Em nome dos que ficam em casa

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papatango

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Em nome dos que ficam em casa
« em: Setembro 21, 2005, 07:51:51 pm »
Em nome dos que ficam em casa.

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A comunicação social, apresenta-nos as recentes movimentações de militares como se fossem uma acção organizada por todos os militares de todos os ramos das Forças Armadas.

Os dirigentes das organizações ditas associativas, apresentam-se como líderes de todos os militares, que não as chefias.

Parece que nos pretendem dar a entender que nas Forças Armadas só existem militares associados ou sindicalizados, e chefias, não existindo absolutamente mais ninguém, nenhuma outra sensibilidade, nenhuma outra forma de olhar para os problemas das Forças Armadas que não seja a das chefias, (necessariamente dependente do poder político) ou a das associações (sindicais), ditas sócio-profissionais.

No entanto, quantos militares representa a Associação de Oficiais e a Associação de Sargentos das Forças Armadas?

Quantos milhares de militares portugueses, que têm orgulho em vestir uma farda - porque o seu uso implica que são pessoas que, acima das outras, estão na disposição de fazer sacrifícios pelo país - se revêm nas manifestações sindicais de um grupo de oportunistas?

Quantos milhares de militares portugueses se sentem vexados pela acção de grupos de pressão, que se arvoram em defensores dos militares, dando a todo o país a ideia de que as Forças Armadas estão em pé-de-guerra, contra o país que juraram defender?

Quantos são aqueles que não falam, porque respeitam o juramento que fizeram, e que como militares com M maiúsculo, cumprem?

Alguém sabe quantos são aqueles cuja voz não se houve, porque acham que a sua voz não se deve ouvir, mas que continuam fieis como sempre ao seu país?

É muito mais fácil, para as noticias nos jornais e para os debates na TV falar dos militares - de todos os militares - como se todos estivessem de acordo com as acções levadas a cabo por alguns, de forma tão patética, que acabam a esconder-se debaixo das saias das suas esposas, ridicularizando toda uma classe, que deve ser respeitada porque respeita, reverenciada porque reverencia valores, e tida como reserva moral da Nação, porque tem a moral que decorre do respeito que tem pelas instituições, pela hierarquia, e pelo Estado de Direito Democrático que temos, por muitos problemas que ele tenha.

Os cidadãos não devem pensar que todos os militares se revêm neste grupo de pessoas que ultrapassou todas as marcas e todas as regras, porque colocou o dinheiro e objectivos corporativos, acima de interesses muito maiores. Interesses que qualquer militar honrado, defende acima de tudo e apesar de tudo.
             
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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C. E. Borges

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« Responder #1 em: Setembro 22, 2005, 04:12:54 pm »
« (...) [respeito] pelo Estado de Direito Democrático que temos, por muitos problemas que ele tenha (...)».

Tem toda a razão no que diz. Mas perde-a quando se queixa.

Não foi o Estado de Direito Democrático que consentiu na existência das «associações (sindicais), ditas sócio-profissionais» nas FA ?
Eram para o quê ?

E já agora, se lhe aprouver, leia o Editorial do «Expresso» de hoje para ver até onde pode ir a «eloquência».
 

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C. E. Borges

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« Responder #2 em: Setembro 22, 2005, 11:15:46 pm »
Este escrito, na minha opinião, ainda não é o Norte.
É o Nordeste ...

