Fica só aqui o breve testemunho, de alguém que adorava os A-7 e que com 15 anos de idade presenciou a queda de um Corsair a escassos 100 metros da cabeceira da pista principal da B.A.6, no fatídico dia de 29 de Abril de 1992.
O mal afortunado SLUF, vítima de um "bird-strike" após mais um costumeiro treino A-G no CTA, não teve como conseguir alcançar a pista. O seu piloto, um verdadeiro herói, antes de morrer junto com o seu aparelho, ainda se desviou de uma fábrica e de uma escola. As imagens a que assisti ainda hoje me assombram. O seu "asa" esteve durante todo o tempo a seu lado até pouco antes do embate no solo. Passou por mim a uma velocidade elevada fazendo-me pensar no que estaria a sentir naquele momento ao se aperceber que tinha perdido um companheiro!
Sem qualquer vergonha, admito que desatei a chorar desalmadamente enquanto assistia ao esforço inglório tanto dos Puma como dos bombeiros da Base Aérea do Montijo que, para chegarem mais rápido ao local do acidente, não tiveram qualquer problema em derrubar a vedação da mesma mas infelizmente já nada havia a fazer!
Quanto às razões apontadas para a elevada taxa de acidentes do A-7 Corsair II na FAP, penso que não poderemos reduzi-las apenas a uma ou duas. Era um avião reacondicionado (termo elegante para recauchutado), tinha todos os problemas inerentes a isso, um motor antigo e pouco fiável (o PW TF-30 P-408), as falhas humanas (tanto que se pediu um simulador mais cedo devido à complexidade dos sistemas no A-7P), a quebra na cadeia logística, etc, etc! Apesar de ter sido o nosso "widowmaker", para mim o A-7P avião foi o menos culpado de todos. Talvez fosse melhor recuarmos até à polémica decisão do CEMFA de então, General Lemos Ferreira, e analisarmos friamente todos os dados. Como disse um amigo meu há bem pouco tempo, apesar de tudo o A-7 cumpriu, e bem, a missão para que estava vocacionado!
Quanto aos que nele partiram para outro mundo, para outros võos, que descansem para sempre em paz!