Viajante,
Eu nao tenho qualquer duvida de que a investigaçao academica que se faz em Portugal está ao mesmo nível do que se faz nos países mais desenvolvidos. No entanto falta o elo de ligaçao entre o trabalho desenvolvido e a criaçao de um negócio, o chamado spin off. É aqui que de facto a nossa industria se pode desenvolver, pois o nosso sistema de ensino (por muito que alguns desdenhem) está ao nível de qualquer país desenvolvido, o problema é depois a mentalidade. O portugueses vao para a faculdade para terem bons empregos, os americanos vao para a faculdade para criarem a sua própria empresa e consequente o seu imperio.
E mais, a investigaçao nao deve ser compartimentada e apenas financiada pelo estado. Deveria have uma taxa simbolica para as empresas (tipo €1 por cada €100k do lucro liquido) de maneira a aumentar o orçamento do estado alocado á investigaçao. Nao só aumentava como motivaria as empresas a aproximarem-se dos investigadores e a procurar novas áreas de negócio. Eu vejo com muito agrado as parcerias que certas empresas privadas fazem com as academias da nossas forças armadas, mas no geral esta articulaçao ainda é muito pouca. Um exemplo interessante, no ano passado, tive de ir a Israel visitar um cliente, depois da reuniao, fomos almoçar e durante o almoço perguntei-lhe como é que Israel com os problemas que tem acaba por ser um mini Silicon Valley. Resposta: aos 18 anos os melhores alunos do liceu sao recrutados para prosseguirem o estudo nas instituiçoes militares, quando acabam as empresas matam-se umas ás outras para os recrutar
A grande maioria dos nossos politicos sao o principal cancro do país, porque os portugueses sao de facto um povo fantástico ( digo isto estando imigrado há 15 anos) solidario, trabalhador e quando quer é do melhor que há. Os politicos estao mais interessados em assaltar o orçamento de estado. Eu quando os ouço a utilizar a expressao: "empresa portuguesa grande" dá-me vontade de rir. As nossas empresas grandes sao pequenas, a PT, a Galp, o BCP sao minusculos quando comparados com a Telefonica, Deutsch Telecom, Repsol, BP, Santander ou ING. E quando uma empresa tem potencial para crescer é como voce diz tolhem-lhes as pernas, exemplo: " Em Portugal nao temos capacidade para construir navios complexos". Como se fossemos burros e nao conseguissemos aprender.
Bom, sinto que já estou a divagar, mas voltando ao tópico e como isto é um forum de defesa e eu até falei em navios no paragrafo anterior, aqui fica uma ideia para desenvolver a industria de bens intermédios que despoletou esta "discussao". Neste caso a industria metalurgica. Lembro-me do saudoso membro Chaimites dizer, aquando a construçao dos primeiros NPOs, que nem o aço dos navios era portugues. O que pelas minhas contas daria uma comparticipaçao nacional no total de 40/ 45% entre o projecto, mao de obra e alguns serviços/ componentes fornecidos pema EDI. A razao pela qual o aço nao era portugues era porque a nossa industria metalurgica nao conseguia fornecer dentro do prazo o tipo de aço usado na construçao. Assim sendo, devia-se avançar com a construçao de 4 NPOs garantindo a compra do aço a empresas metalurgicas nacionais se estas se modernizassem para garantir os prazos. Nao é preciso subsidios, apenas vontade em fazer as coisas e eventualmente garantir financiamento bancario.
Por aquilo que eu vejo, já evoluímos muito.
Até 1986, viviamos muito fechados, proteccionismo às nossas empresas, falta de inovação, muito na sequência do plano de desenvolvimento que já vinha dos anos 60.
Com a adesão à então CEE, muita coisa mudou no país, nem tudo necessariamente para melhor, mas em termos geral mudamos muito e para melhor. Em tom de referência, lembro-me de usarmos chave para abrir uma lata de conservas!!!!! E já depois de aderirmos à então CEE, lembro-me bem de subscrever certificados de aforro com taxas de juro de 17% ao ano!!!!!!
