Guerra em Angola / questões politicas

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papatango

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Guerra em Angola / questões politicas
« em: Março 21, 2006, 02:41:12 pm »
Citação de: "Rui Elias"
E por outro lado o MPLA também só tinha apoios por parte das elites mais "educadas" nos centros urbanos do litoral, formada por alguns negros e mestiços.

O que resultou num conjunto de movimentos que cada um de per si nunca chegaria para agregar grande apoio da generalidade da população negra de Angola.

Portugal teria jogado com essas rivalidades entre os movimentos.

E ganhou tempo e espaço de actuação por causa dessas rivalidades.

Isso teria facilitado o papel militar e politico português por lá, de modo quem em 1974 a situação miltar estava praticamete controlada em Angola, ao contrário do que se passava em Moçambique?

Outro facto teria sido uma colonização portuguesa extensivel particamente a todo o território, ao contrádrio de Moçambique onde a presença branca praticamente se limitava a LM, Beira e pouco mais.


Durante alguns anos, apenas a facção do Daniel Chipenda dava algum a expressão militar ao MPLA, mas após a sua saída e colocação ao lado da FNLA acabou com a capacidade militar do MPLA até praticamente 1974.


Pessoalmente creio que o MPLA não só não tinha fraca expressão, como práticamente não tinha expressão nenhuma.

A pouca que tinha, vinha do leste (A norte a operação da FNLA foi rapidamente debelada e o movimento de Holden roberto, que era uma organização familiar não tinha qualquer importância de relevo).

Angola é quase um quadrado, e portanto para chegar a algum ponto mais no interior e longe da fronteira, é necessário andar centenas quando não milhares de quilometros.

Enquanto o PAIGC conseguia organizar acções com armas pesadas (morteiros de 120mm) e chegou mesmo a ter peças de 120mm rebocadas  que podiam reugiar-se fora da fronteira, o MPLA não tinha nada disso, porque demoraria muito tempo a chegar à fronteira, e um veículo detectado era um veículo abatido.

Aliás, na história dos conflitos modernos, o exército português é o único exército convencional a ter conseguido vencer um conflito contra um exército de guerrilha.

Sinceramente, a ideia passada a toda a gente a seguir a 25 de Abril de 1974, de que a guerra estava perdida e Portugal não tinha já capacidade para lutar, é cada vez mais absurda.

É impossível não pensar nas palavras da administração Kennedy, às quais se juntavam as vozes europeias, afirmando em 1961 que os portugueses estavam condenados e não conseguiríam resistir mais que seis meses.

Seis meses depois, não só a rebelião tinha sido derrotada como o movimento FNLA estava em tal estado, que poucos meses depois praticamente deixou de ter capacidade para agir.

A ideia de que não havia uma solução militar não bate certo com os relatos, com as informações do terreno, nem com as informações que pessoas de dentro do próprio MPLA e mesmo dentro do PAIGC trouxeram a público.

O próprio Nino Vieira afirmou para quem quiz ouvir, que quando Spínola esteve na Guiné, a sua gestão começava a ser extremamente incómoda para o PAIGC.

A luta anti-guerrilha ganha-se através das operações militares e através das operações psicológicas e do contacto com a população.

Se é verdade que havia comunidades com as quais o contacto era dificil ou quase impossível, também é verdade que em muitos casos os habitantes preferiam "negociar" com os portugueses que com os movimentos ditos de libertação.

Dito isto, evidentemente, não quer dizer que muitas das acções levadas a cabo pelo governo não estivessem completamente deslocadas da realidade, e que em muitas regiões das ex-províncias ultramarinas, os colonos não tivessem sido responsáveis por desmandos que acabaram por piorar a situação.

Mas isso são considerações socio-politicas.

A questão relativamente à parte mlitar é bastante óbvia:

Não havia em Angola em 1974 uma oposição armada articulada e capaz de enfrentar com um mínimo de eficácia (quer convencionalmente quer em termos de guerrilha), o dispositivo militar português.

Analizando friamente, e:

1 - Considerando as relações estabelecidas por debaixo da mesa com os governos do Zaire e da Zambia, que oficialmente  continuavam a ser contrários a Portugal, mas que não oficialmente estavam dispostos a colaborar.

2 - Considerando a dificuldade dos movimentos em abastecer qualquer base longe da fronteira e considerando igualmente que no leste havia meios para não só contrariar acções de guerrilha, mas também para ataca-la dentro deo território de países vizinhos

3 - Considerando que se estava a proceder a um movimento de africanização das tropas, que em Moçambique tinham efectivamente atingido mais de 50% do efectivo total.

4 - Considerando que mesmo nas regiões do interior, grandes franjas da população confiavam mais nos soldados portugueses que nos movimentos rebeldes, e que o grau de confiança aumentaria á medida que as tropas fossem sendo africanizadas.

5 - Considerando que por via deste movimento sería cada vez mais dificil a movimentos como o MPLA proceder a qualquer inflistração no território angolano.

6 - Considerando que a UNITA, que era um movimento essencialmente de raíz étnica e que representava a maior etnía angolana, colaborava activamente com o governo, havendo mesmo a possibilidade de membros da UNITA ascenderem aos escalões intermédios da administração.

7 - Considerando que a fronteira sul estava na realidade protegida pela África do Sul

8 - Considerando que a FLEC em Cabinda não conseguiria, pela pequenez do terreno provocar grandes tensões no território, ainda mais por causa das questões étnicas.

Pode-se afirmar que a guerra em Angola não sói estava ganha, como os movimentos ditos de libertação, não tinham meios, força anímica, nem apoio popular para voltarem a levantar a cabeça.

Com uma descolonização com pés e cabeça, esses movimentos teriam sido mais tarde transformados em partidos politicos, os quais, por meio do voto decidiriam o que fazer de Angola.

Aos militares portugueses foi dada a missão de ganhar a guerra em Angola.

Ganharam!

As necessidades politicas, podem no entanto tentar alterar a realidade, por razões de conveniência.

Também o fizeram!

Compete aos cidadãos, de posse de todos os dados, concluir, ajuizar e tirar conclusões.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...