Batalha de Alcântara, 1580: o Reino Conquistado

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João Vaz

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Batalha de Alcântara, 1580: o Reino Conquistado
« em: Outubro 19, 2010, 04:09:34 pm »
Guerra por um Reino


Panorâmica de Lisboa, gravura de Braun e Hogenberg (1572)

Após a morte do jovem rei D. Sebastião na derrota catastrófica da sua grandiosa expedição militar em Alcácer-Quibir em 1578, seguiu-se em Portugal tempos conturbados envolvendo a decisão sobre o sucessor do trono português. Apesar das várias candidaturas mais e menos fortes (e realistas), Filipe II de Espanha e D. António Prior do Crato (filho ilegítimo do infante D. Luís) emergiram como os candidatos mais apoiados, respectivamente pela nobreza e alto clero pela parte do monarca castelhano e do povo e do baixo clero pelo defensor do reino português, reflectindo a profunda clivagem política ocorrida no reino imerso graves dificuldades económicas, em plena decadência do período de ouro. Um reino cercado, não apenas na metrópole, mas nas frentes distantes do seu império ultramarino face aos poderes navais emergentes da Inglaterra e da Holanda.
 
Após sucessivos desaires e conflitos surgidos das tentativas repetidas de negociação ensaiadas pelo rei de Espanha, os Governadores de Portugal foram ameaçados pela população de Lisboa e fugiram do reino refugiando-se junto das forças espanholas reunidas na fronteira. Face ao derradeiro argumento empregue por Filipe II ameaçando uma invasão militar, D. António Prior do Crato foi proclamado Rei em Santarém pela população local em 20 de Junho de 1580.
 

D. António Prior do Crato, filho ilegítimo do infante D. João (fiho de D. Manuel I), sobrevivente da batalha de Alcácer-Quibir, proclamado rei e defensor do reino em Santarém e derrotado em Alcântara, exilou-se em França e Inglaterra mantendo viva a resistência no exterior até à sua morte em Paris, em 1595

No total, as tropas de Filipe II reunidas nos arredores de Badajoz contavam 24.000 a 25.000 homens (21.000 a 22.0000 infantes e 3.000 cavaleiros), lideradas por D. Fernando Álvarez de Toledo, Duque de Alba, temido ex-Governador dos Países Baixos veterano das guerras da Monarquia Hispânica contra os holandeses. Em Cádiz reuniu-se uma armada de 66 galés, 21 naus e 9 fragatas, sob o comando de D. Álvaro de Bazán, Marquês de Santa Cruz e vencedor da batalha de Lepanto.

Após um rápido avanço das tropas invasoras pelo Alentejo até Setúbal, onde se encontraram com os navios da armada, o único obstáculo temporário foi encontrado no estuário do Sado, mas em poucos dias Setúbal entregou-se às forças superiores combinadas do Duque de Alba e do Marquês de Santa Cruz.

A aproximação a Lisboa exigia grandes cuidados, pois a barra do Tejo estava bem defendida. Porém, o Duque de Alba decidiu abandonar o plano inicial de travessia do rio em Santarém devido às inevitáveis demoras que a manobra implicava. No avanço em direcção à margem esquerda do Tejo (já então conhecida pela “outra banda”), no final de Julho, as forças espanholas desbarataram em Coina 3 ou 4 companhias improvisadas de negros que guardavam o complexo de fornos de biscoito, principal centro abastecedor de mantimentos das armadas da Coroa, recuperando grandes quantidades de farinha e biscoito para o arraial espanhol.


D. Fernando Álvarez de Toledo, 3.º Duque de Alba, Capitão-geral do exército de invasão espanhol em 1580, foi tutor de Filipe II e Governador dos Países Baixos espanhóis, destacando-se pela dura repressão da Revolta dos holandeses. Culminou a sua carreira com a fulgurante conquista de Portugal, já com 70 anos. Morreu em Lisboa em 1582. Óleo sobre tela de Ticiano Vecelio (Palacio de Liria, Madrid)

Entre 28 e 29 de Julho, a maior parte do exército espanhol embarcou nos navios da armada com o Duque de Alba ao som da música militar a bordo da galé capitânia engalanada com pendões e galhardetes do Marquês de Santa Cruz para conduzirem as tropas ao desembarque em Cascais. Durante a travessia, a armada lutou contra ventos contrários e sofreu um atraso a meio da noite ao largo de Sesimbra até que, dobrado o Cabo Espichel, prosseguiu a sua rota até se apresentar frente a Cascais. Sem demora, foi comunicada às tropas a ordem de desembarque segundo a qual deveriam partir em simultâneo cada um dos pequenos esquifes de transporte de tropas transportando 20 soldados à vez. Na vanguarda seguiria o Mestre de Campo Geral Sancho de Ávila com 1.500 piqueiros alemães e 3 companhias de arcabuzeiros napolitanos e espanhóis para formarem juntos um esquadrão que estabeleceria a testa de ponte. A segunda vaga seria composta pela infantaria dos Terços de Nápoles, Lombardia e Sicília que formariam outro esquadrão, acompanhados por 15 a 20 ginetes (cavalaria ligeira) para reconhecimento do terreno. Finalmente, seria desembarcada toda a bagagem e mantimentos, assim como os restantes contingentes a bordo da armada. A 30 de Julho, o Duque de Alba escreve da ermida de Nossa Senhora da Guia a Filipe II comunicando-lhe o bom sucesso do desembarque, descrevendo-lhe o decurso da operação.


