Primeiro avião português (2025)

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sivispacem

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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #165 em: Dezembro 26, 2024, 01:00:45 pm »
O que estão a pedir tem tudo para dar certo: um país sem tradição de fabricar aeronaves lançar um aparelho de uso predominantemente militar sem que o Estado seja o prime contractor e assim demonstrar confiança no projeto.

 :o

"Uso predominantemente militar"????? No quê??? Porque lhe instalaram um radio militar??

Aquilo é um aparelho civil usado por militares para missões de âmbito geral. É como designar um Volkswagen Golf como "militar" sõ porque o Exército também os usa....
Cumprimentos,
 

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Malagueta

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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #166 em: Dezembro 26, 2024, 06:17:22 pm »
Boa tarde,

Pelo que foi lendo, o objetivo principal do projeto é para uso civil, sendo que foi identificada nessa área uma necessidade de 5000 nos próximos 15 anos. 

Projetaram ainda construir numa "velocidade cruzeiro" cerca de 20 a 30 ano. pelo que face aos 5000, significa que esperam responder a 0,9% das necessidades nesse âmbito.

O uso militar da aeronave será sempre a vontade de quem encomenda.

Este projeto é um spin off da ceiia liderado pelo direitor Miguel braga da , e vem no seguimento das valências que foram sendo criadas ao longo das ultima década no mesmo.

Relembrando que acordo foi assinado em 2011 um acordo entre entre a EEA, empresa coordenadora do programa em Portugal, e Embraer.
« Última modificação: Dezembro 26, 2024, 06:32:54 pm por Malagueta »
 
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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #167 em: Janeiro 16, 2025, 08:35:20 pm »

Para mim, o LUS222 é o projecto mais importante a decorrer em Portugal na área aeroespacial civil e militar.

A todos os que sentem algum interesse por este tema, convido-vos a ler este artigo;
Pena a imprensa nacional ligar mais a outras "coisas".

https://alentejoilustrado.pt/chama-se-lus-222-primeiro-aviao-portugues-ganha-asas-no-alentejo/
 
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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #168 em: Janeiro 16, 2025, 08:50:10 pm »

Para mim é um dos projetos, exite os dos satélites, como:

O N3O é parceria entre o CEiiA, a GEOSAT e um parceiro estratégico europeu com uma longa experiência no desenvolvimento e fabrico de satélite

E o O PoSAT-2 será o pioneiro da constelação ATON, que prevê colocar 12 satélites em órbita até 2026
 

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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #169 em: Janeiro 17, 2025, 11:50:21 am »
Já foi identificado o principal ( talvez único ) corrente  do lus222, é o  Cessna Skycourier.

https://cessna.txtav.com/en/lp/skycourier-splash-lp

Citar
https://cessna.txtav.com/-/media/cessna/images/lp/skycourier-splash-lp/skycourier-lp-right.ashx

Entretanto encontrei mais informação sobre o projeto, e ai comparam ao aviocar.
https://www.pressmediaonline.com/news/36516771

NAS ASAS DE UM SONHO NACIONAL: CONHEÇA O LUS 222, O PRIMEIRO AVIÃO PORTUGUÊS

Hugo Séneca

Em mais de 120 anos de aeronáutica, o Lus 222 pretende estrear-se como o primeiro avião desenhado e construído em Portugal. Não é especialmente sofisticado nem vem de uma marca sonante, mas possivelmente chega onde outros não chegam. E promete pôr o aeródromo de uma cidade alentejana no mapa mundial. Viagem de sonho ou manobra perigosa para a indústria nacional? Só em 2027 se saberá

Se tivesse um avião seria bem mais fácil, mas Miguel Braga não tem um avião e ainda terá de provar que consegue construir um para alcançar o reino dos céus. Enquanto não chega o momento redentor, o diretor de Aeronáutica e Defesa do centro de engenharia CEIIA e administrador da recém-criada EEA Aircraft tem de se desdobrar em viagens de carro entre reuniões em Matosinhos, Évora e Ponte de Sor ou voos comerciais para a Europa e América Latina para se encontrar com fornecedores e potenciais clientes. As viagens variam nos destinos e nas horas de chegada, mas o contrarrelógio é sempre o mesmo: garantir, até ao final de 2027, a descolagem daquele que pretende ser o primeiro avião desenhado e construído em Portugal. Lus 222 é o nome da máquina alada. Mais de EUR110 milhões serão investidos para que o Made in Portugal ganhe asas - e Ponte de Sor garanta uma fábrica com 120 profissionais. Se tudo correr como previsto, Miguel Braga não vai parar de viajar nos próximos tempos.

