Mugabe recebe caviar e outros luxos enquanto país se afunda
O presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, comemora o seu 85º aniversário no dia 21 com uma festa que terá, entre outros luxos, 2.000 garrafas de champagne Moët & Chandon, 8.000 lagostas, 4.000 porções de caviar, 3.000 patos e 8.000 caixas de chocolate Ferrero Rocher, noticia hoje o jornal britânico The Times.
A população no país está faminta e sem condições mínimas de higiene, o que ajudam a propagar uma epidemia de cólera que afectou mais de 65 mil pessoas, 3.323 das quais morreram, desde Agosto do ano passado.
Nos últimos dias, o Zanu-PF, partido de Mugabe - que está desde 1980 no poder -, pediu doações de empresas zimbabueanas e fez uma lista do que quer receber para as celebrações do aniversário do seu líder, adianta o jornal.
A lista, que inclui ainda 500 garrafas de whisky Johnny Walker Blue Label e Chivas de 22 anos e 16 mil ovos, parece ignorar a situação de crise humanitária da população do Zimbabué, onde existe uma hiperinflação e a taxa de desemprego é de 94%.
Segundo dados das organizações internacionais, 7 milhões de pessoas dependem de ajuda humanitária para sobreviver.
O pedido de doações, afirma o Times, inclui ainda um aviso: «No mealie meal» (algo como «nada de refeição de milho»), uma referência ao tipo de comida que alimenta a maioria da população durante os tempos de crise.
Para os que preferirem enviar doações em dinheiro, o Zanu-PF indica valores entre 45 mil e 55 mil dólares (cerca de 42,4 mil euros) a serem depositados numa conta em nome de Movimento 21 de Fevereiro, a data de aniversário de Mugabe. As doações, obviamente, devem ser feitas em dólares norte-americanos já que os dólares zimbabuenos sofrem uma desvalorização diária devido à taxa de inflação mais alta do mundo.
«É chocante e obsceno», disse um voluntário internacional no pais, lembrando que as lagostas são inviáveis no país e deverão ser trazidas de avião.
A lista de luxos é um sinal preocupante de que Mugabe está pouco disposto a cortar os excessos apesar da crise económica e política e da coligação de governo com o líder da oposição, Morgan Tsvangirai.
No início do mês, Tsvangirai anunciou que o seu partido aceitou integrar um governo de unidade nacional com Mugabe. O governo deve ser formado até meados deste mês.
Em reunião para discutir a crise generalizada no país, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) pressionou governo e oposição para efectivarem um acordo de divisão de poder assinado a 15 de Setembro do ano passado e estipulou um prazo até 11 de Fevereiro.
Desde que assinaram acordo de divisão de poder, a 15 de Setembro, após conturbadas eleições presidenciais sob denúncia de fraude e coerção, Mugabe e Tsvangirai não chegaram a um consenso sobre a divisão dos principais postos ministeriais.
Governo e oposição formaram no dia 30, em Harare, um Comité Conjunto para o Seguimento e Aplicação dos acordos para criar um governo de coligação.
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, que lidera a SADC, afirmou que, com a ajuda do órgão regional, o comité foi formado por quatro membros de cada uma das três partes do acordo entre governo e oposição.
Lusa