Professor José Hermano Saraiva

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TOMSK

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Professor José Hermano Saraiva
« em: Janeiro 28, 2009, 01:44:27 am »
JOSÉ HERMANO SARAIVA
A opinião de um grande português, sem medo, orgulhoso da sua nacionalidade, que não hesita em repor a verdade histórica e contar-nos de onde viemos e o que fomos, mesmo quando esta é politicamente incorrecta.


Queixa-se de que por vezes as entrevistas o levam por maus caminhos. Uma vez, levado a comparar Cavaco Silva a António Oliveira Salazar, respondeu o que lhe ia na alma: “Cavaco é apenas um pobre diabo.” As palavras causaram-lhe dissabores. O então primeiro-ministro nunca mais lhe falou. José Hermano Saraiva faz questão, agora, de pôr os pontos nos is: acha que Cavaco foi “um honesto gerente”.
Sobre a História recente de Portugal não muda: gosta de Salazar e de pouco mais.


A que se deve a sua admiração por Salazar?
Milhões de portugueses estiveram com esse homem, à excepção de uma pequena minoria. Salazar não era como estes de agora, que se encarrapitam todos para lá estar meia dúzia de meses. Ele não era nada
democrata. A democracia quer dizer que o maior número tem razão. Alguém acredita nisto? Neste país de analfabetos, o maior número é de primatas e são eles que mandam.

Serviu o Estado Novo. Não se arrepende de nada?
Não. Quanto mais o tempo passa, mais admiro Salazar. Conto-lhe uma história: numa altura em que Salazar estava doente com uma pneumonia, Supico Pinto disse-lhe que tinha uma excelente notícia: havia
sido descoberto petróleo em Cabinda. Salazar, debaixo da sua pneumonia, disse: “Só nos faltava mais essa. Estamos tramados!”
Já sabia que isso ia atrair os americanos e a CIA. Foi isso que derrubou o regime.

Quando é que se deu conta de que o regime ia mudar?
Só a 25 de Abril de 1974. Havia o problema de África, mas eu ignorava o papel da CIA. Havia uma grande selecção de informação e, quando aconteceu o 25 de Abril, eu era embaixador em Brasília.

Acha que os americanos tiveram um papel determinante na queda do regime português?
Não há dúvida nenhuma disso. Prepararam, primeiro, o golpe de 16 de Março. O projecto era derrubar o regime com o Spínola. Mas a esquerda apercebeu-se disso e não saiu com o Spínola. Prepararam o
segundo golpe.

O professor faz uma História virada para os heróis. Quem foi herói no pós 25 de Abril?
Não há heróis. Penso que se deve a Mário Soares a reconciliação da família portuguesa. Mas não apareceu nenhuma grande figura. O país é dependente do estrangeiro.



Álvaro Cunhal é uma figura importante da História?
Foi líder de um partido que discutia a legitimidade do Governo constituído. Foi um líder coerente com as suas ideias, toda a sua vida.
A obra dele foi destruir Portugal.
Mas, pessoalmente, é um homem que merece toda a admiração.

Como vê os novos líderes, como Santana Lopes?
Não julgo que sejam importantes. Portugal é metade rural e metade pequeno burguês. Uma pequena fímbria de pequenos intelectuais fazem o partido da esquerda e os grandes proprietários fazem o CDS. A
grande massa pequeno burguesa faz os partidos do centro. Estes dois partidos (PS e PSD) defendem o mesmo e estão certos com o País que nós temos.

Vê com optimismo o futuro de Portugal?
Não, mas pode ser que aconteça um milagre. O problema é que os nossos milagres aconteceram quando havia mundos por descobrir.

Que diagnóstico faz do estado da nação?
Os portugueses estão com falta de confiança em si próprios. A crise que se vive é mais visível do ponto de vista orçamental, mas há outros aspectos, menos claros, e mais perigosos ainda.

É uma crise generalizada?
Por deve profissional percorro com regularidade o País e constato que a forma de encarar a crise é profundamente diferenciada. A capacidade produtiva do nosso País está em baixa, ao passo que o
consumo está em alta, o que cria um desequilíbrio funcional. Já passei por localidades que aparentemente não tinham ninguém e que, todavia, estavam com as ruas pejadas de automóveis.
O automóvel é para muitos um símbolo do Portugal moderno…
É a ostentação do “status” social, mas que não está a ser acompanhado pela criação de novas fontes de riqueza.



Pensa então que o País funciona a duas velocidades?
Exactamente. O importante é diversificar. Um País pobre como o nosso não pode aspirar a produzir nem melhor nem mais barato como os outros, mas pode fazer diferente. A solução terá que ser encontrada no
fabrico de produtos distintos e na aposta no gosto português. É sabido que uma Europa cada vez mais rica, paga cada vez mais cara a diferença. Por isso penso que se deveria dar uma importância superior à
azulejaria portuguesa, ao fabrico das porcelanas e aos revestimentos cerâmicos.

