Os mitos da Economia Brasileira

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dremanu

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Os mitos da Economia Brasileira
« em: Julho 10, 2004, 01:20:17 am »
Os mitos da Economia Brasileira
(*) Valter Pereira Appas


A Economia Brasileira sempre foi permeada de MITOS desde os seus primórdios, que acabam afetando-a de uma forma ou de outra. O primeiro mito criado, tem autor e foi documentado: Pero Vaz de Caminha eufórico com a beleza e abundância da nova terra, escreveu ao rei que aqui em se plantando tudo dá.

Não é bem assim, se não implantarmos sofisticados sistemas de irrigação na caatinga do Nordeste por exemplo, não colheríamos nem mandacaru. No Centro-Oeste, que nos últimos anos vivencia um boom na agricultura, se não se corrige o solo antes, qualquer plantio é inviável.

Caminha deveria ter escrito que aqui, se corrigindo o solo, se irrigando e utilizando-se muita tecnologia, aí sim, em se plantando, tudo dá.

Outro MITO que prevaleceu por séculos, é que éramos um país de vocação eminentemente agrícola, que nosso destino era de sermos eternos exportadores de produtos primários. Esse mito, alimentado pela oligarquia rural dominante até a década de 30 do século passado, começou a ser sepultado por Vargas, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Petrobrás e, teve sua última pá de cal lançada por J.K., com a implantação da indústria automobilística dentro do seu famoso plano de metas.

Com a industrialização já em curso, surgiu a onda de que o produto nacional não tinha qualidade, só o que vinha de fora era bom. Hoje, o mundo consome de sapatos a automóveis feitos no Brasil, e não há reclamações.

Mais recentemente, fomos afetados por interpretações equivocadas, que, de tão repetidas, tornaram-se novos mitos sobre a economia. Um deles é que a década de 80 foi a “década perdida”. Afirma-se isso, como se o país tivesse retrocedido em sua trajetória política e econômica durante esse período.

Muito pelo contrário. Nesses anos, fizemos uma transição política da ditadura para a democracia, sem derramarmos uma gota de sangue. Além disso, promulgamos uma das constituições mais liberais do mundo e, todos os indicadores sociais melhoraram, da educação ao saneamento básico. O crescimento econômico foi menor que nas décadas anteriores, mas foi acompanhado de modificações estruturais que permitiram a auto-suficiência do país em vários setores, como siderurgia, papel, celulose, alumínio e outros, permitindo inclusive a exportação desses produtos, e tendo como conseqüência a obtenção dos superávits comerciais gigantescos obtidos nesse período. Portanto, a chamada “ década perdida”, é somente mais um mito equivocado dos muitos que povoam nossa trajetória como nação.

As consequências dessas visões equivocadas para o país são enormes.
Bilhões de dólares deixam de serem investidos na economia exatamente pelas distorções de percepção que essas análises míopes fazem sobre os investidores.

Nos últimos anos, com o processo de globalização e a proliferação de agências classificadoras de risco, é recorrente que qualquer crise que ecloda na mais remota região do planeta, o país mais afetado será sempre o Brasil.

Na recente crise do Iraque, que culminou com a invasão desse país pelos Estados Unidos, o nervosismo por aqui era tanto, que a impressão é que Brasília, e não Bagdá, é que seria bombardeada. Pois bem, a guerra começou e acabou e por aqui não houve nenhum reflexo, pelo contrário, o fim do conflito coincidiu com a melhora de todos os nossos indicadores, a queda do preço do petróleo, permitiu, inclusive, uma baixa nos combustíveis, ajudando no refluxo da inflação.

É difícil diagnosticar as razões sociológicas e históricas desse tipo de comportamento coletivo de um povo. Nos últimos 50 anos passamos do 46o. lugar para nos colocarmos entre as dez maiores economias do mundo, e, politicamente, nos consolidamos como uma democracia exemplar. Mas a sensação é que fracassamos, apesar das evidências em contrário.

