REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS

  • 2998 Respostas
  • 395392 Visualizações
*

Kalil

  • Especialista
  • ****
  • 970
  • Recebeu: 295 vez(es)
  • Enviou: 212 vez(es)
  • +87/-455
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2985 em: Março 09, 2024, 12:53:02 am »
Visto nenhum partido ter interesse na Defesa, que há uma boa possibilidade de não haver maioria absoluta, e que por isso a formação de governo deverá ser demorada, o que irá acontecer nesta área neste ano 2024 é: nada.

Se o governo mudar, a maioria dos programas em curso será suspensa ou cancelada. Se o governo seguir dentro do mesmo registo, os poucos programas planeados poderão ser lentamente arrastados nos próximos anos.

Duvido que haja mudanças significativas em qualquer dos casos, ninguém tem um plano, nem mesmo dentro das FA.
 Acredito que as próximas aquisições de meios dependerão mais da conjugação de fatores externos que da vontade ou planeamento nacional.
 

*

Lightning

  • Moderador Global
  • *****
  • 11013
  • Recebeu: 2328 vez(es)
  • Enviou: 3206 vez(es)
  • +731/-1031
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2986 em: Março 09, 2024, 07:38:01 am »
Os planos a ver com o PRR não podem ser suspensos ou cancelados com risco de se perderem esses fundos, por isso.

O PNM deve ser concluído.
 

*

P44

  • Investigador
  • *****
  • 18014
  • Recebeu: 5408 vez(es)
  • Enviou: 5717 vez(es)
  • +7062/-9429
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2987 em: Março 09, 2024, 09:37:14 am »
Não me parece que faça grande diferença "quem fica" com a Defesa. A execução vai sempre depender do resto do Governo, nomeadamente das finanças.

O essencial é que se tenha uma política de Defesa a sério.

Só se a UE lhes apontar uma pistola à cabeça
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

*

dc

  • Investigador
  • *****
  • 8301
  • Recebeu: 3761 vez(es)
  • Enviou: 705 vez(es)
  • +4964/-780
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2988 em: Março 09, 2024, 02:14:46 pm »
Indirectamente o Trump já fez isso, com aquelas afirmações. :mrgreen:
Agora por cá, ao contrário dos outros países, não deve surtir efeito nenhum. Basta olhar para a LPM revista em 2023, já após a guerra na Ucrânia e após todos os aliados terem alterado os seus conceitos estratégicos e considerado prioritário os meios de combate convencionais, em que por cá a única diferença foi a rúbrica das avionetas COIN.  ::)
 
Os seguintes utilizadores agradeceram esta mensagem: LM, Viajante

*

Lightning

  • Moderador Global
  • *****
  • 11013
  • Recebeu: 2328 vez(es)
  • Enviou: 3206 vez(es)
  • +731/-1031
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2989 em: Março 10, 2024, 12:06:37 am »
Também não concordo com este "enfiar a cabeça na areia", como não temos capacidade de desenvolver forças convencionais robustas, apostamos tudo em forças médias/ligeiras e em operações em África e por ai, como se isso compensasse, libertando os outros países para se focarem nas forças convencionais.

Eu acho que deviamos reforçar, defesa anti-missil nacional (com Espanha por exemplo).

Defesa anti-aérea móvel para acompanhar a Brigada Mecanizada/FND.

Melhorar as capacidades da Marinha e Força Aérea em ASW.

Essas missões em África na verdade não mudariam assim tanto, as Forças ligeiras do exército e fuzileiros ainda são as mais indicadas para isso, em caso de necessidade (operações de resposta a crises), mas também desenvolver técnicas para aplicar estas forças em cenário convencional de maior intensidade, que passa por misseis anti-carro, combate em áreas edificadas, etc.
« Última modificação: Março 11, 2024, 01:53:29 pm por Lightning »
 