D. Álvaro de Bazán, 1.º Marquês de Santa Cruz, veterano das guerras no Mediterrâneo contra as forças navais turcas do Império Otomano, vencedor da batalha de Lepanto, comandou a armada espanhola na invasão de 1580 e obteve sucessos históricos na batalha de Vila Franca do Campo ao largo da ilha de São Miguel e na tomada da ilha Terceira, submetendo os Açores entre 1582 e 1583. Permaneceu em Lisboa onde morreu nas vésperas da partida da "invencível" Armada em 1588. Museo Naval de Madrid.

Após reconhecimento aproximado da costa por 2 galés, a armada espanhola deu início ao desembarque nas proximidades de Cascais, escolhendo a Lage do Ramelo, uma extensa plataforma rochosa (próximo às arribas onde mais tarde se ergueu o forte de Nossa Senhora da Guia). Porém, a ordem estabelecida na véspera foi alterada, tendo desembarcado na frente o Mestre de Campo Rodrigo Zapata que, com alguns mosqueteiros, estabeleceu local seguro para defender a zona de desembarque. Logo em seguida, saíram os mosqueteiros dos Terços de Nápoles e Sicília, o contingente alemão e as tropas italianas, formando 3 esquadrões que marcharam até à ermida. O Duque foi transportado num cadeirão, pois não tinha sido possível desembarcar os cavalos. Defrontaram-se do lado português com uma resistência pouco superior a 300 cavaleiros e 600 a 800 soldados apoiados por apenas uma peça de artilharia, o que significou que a defesa só foi possível quando as embarcações espanholas se encontravam em plena operação de desembarque. No entanto, as escopetas (espingardas ligeiras) dos portugueses não possuiam alcance equivalente aos mosquetes espanhóis.

Na manhã seguinte, as tropas espanholas transferiram para terra mantimentos e munições, além de 3 canhões (2 de grande calibre e outro médio), o trem de mulas, cavalos e a infantaria restante. O grosso das forças defensoras aguardavam sob D. Diogo de Meneses com 300 cavaleiros e 3.000 soldados recrutados à pressa protegidos por uma arriba rochosa. Duas peças de aritlharia ligeira colocadas numa zona alta compunham o apoio à defesa da zona ribeirinha. Desperdiçando uma vantagem táctica óbvia, os portugueses desmoralizados retiraram após uma escaramuça abandonando os canhões no terrno e recuando para as muralhas de Cascais. Pouco depois, a própria fortaleza foi bombardeada pelas 3 peças espanholas e foi já com grandes estragos sofridos que a guarnição finalmente cede e abre as portas aos atacantes. O total das forças portuguesas em Cascais foi estimado em 9.000 soldados e 400 cavaleiros.

No dia 30, flutuavam bandeiras brancas no castelo de Cascais. Alguns elementos da guarnição são enforcados e os restantes enviados às galés, mas o Duque de Alba decide tomar uma medida punitiva drástica, ordenando a decapitação pública do líder dos defensores D. Diogo de Meneses como castigo exemplar destinado a desmoralizar as guarnições das restantes fortificações. A sentença foi pronunciada publicamente, acusando-o de rebelde e responsável pela sublevação popular armada. Contra estas acusações, o indignado D. Diogo de Meneses respondeu invocando a vingança divina sobre o Duque de Alba por esta injustiça, pois nunca jurara fidelidade ao rei de Espanha não podendo por isso ser considerado rebelde. Após a sua execução em Cascais, D. António nomeou o conde de Vimioso D. Francisco de Portugal general das tropas portuguesas.

Durante o trajecto das tropas invasoras ao longo da margem direita do Tejo, a marcha para Lisboa  foi pontuada por episódios violentos. Para grande irritação do Duque de Alba (expressa na sua correspondência com o rei e os oficiais), e apesar das suas instruções disciplinares para não atentarem contra cidadãos nem propriedades portuguesas, alguns soldados e oficiais do exército invasor não hesitaram em cometer abusos. Com impressionante regularidade, estes saquearam os locais por onde passaram, o que levou o Duque a aplicar duros castigos sucedendo-se dezenas de enforcamentos, decapitações e detenções em galés. Um rasto de violência que se traduzia em desentendimentos com a população e até em algumas baixas no próprio campo espanhol.

