Doutrina / Treino / Experiências

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LM

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Doutrina / Treino / Experiências
« em: Abril 07, 2009, 01:00:47 pm »
Não se aprende, Senhor, na fantasia, Sonhando, imaginando ou estudando, Senão vendo, tratando e pelejando. (Luis Vaz de Camões em “Os Lusíadas”)

Apesar de as intervenções EUA/OTAN no Iraque/Afeganistão ainda não terem terminado julgo já ser possível fazer um balanço onde a nossa ("ocidental") doutrina/treino se mostrou menos correcta - nunca esquecendo que não se tratam de guerras convencionais de alta intensidade - e o que aprendemos... por muito que existam por aí "sorrisos" face a algumas argoladas militares EUA/OTAN considero que nada substitui a experiencia que está haver e isso permite, face aos que não participam directamente, aumentar a nossa eficiencia.

Claro que não tenho conhecimentos para continuar este assunto, por isso deixo um texto (retirado do Forum Defesa Brasil, colocado pelo Clermont):

" FUZILEIROS NAVAIS VETERANOS DE COMBATE TROCAM EXPERIÊNCIAS NA CONFERÊNCIA DE LIÇÕES APRENDIDAS.

Por E. W. Powers.

Em julho de 2005, o tenente-general James N. Mattis, general-comandante do Comando de Desenvolvimento de Combate do Corpo de Fuzileiros Navais, Quantico, Virgínia, instruiu o Centro do Corpo de Fuzileiros Navais para Lições Aprendidas para conduzir uma Conferência de Lições Aprendidas por Praças Graduados, de modo a coletar lições dos líderes de combate de linha de frente.

Dezesseis praças graduados (quatorze sargentos e dois cabos) de todo o Corpo, todos com experiência de liderança em combate, participaram da conferência, fornecendo uma rica intercessão de capacidades e habilidades. Eles incluíam tanto graduados da aviação e terrestres, que serviram ou na Operação “Enduring Freedom” ou na Operação “Iraqi Freedom”, ou em ambas. Esse artigo é baseado em comentários francos desses graduados, líderes de frações que lutaram em batalhas, apoiaram as forças que levaram nossos fuzileiros navais através de algumas das mais desafiadoras missões que nosso Corpo já enfrentou.

Eis aqui o que tinham a dizer:

Treinamento básico.

Todo treinamento básico deveria enfatizar “desapaisanamento” e instilamento de agressividade e rudeza. A qualidade do pessoal recrutado é importante. Mesmo havendo apenas uns poucos anos de tempo de serviço entre os graduados e seus novos fuzileiros alistados, há uma “brecha de gerações” com diferentes atitudes e expectativas.

Deve haver mais repetição e maestria demonstrada de habilidades básicas de infantaria antes de deixar a Escola de Infantaria, seja o Batalhão-Escola de Infantaria ou o Batalhão-Escola de Treinamento de Combate dos Fuzileiros Navais.

O Curso de Líder de Grupo de Combate, correntemente conduzido em todo o Corpo, deve ser expandido e/ou modificado para assegurar que ele preencha as atuais exigências de educação militar profissional para graduados que completem o curso com sucesso.

Pessoal.

Os graduados expressaram as mesmas opiniões que os comandantes de elementos de combate terrestre ou de serviço de apoio ao combate, que participaram de conferências prévias de lições aprendidas, sobre a questão de quão rápido uma unidade deve ser aparelhada antes de entrar em zona de combate: 180 dias antes do desdobramento é ideal, 90 dias mal é adequado, mas 120 dias é melhor para fornecer treinamento e ainda cumprir todas as tarefas e responsabilidades, tais como períodos de licença, procurações de advogados, preparação familiar, etc., que são parte da preparação de desdobramento.

Os graduados de um batalhão relataram que eles incorporaram mais de 400 novos fuzileiros navais vindos diretamente da Escola de Infantaria (SOI), durante o ciclo de treinamento em preparação para desdobramento para o Iraque. Um graduado resumiu perfeitamente, dizendo, “As unidades precisam estar estabilizadas com todo pessoal a bordo por um tempo igual ao seu ciclo de treinamento pré-desdobramento.”

Tempo de treinamento pré-desdobramento promove familiaridade e confiança com personalidades e capacidades, levando a crescente coesão da unidade que resulta em crescente efetividade em combate, com menos baixas.