Foi Ministro da Educação durante o Estado Novo ao longo de ano e meio. Como é que explica que
sejamos um dos países da U.E. que mais investe e que menos resultados apresenta?

Não sou taumaturgo, mas no nosso País criou-se uma tradição de fazer um responso a Santo Antónioquando as coisas desaparecem. Pois faço aqui um desafio: façamos um responso a Santo António para compreender o que é feito das verbas que desaparecem sem deixar fruto.

Disse que o futuro está nas nossas mãos, mas não crê que continuamos à espera que as soluções caiam do céu?
Portugal é uma pátria sebastianista. Esperamos sempre que chegue lá de fora um D. Sebastião. E, até à data, temos tido sorte.
Dos saques nas terras dos mouros ao aparecimento de Nun’Álvares, aos êxitos militares dificilmente explicáveis de Aljubarrota, à exploração da costa africana, do Brasil e depois da Índia, assim vivemos até 1974…

Deu-se a revolução e posteriormente aderimos à Comunidade Europeia. Pensa que os fundoscomunitários têm sido correctamente aplicados?
Os políticos fizeram o que puderam e conforme as luzes que Deus lhes deu. Os fundos estão a acabar e continuamos à espera de outro D. Sebastião. Há quem volte os olhos para Espanha, mas creio que o “país
vizinho” tem os seus próprios problemas, e não pode ser ama de ninguém. O D. Sebastião tem que vir cá de dentro. É uma questão de repararmos bem. Os recursos de salvação nacional mantêm-se em Portugal –nomeadamente a habilidade manual dos portugueses.

Quando é que despertamos para esses “recursos de salvação nacional”?
Antes de mais é preciso alertar contra um certo pessimismo latente – por vezes escandaloso - , mesmo ao nível de altos dirigentes, que constantemente passam a ideia de epílogo e sugerem a aceitação das
soluções que não são portuguesas.

É preciso levantar o moral da nação?
É. Não compreendo é que no momento em que se fala tanto em liberdade, se fale tão pouco em independência. Até porque a independência é a forma essencial da liberdade.



Quando faz esse alerta significa que a independência está de alguma forma ameaçada?
Creio que há pessoas que acreditam que ela está ameaçada e se resignam a isso. Vejo, por exemplo, com alarme, que deixou de se ensinar a História de Portugal aos portugueses.
Pior: vejo pessoas envergonharem-se da História nacional, mas do que não conhecem – nunca um tão pequeno povo fez uma obra tão grande pelo entendimento entre todos os povos da Humanidade.
Constato, tristemente, que em Portugal está na moda ser anti-patriota. O português culto deixou de ser patriota e pensa que o patriotismo é uma forma de paisagismo, rusticidade e sentimento rural.
Fala-se muito dos nossos vizinhos da Península. Há quem diga que eles fazem pela via económica o que não fizeram pelas armas…
Os espanhóis fazem aqui o que nós deixamos fazer. Não são os portugueses que vão, entre outras coisas, pôr gasolina a Espanha?

Como comenta a sugestão do empresário José Manuel Mello para que “se começasse a fazer a Ibéria”?
Ele que vá dizer isso no país Basco ou na Catalunha que sofreram na pele a destruição dos valores culturais próprios, de que resultou a sua integração na tal Ibéria. Eu sou pelas pátrias. Creio que a Ibéria
seria muito mais rica se respeitasse as fronteiras de alguns dos seus componentes.

A Expo 98 foi um dos eventos mais elogiados. Segundo li discorda do rumo temático que osresponsáveis deram ao evento…
Inicialmente a exposição foi feita para comemorar os 500 anos da viagem de Vasco da Gama à Índia mas, na prática, evitou-se falar do assunto. Os Descobrimentos e a História de Portugal foram intencionalmente omitidos. Fazer uma exposição mundial só para limpar um bairro infestado, é pouco…

Pensa que aqui houve, mais uma vez, pudor em dar a conhecer a nossa História?
Não tenho dúvida. Os intelectuais portugueses enfermam de uma enorme falta de sentido nacional. É um defeito, da mesma forma que se é míope, gago ou se tem uma úlcera gástrica.

Retirado da edição de 8 de Junho de 2004 do jornal O Diabo

Um verdadeiro Português!
Dos poucos historiadores que dá gosto ouvir.
Pena que só lhe vão dar o valor devido quando ele já não estiver entre nós...
 

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Duarte

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« Responder #1 em: Janeiro 28, 2009, 06:40:18 am »
:G-Ok:
слава Україна!
“Putin’s failing Ukraine invasion proves Russia is no superpower"
The Only Good Fascist Is a Dead Fascist
Trump é o novo Neville Chamberlain, mas com o intelecto de quem não conseguiu completar a 4a classe.
 

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Daniel

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« Responder #2 em: Janeiro 28, 2009, 03:52:20 pm »
Muito bom esse artigo. :Bajular: