VINTE DE MAIO (Olivença, Timor...)

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caedlu

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VINTE DE MAIO (Olivença, Timor...)
« em: Maio 25, 2006, 10:59:11 pm »
VINTE DE MAIO NA HISTÓRIA DE PORTUGAL  
Vinte de Maio. Uma data marcante na História de Portugal.
Vinte de Maio de mil oitocentos e um. Um governador militar, perante um ataque iminente, decide capitular. Afinal, o invasor mais não é que um peão manobrado por uma potência exterior. Lutar para quê ?
Vinte de Maio de mil oitocentos e um. Espera-se que, tal como sucedeu em situações anteriores, tudo volte a ser como antes quando uma verdadeira paz for assinada. O invasor sairá então.
Vinte de Maio de mil oitocentos e um. Olivença capitula, sem disparar um tiro. A população inquieta-se, mas confia. Com o tempo, tudo regressará ao normal.
Muitos anos antes, em mil seiscentos e cinquenta e sete, ocorrera algo idêntico. Quase todos tinham fugido, para regressar onze anos depois. Tudo se recompusera.
Vinte de Maio de mil oitocentos e um.
Não houve sangue. Uns poucos (os pessimistas!) atravessaram o Guadiana. Em Elvas, o invasor encontraria  resistência, bem como em Campo Maior. Na primeira, conseguiu uns ramos de laranjeira. Na segunda, acabou por vencer, mas a que preço!!!
E veio uma paz falsa e logo violada. E outras guerras. E uma paz verdadeira, em que se apagou o vinte de Maio de mil oitocentos e um. Para todos. Mas não para o invasor. .
Vinte de Maio de dois mil e dois. Nasce uma nova nação. Gerada no sofrimento. Combatendo a indiferença. Com sangue, muito sangue.
Vinte de Maio de dois mil e dois. Esta data ficará na História. Vinte sete anos depois do seu acto ilegítimo de ocupação, a Indonésia vê surgir nas suas fronteiras um novo país ao qual quis negar a liberdade, apoiada por um grande deste mundo, em nome da estabilidade do seu próprio regime. Como se se pudessem invadir vizinhos só porque o sistema político não agrada. Não há lei que tal contemple. As instâncias internacionais nunca aceitarão a legalidade da acção.
Em vinte de Maio de dois mil e seis, recordemos esta lição. Portugal não pode esquecer o heroísmo de todo um povo, e pode orgulhar-se de o ter ajudado de forma decisiva. Portugal combateu uma situação de violação do Direito Internacional. Sem desfalecimento. Contra (quase)tudo e (quase) todos. Independentemente do peso dos adversários. Apenas porque acreditou que era justo fazê-lo.
Vinte de Maio de dois mil e seis em Olivença. Madrid mantem a posse da cidade. Ali, ao contrário de Timor, não houve duzentos mil mortos.Nem mil. Nem cem. Nesse aspecto, não pode haver comparações. Mas matou-se uma cultura. Ou, pelo menos,  ela ficou vazia, moribunda. Em duzentos e cinco anos, muito se consegue. Recorrendo à repressão, quando necessário. Às claras, ou discretamente.
Olivença viu ser sangrada a sua cultura e a sua história. Viu gente sua dispersa, numa sangria dos seus filhos. Não morreu na carne. Morreu no espírito. O passado tornou-se um conjunto de sombras vagas, contraditórias, falsidades contra as quais quase não consegue reagir. Perdeu as referências.
Vinte de Maio. Uma data no calendário. Consoante o ano, o início de uma ocupação persistente, contínua, preocupada em apagar um passado de seiscentos anos, numa população que resistiu com fracos recursos e apoios. Ou o início da vida independente de um povo. Que sofreu, mas venceu. Que a diplomacia nunca abandonou. Corajosamente. Crente em princípios.
Mil oitocentos e um. Dois mil e dois.Dois mil e seis, recordando.
Dois vinte de Maio...

Estremoz, 20 de Maio de 2006   Carlos Eduardo da Cruz Luna  

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