Reverter esse sentimento, através da informação isenta de nossa realidade, e mostrando claramente os avanços significativos alcançados até aqui, talvez seja o primeiro passo para afastar o derrotismo infundado que se disseminou entre nós.

(*) Valter Pereira Appas, autor desta coluna, é historiador, especializado em História Econômica do Brasil, professor de Geopolítica e Economia
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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FinkenHeinle

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« Responder #1 em: Julho 11, 2004, 03:41:16 am »
Salve Dremanu!


Texto interessante! Tens a fonte?


Talvez o mito mais prejudicial é que "O Brasil é a nação do futuro", como se Deus tivesse colocado no nosso destino isso, e, sem o menor esforço, poderíamos alcançá-lo!!!

A verdade é que, ao invés de exaltarmos nossas qualidades, esquecendo os problemas, devemos atacá-los, de forma à sanar as deficiências de nosso país!!!

É comum ver na TV alguém falando que o brasileiro é um povo receptivo, que é feliz, alegre, que faz Carnaval apesar de todos os problemas!! Mas nos esquecemos, então ("Pão e Circo" lembram algo???) não podemos resolvê-los!!!
Um Forte Abraço.
André Finken Heinle
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"Em condições normais, corro para vencer e venço. Em situações adversas, também posso vencer. E, mesmo em condições muito desfavoráveis, ainda sou páreo." (AYRTON SENNA)
 

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dremanu

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« Responder #2 em: Julho 13, 2004, 01:09:41 am »
Citação de: "FinkenHeinle"
Salve Dremanu!


Texto interessante! Tens a fonte?


Talvez o mito mais prejudicial é que "O Brasil é a nação do futuro", como se Deus tivesse colocado no nosso destino isso, e, sem o menor esforço, poderíamos alcançá-lo!!!

A verdade é que, ao invés de exaltarmos nossas qualidades, esquecendo os problemas, devemos atacá-los, de forma à sanar as deficiências de nosso país!!!

É comum ver na TV alguém falando que o brasileiro é um povo receptivo, que é feliz, alegre, que faz Carnaval apesar de todos os problemas!! Mas nos esquecemos, então ("Pão e Circo" lembram algo???) não podemos resolvê-los!!!


A fonte deste texto foi um amigo Brasileiro que o passou para mim.  :D

Não tem nada de errado em o povo Brasileiro ser receptivo e feliz, acho que isso é importante, mas sem dúvida que se deveria dar enfâse a qualidades que são mais importantes para o futuro do país, taís como disciplina, trabalho, seriadade, etc.

Mas creio que o problema do Brasil é mais o sistema que qualquer outra coisa. Tem muita gente trabalhadora e séria no seu país, o problema é a corrupção, os maus salários, e a má qualidade de serviços do governo. É desmotivante para as pessoas que queriam fazer as coisas como deve ser, lidar com um sistema que não premia esse tipo de conduta, e que antes incitiva a que tudo se faça à base do "jeitinho".

Por isso as pessoas são como são....
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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J.Ricardo

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« Responder #3 em: Outubro 19, 2004, 09:43:43 pm »
Citação de: "dremanu"
Por isso as pessoas são como são....