Após a tomada de Cascais, o exército e armada de Filipe II confrontaram-se no seu caminho com a maior fortificação do reino, a fortaleza de São Julião da Barra com uma forte guarnição de 600 homens sob o alcaide Tristão Vaz da Veiga. Recorrendo aos serviços do engenheiros militar Antonelli, foi preparado o terreno e instalada uma bateria de 20 canhões no monte “padrão” sobranceiro à fortaleza (actual Joint Force Command da NATO), principal ponto fraco, de onde começaram a bater furiosamente os baluartes portugueses durante 5 dias. Os ataques prosseguiram com assaltos de cavalaria, mantendo as galés espanholas do Marquês de Santa Cruz o bloqueio naval do reduto. Após sofrerem grandes danos e apesar de ensaiarem algumas saídas de cavalaria portuguesa para tentar neutralizar os atiradores espanhóis sem grande resultado, inciaram-se conversações entre o alcaide e o Duque de Alba, resultando em pouco tempo na aclamação de Filipe II e na returada dos defensres com a rendição no dia 12 de Agosto.  

No mesmo dia em que a fortaleza de São Julião da Barra capitulou, o capitão da pequena plataforma artilhada erguida próximo do areal da Cabeça Seca à entrada da barra do Tejo, também abandonou o posto e retirou-se para Lisboa levando a artilharia com apoio prestado por D. António e ocupando o seu lugar no arraial de Alcântara, onde as forças defensoras principais se preparavam para o embate decisivo. Recebidas estas boas notícias a bordo so seu navio, o Marquês de Santa Cruz mandou avançar a armada de 60 galés atravessando o canal de navegação agora desimpedido entre a fortaleza de São Julião e os bancos de areia da Cabeça Seca, ancorando a vanguarda dos seus navios no limite da zona de tiro da torre de Belém, que ainda resistia. Apenas esta fortificação e a Torre Velha de São Sebastião, em Porto Brandão, permaneciam como obstáculos entre a armada espanhola e a capital portuguesa. Apercebendo-se de que os navios portugueses – 9 galeões e 30 a 40 navios de médio e pequeno porte – haviam recuado rio acima até à frente ribeirinha da capital e não ofereciam qualquer resistência activa, o Marquês de Santa Cruz comunicou ao capitão-mor da armada portuguesa, Gaspar de Brito, a exigência de rendição, prontamente recusada por este.

Na realidade, com a rendição de São Julião da Barra, as forças combinadas espanholas controlavam a barra do Tejo tendo submetido as principais fortificações e bloqueado a armada defensora no rio, às portas da capital. Só então foi mandada embarcar para a grande ofensiva contra Lisboa a maior parte da cavalaria espanhola que permanecera em Setúbal após a sua conquista no final de Julho. As galés espanholas iniciaram o avanço subindo o Tejo e fazendo recuar a armada de D. António até às imediações de Belém. No dia seguinte, algumas galés desembarcaram a cavalaria destacada de Setúbal que aguardava já na margem esquerda.

Entretanto, alarmada perante a desordem e confusão reinantes nas tropas portuguesas na capital, a própria Câmara Municipal de Lisboa instigou D. António a ordenar a defesa da cidade, na falta da qual entregar-se ao Duque de Alba. Apenas algumas antes, D. António havia passado revista ao improvisado destacamento de voluntários reunidos no Terreiro do Paço, mas a maioria das tropas consistia em recrutas aliciados à pressa com mercês e privilégios. D. António, apesar dos escassos meios militares de qualidade à sua disposição, deslocou as forças possíveis no início de Agosto assentando arraial nos arrrabaldes de Alcântara, comunicando: “Eu ElRey faço saber (...) que eu com ajuda de Deus tenho determinado de me pôr em campo e dar batalha a meus inimigos de que espero que nosso Senhor me dará victoria”. As poucas armas e munições remanescentes da grande expedição marroquina de 1578 liderada pelo seu malogrado sobrinho D. Sebastião haviam sido transferidas para as fortificações da barra do Tejo e embarcadas como armamento dos galeões e navios da armada. Por esta razão, quando as tropas espanholas entraram finalmente em Lisboa, não restava nos Armazéns da Coroa uma única lança ou arcabuz, nem um grão de pólvora.

O cauteloso, mas firme, avanço naval espanhol no Tejo foi protagonizado por 60 galés cuja vanguarda era formada pelas 3 principais, denominadas “capitânias”, das respectivas esquadras de Castela, Nápoles e Sicília, seguidas pelas galés “patronas” e as restantes organizadas em fileiras de 4. Na retaguarda seguiam cerca de 60 caravelas e outros navios ligeiros com os abastecimentos da armada. No campo dos defensores, a armada portuguesa compunha-se por uma vanguarda de 9 galeões liderados pelo São Martinho (que se iria distinguir na campanha da "Invencível" Armada contra os ingleses 8 anos mais tarde) auxiliado por um agrupamento improvisado de cerca de três dezenas de naus e urcas. Havia sido inicialmente colocada ao largo de São Julião da Barra e posteriormente frente a Belém em apoio às posições defensivas de D. António na encosta de Alcântara.

No seu arraial, D, António dispunha de uma força calculada entre 9.000 a 10.000 homens mal armados entre os quais se encontrariam 5.000 a 6.000 “homens do povo” e perto de 1.000 cavaleiros, incluindo alguns veteranos do Norte de África e um punhado de marroquinos, com um núcleo de “corredores de cavalo” repartido em 6 companhias chefiadas respectivamente por D. Diogo de Meneses “o Roxo”, D. João Coutinho (conde de Redondo), Sancho de Tovar, Duarte de Castro, Manuel Mendes e outro não nomeado. Contavam-se, ainda, segundo as estimativas generosas de outro cronista, 7.000 “escopeteiros” (espingardeiros) auxiliados por forças irregulares constituídas por 4 ou 5 “bandeiras” de negros, totalizando um campo defensivo de cerca de 10.000 homens. As tropas eram comandadas pelo Coronel D. Fernando de Meneses, secundado por um Mestre de Campo improvisado, o frade carmelita Estêvão Pinheiro. Ao lado de D. António encontravam-se os seus mais devotados seguidores e apoiantes: o Bispo da Guarda, D. Manuel de Portugal e o conde de Vimioso (respectivamente, irmão e sobrinho do Bispo), os Vedores da Fazenda Diogo Botelho e Manuel da Silva Coutinho, assim como o capelão-mor D. Afonso Henriques.

Nas vésperas da batalha de Alcântara, D. António encontrava-se encurralado, pois o reino a sul do Tejo era já dominado de facto pelas tropas e navios espanhóis, sob reconhecimento de Filipe II como rei de Portugal. Os planos de aliança e tentativas de auxílio que desesperadamente tentara arrancar às Coroas de Inglaterra e de França não surtiram senão vagas promessas e negociações proteladas, totalmente inviabilizadas pelos bloqueios navais das forças espanholas no Norte do país, assim como nas barras do Sado e do Tejo.

A aproximação à capital portuguesa envolveu cuidados redobrados, provocados pela proximidade do líder inimigo e pela importância de preservar boas relações com o povo conquistado. O rei preveniu repetidamente o Duque para que a tomada de Lisboa decorra a todo o custo “sem sangue nem saque”, pois era sua intenção entrar na capital no mais breve espaço de tempo para sossegar os seus novos súbditos. A situação assumiu contornos teatrais com uma manobra dilatória de D. António. A 17 de Junho, com as tropas espanholas acampadas em Belém, o Prior do Mosteiro dos Jerónimos convenceu o reticente Duque de Alba a embarcar com o seu filho, o Prior de Toledo, para encetar o diálogo com o Prior do Crato num encontro secreto nocturno a bordo de uma galé surta no meio do Tejo. Por razões óbvias, D. António acabaria por não comparecer. As posições estavam definitivamente esclarecidas e não haveria cedências de qualquer das partes.

A 21 de Agosto, os defensores envolveram-se numa escaramuça com as tropas espanholas que efectuavam o reconhecimento do campo inimigo. Apercebendo-se da aproximação, a cavalaria e parte da infantaria portuguesa saíu ao seu encontro. Em resposta, o Duque de Alba envia os ginetes, 3 companhias de cavalaria ligeira e alguns arcabuzeiros a cavalo que conseguiram capturar 80 cavalos e fizeram perto de 30 prisioneiros, sem baixas espanholas. Não obstante a nítida superioridade das forças do Duque de Alba, os seus alojamentos foram bombardeados pela torre de Belém e pelos galeões de D. António, mas não tardou muito até que o Duque instalasse a artilharia pesada com que respondeu ao fogo inimigo obrigando os galeões a retirar-se até à foz da ribeira de Alcântara e submeteu a torre manuelina em menos de 2 dias.

Nas vésperas da batalha, o Duque de Alba propôs novas negociações com D. António para um acordo que evitasse violência na capital, mas o líder português aproveita a iniciativa apenas para atrasar o avanço espanhol. A decisão era irredutível: lutar até ao fim. Sem os espanhóis saberem, poucos dias antes da batalha o capitão-mor de Lisboa D. Pedro da Cunha tinha preparada uma pequena esquadra pronta a conduzir D. António para o Brasil, apoderando-se daquele território para continuar a sua luta.