*

Camuflage

  • Investigador
  • *****
  • 1514
  • Recebeu: 200 vez(es)
  • Enviou: 89 vez(es)
  • +247/-240
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2990 em: Março 10, 2024, 12:40:44 pm »
Estive no Qualifica que se realizou na Exponor, onde estavam presentes unidades as forças armadas. Pude constatar a lástima que estão os jovens portugueses, especial destaque para os homens, com 16/17/18 anos não sabem fazer flexões, alias até dói só de ver aquelas colunas todas tortas, havia na tenda dos fuzileiros uma "brincadeira" que convidava o público a participar a fazer alguns exercícios e depois 2 de cada vez iam a uma tenda dar tiro de airsoft. Pude concluir que há aqui uma área de manobra que as FA's poderiam aproveitar, já que nas escolas a educação física é quase inexistente e cada vez mais uma fantuchada, já as associações de pais estão mais preocupadas em fazer festas e discutir quem leva o porco para assar, ora as FA's poderiam intervir na área de preparação física e instrução básica igual para todos os jovens que queiram participar, recorrendo à infraestrutura das escolas, isto iria captar mais jovens para vida militar ou pelo menos sensibiliza-los mais para um espírito patriótico. Por outro lado também vi adultos acima dos 30/40/50 a participar, inclusivamente mulheres, o que prova que poderia ser feito um corpo de reservistas, as pessoas querem ter tal formação, só não lhes é dada oportunidade.
Vejo aqui oportunidades que não devem ser desperdiçadas mas sim aproveitadas para reforçar as FA's ao público do séc XXI.
« Última modificação: Março 10, 2024, 12:41:14 pm por Camuflage »
 
Os seguintes utilizadores agradeceram esta mensagem: Lightning

*

dc

  • Investigador
  • *****
  • 8301
  • Recebeu: 3761 vez(es)
  • Enviou: 705 vez(es)
  • +4964/-780
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2991 em: Março 10, 2024, 10:48:17 pm »
Também não concordo com este "enfiar a cabeça na areia", como não temos capacidade de desenvolver forças concencionais robustas, apostamos tudo em forças médias/ligeiras e em operações em África e por ai, como se isso compensasse, libertando os outros países para se focarem nas forças concencionais.

Eu acho que deviamos reforçar, defesa anti-missil nacional (com Espanha por exemplo).

Defesa anti-aérea móvel para acompanhar a Brigada Mecanizada/FND.

Melhorar as capacidades da Marinha e Força Aérea em ASW.

Essas missões em África na verdade não mudariam assim tanto, as Forças ligeiras do exército e fuzileiros ainda são as mais indicadas para isso, em caso de necessidade (operações de resposta a crises), mas também desenvolver técnicas para aplicar estas forças em cenário convencional de maior intensidade, que passa por misseis anti-carro, combate em áreas edificadas, etc.

Atingindo os 2% do PIB na Defesa, sem trafulhices, "o céu é o limite". É inteiramente possível ter umas FA decentes para conflitos convencionais, e por arrasto estas FA teriam boas capacidades para enfrentar ameaças assimétricas, missões de manutenção de paz, etc.

É a nível do planeamento e reequipamento que não se pode focar/dar prioridade a meios dispendiosos e dedicados para missões em África e similares, e que pouco ou nenhum valor têm para enfrentar ameaças convencionais (ou até para responder a uma escalada naqueles TOs). Uma coisa é adquirir equipamento específico para a missão, sem que seja uma despesa absurda (como muitos países fizeram com os MRAPs), outra é querer gastar 200 milhões em aeronaves COIN, que fora daqueles TOs pouca ou nenhuma utilidade têm em combate, e ainda por cima em detrimento do reforço da frota de helicópteros (armados) ou da aquisição de UCAVs a sério.

Existem muitas necessidades para suprimir, e a maioria delas não me parece impossível de resolver, se houver vontade e orçamento.

E mesmo em África, perante uma possível guerra em larga escala com a Rússia ou algo ainda maior, como um conflito verdadeiramente global, não sabemos até que ponto não começam a rebentar vários conflitos naquele continente. Tanto quanto sabemos, a Argélia e Marrocos andam à batatada, alguém lembra-se de invadir Cabo Verde ou STP, De um momento para o outro, aquilo que são tipicamente operações de manutenção de paz sob o aval da ONU, poderão passar a ser guerras abertas, as quais não estamos minimamente preparados para combater, nem preparados para dissuadir qualquer tentativa de escalada.

Neste momento, não estamos preparados para uma escalada em África, não estamos preparados para defesa do nosso território, nem estamos preparados para dar uma contribuição importante para enfrentar uma Rússia/coligação de países que se juntem à Rússia na linha da frente. E é isto que tem que mudar, sendo necessário investir em forças convencionais e em multiplicadores de força.
 