Não gostei do comentário, me pareceu bem preconceituoso, esse negócio de jeitinho é bem regionalizado, o povo brasileiro é muito lutador, mas convivendo com anos e anos e hiperinflação, tivemos de aprender a "nos virar", e ainda o governo premia o mal-empresário, o mal-profissional, pois apenas fiscaliza quem anda direito, aquele que sonega fica invisível para o governo. Um grande problema que vejo no Brasil é falta de visão de nossos governantes, os impostos cobrados no Brasil são iguais aos Suécia, só que lá o governo retorna esses impostos através de melhorias para a população e aqui essa dinheirama toda se perde com a "burrocracia" do governo. Outra coisa crusial é a falta de investimentos em educação, nossas escolas são uma piada, para vocês terem idéia (vou ficar muito envergonhado por isso) um professor do ensino médio no estado de São Paulo (o mais rico da federação) ganha por mês cerca de 280 euros, nossas escolas são sucateadas, aliás nosso sistema de ensino já estava sucateado nos anos 80!!! Os alunos são como reis nas escolas, o professor não pode chamar-lhes a atenção pq isso seria considerado expor o aluno a uma situação constrangedora, o aluno pode fazer o que quiser dentro da sala de aula, o aluno pode ficar o ano inteiro com notas vermelhas que mesmo assim ele é aprovado, sabem porquê? Para que quando os técnicos do FMI pegarem as planilhas de desempenho escolar verificarem que a repetência dos alunos diminuiu e assim liberarem mais empréstimos para o goverdo do estado. Infelizmente com esta política estamos "matando" uma geração inteira de jovens que estão terminando o ensino médio, saem da escola totalmente desmotivados por não saberem nada, agora lhes pergunto um país assim tem futuro??? Graças a Deus esta política não é adotada em todo país, mas vale o aviso para meus colegas brasileiros que visitam este site não votarem em Geraldo Alkmin (governador do estado) para presidente nas próximas eleições (esse é o desejo dele e do partido da oposição o PSDB)! Se ele ganhar corremos o risco de ver todo o país ser aniquilado pela ganância eleitorera deste "cidadão"!
 

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fgomes

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« Responder #4 em: Outubro 19, 2004, 10:54:27 pm »
Realmente temos problemas semelhantes, o nosso sistema beneficia os infratores e prejudica quem quer fazer as coisas direito. Quanto à nossa (des)educação produz analfabetos com 9 anos de escolaridade, que acham que o imperador D. Pedro I do Brasil e rei D. Pedro IV de Portugal, tem estes diferentes títulos devido há diferença de fusos horários, ou que Salazar foi o último rei de Portugal, ou que foi Marcelo Caetano que fez o 25 de Abril !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! :oops:  :oops:
 

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dremanu

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« Responder #5 em: Outubro 20, 2004, 12:50:55 am »
João Ricardo:

Acho que vc está a interpretar o meu comentário erroneamente, porque as suas descrições do sistema Brasileiro confirmam exatamente o que eu disse, ora veja:

"Mas creio que o problema do Brasil é mais o sistema que qualquer outra coisa"

porque

"... o governo premia o mal-empresário, o mal-profissional, pois apenas fiscaliza quem anda direito, aquele que sonega fica invisível para o governo."

"Outra coisa crucial é a falta de investimentos em educação, nossas escolas são uma piada..."

Etc, etc, etc...

"Por isso as pessoas são como são...."

Eu não falei que certas atitudes que se encontram no Brasil(ou em Portugal), são produto de o povo ser por natureza de má qualidade, mas são sim uma reflexão do sistema social/económico/político onde vivem. Isto não é preconceito, é realidade. Eu conheço muito bem o seu país, viajo frequentemente para aí, já passei semanas a viver no Brasil, faço negócio com Brasileiros de todo o Brasil, lido com todo o tipo de empresas e entidades governamentaís, então a minha opinião é formada a partir de observações diretas, e experiências pessoaís, não à base de imagens pré-concebidas. Aliás, as minhas críticas em relação ao Brasil, se aplicam, no meu ponto de vista de pessoal, igualmente a Portugal. Existem diferenças de magnitude, mas em geral, na essência dos problemas somos iguaizinhos uns aos outros.  

E no que toca à questão do "jeitinho", não estou de acordo quando vc diz que é algo regional, porque em qualquer parte do Brasil, é sempre possível arranjar um "jeitinho" para se facilitar um processo. :-) ...Não interprete isto como negativo, porque aqui em Portugal é a mesma coisa. Ser flexível em países onde existe muita bur(r)ocracia, como é nos casos do Brasil e Portugal, é essencial para que se consiga completar muitos trabalhos, porque senão torna-se impossível de fazer esses mesmos trabalhos a tempo e horas.