Depois de alojadas as forças espanholas em Belém, as tropas inimigas enfrentaram-se em escaramuças resultantes de ataques esporádicos lançados de parte e doutra. Junto ao rio, a artilharia espanhola visou com sucesso os galeões portugueses, mantendo-os ao largo e impedindo-os de bombardear as suas posições. A 24 de Agosto, as galés do Marquês de Santa Cruz fundearam ao largo de Belém. Nesse dia, os exércitos adversários acampam à vista um do outro, nas margens opostos da ribeira de Alcântara que os separava, criando uma linha defensiva natural.

O campo português entrincheirou-se na margem oriental próxima de Lisboa desde a foz na confluência com o Tejo até ao actual alto dos Prazeres, enquanto o arraial espanhol dominava a margem ocidental ocupando-a desde a margem do rio até ao alto de Santo Amaro, tendo por quartel-general improvisado o mosteiro de Belém onde se alojara o Capitão-geral Duque de Alba. A antiga e única ponte que unia as margens da Ribeira de Alcântara estava nas mãos dos portugueses. As forças defensoras concentravam-se numa sólida posição defensiva apoiada por obstáculos naturais, por isso a iniciativa permanecia do lado espanhol. Entre a bateria de artilharia que protegia as posições portuguesas um olhar atento descobriu a famosa Peça de Diu (hoje no Museu Militar de Lisboa), canhão colossal medindo 6 metros e pesando 19,5 toneladas trazido da Índia na primeira metade do séc. XVI, aqui transportado dos Armazéns da Coroa em Lisboa à força de braços das regateiras (segundo certos testemunhos) até à Ribeira de Alcântara.

A Ribeira não dispunha de areal na foz, terminando as suas margens abruptamente nas águas do Tejo. A ponte de pedra era a única passagem segura. O Duque assinalara algumas fraquezas nas trincheiras portuguesas que iria aproveitar na batalha do dia seguinte. A artilharia espanhola foi disposta de modo a alcançar toda a frente das posições portuguesas, desde a ponte até às trincheiras mais avançadas. Para confundir e desgastar os defensores, os músicos espanhóis tocaram alto e bom som durante a noite anunciando falsos preparativos para a batalha.


Desenho legendado da batalha de Alcântara, descrevendo as operações militares do exército e da armada de Espanha, perspectivadas das ladeiras adjacentes, destacando-se a torre de Belém, o mosteiro dos Jerónimos. Em último plano, as galés do Marquês de Santa Cruz irrompem sobre os galeões portugueses encurralados e inactivos. Possivelmente, a autoria dever-se-á ao engenheiro militar Bautista Antonelli, cuja correspondência com Filipe II inclui referências a desenhos dos alojamentos dos exércitos e da própria batalha que realizou a pedido do monarca. Biblioteca Nacional de Lisboa (Biblioteca Digital)
Detalhes das legendas e imagem em alta definição

Inicialmente, o Duque formou as tropas em 3 grandes esquadrões (2 de infantaria e uma de cavalaria) colocados lado a lado nas imediações da ponte de Alcântara. No esquadrão central encontrava-se o Duque com toda a infantaria espanhola e parte dos “piqueiros” alemães com 6.000 homens, à sua direita o esquadrão do Coronel Prospero Colonna constituído na maior parte por italianos e os espanhóis e alemães restantes do esquadrão central com pouco menos de 6.000 homens. O último esquadrão, mais afastado à esquerda, compunha-se pela cavalaria cujo capitão era D. Fernando de Toledo.

Neste dia de véspera as tropas espanholas receberam instruções detalhadas para a batalha do dia seguinte, enviadas pelo Duque de Alba a partir de Belém. A manobra envolvia a ofensiva combinada de todas as forças marítimas e terrestres utilizando o máximo poder disponível nas mãos dos generais de Filipe II para uma rápida resolução do conflito. Adivinhava-se uma batalha de contornos muitos peculiares, colocando simultaneamente cada lado o seu exército em campo e a sua armada no rio em plena vista uns dos outros. Dois exércitos e duas armadas defrontando-se na luta entre dois reis.

De acordo com a táctica do Duque de Alba, as manobras ofensivas do ataque espanhol decorreriam em simultâneo de madrugada, assim que a visibilidade natural o permitisse. A ofensiva naval planeada previa a utilização de apenas 12 galés e 11 “naves”. No Tejo, o Marquês de Santa Cruz avançaria com a armada contra os navios portugueses encurralados a Oriente de Alcântara, cuja invulgar passividade beneficiara grandemente o inimigo desde o desembarque em Cascais. Em seguida, afastado o perigo de intervenção da artilharia naval portuguesa, o Duque de Alba desencadearia o ataque espanhol em 3 frentes ao longo da ribeira de Alcântara. Junto à margem do Tejo, os Terços investiriam sobre a ala esquerda portuguesa ao mesmo tempo que as tropas de Sancho de Ávila flanqueariam a formação portuguesa a montante da Ribeira, numa posição mais elevada. Por último, D. Fernando de Toledo atravessaria a ribeira a vau com a cavalaria numa posição um pouco mais a montante de modo a cortar a retirada das forças defensoras.

