Se se quer retirar às Forças Armadas qualquer capacidade militar minimamente credível, transformando-as não sei bem em quê, talvez numa espécie de "GNR de 2.ª categoria"...então se calhar o melhor é acabar com essa "GNR de 2.ª categoria"...mas isso é se calhar o objectivo final de muita gente.
O "leigo" olha para qualquer aquisição das Forças Armadas como se fosse uma "excentricidade" dos Generais/Almirantes de querer ombrear com os EUA, o Reino Unido, a Alemanha ou a França, mas a verdade é que quando comparando com as Forças Armadas de países europeus com dimensão demográfica e/ou económica semelhante a Portugal...não existe qualquer "excentricidade"...sendo a "desvantagem" em termos de quantidade e qualidade dos equipamentos muito grande para Portugal...mesmo com algumas das aquisições mais recentes!
Já agora também posso perguntar porque é que o governo "ofereceu" um museu ao Berardo, enquanto a esmagadora maioria dos jovens não completa o 9.º ano de escolariedade...
Caro PereiraMarques,
Permita-me uma brincadeira. Quero acreditar que a diferença entre o exército e uma GNR ultrapassa a questão do equipamento e armamento, ainda para mais entre o mesmo e uma GNR de 2ª categoria... :evil:[/quote]
Boa tarde,
Antes de mais solicitar a vossa compreensão por não ser sequer um conhecedor da área da defesa, quer no plano técnico quer nas realidades nacionais, meramente alguém que toma gosto em ouvir e aprender com quem percebe mais dos vários assuntos e que tenta formular opiniões o mais informadas possíveis.
Tenho acompanhado diversos "temas" que têm discutido e há uma questão que ainda não senti verdadeiramente explorada e debatida. Espero não ser completamente mal interpretado pois naturalmente penso que é uma questão que vai incorrer na discórdia da maioria dos participantes no fórum.
Qual a real vantagem dos avultados investimentos que têm sido feitos na defesa nacional (enquanto força militar convencional) e refiro-me à compra de submarinos, dos leopard, dos pandur, etc., quando não existe um real investimento em meios, coordenação e formação de outros vectores igualmente importantes à comunidade. Naturalmente e neste tópico refiro-me aos meios de combate a incêndios.
Por outras palavras, não seria mais vantajoso dotar Portugal de uma conjunto de meios aéreos de combate a incêndios que estar a pensar em investir nos helicópteros para o exército?
Não era mais adequado ter um bom conjunto de equipamentos ligeiros e pesados de combate aos incêndios (penso em carros, auto-tanques e outros equipamentos que desconheço) com boa manutenção que os submarinos?
Não sou tão tapado que ignore as ambições geo-políticas na compra de, por exemplo, os submarinos ou os leopard, mas parece-me que as coisas não são realmente planeadas mas adquiridas por pressões de pessoas ou grupo (bem intencionados decerto e sem pôr em causa o patriotismo e dedicação delas) mas sem uma visão de conjunto. Claro que ter CCs modernos e bons são motivo de orgulho, pelas capacidades de actuação que trazem ao nosso exército... Mas sem um conjunto de outros equipamentos e envolventes que lhe permitam trazer para o campo de batalha o seu real potencial, parece-me a mim, um desentendido da matéria, um valente desperdício de recursos... (se era essa a direcção que se pretendia teria de se sacrificar outros aspectos e tomar essa opção investindo a sério nela.)
Quando falo destes exemplos poderia dar muitos outros, apenas serão estes os mais "mediáticos". Dou apenas mais um exemplo que me estou a alongar, porquê 3 hospitais "principais" das forças armadas com duplicação de recursos e pessoal (e as despesas operacionais fixas de qualquer hospital são muito elevadas) quando o nosso INEM nem tem uma capacidade de resposta real fora das grandes áreas urbanas? Alguém sabe qual é a média de tempo de transporte de um doente com um Síndrome Coronário ou um AVC que tenha o infortúnio de viver fora de uma área urbana no litoral? Pode-se sem rodeios dizer que a golden hour não se aplica a esse jovem ou idoso... (e com isso para além dos custos pessoais para o doente tem custos para o estado que em vez de um tratamento agudo passará a ter encargos com doentes crónicos...)
Para quem considera esta situação um mero um efeito colateral da desertificação e que os meios locais devem corresponder à densidade populacional recordo que se considera que o maior incremento do PIB dos países ocidentais parte da industrialização, ganhos em educação e em saúde... Aliás, há quem defenda que os ganhos em saúde pública são os que permitiram catapultar a nossa "civilização" para a era de prosperidade (embora hoje não nos pareça muito prospera) que conhecemos...
Depois desta longa divagação, retomo o ponto inicial tornando-o redutor para ser mais simples de abordar. Porque comprámos nós os leopard e não meios aéreos de combate a incêndios? Porque gastámos nós dinheiro em submarinos e não limpámos e preparámos devidamente a floresta estatal (já nem falo de apoio a privados apenas que se dê o exemplo), que a todos pertence, para a época do ano em que nos encontramos? Decerto que não apanhou ninguém de surpresa a chegada do Verão (mesmo nos gabinetes lisboetas pulverizados de ar condicionado)?
