Sérvia: Belgardo ameaça retaliação contra Ocidente caso Kosovo se torne independente
25 de Dezembro de 2007, 16:27
Belgrado, 25 Dez (Lusa) - A Sérvia planeia adoptar uma série de medidas de retaliação contra o Ocidente se for reconhecida a independência do Kosovo e admite o corte de relações diplomáticas com os Estados Unidos e países da UE, anunciaram hoje as autoridades de Belgrado.
As autoridades sérvias também rejeitam a ideia de uma missão da União Europeia (UE) no Kosovo até que se resolva o impasse sobre o futuro daquela região.
Na quarta-feira, o parlamento sérvio vai debater uma resolução proposta pelo governo que força as autoridades sérvias a nunca aceitarem a independência do Kosovo.
Os albaneses do Kosovo ameaçam proclamar a independência no próximo ano, e os Estados Unidos e vários países europeus indicaram que poderiam reconhecer o novo Estado. A Sérvia, apoiada pela Rússia, insiste que o Kosovo, uma província de dois milhões de habitantes, com 90 por cento de albaneses, deve continuar no seu território.
A UE concordou em enviar uma missão com 1.800 membros para o Kosovo para substituir o actual sistema na província, que está sob administração das Nações Unidas e da NATO desde que começou o conflito em 1999 entre sérvios e separatistas albaneses.
A resolução do governo sérvio, que deverá será aprovada pelos nacionalistas que dominam o parlamento, afirma que a missão da UE não é bem vinda antes de o Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde a Rússia tem poder de veto, determinar o futuro estatuto do território.
"O envio de uma missão da UE seria vista como um acto que despreza a soberania territorial e a constituição da República Sérvia", segundo uma cópia do documento divulgada pela Associated Press. A Rússia também se opõe ao envio da missão europeia sem o consentimento de Belgrado.
O documento afirma que a Sérvia deve "reconsiderar" as suas relações diplomáticas com países ocidentais que reconheçam a independência do Kosovo. Acrescenta que dado o apoio da NATO à independência do Kosovo, Belgrado permanecerá fora desta aliança militar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Vuk Jeremic, afirmou que a resolução "representa a continuação das políticas do governo para com o Kosovo".
Mas o líder do Partido Liberal, Cedomir Jovanovic - um dos poucos políticos sérvios que não se opõe à independência do Kosovo - considera que a resolução proposta "representa o fim da Sérvia e o fim das suas políticas pró-europeias".
"Não apoiaremos a resolução porque significa o regresso ao isolacionismo anti-ocidental do antigo líder sérvio Slobodan Milosevic," disse Jovanovic, acrescentando que uma resolução semelhante foi adoptada pela assembleia, em 1999, na véspera dos bombardeamentos da NATO contra a Sérvia para que esta terminasse as suas acções militares contra os separatistas albaneses do Kosovo.
O projecto de resolução também afirma que a Sérvia deve "agir eficientemente para proteger as vidas e propriedade" dos não albaneses do Kosovo no caso de ser proclamada a independência, mas não especifica se isto inclui uma intervenção armada advogada pelos ultranacionalistas sérvios.
O texto da resolução, que se presume ter sido redigida pelo primeiro-ministro conservador, Vojislav Kostunica, também afirmava que a planeada assinatura de um acordo de pre-adesão com a União europeia "devia estar em conformidade com a preservação da integridade territorial e soberania do país".
O partido no poder, de Kostunica, exigiu anteriormente que a assinatura do chamado acordo de estabilização e associação com a UE fosse condicionado pela aceitação pelo bloco europeu de que o Kosovo faz parte integrante da Sérvia.
Mas o Presidente pro-ocidental Boris Tadic conseguiu remover essa parte da resolução, afirmando que a Sérvia deve continuar empenhada na futura adesão à UE seja qual for o futuro estatuto do Kosovo no futuro.
SRS.
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