Uma hora antes do romper da manhã de 25 de Agosto, o velho Duque de Alba já se encontrava no alto de um monte nas imediações da ribeira dominando todo o local da batalha. Iria assistir ao desenrolar da batalha sentado no seu cadeirão. Tal como previsto, as tropas espanholas assumiram as respectivas posições de ataque. Porém, o combate iniciou-se com uma investida imprevista da infantaria italiana a cargo do Coronel Prospero Colonna que se lançou antecipadamente à conquista da ponte de Alcântara. Mas a reduzida área de manobra na ponte reduziu consideravelmente a eficácia da ofensiva e favoreceu temporariamente os defensores que conseguiram repelir as tropas atacantes. A vanguarda italiana foi assim rechaçada e encontrou-se mesmo em dificuldades, exigindo a pronta intervenção de uma força de “piqueiros” alemães liderados pelo Capitão-geral da infantaria italiana Luigi Dovara em auxílio da estreita frente de ataque.

Entretanto, mais acima na encosta, os esquadrões portugueses, algo desordenados, ainda não se encontravam completamente distribuídos nem devidamente formados na manhã da batalha. De facto, a dispersão e o posicionamente algo desorganizado das forças atacantes evitaram danos maiores quando se iniciou a ofensiva espanhola. Aos primeiros sinais de luta, o Prior do Crato assumiu a liderança no campo montando a cavalo e erguendo o estandarte real. Enquanto decorria o ataque frontal no local da ponte, o Mestre de Campo-geral Sancho de Ávila executa a manobra planeada de flanqueamento com as suas 7 “mangas” (companhias) de arcabuzeiros - cerca de 2.000 homens -, afim de desalojar as forças portuguesas das trincheiras. Em apenas meia hora, estas foram transpostas as duas primeiras linhas defensivas e a plataforma de artilharia portuguesa é dominada. Surgiu então a terceira parte da ofensiva, com a cavalaria espanhola liderada por D. Fernando de Toledo (dispondo arcabuzeiros na vanguarda, seguidos de ginetes e “cavalos ligeiros”, e a cavalaria pesada, ou “homens de armas”, na retaguarda) carregando subitamente pela retaguarda do campo português desordenando as forças de D. António. Esta acção rápida e contundente provocou a debandada no campo português. D. António ainda acudiu com muitos homens ao flanco destroçado pelo embate espanhol, mas a perda das posições na ponte e da artilharia na encosta mais acima deixava muito pouca esperança aos portugueses.


Ponte de Alcântara, de origem romana ou medieval, foi alargada em 1743 e ornamentada com a estátua de São João Nepomuceno, padroeiro dos nagenates. Demolida em 1887 para as obras do caminho de ferro. A sua posição estratégica na aproximação a Lisboa levou à concentração da ofensiva frontal do exército de Filipe II nas suas imediações (gravura do séc. XIX)

Sob o bombardeamento cerrado da artilharia espanhola que entretanto entrara em acção na encosta oposta da Ribeira de Alcântara contra as posições portuguesas mais avançadas e receando a interposição da cavalaria atacante entre a retaguarda e a capital, rapidamente as forças desbaratadas puseram-se em fuga. Apesar da resistência de núcleos pequenos mas bem organizados de portugueses, como o esquadrão que chefiado por Duarte de Castro que defendeu com valentia as forças em retirada, os defensores dispersaram em desespero abandonando as armas pelo caminho enquanto eram perseguidos pela infantaria e cavalaria espanhola até à entrada nas ruas de Lisboa. No campo atacante, as tropas espanholas concentraram o grosso dos efectivos no grande esquadrão central.

No culminar da batalha verificaram-se actos de bravura em ambos os campos; o indómito Fr. Estêvão de Sampaio que, da garupa do seu cavalo combateu com um arcabuz, feriu um alferes espanhol a quem retirou a bandeira que levava, enquanto o capitão espanhol D. Fernando de Ayala galgou as íngremes posições das trincheiras portuguesas até se apoderar de um bandeira de D. António.

Desprovida de defensores, a população da capital assistiu impotente à entrada das primeiras tropas invasoras que acorreram a tomar conta dos principais edifícios como a Casa da Moeda, a Casa da Índia e os Armazéns da Coroa, evitando o saque generalizado pelos próprios camaradas de armas. Só os arrablades lisboetas não foram poupados à ganância dos soldados vitoriosos. Pouco depois, os vereadores da Câmara entregaram as chaves da cidade ao Duque de Alba, reconhecendo Filipe II como rei de Portugal.

