UM NOVO DESÍGNIO TECNOLÓGICO FRAGATAS CLASSE VASCO DA GAMA As fragatas da classe Vasco da Gama (FFGH VGAM) foram aumentados ao efetivo em 1991, o que significa que já possuem 30 anos de idade, podendo a sua vida útil ser ainda estendida até 2035. A necessidade de assegurar a sustentação destes meios, durante o período remanescente do seu ciclo de vida, compele à minimização da sua obsolescência logística, técnica e operacional pela via da sua modernização.
COMUNALIDADE Este MLU prevê compreender uma arquitetura de sistemas SEWACO que garanta a maximização da comunalidade entre as diferentes classes de navios, designadamente a futura 3.ª série dos Navios de Patrulha Oceânicos (NPO3S), incluindo ainda outros programas de reequipamento da MP, constituindo-se como um instrumento para assegurar o adequado desempenho operacional, nomeadamente na manutenção e flexibilização da operação, formação e treino, e sustentação logística ao longo do respetivo ciclo de vida, ancorada em sistemas com elevado índice tecnológico. Por outro lado, importa reforçar que o desenvolvimento de todo o processo beneficiará do conhecimento, experiência e demais aspetos que são detidos pela equipa da MP que lidera a gestão do programa das fragatas que, fazendo uso de lições aprendidas e uma forte capacidade de gestão, contribuirá para potenciar a redução de custos de aquisição e assegurar a respetiva implementação da capacidade Apoio Logístico Integrado (ALI) transversal aos vários sistemas.
CONCEITO TECNOLÓGICO Para preparar o reajustamento do Conceito Tecnológico5 , foi desenvolvida uma Avaliação de Mercado em 2022 (designada por Market Research Assessment) que, tendo como base os documentos estruturantes genéticos do programa e o Conceito Tecnológico ainda vigente, lançou o seguinte repto, de forma aberta e transversal, à industria de defesa no mercado internacional:
– Apresentação de Conceitos de Modernização, nas vertentes Técnica e Comercial, por forma a permitir obter soluções integradas que maximizassem a satisfação do Conceito Operacional vigente. Como resultado desta iniciativa, o programa contempla a modernização de uma grande parte dos principais sistemas das fragatas da classe Vasco da Gama, dos quais se destacam os:
– Sistema de gestão de combate;
– Sistema de gestão da plataforma;
- Sistema integrado de comunicações;
– Sistema eletro-ótico de vigilância. A Modernização do SEWACO será o elemento principal de capacitação dos navios e incluirá:
– O fornecimento dos sistemas;
– A sua instalação e integração; – A documentação, a formação e treino;
– Demais aspetos do ALI;
– O estabelecimento de condições de sustentação dos sistemas.
MODELO DE GESTÃO INOVADOR O grau de complexidade, o nível de recursos financeiros envolvidos, a sua importância para a Marinha e para o País enquanto programa de capacitação dos meios navais nacionais, e a necessidade de assegurar uma gestão eficiente e eficaz que permita assegurar a sua prossecução e conclusão num nível de risco global aceitável, materializando o programa em tempo, conforme especificado e previsto, dentro do orçamento definido, e que permita entregar valor à MP, recomendaram a adoção de um modelo inovador para a gestão do programa de modernização das FFGH VGAM. Este modelo, designado por Turnkey (“solução chave na mão”), é liderado pela MP e gerido de forma integrada por um Prime Contractor. O modelo Turnkey apresenta como vantagens uma transferência substancial do risco para o Prime Contractor, permitindo que este encontre as melhores soluções de integração técnica e funcional, contribuindo, assim, para uma potencial redução de custos associados ao risco interno de integração e compatibilização de sistemas e equipamentos. No modelo Turnkey, acometerá ao Prime Contractor a responsabilidade sobre o fornecimento e satisfação da maioria das componentes dos sistemas SEWACO, incluindo Modificações, Engenharia, Sobressalentes, ALI e, ainda, a integração nos sistemas SEWACO do Material de Fornecimento do Estado (MFE). Para se atingir este objetivo, vai ser criada uma equipa de gestão multidisciplinar, designada por Integrated Project Team (IPT), composta por elementos da MP, da AASA, da NATO Support and Procurement Agency (NSPA) e do Prime Contractor.