O Programa de Assistência de Frota, que drena potencial humano para apoiar operações de instalações deve ser eliminado para os fuzileiros navais que atravessam o ciclo de treinamento para desdobramento. Os graduados entendem a necessidade de guarnecer bases e estações; entretanto, eles acreditam firmemente que o treinamento pré-desdobramento e o estabelecimento da coesão de unidade são mais importantes que fornecer “corpos” para funções que não são essenciais à preparação de combate.

Treinamento de Pré-desdobramento

A qualidade e efetividade de exercícios de treino de pré-desdobramento direcionados, tais como o Viper Mojave, o Exercício de Armas Combinadas Revisado (RCAX) no Comando de Treinamento da Força-Tarefa Ar-Terra em Twentynine Palms, Califórnia; Operações de Apoio e Estabilidade; e a Desert Talon, são excelentes. O problema é que nem todas as unidades atendem a todas as evoluções de treinamento. Nessas unidades que empreendem o treinamento, nem todos os fuzileiros navais individuais recebem o treinamento.

Os graduados notam que muitos fuzileiros navais não-infantes participam em combate urbano e experimentam numerosos engajamentos enquanto conduzindo operações de comboio sem jamais terem tido as oportunidades de treinamento. O treino com armas coletivas é uma necessidade para todos os fuzileiros navais, pois muitos deles terão de empregar tais armas em combate.

Mais ênfase é necessária em treinamento de pontaria básica, antes e durante o desdobramento. Habilidades em pontaria são perecíveis e precisam ser agressivamente mantidas.

Os instrutores de treinamento pré-desdobramento precisam estar atualizados, pelo menos a cada 90 dias sobre as atuais táticas, técnicas e procedimentos (TTPs) e possíveis missões para estarem certos de que unidades de seguimento recebam o melhor treinamento possível. Mais ênfase deve ser colocada em patrulhamento, operações integradas infantaria-blindados, operações de infantaria motorizada e adestramentos de reação à emboscada.

Os graduados também afirmaram que deve haver mais ênfase em operações de pelotão e grupo de combate, já que essas frações tendem a ser as unidades de ação no Iraque.

Um curso básico de operações de comboio foi conduzida na Base da Reserva Aérea March, Califórnia, e no RCAX, mas ambos foram “infantecêntricos” e ou omitiram, ou ignoraram os fuzileiros navais não-infantes que, realmente, conduzem a maioria das operações de comboios. Parece ser o caso de unidades de apoio tendo de fornecer apoio normal, dia-a-dia, durante o treinamento de pré-desdobramento, portanto elas não recebem o treinamento que, mais tarde se mostraria essencial. Muito da direção no teatro foi à noite, requerendo treinamento em procedimentos de blackout e direção com dispositivos de visão noturna.

Os graduados expressaram uma preocupação de que esteja havendo ênfase em demasia no reconhecimento de IEDs e não o bastante em ações imediatas. Um tema comum era “Uma apresentação de PowerPoint de 30 minutos não é o bastante para preparar fuzileiros navais para operações de comboios ou ameaças de IEDs.”


Treinamento de pré-desdobramento gravado em vídeo para repetição e análise tanto quando o uso de cartuchos SESAMS (Sistema de Marcação de Armas Leves de Efeitos Especiais, Special Effects Small-Arms Marking System) para criar realismo foram impressionantes. Os cartuchos SESAMS realmente atingem os fuzileiros navais, e “dor é igual a memória” para reforçar lições melhor do que qualquer outro auxílio ao treinamento.

O treinamento médico de combate é excelente, e o treino prático deve ser incrementado. Deve haver, treinamento contínuo com os socorristas designados para familiaridade com seus equipamentos e suprimentos, e para manter o relacionamento pessoal próximo desenvolvidos entre socorristas (da Marinha) e os fuzileiros navais em campanha.

Mudanças em primeiros-socorros, tais como o torniquete se tornando a primeira escolha em tratamento de feridos, devido aos tipos de ferimentos experimentados no Iraque, alcançaram o campo rapidamente, assim mostrando resposta rápida às lições aprendidas.

As comunicações permanecem um problema: nunca há equipamento o bastante, comunicações em movimento e além do horizonte são desafiadoras, e o ressuprimento não mantém o passo com a demanda por sobressalentes e baterias. Fuzileiros navais das comunicações parecem estar sobrecarregados e, para os recém-designados fuzileiros, subtreinados.

O rádio de função pessoa (PRR, personal role radio) e as comunicações VHF funcionaram bem em operações urbanas. O Rádio Inter/Intra Equipe de Faixa Múltipla (Multi-Band Inter/Intra Team Radio) foi útil, mas não tanto como o PRR. Os fuzileiros navais receberam muitos sistemas sem nenhum treino, mas se pudessem escolher entre novos e melhores equipamentos sem nenhum treinamento ou confiar em equipamentos velhos e menos capazes, eles queriam o novo equipamento.

