata inglés Francis Drake de asaltar Angra. ¿Tiene alguna información sobre esto? ¿Cuáles fueron las fuerzas implicadas, de ambos partes, terrestres y navales? Muchas gracias.
Saludos. Ns