A UE tem como principal princípio a protecção ao consumidor, quase impedindo as ajudas públicas às empresas, com o princípio correcto de que as empresas já são ajudadas com candidaturas de apoio ao investimento, entre outras, onde aquelas recebem fundos comunitários a fundo perdido de 40 a 60%. E por esse motivo a UE considera e eu acho muito bem, que as empresas já não precisam de mais apoios públicos!
Mesmo no sector metalomecânica, tenho uma ideia totalmente diferente da realidade actual. Eu vivo na "montanha" e no interior, e tenho perto de mim várias empresas metalúrgicas que fazem qualquer coisa à medida, desde estruturas metálicas de estádios, estruturas em ferro para casas, casas modulares pré-fabricadas, escadas, vedações, coberturas. Eu chego a uma dessas empresas, ou com um desenho ou explico a um Engenheiro o que quero e é feito o esboço do que pretendo construir, conforme a espera na linha de montagem, tenho o produto final que quiser. Aqui também existe muita extracção de granito e já aconteceu eu chegar junto de uma empresa de transformação de pedra (principalmente exportadora), com um desenho tosco feito por mim, de uma pedra de soleira a fazer em granito e a empresa entregou-me a pedra como eu queria e com o acabamento que tinha sido decidido! Posso escolher também o tipo de pedra para fazer os muros da casa, pedras de ornamentação, etc.
Em Aveiro por exemplo, você pode encomendar uma máquina/robot à medida! Você só tem de explicar o que a máquina tem de fazer, e passado um tempo tem a máquina que você pediu! Sem saír de Aveiro, você pode fazer azulejos ou mosaicos personalizados para a sua casa!!!! Sem saír do mesmo distrito, você encontra dezenas de fábricas de moldes que fazem o que você quiser à medida!
Agora também é verdade que muitas empresas desapareceram, não conseguiram viver num país que deixou de proteger as suas empresas!
Nesse aspecto temos de ser mais inteligentes e a resposta começa em cada um de nós. Eu quando vou às compras, costumo ver a origem dos produtos e não me importo de pagar um pouco mais por um produto nacional.
O estado, como muito bem falou, se tivesse pessoas com "2 dedos de testa", com visão estratégica para o país, protegia sectores estratégicos, por exemplo ao ser um cliente dessas empresas.
Quanto ao tamanho das empresas, temos ao tamanho do país, mas muitas delas dão cartas lá fora. Mas temos muitas empresas que lutam ombro a ombro contra qualquer empresa estrangeira em sectores como: calçado, téxteis, cerãmica, moldes, cortiça, automóvel, celulose....
Não podemos é ter governos que deixem destruir empresas que já foram players mundiais: PT, Cimpor, CUF, Quimonda (chegou a ser a maior exportadora nacional à frente da Autoeuropa)...... mas também lhe digo que é preferível termos muitas pequenas e médias empresas muito boas, do que 2 ou 3 gigantes. Se falir uma pequena ou média, não provoca muitos estragos, mas se falir por exemplo uma Galp ou Autoeuropa, faz bastante abalo no país!
Também temos uma mentalidade desviante, e que agora até governa o país, de que as empresas terem lucro é pecado!!!!! Assim não vamos lá. Não podemos depender sempre e para tudo do estado protector. Uma empresa pode e deve dar lucro (mesmo as empresas públicas) e se der prejuízo, os sócios devem ponderar se vale a pena salvar ou fechar as portas!!!!! Temos o exemplo que referiu dos ENVC, bastou mudar o dono, que não está preso à inércia do governo e...... parece-me que a West Sea safa-se muito bem, aliás os últimos relatórios de gestão da Martifer referem isso, as jóias da coroa são as construções metálicas e os estaleiros que possui (tem a West Sea e a Navalria em Aveiro).