Os fuzileiros navais também salientaram a necessidade por contínuo treinamento em higiene e contínua manutenção dela por pessoal médico e líderes de frações.

Consciência cultural e linguagem foram cruciais para o sucesso (*). Os graduados apóiam o treinamento universal de linguagem, mas acham que o Corpo precisa ser seletivo sobre quem é treinado. Habilidades lingüísticas precisam ser constantemente praticadas para serem mantidas e aperfeiçoadas.

TTPs de treinamento pré-desdobramento para postos de checagem (checkpoints) foram consideradas muito boas. A opinião deles era de que unidades efetivamente utilizando as TTPs tiveram poucos problemas com má-identificação de viaturas como hostis.

Armamentos.

A chave para o emprego bem-sucedido de todas as armas, individuais ou coletivas, é seguir os fundamentos cobertos nos treinamentos, tais como limpeza delas. Quase todos os casos de mau-funcionamento com os fuzis M16A2 ou M16A4 foram resultado de cuidado e limpeza impróprios, especialmente do carregador e munição. O clima áspero e constante presença de areia e poeira no deserto tornavam difíceis manter as armas apropriadamente limpas. A bandoleira de três pontos é uma peça crítica no equipamento em combate urbano para o M16, M4 e a escopeta.

A M4 era a arma de escolha para combate urbano. Pois, devido ao seu tamanho, era mais fácil de manobrar e tinha as mesmas características do M16A4 maior.

Todas as guarnições de tanques, viaturas anfíbias de assalto e viaturas blindadas leves precisam ser dotadas com a M4, que era mesmo preferível à atual pistola M9. A M4 fornece maior poder de fogo que a pistola de serviço. E, também, as guarnições de viaturas executam missões de infantaria em numerosas ocasiões, portanto faz sentido que sejam armadas com uma arma de infantaria mais adequada.

As viaturas devem ser armadas com a metralhadora M240, e os metralhadores devem receber treinamento em “tiro de quadril” porque essa era, com freqüência, o método preferido de emprego em áreas urbanas.

A metralhadora leve M249 teve problemas com os mecanismos de segurança e trava. Ela exige uma porção de manutenção, e haviam poucos canos sobressalentes.

A escopeta, em particular o sistema de escopeta de combate Benelli M4 Super 90, com coronha retrátil, era muito apreciada. Ela podia arrombar quase qualquer porta e foi utilizada extensivamente.

Todo mundo deve ser dotado com uma arma de porte, mas não a pistola de serviço M9 de 9 mm, devido a sua carência de poder de parada. Os fuzileiros navais precisam de soluções flexíveis para coldres, tais como coldres ajustáveis de saque para baixo (drop-down holsters) e/ou coldres de ombro, para gostos individuais e cenários.

Quase todos os graduados (todos os graduados infantes) receberam treinamento em armas inimigas antes das operações de combate. Eles utilizaram AK47s de tempos em tempos, particularmente quando percebiam a necessidade de disparar através de paredes e tetos (**).

Auxiliares ópticos e miras de armas aperfeiçoadas foram importantes para o sucesso no combate. Luzes de mira, iluminadores/apontadores de alvo, apontadores infravermelhos e miras ópticas, tais como a Advanced Combat Optical Gunsight, eram excelentes. Elas causaram um enorme acréscimo na letalidade e na habilidade de identificar positivamente os alvos. Houveram problemas ocasionais à noite devido ao clarão auto-produzido, particularmente com as armas automáticas. Todas essas capacidades precisam ser integradas num só sistema, embora mantendo-o leve e simples.

Equipamento Individual

Reduzam a carga de combate dos fuzileiros navais: “gramas iguais a quilos e quilos iguais a dor”. O equipamento precisa ser integrado para se adequar aos fuzileiros individualmente e o Corpo de Fuzileiros Navais deve comprar o melhor equipamento disponível, especialmente quando ele está disponível como itens comerciais de prateleira.

As botas estão cada vez melhores, e os graduados estão satisfeitos com a bota de selva-deserto aperfeiçoada. Ainda assim, eles gostariam de ver botas mais leves. Alguns fuzileiros navais adquirem suas próprias botas de caminhada estilo civil.

O novo sistema de capacete leve Gentex e as placas de inserção de proteção contra armas leves, incluindo a proteção adicional para ombro/braço e virilha, foram grandes. Os fuzileiros navais acham que seria melhor colocar as abotoaduras ao lado da armadura corporal para apresentar uma proteção contínua para o peito.

