Confesso que também me acho algo confuso com toda a informação sobre o SU-32 e o SU-34. Parto do principio de que o SU-32 é uma versão de avião de ataque naval, baseado em terra, que é a versão que a Russia tem para exportação. O SU-34 é um avião baseado em terra, que não está previsto ser exportado (pelo menos para já).
As análises tácticas que se podem fazer, são sempre baseadas na informação disponibilizada pelo fabricante, uma vez que se trata de um protótipo.
A área proposta a patrulhar é enorme : um "triângulo das Bermudas" Madeira-Açores-Continente ( esticando até Gibraltar). As áreas soviéticos eram principalmente Mar da Noruega/Mar de Barents, e Mar da de Okhotsk/Mar de Barings, cada qual com cerca dobro da nossa (talvez mais).
Temos que ver as coisas de uma forma mais racional. As probabilidades de termos problemas em todos os vértices do triângulo são práticamente nenhumas, porque nunca nos envolvaríamos num confronto directo com forças que tivessem essa capacidade. Normalmente sería possível apoiar e reforçar um dos vértices, portanto, aplicando toda ou grande parte da força num só local.
A partir do momento em que o Su-34 activa o radar a uma altura tal que possa efectuar detecção de alvos *triiim*, todo a gente com um equipamento electrónico decente num raio de centenas de quilómetros fica saber onde ele está. Pouco depois, segue-se o míssil anti-avião ou o par de interceptores.
Já agora, na minha opinião apenas faz sentido falar num cenário com o Su-34 se tivermos a falar em lutar contra uma marinha *decente*, ou seja uma dessas referidas. É por isso que eu encaro isto tudo do ponto de vista completamente teórico. Para necessidades mais reais a adptação do Harpoon aos F-16 já chegava e sobrava...
Estou de acordo com a afirmação de que já sería muito bom ter F-16 equipados com Harpoon. No entanto, o F-16 não tem o raio de acção operacional (sem reabastecimento) do SU-32 (nem nada que se lhe pareça).
Isto está ligado á primeira parte do comentário. Pois o que acontece é que um SU-32 pode ligar o radar, com certeza, mas não deixa de ser verdade que com um data-link eficiente, ele pode passar a informação para outros SU-32 que não têm o radar ligado. O inimigo detecta o radar, mas não pode detectar - a tal distância - se a fonte emissora está ou não acompanhada por outros aviões. Aliás este truque pode ser feito com o F-16-MLU. Um SU-32 detecta um alvo (sendo ele mesmo detectado pelo inimigo), mas os outros SU-32 (que podem estar a 150 Km de distância) podem ataca-lo.
Como se isto não fosse suficiente, há o alcance e a velocidade do SU-32 face a por exemplo um F-18. Um SU-32 pode atrair um ou vários F-18, mas por causa da velocidade de ponta, é dificil ataca-lo. Não só pela velocidade, como pela capacidade dos seus radares, que lhe permitem uma grande vantagem táctica (a distância a que pode operar de um eventual alvo). Deste forma também fica dificil atingi-lo por misseis ESSM.
Não estará a sobrestimar a capacidade de 15 Su-34 ( sem meios de reconhecimento especializados nem rede de satélites nem sensores submarinos), contra uma "carrier task force"? As dificuldades envolvidas são imensas, começando em localizar a frota e acabando em fazer com que os Su-34 escapem à rede de defesa ( E-2C + caças, AEGIS+Standard SAM, ESSM, Goalkeeper por esta ordem)
... / ...
De qualquer maneira, na minha opinião a batalha inicial de tal conflicto seria uma "alpha-strike" em que 60 aparelhos desse porta-aviões reduziam a base das Lajes ( ou donde quer que eles tivessem a operar) a cascalho... Afinal, uma ilha não se pode mover.
Falamos em termos académicos, como é obvio. Na prática acho que os americanos atacariam com Tomahawk, e utilizariam os B-2 para destruir as pistas.
