A doutrina da USN sempre foi a de eliminar as ameaças o mais longe possível dos navios capitais. Obviamente, numa época em que os mísseis de cruzeiro e hipersónicos têm alcances de, por vezes, milhares de quilómetros, a tarefa revela-se complicada. No entanto, a doutrina mantém-se, com recurso a meios ofensivos e defensivos.
O problema é que este conflito está a demonstrar que os sistemas de defesa de longo alcance não correspondem às especificações. Neste momento não há nenhum desses sistemas (os mais sofisticados) em operações.
Ucrania: Perdeu as duas baterias Patriot e ninguém as substituiu. Uma por Kinzal e a outra por Geran.
Russia: Perdeu as duas baterias de S400 (uma no Donbass e a outra na Crimeia). Uma por Himars e a outra por drones na Crimeia (inclusive um da Tekever).
O efeito no TO foi nulo (face aos custos e as expectativas desse tipo de sistema). Sempre que a Ucrania e a Russia afirmam que abatem tudo e mais alguma coisa é obviamente propaganda.
Os sistemas de curto alcance são os que têm actuado dentro das especificações. Uma surpresa, o Piorum Polaco (até misseis de cruzeiro abateu) e o Pantsir Russo (performance muito superior à que tinha tido na Síria e na Líbia).
É esse o dilema da US Navy (e dos outros ...).
Bem, o efeito nulo não é, senão estaríamos a assistir a uma guerra aérea a grande altitude, mas não é o caso. Até ao momento, continuam a criar uma "no fly zone" na área que é suposto defenderem, impedindo incursões aéreas de aeronaves do adversário.
Quanto às fontes citando o ex-CIA Larry Johnson da entrevista, não quer dizer que o que ele diga seja mentira (não há como confirmar), mas é preciso ter em atenção a orientação política de quem comenta. Não me parece que possua uma opinião imparcial sobre o assunto.
Como ex-CIA, ele melhor que ninguém deveria saber que a última coisa que deve fazer, é facilitar o trabalho aos russos, ao espalhar pelos média a destruição dos ditos sistemas (se fosse verdade). Ambiguidade, nestes casos, é a decisão inteligente, deixando sempre o adversário na dúvida.
Entretanto, estar à espera de notícias sobre os sistemas, não faz sentido. É um sistema raro na Ucrânia, com elevado valor estratégico. Noticiar que "o Patriot destruiu X drones e mísseis de cruzeiro que se dirigiam à cidade Y", era uma burrice tremenda, pois permitia aos russos saber mais ou menos onde estaria localizada a bateria.
Quanto à destruição confirmada de sistemas S-300 e S-400 de ambas as partes, não significa que estejam a falhar naquilo que é suposto fazerem. Parece-me é duas coisas:
-estes sistemas estarem colocados em locais fixos, facilitando muito o trabalho de quem os quer atacar, sendo que idealmente queres ir rodando a sua localização;
-e a dimensão destes sistemas, que os torna extremamente difíceis de esconder, principalmente em campo aberto/planícies, e também fáceis de ver a partir de satélites.*
Os sistemas de curto alcance vão ter sempre mais protagonismo, porque são muito mais numerosos, e chegam até à linha da frente. Mesmo assim vemos que são insuficientes para a grande quantidade de drones em uso no conflito.
De resto, é importante ter sempre em mente, que se deve ter defesa aérea por camadas, e não achar que um único sistema faz tudo. Camadas que idealmente incluem, não só sistemas terrestres, como capacidade de aviso aéreo antecipado e caças. E a mesma lógica de camadas também se aplica a meios navais.
*Uma solução de futuro para isto, poderá passar por incluir em locais de elevada importância estratégica, como bases aéreas, sistemas AA de longo alcance, com os mísseis colocados num VLS "subterrâneo", bem escondido e de localização confidencial. Uma espécie de Mk-41 terrestre. A única coisa exposta desta bateria, seria o ou os radares.