Esta equipa deverá assegurar uma gestão integrada do programa, designadamente nas vertentes técnica, financeira, logística, temporal, contratual e de risco. Releva-se que não é possível edificar, estruturar e executar o programa sem esta equipa, nem esta é passível de ser externalizada, face à especificidade do conhecimento necessário. A componente nacional desta IPT está integrada no Grupo de Projeto Mid Life Upgrade FFGH da Marinha Portuguesa (designado GP-MLU), o qual executou o programa da MLU das fragatas da classe Bartolomeu Dias, que terminou em setembro de 2022. A NSPA será responsável pelo desenvolvimento dos processos de aquisição e de gestão contratual do programa, através da celebração de instrumento contratual próprio com a MP. Considerando a estratégia de gestão integrada de aquisições para os vários projetos no âmbito dos novos meios, e de forma a contribuir para a comunalidade de soluções técnicas para os vários equipamentos, esta equipa deverá igualmente colaborar com os restantes programas6 , designadamente nas especificações técnicas e nos testes de receção dos sistemas e equipamentos na área do SEWACO.
CALENDARIZAÇÃO E PLANO FINANCEIRO Neste contexto, no âmbito do MLU das FFGH VGAM serão modernizados de forma abrangente (upgrade) dois navios, e será atualizado (update) o terceiro navio da classe. A modernizaçãodas duas fragatas contempla um financiamento global de 120 milhões de euros. No que refere à variável temporal, os intervalos para execução (de produção) da modernização dos navios são os seguintes:
– Navio #1, julho de 2026;
– Navio #2, julho de 2027. NOVA
GERAÇÃO DE FRAGATAS Embora o MLU das FFGH VGAM venha suprir as necessidades imediatas da MP, mantem-se a necessidade de se edificar a regeneração da Capacidade Oceânica de Superfície, através de uma Nova Geração de Fragatas, procurando que este investimento seja assimilado pela sociedade portuguesa num quadro de grandes constrangimentos financeiros. Este desafio torna-se, ainda, mais relevante, porquanto as soluções tecnológicas de baixo custo poderem vir a desvirtuar a autonomia estratégica para a qual contribuem meios como as fragatas, submarinos e navios-reabastecedores que constituem a base operacional da esquadra de qualquer nação marítima e o meio fundamental para assegurar o controlo do mar. A perspetiva de que o atual modelo oceânico e de superfície possa vir a ser desvalorizado causará danos irreparáveis numa estrutura de conhecimento e valor agregado que foi sendo consolidada ao longo das últimas décadas e que dificilmente seria recuperada, caso não viesse a ser devidamente considerada. Tal como no passado, planear uma Marinha é um desafio de longo prazo e o investimento em meios navais, ainda que de elevado custo e de grande complexidade, deverá ser ponderado em função do ambiente estratégico dominado pela incerteza do presente e pela imprevisibilidade do futuro que se avizinha.
CONCLUSÃO Considerando que o MLU das fragatas da classe Vasco da Gama é uma prioridade para o interesse nacional, assim afirmada em sede do processo legislativo de aprovação da Lei Orgânica n.º 2/2019, de 17 de junho, que procedeu à revisão da LPM, importa garantir a modernização destes meios, assegurando a sua capacitação para missões previstas no seu Conceito de Emprego para os cenários operacionais atuais, erradicando a obsolescência dos mesmos de modo a garantir uma extensão de vida útil até, pelo menos, 2035.
Fonte -
https://www.marinha.pt/conteudos_externos/Revista_Armada/PDF/2023/RA_584.pdf