http://www.forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?t=1465&start=60Transferido do tópico acima.
Eu não faço elogios apenas porque acho que o que é português é bom. Sei que produzimos muita porcaria, mas também produzimos coisas capazes. Infelizmente temos mais tendência para falar das coisas más que das boas. É como com o transito. Se houver uma semana com muitos mortos é noticia. Se numa semana não houver mortos nas estradas ninguém fala. As boas noticias não vendem jornais, e não nos dão oportunidade para batermos em nós próprios.
Mas voltando ao NPO:
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Quando foram reveladas as características deste BAM espanhol, alguns dos comentários dos espanhóis sobre ele foram coisas como: “Parece ser igual ao patrulha português NPO2000”.
E esta análise não é assim tão absurda, porque quando se consideram as características de um navio, ou seja, o seu deslocamento, a sua velocidade máxima e de cruzeiro, os seus motores e os seus armamentos, a principal diferença é a peça de 40mm substituida por uma de 76mm.
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O NPO-2000, é um projecto anterior a 1995, pelo que não podia ter sido pensado como este BAM dado as ameaças da guerra assimétrica ao terrorismo, só terem começado a desenhar-se depois de 2001, onde até os americanos consideram desarmar fragatas Perry, para as transformarem em patrulhas.
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Logo, comparar o NPO (que é de 1995) com este BAM, que é dez anos mais novo não faz exactamente muito sentido. Devíamos estar a pensar que, mais uma vez, tivemos gente capaz de raciocinar sem as megalomanias e os gigantismos que acabam sempre mal, e desenhar algo que sendo económico, faz aquilo que se espera que faça.
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Acima de tudo é um desenho português, pensado para a nossa realidade. Tem evidentemente características que são parecidas com navios civis, mas também se inspirou em meios militares. Comparem o perfil da ponte do NPO-2000 com uma fragata Vasco da Gama.
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As criticas que se podem fazer, são várias, mas não deveriam ser dirigidas ao NPO, que é um projecto honesto sem pretensões, porque não precisa tê-las para a função que lhe está destinada.
As criticas deveriam ser para o facto de, tendo já decorridos 10 anos não ter sido desenvolvida uma versão que incorporasse mudanças de forma a que o patrulha NPO-2000 se pudesse transformar num navio com alguma capacidade militar, para utilização em cenários. Vide os esboços do NPO-2004 ou do NPO-2000-ASW.
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Também podemos pedir responsabilidades. O programa NPO-2000 deveria ter sido objecto de mais estudos e tido maior prioridade, porque deveria ter começado a ser produzido pelo ano 2000, e neste momento, estaríamos a colocar na agua os últimos NPO-2000, permitindo desactivar as corvetas João Coutinho.
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Linhas Stealth
Este tipo de construção, exige uma completa redefinição de um projecto, e um completo rearranjo interno do navio. E isso é de facto caro. Uma peça de 76mm custa de 6 a 10 milhões de dolares, não justifica a diferença de preço.
Eu sei, que é de bom tom dizer que se quisermos somos capazes etc...
Eu não quero dar nenhuma facada na auto-estima nacional, mas a realidade é que nós não temos pessoas capazes de fazer o projecto. Nós temos gente capaz - isso sim - de começar a estudar o projecto e de se sair com qualquer coisa. Mas sem background, um projecto em vez de 5 anos demorará 15 a estar concluído.
A realidade, por muito que nos doa, é que Portugal construiu nos anos 70 os maiores estaleiros de reparação naval do mundo, e os maiores estaleiros de construção naval da Europa, mas esses estaleiros foram pensados para construir coisas que os outros desenhassem. Não se constróem mentes e cabeças pensantes por decreto. É preciso ter os pés na terra e admitir as realidades como são.
Com tudo isto, tenho que dizer que um navio com características Stealth, é pensado para se defender das maiores ameaças a um navio de guerra: Os misseis anti-navio disparados por outros navios ou por aviões, que disparem de tão longe que não possam ser vitimas de retaliação.
Ora, os conflitos assimétricos, caracterizam-se por estar no polo oposto. O mais parecido com um ataque de mísseis, é um terrorista da Al-Qaeda com um RPG-7, e o ataque mais temível, é o de uma jangada tripulada por algum Mouro-Kamikaze. Portanto, como disse acima, a não ser que a moirama fique aterrorizada perante a beleza das linhas, as ditas, não servem para nada.
Além de tudo isto, não é previsível que um navio destes seja enviado para combate, num ambiente onde se possa tirar vantagem táctica das linhas Stealth. O BAM espanhol, claramente inspirado no AFCON, é uma boa jogada comercial. Por outro lado, é caro, porque também é uma forma de subsidiar estaleiros que há muito que absorvem rios de dinheiro e que não serão nunca viáveis sem encomendas do Estado Espanhol (mas esses são problemas deles).
Caramba, se querem um patrulha ainda mais barato, façam um navio à vela de madeira de pinho e coloquem-lhe um tubo de aço e carreguem-no de pólvora negra e uma bala de granito.
Luso, é uma boa ideia. O problema é que quando vamos fazer as contas, a proposta que você apresenta não é viável. O seu navio seria demasiado lento (à vela) a madeira, implicaria mais manutenções, os tubos de aço com pólvora negra, não teriam o alcance da peça de 40mm, o seu navio estaria dependente dos ventos, não podendo agir eficientemente contra contrabandistas e navios suspeitos, e dificilmente teria um navio para o combate à poluição eficiente.
Embora eu esteja de acordo com algumas das criticas (que também faço, pelas razões explicadas acima), acho que a grande vantagem e o principal elogio que se pode fazer ao projecto NPO-2000 é que é um muito bom compromisso entre custo e beneficio.
Num país que resvala, entre o grandioso e o miserável. Entre a megalomania e o miserabilíssimo, ter um projecto equilibrado, é na minha opinião razão de regozijo. Não por nacionalismo “bolorento” mas porque é o resultado de uma análise fria e racional. Trata-se de olhar para o que temos e que não é muito, mas tirar desse pouco tudo o que é possível.
Tomáramos nós, que se fizesse a mesma coisa noutros ramos das Forças Armadas, e noutros ramos de actividade.
Cumprimentos