Os seguintes utilizadores agradeceram esta mensagem: Lightning, CruzSilva, Viajante

*

P44

  • Investigador
  • *****
  • 18014
  • Recebeu: 5408 vez(es)
  • Enviou: 5717 vez(es)
  • +7062/-9429
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8511
  • Recebeu: 1612 vez(es)
  • Enviou: 666 vez(es)
  • +928/-7195
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 
Os seguintes utilizadores agradeceram esta mensagem: P44, NVF, Charlie Jaguar

*

Viajante

  • Investigador
  • *****
  • 4284
  • Recebeu: 2411 vez(es)
  • Enviou: 1394 vez(es)
  • +7332/-4426
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2994 em: Março 12, 2024, 12:10:28 pm »
Estive no Qualifica que se realizou na Exponor, onde estavam presentes unidades as forças armadas. Pude constatar a lástima que estão os jovens portugueses, especial destaque para os homens, com 16/17/18 anos não sabem fazer flexões, alias até dói só de ver aquelas colunas todas tortas, havia na tenda dos fuzileiros uma "brincadeira" que convidava o público a participar a fazer alguns exercícios e depois 2 de cada vez iam a uma tenda dar tiro de airsoft. Pude concluir que há aqui uma área de manobra que as FA's poderiam aproveitar, já que nas escolas a educação física é quase inexistente e cada vez mais uma fantuchada, já as associações de pais estão mais preocupadas em fazer festas e discutir quem leva o porco para assar, ora as FA's poderiam intervir na área de preparação física e instrução básica igual para todos os jovens que queiram participar, recorrendo à infraestrutura das escolas, isto iria captar mais jovens para vida militar ou pelo menos sensibiliza-los mais para um espírito patriótico. Por outro lado também vi adultos acima dos 30/40/50 a participar, inclusivamente mulheres, o que prova que poderia ser feito um corpo de reservistas, as pessoas querem ter tal formação, só não lhes é dada oportunidade.
Vejo aqui oportunidades que não devem ser desperdiçadas mas sim aproveitadas para reforçar as FA's ao público do séc XXI.

Muitas Escolas não consideram prioritária a educação física!!!! Custa dinheiro e é preciso professores qualificados (muitos professores de educação física não podem dar aulas ao ensino secundário).
Sempre obrigamos os nossos alunos a terem aulas de educação física, mesmo quando era uma disciplina facultativa. Essa obrigação não estava apenas relacionada com a actividade física, que de facto é cada vez mais reduzida, mas também para os obrigar a terem mais higiene entre eles próprios!!!!!

E a questão da higiene é tão mais importante quando os colocamos a estagiar em empresas/instituições (200 horas no 11º ano e 400 horas no 12º ano). Chegamos ao ponto de obrigar os alunos a tomarem banho na Escola antes das aulas e depois vão para os locais de estágio, todos os dias....... mas as criaturas lá tomam banho e...... depois voltam a vestir a mesma roupa suja!!!! Arre........ tivemos de passar a lavar-lhes também a roupa (excepto a roupa interior que têem de lavar em casa)!!!!!!

Quanto à forma física, eu notei a falta de forma principalmente depois da pandemia! Tínhamos várias participações ao seguro todas as semanas!!!! Os jovens passam horas em casa agarrados ao telemóvel ou computador!!!!!
Cabe também aos país obrigarem os filhos a frequentarem algumas actividades/desportos (excepto futebol).

As FA já fazem palestras todos os anos nas Escolas a promoverem uma saída profissional para os nossos alunos. Ainda ontem recebi um mail do GAP de Lamego para publicarmos a abertura de concursos para Oficiais e Sargentos. Essa comunicação acontece, mas concordo, podia ser mais intensa, porque também a nós interessa que a empregabilidade dos alunos seja alta. Um dos rácios que temos de cumprir todos os anos e em todos os cursos é que pelo menos 60% dos alunos que acabam o 12º ano, têem de estar empregados no espaço máximo de ano e meio!!!! E quem nos financia vai comprovar pelo número da Segurança Social se esses ex-alunos estão de facto a trabalhar (também conta para a empregabilidade o facto de estarem a estudar) ou não!!!
 

*

dc

  • Investigador
  • *****
  • 8301
  • Recebeu: 3761 vez(es)
  • Enviou: 705 vez(es)
  • +4964/-780
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2995 em: Março 12, 2024, 04:36:59 pm »
A Educ. Física não é considerada prioritária, porque na prática praticamente não conta para a nota na grande maioria dos cursos. Também não ajuda que, mesmo aqueles que gostem de educação física, depressa deixem de gostar quando são obrigados a fazer desportos que não gostam. O melhor incentivo para o desporto passa por permitir que as pessoas escolham algo que gostem. Podia-se até equacionar acabar com a disciplina de EF, e substituir por 3 ou 4 disciplinas de desporto à escolha, por exemplo: desportos colectivos, atletismo, ginástica/dança e fitness (esta última mais focada na perda de peso). Alunos de Desporto teriam que escolher pelo menos 2, no resto dos cursos apenas 1. Mas isto é outro tema.