O negativo que eu vejo no uso de muita flexibilidade é que acaba por ser contra-produtivo em certas circunstâncias, nomeadamente quando se lida com questões de administração pública, onde deveria existir clareza e consistência, nas regras e métodos empregues pelos departamentos do governo, de forma a facilitar a vida às pessoas. É isto que não acontece, e depois instala-se a corrupção. E é claro, deveria haver todo um aparato governamental, que funcione, e que esteja disposto a enforçar as leís, e castigar quem nem cumpre com as mesmas, doa a quem doer, mas tb isto não acontece com frequência, infelizmente.

E quanto à questão da qualidade do sistema escolar, realmente deixa muito a desejar. Quem vai para as escolas particulares recebe um bom sistema de educação, mas no sistema público não é a mesma situação . Um coisa que eu já notei no sistema escolar público Brasileiro, é que está minado de radicaís de esquerda, que tipicamente, e por questões de agendas políticas, está mais disposto a a fazer uma lavagem cerebral à juventude Brasileira, e a inculcar neles todo um conjunto de distorções da realidade, do que a lhes ensinar algo de jeito. Esta é a minha opinião.

De resto meu amigo, pode ter a certeza que não descrimino, nem sou preconceitouso em relação aos Brasileiros. Aliás, nem o poderia ser, visto que tenho família a viver nesses lados desde pelo menos o séc. XIX, grandes amigos, parceiros comerciaís, etc. Sou defensor do aproximamento do Brasil e de Portugal, e da abertura total de Portugal para os Brasileiros, só limitando o no. de imigrantes que pudemos receber vindos do Brasil, visto que não temos espaço p'ra toda a gente. Eu não vejo o Brasil como um país estrangeiro, vejo o Brasil como um país irmão em todos os sentidos.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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emarques

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« Responder #6 em: Outubro 20, 2004, 02:46:01 am »
Às vezes acho que o grande problema de Portugal, e que deve ser também, em parte, o do Brasil, é exactamente as qualidades de "desenrascanço". Porque se fôssemos tão inflexíveis como os alemães, por exemplo, tínhamos mesmo que fazer as coisas de forma eficiente. Mas na função pública, seja qual fôr a burrada que vem dos ministérios, aparece sempre alguém que dá a volta ao texto para conseguir que o sistema vá funcionando, por muito mal que seja. E, como diz o dremanu, como cada sítio se desenrasca de forma diferente, não se pode contar com uniformidades de procedimento. Se um dia qualquer os funcionário públicos se lembram de fazer mesmo o que lhes mandam, o sistema começa a rebentar pelas costuras.

Quanto ao ensino, não sei se o dremanu se referia ao português ou ao brasileiro, mas não vejo que o ensino público português seja inferior ao privado, antes pelo contrário.
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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J.Ricardo

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« Responder #7 em: Outubro 20, 2004, 12:28:38 pm »
Dremanu, geralmente "jeitinho" sucinta corrupção, malandragem, por isso classificar que todo o povo utiliza o jeitinho é errado, flexibilidade é outra coisa, se não formos flexiveis aqui no Brasil, estamos"ferrados". Mas calma, não quis dizer que vc esta ofedendo os brasileiros, eu é que acho me expresei mal. Quanto a educação o problema não é o esquerdismo, isso como disse em outro tópico é devido aos intelectuais brasileiros adorarem ser terceiromundistas, por eles o Brasil seria comparado a Gana, Etiópia, só para ficar mais gostoso criticar, mas o problema real é o descaso do governo com a educação, falta investimento, falta valorizar os professores que são totalmente desmotivados por trabalharem com um salário redículo, em escolas depredadas, com alunos que não estão interessados em estudar por saberem que de qualquer maneira vão "passar de ano"! Vocês estão a "anos-luz" na frente das escolas brasileiras, mas... é tudo feito de caso pensado, afinal é mais fácil manipular um povo "analfabeto" do que um povo esclarecido!