A superioridade americana é avassaladora, no entanto o problema é o risco. Lembro que por exemplo, quando se discutiu nos Estados Unidos que os chineses tinham radares capazes de identificar os B-2, varios congressistas americanos colocaram questões no congresso sobre o que é que a Força Aérea andava a fazer, a gastar dinheiro com aviões que afinal não eram invisíveis.
As “rules of engagement” dos americanos sempre foram as mesmas: superioridade de numeros e concentração de meios.
Mas retirando os B-2, quem é que garantiría aos americanos que os "portugas" não tinham construido maquetes em madeira dos SU-32 e os tinham colocado nas Flores, em Santa Maria, em Ponta Delgada, alem das Lajes?
Quantas vezes os americanos não atacaram alvos ficticios?
O que acontece se, depois de um ataque com 60 aviões, sobrarem cinco ou seis SU-32 que afinal não estavam destruidos e que vão atacar a task force, quando os aviões estão a voar em circulos á volta do porta-aviões a aguardar ordem para aterrar?
Quais são os riscos de disparar ESSM contra aviões a 150 Km de distância, capazes de disparar misseis anti-navio que podem atingir o navio em dois minutos e meio ?
E como agiriam os americanos perante os submarinos (mesmo so dois com AIP), sendo que os americanos estão preocupados com a proliferação destes meios por causa de serem extremamente dificeis de detectar. Um torpedo DM2A4 pode atingir um navio a uma distância de 50 quilometos?
Como os vão detectar?
Com os tracker? - Facilmente detectaveis aos radares de um SU-32 ou mesmo pelo radar de uma fragata João Belo ou OHP ?
Quando se souber onde está um Tracker, já se sabe onde está a Task Force. Mas se não se fazem descolar os Tracker, fica-se ao alcance de submarinos que não se sabe se estão lá ou não. É uma dor de cabeça para qualquer almirante americano.
São demasiados riscos para qualquer marinha. O mais fácil é ameaçar lançar bombas Atómicas sobre os Açores. Em termos tácticos, as ilhas de facto não se podem mexer. Mas também não se podem afundar.
Mas, evidentemente, como referi anteriormente, as probabilidades de sucesso seríam sempre minimas. Nao sobrestimo os SU-32 quando digo que as probabilidades de sucesso andariam pelos 15%. No entanto 15% para os americanos é muito, é demasiado risco. Sería preciso a América estar numa crise tal e com possibilidade de ser derrotada para a opinião pública aceitar tamanhas perdas.
Outro aspecto
= = = = = = =
É verdade que nos dias de hoje, aumentar a defesa dos Açores não parece ter grande sentido, pelo que 8 ou 12 aviões destes, com possibilidade de ataque ao solo, acabaríam por ter eventualmente outras utilidades. Para o efeito teríam SEMPRE que ser ocidentalizados, de forma a poderem operar juntamente com outros meios da Marinha e da Força Aérea. Estou a pensar por exemplo no Data-Link, e na possibilidade de utilização de misseis como o AMRAAM. Nos dias de hoje no entanto, estes meios podem potênciar as forças armadas e transforma-las numa arma temível, no entanto, não deixa de ser verdade que nos dias de hoje, a capacidade de contribuir para forças de paz é igualmente importante, e é complicado contribuir para essas forças com aviões deste tipo, principalmente porque não temos dinheiro para servir de policias do mundo como os americanos. Ou seja, não poderíamos utilizar os SU-32 - por exemplo - para bombardear a Jugoslávia porque estaríamos a gastar os poucos meios que temos.
Portanto, do ponto de vista objéctivo e analisando as actuais ameaças, o SU-32 está longe de ser uma prioridade. São muito mais necessários meios de defesa anti-aérea, para defender as bases aéreas, que são provavelmente dispensáveis pelas mesmas razões, mas em termos de opção, seriam uma necessidade mais permente.
Claro que se pode sempre argumentar que o SU-32 podería ser utilizado como avião para ataque, efectuando funções de apoio a forças terrestres, mas levaría a Força Aérea á falência em três tempos.
Cumprimentos.