«Pela leitura dos artigos anteriores, fácil é concluir que a situação das Forças Armadas é verdadeiramente paradoxal: uma componente bastante reduzida de praças em regime de voluntariado e contrato, quadros permanentes largamente excedentários relativamente ao quantitativo dos soldados e cabos, dispositivo territorial excessivamente denso remanescente do anterior modelo de conscrição e programas de reequipamento a pensar ainda na guerra-fria. Há situações totalmente anacrónicas, como as manutenções dos comandos das regiões militares – característicos de um sistema de serviço militar obrigatório, com grandes efectivos nas fileiras ou mobilizáveis – reduzidos nas suas competências mas sem alteração na sua orgânica, ou das muitas unidades quase vazias de militares. Algumas outras simplesmente incompreensíveis, como as dos múltiplos e sobredimensionados estados-maiores, ou da existência de mais órgãos superiores de chefia e direcção do período da guerra colonial, que se atropelam nas suas atribuições. Outros, ainda, hoje de todo insustentáveis, como as dos vários estabelecimentos de ensino superior militar ou dos múltiplos serviços de assistência na doença , distintos segundo os ramos das Forças Armadas. Estes e outros muitos exemplos são o produto de lógicas de reorganização militar alimentadas, ao longo de trinta anos, por ideias de autonomia e disputa entre os três ramos das Forças Armadas, tornadas possíveis pela insensibilidade, ignorância ou timidez dos sucessivos governos relativamente às reformas que há muito se impõem. Outro tanto não sucedeu, por exemplo, em Espanha, onde, logo após a transição democrática, o poder político definiu e impôs o seu modelo de reorganização militar, integrando os vários ramos num todo consistente, com grandes economias de escala. O resultado de tudo isto é que, ao contrário do que se tem vindo a afirmar, as Forças Armadas só quase existem na imagem ilusória que delas tem sido passada para a opinião pública. Representação que esconde uma realidade bem diferente, que só ocasionalmente se torna perceptível, quando se trata de intervir no externamente – como no caso recente da insignificante força, mal armada e equipada, destacada para o Afeganistão – ou se torna imperioso o seu apoio à protecção civil – como sucedeu na última época de incêndios florestais, em que as Forças Armadas primaram pela quase ausência. O País não tem recursos económicos para malbaratar à mercê de decisões casuísticas de sucessivos governos, nem para desbaratar no arrastamento de situações do passado pela resistência corporativa dos militares. E Portugal não necessita de Forças Armadas para se confrontarem ao serviço da actual superpotência mundial, ou de uma segunda no futuro, mas para colaborarem em acções de segurança, humanitárias e de paz no quadro de legitimidade internacional e, com idêntico empenho, em tarefas nacionais de interesse público. Os próprios militares acabarão por compreender que só terão a ganhar com uma nova moldura institucional que reforce a sua legitimidade social e o seu prestígio nacional. É tempo de pôr termo a mais adiamentos, de acabar com promessas inconsequentes e de concretizar, finalmente, a reorganização das Forças Armadas que o País há muito necessita e que realisticamente pode sustentar. Mas não se espere que sejam os militares a propô-lo. É que, como escreveu Eduardo Lourenço, em “Os Militares e o Poder”, “esta antiquíssima e temerosa instituição amassada no culto de valores formais é de tal natureza que a sua essência parece consistir sobretudo na recusa profunda e sistemática de se pensar”. Haja quem o faça por eles!»...

In Jornal do Fundão 16/09 Monteiro Valente (Major-General)
 

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C. E. Borges

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« Responder #3 em: Setembro 22, 2005, 11:34:54 pm »
« (...) E Portugal não necessita de Forças Armadas para se confrontarem ao serviço da actual superpotência mundial, ou de uma segunda no futuro, mas para colaborarem em acções de segurança, humanitárias e de paz no quadro de legitimidade internacional e, com idêntico empenho, em tarefas nacionais de interesse público (...)».

Pois é. Não sei o que é que se ensina nas Academias Militares desde há trinta anos. A defesa militar do território nacional passa sempre por «entre as brumas da memória».
Ninguém deseja estar ao "serviço da superpotência mundial", mas o  «guarda-chuva da superpotência mundial», é o nosso próprio. Um Major-General. Bravo!
Tirem-me deste filme ...
 

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typhonman

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« Responder #4 em: Setembro 23, 2005, 01:36:45 pm »
Fiquei.. :shock:

Este senhor deve ser é burro
 

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C. E. Borges

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« Responder #5 em: Setembro 23, 2005, 07:12:53 pm »
Caro Sr Typhonman :

Se se refere a mim, podia pelo menos dar-me a chance de perceber em que lugar a limitação do raciocínio me encosta ao mais inteligente dos equínos. Quando não, e como faço por ser uma pessoa razoável, concluo que não tenho muito, ou mais, a aprender por aqui e o que, há-de convir, não é um relincho nem uma parelha de coices.

Melhores cumprimentos.
 

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Luso

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« Responder #6 em: Setembro 23, 2005, 07:28:54 pm »
CE Borges, sem querer ser advogado do Typhonman parece-me que há um mal entendido. Não é a si que chama burro mas ao Major General.
Aliás, o conteúdo do seu comentário (do general) parece demonstar parte do porquê da miséria a que se chegou: esquecer princípios e ir em modismos politiqueiros.
Para mim a estrutura militar actual está falida. Vale muito pouco.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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C. E. Borges

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« Responder #7 em: Setembro 23, 2005, 08:27:19 pm »
Deus o oiça, caro Luso.
Mentir-lhe-ia se dissesse que não me sinto ofendido, mas também não sou uma "menina sensível", acredito que às vezes me possa exceder.
A minha intenção era a de transmitir a convicção na necessidade da prevalência absoluta de uma defesa militar credível do nosso território nacional, sobre quaisquer outras considerações. Quaisquer outras, e particularmente as que "estão na moda".
Não sou obviamente insensível a uma eventual mudança de natureza da guerra, nem à evolução política da Europa. Mas tudo isso acresce, não elimina o espaço territorial que é nosso. Era isto ...
 

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typhonman

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« Responder #8 em: Setembro 23, 2005, 08:43:50 pm »
Caro C.E Borges. longe de mim chamar-lhe burro a você, como disse o Luso o "elogio" era mesmo para o senhor General..

Não me fiz entender bem.. :oops:
 

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typhonman

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« Responder #9 em: Setembro 23, 2005, 08:45:54 pm »
Caro CE Borges, compratilhamos a mesma visão no que respeita ao caracter musculado das FAs como meio de defesa militar da nação. O que me revoltou no discurso do "burro" foi a vontade de transformar as FAs num mega-corpo de protecção civil.. uma espécie de exército de salvação nacional..
 