“Estamos em conversações com um potencial cliente do sector da Defesa que tem interesse neste modelo de aeronave, porque precisa de substituir aviões que tem hoje em operações”, refere o diretor do CEIIA. “Em breve, vamos ter uma visita de um fundo de investimento especializado em aeronáutica que quer saber mais sobre o avião”, acrescenta.

O projeto é visto como transformador dentro de Portugal - mas passou a contar com uma “costela” espanhola após a constituição da EEA Aircraft. A nova empresa, que vai fabricar e comercia­lizar o Lus 222 em Portugal, tem a participação da espanhola Cosmos Aerospace, que entra no projeto em sociedade com o CEIIA. E com isso alargou-se o raio de ação do projeto, que já tinha recebido EUR50 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“O compromisso assinado com o nosso sócio CEIIA prevê que a Cosmos aplique EUR30 milhões até 2026. Além disso, podemos contribuir com a nossa relação privilegiada com o Exército do Ar de Espanha [a força aérea espanhola], que é um forte e potencial cliente desta aeronave”, afirma José María Nuñez, responsável da Cosmos Aerospace.

Mesmo sem ter descolado do software de desenho e engenharia, o Lus 222 mantém legítimas pretensões a chegar onde outros não conseguem ir. E esse fator também contribui para a alcunha de jipe com asas. Até porque a rampa que traz na retaguarda permite-lhe transportar um jipe - ou outro veículo de dimensão comparável. “O Lus 222 vai ter um trem de aterragem fixo e vai poder aterrar e descolar em pistas de terra batida ou areia”, descreve Miguel Braga.

Com uma hélice em cada asa e uma cabina despressurizada, o Lus 222 tem prevista uma velocidade máxima de 370 quilómetros por hora. Pode transportar 19 passageiros mais dois pilotos em via­gens de 2000 quilómetros, que permitem ligar território continental a Açores e Madeira, e bastam-lhe 886 metros de pista para descolar e 826 para aterrar. Prevê-se que tenha 8,6 toneladas de peso à descolagem e deverá poder transportar 2,5 toneladas de carga. A envergadura das asas aponta para 20,5 metros, o comprimento está fixado em 17,9 metros, e a altura ronda os 7 metros.

As asas “altas”, que se juntam à face superior da fuselagem, facilitam a observação a partir das janelas e o trem de aterragem fixo evita avarias e custos de manutenção gerados pela sujidade das pistas que não são alcatroadas. “O nosso avião não é propriamente um hino à sofisticação, mas tem aquilo que o mercado quer”, refere Navid Seyedali, responsável pela integração técnica do projeto.
Um simples avião
A altitude ajuda a explicar a frugalidade do Lus 222. Para viagens acima dos 3000 metros de altitude, é suposto os aviões terem os habitáculos pressurizados devido ao ar rarefeito e às baixas temperaturas. O Lus 222 não tem pressurização, mas vai estar apto a superar os 7000 metros de altitude em cenários que, provavelmente, se aplicam apenas em missões militares, com o uso de máscaras pelos pilotos. Com esta configuração despressurizada, o Lus 222 torna-se mais amigo de quem o compra. “Não sendo pressurizada, estima-se que esta aeronave tenha custos de operação favoráveis aos operadores, quando comparada com os custos de aeronaves de maior dimensão, que são pressurizadas”, explica Lourenço da Saúde, professor e responsável pela Cátedra CEIIA na Universidade de Évora.

Em quase todos os sectores, o mercado quer sempre o melhor e o mais sofisticado - mas o Lus 222 nem sequer faz tenções de entrar nessa corrida. “Se fosse supersónico ou um avião a jato de grande porte, não teríamos tecnologia ou capacidade para fabricar este avião”, sublinha Navid Seyedali.