Com os meus melhores cumprimentos[/quote]
Estimado The_Rebel:
A sua questão é muitas vezes colocada por inúmeras pessoas essencialmente por duas razões:
-Má fé.
-
Ignorância em relação aos valores das aquisições militares/de outros valores macroeconómicos/realidade da nossa economia/mau funcionamento do Estado.
A primeira, a má fé, é a preferida de partidos da esquerda e outros grupos que, aproveitando-se da ignorância (o tal segunda razão) da maior parte da sociedade, tentam passar a ideia (mais que errada) que andamos a gastar muito dinheiro com a Defesa, com vista a atingir os seus fins políticos, muitos dos quais são autênticos atentados à soberania e independência do país.
A segunda razão é a mais comum e tem a ver com o facto da maior parte das pessoas desconhecerem totalmente valores macroeconómicos que constituem o dia-a-dia do nosso país e dos valores das aquisições militares.
Vamos ver alguns exemplos:
Orçamento anual do Ministério da Defesa: 2500 milhões de euros (cito de memória).
Orçamento anual do Ministério da Saúde: 8700 milhões de euros (cito de memória).
Orçamento anual do Ministério da Educação: 7300 milhões de euros (cito de memória).
Daquilo que conheço bem, no Ministério da Saúde há
um DESPERDÍCIO anual que facilmente deve rondar os 1200 milhões de euros. Isto é, dinheiro completamente perdido e esbanjado (claro que há sempre alguém que lucra com isto).
As famosas SCUT’s custam por ano
700 milhões de euros.
A RTP, por incrível que pareça, custa-nos aproximadamente
1 MILHÃO de euros POR DIA!
Passivo da REFER 1925 milhões de euros.
A casa da música custou 120 milhões de euros.
O famoso e inútil TGV poderá custar, sem desvios,
7000 milhões de euros. Há quem fale em 12000!
O passivo da Carris disparou para 902,9 milhões de euros em 2009, mais 109,7 milhões do que em 2008.
Agora veja estes números de alguns programas da área da Defesa:
Programa das Pandur: 364 milhões de euros.
Programa dos Submarinos: 900 milhões de euros.
Programa dos Leopard: 77 milhões de euros.
Programa para substituir a G-3: 75 milhões de euros.
Agora, analise todos esses valores e diga-me se de facto acha que todas as carências da nossa sociedade são por causa do dinheiro gasto na Defesa.[/quote]
Caro Jorge Pereira,
Antes demais garanto-lhe que não entro nesta "discussão" de má fé. Ignorância sem dúvida.
Relativamente ao seu argumento que existe dinheiro muito mal gasto em Portugal e não é com a Defesa concordo (quase totalmente). Concordo que fica muitíssimo mais caro não ter umas forças armadas à altura das nossas ambições geopolíticas (e capazes de garantir a nossa segurança) que as não ter. Resta saber exactamente quais são? (Tirando o "nosso" projecto colonial/ultramarino que perdurou por séculos a maioria das nossas ambições e apostas não transcende a geração que as faz... Mas isto é outro assunto, penso eu... Ou então é efectivamente o assunto que depois dirá onde deverão ser os investimentos e o que se deverá "sacrificar"... )
Dito isto, dou-lhe inteira razão no que diz. Fui demasiado redutor na questão que levantei, procurei perceber a lógica de um investimento em CCs de última geração, que me parece que o nosso exército não está em condições de enquadrar devidamente no seu sistema de forças nem estará planeado que o esteja, com o desgoverno que se assiste todos os anos pela incapacidade de meios de combate a incêndios. (Se quer que lhe diga, nem nunca entendi o quanto de área ardida anualmente em Portugal é aceitável, gosto de pensar que os meios são considerados depois de avaliar os objectivos.)
Retomo e retiro a minha questão inicial, as premissas efectivamente não eram as correctas.
Aproveito e comento um pouco os dados que apresentou. Começo por dizer que me parece que os cortes na Defesa serão sempre, e sem demagogias da minha parte, socialmente melhor aceites que qualquer outro corte no Orçamento de Estado (que se o de nossa casa assim fosse gerido já não tinhamos tecto sobre a cabeça).
Mais uma vez por ignorância não posso mesmo comentar a maioria dos seus argumentos, o que sei deles é somente o que se lê na comunicação social, o que é manifestamente pouco e ferido de parcialidade (desculpe a pouca estima que tenho pelos meios de comunicação social), no entanto, creio conseguir comentar um deles.
Afirmou que "Daquilo que conheço bem, no Ministério da Saúde há
um DESPERDÍCIO anual que facilmente deve rondar os 1200 milhões de euros. Isto é, dinheiro completamente perdido e esbanjado (claro que há sempre alguém que lucra com isto)."
Sou-lhe sincero, tenho passado bastante tempo em hospitais e nunca me dei conta de um tamanho desperdício. Situações pouco transparentes, isso sem dúvida, mas isso é caso para as autoridades competentes, desperdício puro, não vi. Pelo contrário, acredito que o SNS está em rotura pela forma como está dimensionado e pela sua "missão" não pelos seus desperdícios, sendo que as soluções que lhes apresentam passam por cortes um pouco desconectados da realidade.
