EUA pressionaram Justiça da Espanha para arquivar três processos, aponta WikiLeaks
Os serviços diplomáticos americanos exerceram forte pressão sobre o governo e as autoridades judiciais espanholas para obter o arquivamento de três processos abertos no país contra os Estados Unidos ou militares americanos, informou nesta terça-feira o jornal "El País".
De acordo com documentos diplomáticos confidenciais divulgados pelo site WikiLeaks, "a embaixada dos EUA em Madri mobilizou importantes recursos nos últimos anos para frear ou boicotar as causas judiciais abertas na Espanha contra políticos e militares americanos", indicou o "El País".
A primeira das causas se refere à morte do cinegrafista José Couso, em Bagdá, provocada por disparos do exército americano em 2003, durante a invasão do Iraque.
A Justiça espanhola reabriu o caso recentemente, e emitiu três ordens de prisão contra militares americanos.
Outra das causas é a investigação aberta pelo juiz Baltasar Garzón (suspenso de suas funções em maio) após um processo por tortura na prisão de Guantánamo de um taleban de nacionalidade espanhola, Hamed Abderraman Ahmed.
O terceiro processo refere-se às escalas feitas na Espanha por voos secretos americanos usados para transportar prisioneiros para Guantánamo.
Por este caso, a promotoria espanhola pediu em maio a prisão de 13 dirigentes da CIA.
O "El País" destacou que o ex-embaixador Eduardo Aguirre, que permaneceu no cargo durante a administração Bush, "coordenou pessoalmente muitas das pressões exercidas sobre o governo espanhol e as autoridades judiciais espanholas" para que estes casos fossem arquivados.
ENTENDA
Ainda em julho deste ano o juiz espanhol Santiago Pedraz ordenou a busca e captura dos três militares americanos suspeitos de envolvimento na morte de José Couso, morto em 8 de abril de 2003, em um polêmico e notório ataque do Exército americano ao Hotel Palestina, lotado de jornalistas estrangeiros, em Bagdá, no Iraque.
Pedraz pediu ainda autorização ao Conselho Geral do Poder Judiciário para viajar ao Iraque entre outubro e novembro deste ano para a inspeção do local onde ocorreram os fatos, informaram fontes judiciárias.
Na época, o Pentágono alegou que as tropas viram foguetes sendo lançados da sacada do hotel, e por isso decidiram abrir fogo contra o prédio, que abrigava repórteres de vários países trabalhando para os principais meios de comunicação internacionais. As justificativas foram rechaçadas pelos jornalistas.
A ação das tropas americanas matou também o repórter Taras Protsyuk, da agência de notícias Reuters.
Três militares --o sargento Shawn Gibson, o capitão Philip Wolford e o tenente-coronel Philip DeCamp-- foram os responsáveis pelo ataque, lançado de um tanque de guerra posicionado próximo ao hotel.
Investigações dos EUA na época apontaram que os soldados agiram corretamente e o então secretário de Estado Colin Powell reafirmou que a ação era justificada, encerrando qualquer possibilidade de inquérito ou compensação às famílias das vítimas.
No início de julho deste ano, contudo, a Corte Suprema espanhola ordenou à Audiência Nacional que reabrisse a investigação sobre a morte do repórter, ao considerar que os responsáveis pela estratégia bélica, de bombardeio sobre pessoas e bens protegidos em conflito armado, devem ser responsabilizados criminalmente.
folhaonline