Sendo menos complexo do que outros modelos, o Lus 222 não deixa de ser um avião - e como tal está sujeito a requisitos especialmente exigentes. Seyedali refere de cabeça os 2000 documentos e os 20 mil desenhos de componentes que têm vindo a ser trabalhados para o desenvolvimento da máquina alada. “Uma asa pode ter mais de 5000 partes e 3000 mil parafusos e rebites. E todas estas coisas têm de ser tidas em conta”, refere Navid Seyedali. Não admira, por isso, que os testes de voo que antecedem a certificação possam durar um ano.

Sem pretensões de mandar no mercado, o CEIIA limitou-se a seguir as recomendações de quem precisa de asas para voar. “Desenhámos as características técnicas do Lus 222 tendo em conta as necessidades indicadas pelas forças aéreas portuguesa e espanhola e outros potenciais clientes”, diz Miguel Braga.

Até julho, prevê-se que fique concluído o desenho conceptual do avião. Em paralelo, haverá troca de informação com um total de 90 fornecedores. “Vamos precisar de equipamentos de aviónica, antenas, parafusos... Nesta fase é muito importante termos fornecedores que nos deem aquilo de que precisamos. Além disso, não podemos integrar componentes sem sabermos se são compatíveis uns com os outros”, declara Seyedali.

O primeiro protótipo, que não deverá voar por estar desprovido de motor ou sistemas eletrónicos, está agendado para 2026. A primeira descolagem de um protótipo está aprazada para 2027, mas bem antes disso os engenheiros do Lus 222 terão como principal referência uma réplica digital que simula encaixes, ligações, interações mecânicas, movimentos e fluxos de dados dos componentes - e que indica potenciais falhas e incompatibilidades de todos os componentes e sectores do avião. Por mais valiosas que sejam, as indicações dadas pelo software que suporta a réplica digital não dispensam o mais exigente dos testes: as certificações da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA, em inglês). “Só há avião se a EASA disser que há avião”, refere Miguel Braga.

A rampa que o Lus 222 traz na retaguarda permite-lhe transportar um jipe - ou outro veículo de dimensão comparável

Além de componentes e equipamentos, também os profissionais envolvidos têm de obter certificações da EASA para o desenho e construção de aviões. No Lus 222, a primeira leva de certificações estendeu-se a 16 engenheiros, mas a equipa tem vindo a ser engrossada com a contratação de pessoal com experiência em empresas de outras geografias. Atualmente, a equipa de desenho e engenharia conta com 70 pessoas. Nos próximos tempos deverá crescer até 130. “Lá fora praticam-se salários maiores, mas os engenheiros querem vir para aqui para poderem ficar ligados a um projeto de desenvolvimento de um avião completo, de raiz”, sublinha Miguel Braga.

Aos 68 anos de idade, Navid Seyedali é provavelmente o melhor exemplo de recrutamento de especialistas. A relação com Portugal começou ainda na fase de desenvolvimento do avião KC-390 e em 2019 evoluiu para o desenvolvimento de uma delegação da empresa Sca, que tem vindo a trabalhar em parceria com o CEIIA. Com a vida dividida entre Seattle, nos Estados Unidos, e a cidade do Porto, o especialista em aeronáutica acabou por ser convidado para assumir a liderança técnica da EEA Aircraft. O currículo feito entre a Boeing, o desenvolvimento de aviões de maior porte na Indonésia e na Malásia e as certificações profissionais, que não abundam no mercado nacional, terão contribuído para o convite. “Não pensei que o projeto fosse uma aventura, porque a indústria portuguesa já tinha participado em projetos com a Embraer e tem experiência no desenvolvimento de componentes”, diz Seyedali.
O barato que não sai caro
No CEIIA ainda há quem lembre a rábula, já contada em segunda mão, sobre um governante de um país abaixo do equador que, depois de iniciar uma reunião com vista a uma potencial encomenda, logo despachou os representantes da marca, aconselhando-os a estudarem antecipadamente o PIB de cada país antes de proporem aviões com preços de 30 milhões de dólares.

“Sabemos pelos estudos de mercado que fizemos que o Lus 222 não deve ter um preço acima dos 7,5 milhões de dólares por unidade”, esclarece Miguel Braga, mencionando o teto máximo, sem avançar o valor final.

O preço por unidade é apenas parte do custo. Seja um Estado ou uma empresa, a encomenda de um avião tem de ter em conta custos de manutenção, operações e taxas aeroportuárias para um período estimado que oscila entre 20 e 25 anos de longevidade, consoante as horas de voo que registar no dia a dia. Mas há outras facetas que os estudos de mercado revelam: “Os construtores mais conhecidos têm abandonado este segmento dos aviões de menor porte porque não são tão rentáveis. Mas o mercado precisa disto”, insiste Miguel Braga.

Do que o mercado precisa é também de um Aviocar - o apelido com que ficou o modelo CASA C-212, que valeu boas vendas à Airbus desde os anos 70 e já começa a deixar saudades entre muitos dos operadores da aeronáutica. Também esse modelo tinha capacidade de transportar um carro. E as parecenças podem não se ficar por aí, como todos os aficionados que acompanham o projeto Lus 222 atestam. “Não há paraquedista que não consiga saltar de uma daquelas portas traseiras basculantes”, refere Carlos Amaro, administrador da companhia aérea Sevenair. “Parece-me que o Lus 222 vai ser um avião com grande capacidade de carga, mas não se distingue propriamente pela velocidade”, acrescenta.

Como em todas as companhias aéreas, a Seven­air não pode descurar a velocidade. Todos os dias, os aviões da companhia aérea fazem ligações entre Bragança e Portimão, com algumas paragens pelo meio. Com um Dornier 228, torna-se possível fazer duas idas e voltas entre o Norte e o Sul do país e tirar partido do crescendo de procura e luz solar do verão. Em contrapartida, Carlos Amaro duvida que um avião como o modelo Lus 222 consiga fazer essas duas idas e voltas entre Bragança e Portimão antes de o sol se pôr. A este fator junta-se a expectativa de que, nos próximos tempos, surjam os primeiros aviões elétricos certificados, que poderão transformar o negócio dos denominados voos domésticos ou de menor porte.

Quer isto dizer que o Lus 222 não tem lugar no mercado? “Dificilmente se encaixa no nosso tipo de operação na Sevenair, mas imagino que faça sentido, por exemplo, na ligação da Madeira a Porto Santo”, refere Carlos Amaro. “Não sei se é o melhor avião para companhias civis, mas parece-me que é capaz de ser um bom avião para vigilância costeira, uma vez que pode facilitar o lançamento de mercadorias lá para baixo, em pleno voo.”

Miguel Braga confirma que o foco está no desenho de um avião atrativo do ponto de vista comercial, mas também acredita que a entrada em cena de motores elétricos ou de hidrogénio acabe por demorar mais tempo do que o previsto. Sendo integradora e não tendo a possibilidade de ditar as regras na produção de motores, a EEA está apostada em que o Lus 222 seja desenhado de modo a garantir que a integração de motores de nova geração poderá ser levada a cabo “com o mínimo de alterações” no design. “Tendo em conta os testes e as certificações, penso que não veremos tão depressa aviões com células de hidrogénio”, acrescenta Miguel Braga.

Também na Sevenair há a ideia de que os fabricantes têm vindo a abandonar o fabrico de aviões da classe dos Aviocar, apesar das mais-valias que apresentam para os segmentos militares ou para aeroportos com pistas de terra ou areia. Em contrapartida, no CEIIA, a estatística luminosa aponta para cerca de 1000 aeronaves com um valor de mercado acima dos EUR450 milhões - e este valor abarca apenas os modelos CASA C-212, da Airbus, e Bandeirante, da Embraer, que deverão ser substituí­dos nos próximos 15 anos. Se se somarem todos os modelos que podem ter a concorrência do Lus 222, o número de aviões em operações sobe para 4000 e o valor de mercado salta para os EUR2,3 mil milhões.

Não é preciso tirar o brevê ou o curso de engenharia aeronáutica para perceber que, tarde ou cedo, grande parte destes aviões terá de ser substituída. Miguel Braga faz notar que só na Força Aérea do Brasil haverá mais de 60 aeronaves desta classe em vias de serem descontinuadas, sendo que mais de dois terços dos 1500 aeródromos do país têm pistas não alcatroadas. Em África e possivelmente na Ásia e na Oceânia também não faltarão situações similares.

( continua)
 
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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #170 em: Janeiro 17, 2025, 11:50:51 am »
Continuação

Aos números que descrevem o mercado junta-se um fator decisivo: “De momento, só temos conhecimento de um único projeto desta classe, que é o Cessna Skycourier. E mesmo assim é um modelo diferente do Lus 222”, sublinha Miguel Braga.
Civil e militar
Poderá o Lus 222 ser uma máquina de guerra? Miguel Braga recorda que, uma vez vendido, os militares podem adaptar o avião como acharem melhor. O que, no limite, pode significar a instalação de armas, pois a partir da compra cada Força Aérea poderá transformar as máquinas como achar melhor. Ainda assim, é no segmento do transporte de cargas e apoio a missões militares que, possivelmente, o Lus 222 terá maior potencial.

“Por ter um custo de aquisição e ciclo de vida interessantes, o projeto Lus 222 pode suprir essa lacuna que atualmente existe no mercado da aviação, seja na componente civil seja na militar. Tendo sucesso, beneficiará o país em geral e o cluster aeronáutico nacional em particular”, refere o gabinete de João Cartaxo Alves, chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), em resposta ao Expresso.

Em Ponte de Sor, um município com 16 mil habitantes, a possibilidade de gerar 120 postos de trabalho não é despicienda

Na aeronáutica portuguesa, não falta quem recorde a participação das portuguesas OGMA na construção do KC-390 da brasileira Embraer. A indústria nacional apenas desenhou e produziu parte da aeronave, mas no circuito o KC-390 mais parece um voo de fénix, pronto a desbravar itinerários há pouco tempo impensáveis. O gabinete do CEMFA recorda que, depois do KC-390, “ficou por dar o passo na direção da integração de sistemas e da produção de aeronaves na sua totalidade”. Com o Lus 222, esse passo rumo à constituição de algo que a gíria conhece como integrador e que a generalidade dos consumidores descreve como fabricante é classificada como uma subida de divisão.

“Até ao arranque do programa LUS 222, as empresas portuguesas sempre estiveram no tier 3, pelo que a passagem a tier 1 corresponde a uma subida na cadeia de valor”, defende Lourenço da Saúde, professor e responsável pela Cátedra CEIIA na Universidade de Évora.

De acordo com a lógica e a gíria industrial, o tier 3 agrega fornecedores de componentes subcontratados por outros fornecedores que estão no tier 2. O tier 1, a liga dos campeões, que se apresenta ao mundo como uma marca reconhecível, faz a integração de todos os componentes. “Sendo um integrador, tem poder de decisão na escolha dos fornecedores. E é aí que a EEA quer posicionar-se”, esclarece Miguel Braga.

Enquanto os fornecedores têm de se esforçar por agradar aos integradores, os integradores têm de garantir que os fornecedores lhes entregam os diferentes componentes atempadamente. O que, segundo alguns relatos, tem a mesma probabilidade de acontecer que um atraso num qualquer voo comercial. Em contrapartida, o integrador encomenda e investe sempre com uma expectativa bem vincada: “Em vez de fazer negócio com pequenos subsistemas, a integração garante margens de lucro maiores”, diz Rui Marcelino, vice-presidente do AED Cluster, que representa as indústria aeronáutica e aeroespacial em Portugal, e líder da Almadesign, que tem vindo a trabalhar em vários projetos de aeronáutica - entre eles o Lus 222. “Penso que é um projeto que vai precisar de vários ciclos de investimento”, acrescenta.

Mesmo tendo a palavra final, não se julgue que o integrador põe e dispõe. Especialmente quando a farda ainda cheira a novo entre hangares, repartições e aeroportos. “Admito que os potenciais clien­tes venham a olhar para nós com desconfiança. E mesmo com os fornecedores temos de explicar bem como e com quem estamos a desenvolver este programa. É verdade que temos de nos credibilizar junto destes intervenientes, mas não há quem não reconheça o potencial do mercado”, sublinha Miguel Braga.