Apenas a batalha naval, prevista e preparada pela armada espanhola, não teve lugar sem o benefício do vento nem de maré favoráveis. Desmoralizados e revelando total incapacidade de comando e reacção muito provavelmente por entendimento com as forças inimigas, os capitães dos navios portugueses renderam-se facilmente ao Marquês de Santa Cruz após um breve bombardeamento das galés espanholas. Face à superioridade numérica, material e anímica espanhola, a única vantagem do lado português revelou-se afinal o meio menos eficaz: os navios da armada. Às forças navais portuguesas não faltaram os meios mas sim o empenho e enquadramento necessários, na ausência de uma liderança isenta, forte e decidida. De acordo com um autor português escrevendo no início do séc. XVII, os navios que defendiam a entrada no Tejo da armada espanhola não passavam de uma “armada sin cabeça y sin govierno”.

Terminou deste modo a única campanha militar decorrida no reino em quase 200 anos, também combatida por um bastardo real à semelhança do Mestre de Avis. Só que desta vez, terminando em derrota. Do lado português, estimaram-se as baixas em cerca de 2.000 mortos, além de muitos prisioneiros entre os quais alguns fidalgos. Cercado o outeiro de Alcântara por milhares de tropas espanholas, D. António desarmou-se e retirou-se apressadamente do campo de batalha com o estandarte real enrolado e a salvo trazido pelos seus partidários mais próximos, tomando o caminho directo a uma das portas de Lisboa com alguns companheiros, mas não sem antes ser ferido com dois golpes na cabeça desferidos durante a perseguição movida por alguns cavaleiros espanhóis. Despistando os perseguidores através das ruas da caidade, D. António prosseguiu a cavalgada atravessando Vila Franca acompanhado por um grupo de 80 a 100 fieis seguidores, em busca de lugar seguro a partir do qual poderia reorganizar a resistência ao inimigo reunindo apoios locais.

Na verdade, o apoio popular na defesa da capital foi posto em relevo pelas autoridades espanholas. Em relação à quantidade de suspeitos e à sua efectiva condenação durante o início da ocupação espanhola, o próprio Duque de Alba confessou ser tarefa impossível deter todos os apoiantes de D. António, pois “si se hubiesen de prender à todos los que se hallaron con D. Antonio en la batalla, no cabrian en las cárceles”. A 12 de Setembro foi arriado o pendão da cidade de Lisboa e içado o de Filipe II, numa cerimónia solene que culminou a triunfal campanha militar espanhola em Portugal. No dia seguinte, Filipe II foi jurado rei de Portugal na Câmara Municipal de Lisboa. A cabeça do reino estava ganha e com ela, de facto, todo o território continental ficava oficialmente submetido.

A tomada de Lisboa culminou a breve campanha de invasão de apenas 2 meses. Com a submissão da capital portuguesa, ficavam apenas fora do controlo espanhol as ilhas dos Açores que se recusaram a reconhecer Filipe II como monarca legítimo. Ambos os impérios ultramarinos português e espanhol passaram a ser governados por um monarca. Abriu-se assim em triunfo a década de 1580 para a Monarquia Hispânica, em que atingiu o auge do seu poder na Europa. O sabor do sucesso foi efémero, pois a real ameaça para Espanha e Portugal vinha crescendo nos mares sem oposição. Já em 1580, Francis Drake foi armado cavaleiro e intitulado "Sir" pela Rainha Isabel I no regresso heróico do corsário inglês sobrevivente da segunda circumnavegação do globo. Os dados estavam lançados. Portugal e o seu império estavam na linha da frente do grande conflito anglo-espanhol iniciado abertamente em 1585, mas desta vez com o apoio de Espanha. Foi o início da primeira guerra global.  


Medalha comemorativa cunhada após a anexação de Portugal à Monarquia Hispânica ostentando a inscrição ambiciosa de Filipe II: NON SUFFICIT ORBIS (O Mundo Não é Suficiente)


Galeão inglês Golden Hind capitaneado por Francis Drake na segunda circum-navegação do globo (1580). Pormenor de mapa-mundo comemorativo.


Fontes consultadas

CANTO, Eugénio do, Diario de Erich Lassota de Steblovo, polaco ao serviço de Philippe II, 1580-1584 (Coimbra, 1913)

CASTRO, José de, O Prior do Crato (Lisboa, 1942)

Coleccion de Documentos Inéditos para la Historia de España (Madrid, 1842-1895), em particular os tomos VII, XXXI, XXXII, XXXIII e XXXIV.