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NVF

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« Responder #10 em: Setembro 23, 2005, 09:35:49 pm »
O homem, pode ser burro, mas nao e' muito usual ver um militar a fazer um diagnostico tao acertado das FA. Pode nao se concordar com os objectivos que ele advoga, mas a descricao do estado actual das FA e', quanto a mim, correcto. So' por isso os meus parabens ao homem  :Palmas:
Talent de ne rien faire
 

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C. E. Borges

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« Responder #11 em: Setembro 24, 2005, 12:39:34 am »
Caro Thyphonman :
Faltava-me o termo exacto (ainda pensei nos «Escoteiros de Portugal», mas depois disse de mim para mim que os Escoteiros não mereciam o "insulto" ...) e que é esse mesmo :

«Transformar as FAs num mega-corpo de protecção civil.. uma espécie de exército de salvação».

Sinto-me rejuvenescido porque no fundo ando por aqui porque simplesmente gosto do meu País.
Um abraço a todos.
 

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papatango

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« Responder #12 em: Setembro 24, 2005, 05:02:46 pm »
Eu não achei o comentário desse general assim tão estapafurdio.

A verdade é a que é. Eu já aqui falei varias vezes na minha dificuldade em entender porque é que as chefias dizem que no exército 12.000 praças é o minimo, quando só se justifica este numero, para servir de motoristas, engraxadores de botas e de guardas às Portas-de-Armas de quarteis e comandos militares que há muito deveriam ter sido extintos.

A análise diz que deveremos ter umas forças armadas com meios para se necessário responder a problemas no próprio país. O que o general quer dizer é que temos imensos militares em lugares de chefia, que pouco mais fazem que chefiar-se a eles próprios, e que por uma questão de dignidade têm que ter uma casa da guarda, com um determinado numero de praças, sargentos da guarda e oficiais de dia.

O retrato está, do meu ponto de vista até bastante bem feito. As soluções que este general poderia propôr é que podem ser colocadas em causa.

Eu também acho que, haja ou não haja ameaças directas imediatas às nossas fronteiras, a defesa do território é a Função Primeira das Forças Armadas. E acho além disso, que é possivel ter unidades que tenham essa defesa como função principal, e que possam ser destacadas quer para missões no exterior, quer para missões de apoio às populações em caso de crise.

Quem é que os governadores e o presidente americano chamaram por causa da crise do furacão Katrina? Foi apenas a protecção civil?
 - Não!
- Foram também unidades da Guarda Nacional e do Exército!

Ou seja, estamos nas Forças Armadas com o mesmo problema da Administração Pública.
Há demasiados institutos, demasiados organismos, demasiadas capelinhas, e acabar com elas implica uma mudança radical nas estruturas de um organismo.
Inevitavelmente este "enxugar" resulta no fim de serviços duplicados e triplicados.
Ou seja, há gente a mais, que já não pode ir para as unidades operacionais e que tem que passar à reserva.
Mas quando passar à reserva, e ainda mais com as recentes alterações "fica lixada a promoção".

Ao longo dos anos tem sempre sido este o problema, e é por isto que todo o país tem sido chantageado por um Funcionalismo Público, que se recusa a mudar, porque isso implica que muita gente vai perder privilegios com os quais contava.
Muitas vezes nem se trata de perder  Direitos Adquiridos. Muitas vezes trata-se de perder direitos que ainda ainda não se têm mas que se espera vir a ter.

Ou seja, mesmo só a expectativa de vir a ter um direito no futuro, leva as pessoas a protestar, para que não se mude nada agora para que dentro de alguns anos, se venha a ter esse direito com o qual já se conta.

Por outras palavras, a galinha pões ovos, para a semana. Para a semana vai por um ovo para mim, portanto não reorganizem o aviário, porque eu preciso de estar cá para a semana para ter direito ao meu futuro ovo.

Este é o dilema
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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C. E. Borges

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« Responder #13 em: Setembro 24, 2005, 09:00:09 pm »
Aí está, a propósito de galinhas e de ovos, talvez fosse interessante - ainda antes de se denunciar os interesses corporativos instalados que gritam (sem nenhuma legitimidade democrática) à «anti-reforma» em quase toda a Administração Pública - talvez fosse interessante, dizia, pronunciar os nomes exactos das corporações políticas sem visão e sem sentido de Estado, com interesses instaladíssimos, que nos trouxeram a todos até ao limbo de colocar portugueses contra portugueses.
Essas corporações, que se mantêm virgens puras porque lhes foi constitucionalmente atribuído um poder excessivo na gestão da «coisa pública», são intocáveis.
Como é que nós vamos «reformar» estas «Ínclitas Instituições Corporativas» se o único poder capaz de lhes mexer é exactamente o mesmo que as instituíu ?
Fica a pergunta.
Eu já escrevi demais neste fórum.
Por isso, de todos, cordialmente me despeço.
C. E. Borges