Passo a exemplificar, a mais recente decisão de um hospital distrital (não sei se identificá-lo será correcto da minha parte) que me parece tirada de um universo paralelo, desde a semana passada um doente só pode receber tratamento farmacológico para a patologia pela qual deu entrada no estabelecimento (ou sua eventual complicação). Ou seja e trocando por miúdos, a Sra. Dona Maria entra no hospital com uma Pneumonia e como já não é jovem tem um quadro florido de antecedentes pessoais, vamos pensar numa arritmia de estimação (associada a uma Insuficiência Cardíaca) e uma Diabetes Mellitus não insulino-dependente; a única terapêutica que ela pode receber serão os antibióticos e a hidratação que decerto necessitará, o resto terá de recorrer à família da doente (terá de estar atento para os emboscar na hora da visita da doente e esperar que a venham visitar...) para acudir, isto é, será a família da doente a ter de providenciar o anti-arrítmico (que terá de ser ajustado ou alterado pela patologia aguda e trazer igualmente insulina pois da Diabetes também decerto descompensou... Resumindo não me parece que seja com estas medidas que se consiga efectivamente reduzir os gastos na saúde sendo que só vejo os "desperdícios" de que fala em "jogadas" pouco transparentes...
Tocando um pouco na área militar, e que desde já acrescento que sempre me parece que se faz milagres com os meios que se tem, sendo que muitas vezes os objectivos parecem um pouco irrealistas para quem recebe as missões mas com muito suor e dedicação (e quantas vezes um pouco de sorte) cumprem-se, temos também um enorme desperdício de recursos. Acredito que em Portugal o sistema de saúde com melhores recursos é o das forças armadas, sem dúvida!! (embora nem sempre ou quase nunca tenham os recursos humanos em quantidade suficiente para potenciar os mesmos) Mais algum hospital do país (que não o HMP) se pode dar ao luxo de pedir uma TAC de um dia para o outro por qualquer motivo e que ela seja efectivamente efectuada? Nos outros hospitais só em casos urgentes de resto existem listas de espera significativas. Felizmente para os militares existem recursos abundantes (nomeadamente nos meios complementares de diagnóstico) mas agora vamos ao que eu chamo de desperdício, convido alguém a ir a uma enfermaria de medicina interna contar o número de doentes internados (mais uma vez fazem-se internamentos por todos os motivos porque felizmente existem recursos!! E eles devem existir até por "reserva estratégica" mas isto é outro assunto) que têm um TAC de corpo inteiro independentemente do motivo de internamento. Provavelmente todos e eu pergunto porquê? (deixo no ar a questão...) E não me refiro a casos de "polícia" que evidentemente também os há como no meio civil. (embora me choquem muito mais no meio militar mas isso é só a mim visto grande parte deles serem feitos em plena luz do dia, enquanto no civil vão-se adivinhando mas não são às claras...)
Já divaguei bastante, deve ser do avançado da hora, resumo dizendo que efectivamente não encontro no SNS assim tantos desperdícios (de certeza que o há...) e que me parece que as soluções de contenção orçamental que têm vindo a ser implementadas a montante normalmente só originam mais gastos (ora pensemos só que aquela velhinha vai descompensar e ter um síndrome coronário e terá de passar umas noites numa unidade de cuidados intensivos, cujo custo da cama é exponencial em relação à de uma cama num serviço de medicina)... Existe é um problema de adequação dos recursos que a sociedade quer gastar com a saúde para a saúde que a sociedade quer ter... Lembremos-nos que a nossa esperança de vida e idade média da população estão a aumentar, e com isso o número de patologias crónicas em cada doente (para além do custo financeiro adjacente aos avanços tecnológicos da medicina... Mas também isto é outra temática...)
Não se fique com a sensação que tenho má impressão da competência dos serviços de saúde militar, pelo oposto, apenas se regem por regras bastantes diferentes e que por comparação com o mundo civil encontram-se situações indescritíveis...
Sobre a minha questão inicial, continuo a não perceber a preferência pelo investimento em certos equipamentos militares (em especial quando nem me parecem os mais adequados) quando existe uma lacuna evidente numa área fundamental para a nossa economia e, em especial, para os nossos compatriotas que não habitam numa cidade no meio do cimento (e refiro-me agora aos incêndios florestais). Mas sem dúvida, há muito dinheiro muito mal gasto e concordo que investir nas forças armadas não é mau investimento (parece-me é que poderia ser estruturado e não feito de acordo com decisões pontuais porque assim não é um verdadeiro investimento - saltando para uma metáfora, que me serve ter uma sala toda preparada para doentes poli-traumatizados se não tenho um sistema pré-hospitalar que mos traga a tempo dos locais dos "acidentes"?).
Peço desculpa por esta "discussão" que efectivamente foi alicerçada numa pergunta "disparatada" e agradeço a paciência da resposta. Honestamente e como desabafo dói-me ver para onde o nosso país caminha e o que arde é apenas o que se vê...
Os meus melhores cumprimentos,