Diario de Hans Khevenhüller, embajador en la Corte de Felipe II, estudio introductorio de Sara Veronelli, transcripción y edición de Félix Labrador Arroyo (Madrid, 2001)

ESCOBAR, Antonio de, Verdadera Recopilacion de la felicíssima jornada que la Catholica Real Magestad del Rey don Phelipe, nuestro señor, hizo en la conquista del Reyno de Portugal (Valencia, 1586)

HERRERA Y TORDESILLAS, Antonio de, Cinco Libros de la Historia de Portugal y Conquista de las Açores en los Años de 1582 y 1583 (Madrid, 1591), Vol. I

KAMEN, Henry, Philip of Spain (New Haven, 1997)

OLIVEIRA, Julieta Marques de  (ed.), Fontes Documentais de Veneza Referentes a Portugal (Lisboa, 1997)

PARKER, Geoffrey, The Grand Strategy of Philip II (New Haven and London, 1998)

PERES, Damião, 1580, o Governo do Prior do Crato (Lisboa, 1928)

SERRÃO, Joaquim Veríssimo, O Reinado de D. António, Prior do Crato, vol. I 1580-1582 (Coimbra, 1956)

SILVA, Rebelo da (ed.), Quadro Elementar das Relações Políticas e Diplomáticas de Portugal, t. XVI (Lisboa, 1858)

SUÁREZ INCLÁN, Julián, Guerra de Anexión en Portugal Durante el Reinado de D. Felipe II (Madrid, 1897), 2 vols.



(texto adaptado do meu livro As Campanhas do Prior do Crato, 1580-1589: entre reis e corsários pelo trono de Portugal)
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
Pero de Magalhães de Gândavo, História da Província Santa Cruz, 1576
 

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João Vaz

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Re: Batalha de Alcântara, 1580: o Reino Conquistado
« Responder #1 em: Outubro 20, 2010, 10:45:28 am »
Alcântara: o campo de batalha há 100 anos

A Fotografia já tem história suficiente para nos fornecer alguns clichés interessantes.


Vale de Alcântara ao longo da Ribeira orientada a Sul, c. 1920

O local da antiga ponte de Alcântara, onde se concentrou a ofensiva inicial das tropas espanholas em 25 de Agosto de 1580, sofreu alterações radicais.

No século XX, os carris da linha dos carros eléctricos (os "americanos") visíveis na foto seguiam na mesma direcção da ponte. Foto de 1941 (Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa)
Augusto Vieira da Silva, «A ponte de Alcântara e suas circunvizinhanças; Notícia histórica», in Dispersos, vol. III (Lisboa, 1960), p. 43.


Mercado de Alcântara, 1939 (Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa)


Idem

A topografia do Vale de Alcântara sofreu alterações com o lento assoreamento da foz da Ribeira e o seu posterior encanamento e implantação de vias de novas vias de comunicação. Junto ao antigo Largo de Alcântara existiu o Mercado Municipal de Alcântara inaugurado em 1905, no local onde primitivamente estava a ponte de Alcântara, mantendo-se durante boa parte do século XX, até à construção da ponte sobre o Tejo.

A memória de 1580 foi caindo no esquecimento, àparte uma pequena evocação na nomeação da Rua do Prior do Crato (onde se situa a Praça da Armada e o "Quartel dos Marinheiros") que desemboca do lado oriental na Rotunda de Alcântara.

O local onde se erguia a pequena ponte ficou mais tarde conhecido como Largo de Alcântara, depois Praça General Domingos de Oliveira, mas a nomenclatura oficial nunca "pegou". Era a Rotunda de Alcântara popular, entre a Avenida de Ceuta e Avenida da Índia traçadas no Estado Novo, a que se juntou o acesso à então Ponte Salazar / 25 de Abril.

 
Seguem-se algumas vistas da encosta direita da antiga Ribeira de Alcântara onde se posicionou a vanguarda das tropas invasoras.


Rotunda de Alcântara, obras de acesso à ponte Salazar/25 de Abril, 1966
(Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa)



"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
Pero de Magalhães de Gândavo, História da Província Santa Cruz, 1576
 

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carlos duran

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Re: Batalha de Alcântara, 1580: o Reino Conquistado
« Responder #2 em: Novembro 23, 2010, 09:43:12 pm »
Unha vez mais teño que felicitar o señor Vaz polo seu excelente traballo histórico

Ista batalla foi decisiva e e mal coñecida nos dous paises, penso que do lado portugués intentase, as veces, quitar importancia a calidade da tropa portuguesa para mitigar a derrota, cousa que non concorda coas fontes castelás da época que falan de forte resistencia dos portugueses; a acción militar do fillo do duque de Alba foi determinante malia que don Antonio non tiña moitas posibilidades pola falta de apoio da maior parte da nobreza portuguesa.
Na Espanha a historia militar con Portugal e moi desconhecida, teño un libro comezado, xa gostaria que estivese no prelo, titulado: HISTORIA MILITAR DE ESPAÑA Y PORTUGAL, 1128-1801 , espero que ahí quen goste no meu pais poda saber mais diste tema apaixoante, e tamen alguns portugueses, ainda que a algúns deles algunha cousa non lles vai gostar, nada de politica nin nacionalismo, nin portugués, galego, catalán, vasco  ou castelan, SÓ HISTORIA MILITAR. Gostaría de escrivilo en galego mais terá maior coñecemento en castelan-

Unha aperta
Carlos Durán Cao
A verdade nao ten patria