Outros bons equipamentos protetores incluiam joelheiras e cotoveleiras, particularmente as de poliuretano flexível. A proteção ocular sendo fornecida é excelente. Uma solução inovadora para o problema do embaçamento é limpar as lentes com pasta de dente.

Vários graduados relataram serem envolvidos pelas chamas durante operações de ruptura, portanto eles necessitam de vestimentas retardadoras de fogo, em particular, camisetas, proteção de pescoço e algum espécie de guarda-face. O atual uniforme utilitário é bom, excepto por sua durabilidade em combate.

Há a necessidade por alguma espécie de luva padrão retardadora de fogo, como essas utilizadas pelas tripulações aéreas e mecânicos.

Muito do equipamento de visão noturna está envelhecendo e precisa ser substituído. Motoristas necessitam de dispositivos que forneçam melhor percepção de profundidade. Toda arma coletiva precisa ser equipada com um dispositivo de visão noturna.

Há tipos diferentes demais de baterias para os equipamentos. Com muita freqüência, o suprimento não podia manter o passo com as requisições para baterias, e assim, o equipamento não estava disponível para uso. Futuras requisições devem exigir também o uso de baterias comuns.

Por toda a força-tarefa ar-terra dos Fuzileiros Navais, a média dispendida por cada fuzileiro individual era de cerca de $ 400, com os fuzileiros navais infantes gastando ligeiramente mais. Os mais populares itens comprados particularmente eram sistemas GPS, mochilas e botas.

Extensão das Temporadas

A atual política de rotação, sete meses desdobrados, sete meses em casa é “factível”, pelo menos no futuro previsível. Uma vez que os fuzileiros navais sejam desdobrados para a terceira temporada de dever (como vários desses graduados estavam se preparando), eles podem ser adversamente afetados pelos contínuos riscos do dever.

Há “flexibilidade” demais nos esquemas de desdobramento. As datas desses parecem estar continuamente mudando, normalmente, para mais cedo.

Também há mudanças nas missões, tais como se preparar para uma unidade expedicionária de Fuzileiros Navais e ser enviado para o Iraque. Deve haver uma mescla de desdobramentos e designações de missões de combate para as de não-combate, especialmente após completar três temporadas de dever.

O fator No 1 para conter a tensão do combate é a coesão da unidade. Há a necessidade de existir tempo de descompressão estabelecido para as unidades em retorno, para que elas possam se reajustar da tensão do combate, comunicando-se uns com os outros e preparando-se mentalmente para a transição para a vida de guarnição.

Todos os líderes de GC e acima devem ser treinados para reconhecer sintomas de tensão pós-combate e depressão que podem levar fuzileiros navais a tirar suas próprias vidas.

Os desdobramentos e temporadas de dever agem como grandes filtros para aqueles que verdadeiramente que almejam uma carreira como fuzileiro naval. A dureza e a tensão fazem os fuzileiros navais considerar com cuidado se estão preparados para continuar no Corpo de Fuzileiros Navais. As chaves para retenção são a liderança, especialmental ao nível de frações, e a coesão de unidade para dar aos fuzileiros navais um sentido de realização e orgulho em executar seus deveres.

Finalizando

Por mais de 200 anos, a chave para o sucesso dos Fuzileiros Navais tem sido o desempenho dos fuzileiros individuais e dos praças graduados que os lideram. Enquanto o clima e lugar possam mudar, a qualidade de nossos líderes de frações tem permanecido a um nível inacreditavelmente alto.

Os graduados que participaram dessa conferência representam todos os excepcionais graduados que passaram antes deles e aqueles que servem nosso Corpo, tão bem, hoje em dia. Seus comentários e observações são vitais para a liderança do Corpo de modo a fazer aquelas mudanças e aperfeiçoamentos necessários para assegurar o contínuo sucesso de combate de nossos fuzileiros navais.
________________________

(*): Ué? A guerra já acabou pra se falar em “sucesso”?

(**): Ué 2? Então, devo concluir que os fuzileiros navais americanos não estão satisfeitos com o poder de penetração dos fuzis calibre .5,56 mm? Ou não devo concluir nada?"
Quidquid latine dictum sit, altum videtur
 

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lazaro

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(sem assunto)
« Responder #1 em: Abril 07, 2009, 02:40:17 pm »
Bem interessante.

Estive a procurar o original e encontrei aqui: http://www.military.com/forums/0,15240,83266,00.html

As traduções em Português do Brasil por vezes criam confusão ao invés de clarificar. Sem ofensa, claro!