A EEA está atualmente em negociações com a Pratt & Whitney para a encomenda de motores PT6A-65SC. Os componentes de aviónica, as hélices e o trem de aterragem, que são simultaneamente distintivos e críticos para o projeto, serão selecionados após análise ou consulta do mercado internacional - pois dificilmente se encontram fornecedores em Portugal que estejam em condições de apresentar propostas. Na estrutura do avião há a expectativa de que a indústria nacional possa participar com o fornecimento de componentes - e no CEIIA é assumido o compromisso de privilegiar o produto nacional, mas com alguma ressalva. “Claro que se apresentar o dobro do preço de um fornecedor internacional não vamos escolher um produto português”, avisa Miguel Braga.

Uma coisa é certa: venham de Portugal ou de fora, os componentes serão todos montados em Portugal - mais especificamente na Ponte de Sor, cidade alentejana que tem hoje vista privilegiada para o céu. “Nas imediações do aeródromo de Ponte de Sor já se encontram 14 empresas. Temos lá a escola de voo, produção de máscaras para pilotos, fabrico de drones, manutenção de aviões... mas a fábrica do primeiro avião produzido em Portugal é algo que vai significar uma evolução substan­cial”, descreve Hugo Hilário, presidente da Câmara de Ponte de Sor.

Num município com 16 mil habitantes, a possibilidade de gerar 120 postos de trabalho não é despicienda. E face aos 450 postos de trabalho que esta fileira industrial já providencia na cidade, a nova fábrica assume ainda maior preponderância. Nos planos da EEA consta a instalação de quatro blocos industriais com turnos de 30 pessoas. Também haverá alguns cargos de administração, mas prevê-se que a maioria dos contratados vá ocupar funções da área da engenharia. Eventualmente, parte dos candidatos já terá sido formada ou reconvertida profissionalmente a partir do Centro de Formação da Indústria Aeronáutica, que foi instalado para garantir que não faltava mão de obra especializada. “O cluster da aeronáutica abrange o Alentejo. Além da Ponte de Sor, também envolve Grândola, Beja e Évora”, acrescenta Hugo Hilário. Nos planos da EEA Aircraft há a meta de produzir 30 aeronaves por ano. Até lá há um voo de muito longo curso para fazer.


 
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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #171 em: Janeiro 17, 2025, 03:38:16 pm »
Já foi identificado o principal ( talvez único ) corrente  do lus222, é o  Cessna Skycourier.

Parece que é o preferido da FAB para substituir os Bandecos:

FAB inclui aeronave de transporte leve Cessna 408 SkyCourier entre os projetos prioritários

https://www.aereo.jor.br/2023/01/23/fab-inclui-aeronave-de-transporte-leve-cessna-408-skycourier-entre-os-projetos-prioritarios/

Sds
"...Eu posso estar completamente enganado.
Eu posso estar correndo, pro lado errado.

Mas a dúvida é o preço da pureza.
E é inútil ter certeza..."


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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #172 em: Janeiro 17, 2025, 06:46:20 pm »
Boa tarde

Não parece ser o avião ideal para a FAB ou para o brasil, na versão de carga a porta é lateral, que exige que onde ele aterre exista um empilhador.

Neste contexto, alem das capacidades técnicas da Akaer, a escolha da mesma não será inocente para a produção das estruturas. ( especulando um bocadinho)

« Última modificação: Janeiro 17, 2025, 07:00:26 pm por Malagueta »
 

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Re: Primeiro avião português (2025)
« Responder #173 em: Janeiro 18, 2025, 02:15:10 pm »
Um rampa traseira sempre é preferível, mas a FAB 'está a virar-se'' com os Caravan.



Assim, até por falta de algo na mesma classe, o Cessna é (ou era) a escolha natural. A ver como ficará com o LUS-222, acredito que a maior dificuldade aqui é a tempestividade do projecto em relação às necessidades da aeronáutica tupiniquim.

Sds 
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