A questão da higiene não sei se varia de região para a região, mas pelo menos do que vejo, parece-me que os jovens são tipicamente mais "higiénicos" do que gerações anteriores, em parte porque também se preocupam mais com a aparência (o que inclui o cheiro, que se nota bem quando usam grandes quantidades de perfume, que consegues cheirar quase a 50 metros de distância  :mrgreen:).

A questão física, é algo que quem realmente quer entrar para as FA resolve facilmente, havendo factores muito mais graves que levam a que as pessoas não ingressem nas FA*. Em alguns casos até, a forma física, ou a forma como fazem flexões, ou se têm barba, ou se têm 1.50m, etc, não tem qualquer relevância (ou não deveria ter). Quando falamos de cibersegurança, eu estou-me pouco borrifando se o Zé consegue fazer 500 abdominais e 300 flexões, interessa-me mais que o gajo seja bom na sua função e ponto. A mesma coisa para mecânicos de Leopard, funções administrativas, e por aí em diante.
Também acho que, pelo menos para algumas especialidades, deveria ser possível alargar a idade limite de ingresso.

*factores como a competitividade e atractividade de outros sectores no mercado de trabalho. Volto a frisar que, com salários baixos e poucos incentivos a ingressar, até trabalhar num McDonalds se torna mais apelativo, onde os ditos jovens conseguem estar mais perto de casa, e ainda conseguem interagir com aquilo que lhes interessa a nível "amoroso". Convinha também ter umas FA que deixassem os seus militares orgulhosos.

Os jovens passam muito tempo agarrados ao computador e telemóvel? Vejam só:
E3 Sentry

SAMP/T


E que tal jogarem com isso? Numas FA modernas, também existem "consolas", computadores, tablets e afins, em plataformas terrestres, navais e aéreas.

Parece-me que a publicitação das opções de emprego nas FA está muito aquém do que era necessário. Dar a entender que as FA não são apenas o "rastejar na lama", havendo funções para todos os gostos e vocações, seria importante. Ter também uma recruta adaptável à vocação para a qual o recruta se pretende candidatar seria preferencial, que acho absurdo alguém cuja vocação é ser mecânico de determinado veículo, não o conseguir ser por chumbar em alguma prova física.

Por falar em mecânica, se calhar em vez de se ter cursos IEFP para encher chouriços, ter um curso de "mecânico militar" para as FA seria interessante.
 
Os seguintes utilizadores agradeceram esta mensagem: PTWolf

*

Charlie Jaguar

  • Investigador
  • *****
  • 5398
  • Recebeu: 5333 vez(es)
  • Enviou: 3516 vez(es)
  • +10060/-2642
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2996 em: Março 15, 2024, 09:11:57 pm »
Citar
Quase 6500 militares dos três ramos vão ser promovidos este ano

Plano de promoções nas Forças Armadas agora aprovado abrange 1538 militares e 95 militarizados da Marinha, 3335 militares do Exército e 1491 da Força Aérea.

https://www.dn.pt/4274840923/quase-6500-militares-dos-tres-ramos-vao-ser-promovidos-este-ano/
Saudações Aeronáuticas,
Charlie Jaguar

"(...) Que, havendo por verdade o que dizia,
DE NADA A FORTE GENTE SE TEMIA
"

Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas, Canto I - Estrofe 97)
 

*

Charlie Jaguar

  • Investigador
  • *****
  • 5398
  • Recebeu: 5333 vez(es)
  • Enviou: 3516 vez(es)
  • +10060/-2642
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2997 em: Março 18, 2024, 10:14:08 am »
Na edição de hoje do Diário de Notícias.

Citar
NATO
18 março 2024 às 08h29
Futuro Governo tem apoio popular para reforçar investimento na Defesa

Balanço das atividades da Aliança Atlântica prevê que 18 dos 32 países cumpram a meta de 2% do PIB em Defesa em 2024. Portugal está longe do objetivo, mas 43% dos cidadãos defendem o incremento orçamental e só 9% querem cortes nas despesas militares.

César Avó
Valentina Marcelino

"O mundo tornou-se mais perigoso, mas a NATO tornou-se mais forte.” Foi com esta frase que o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, resumiu o relatório das atividades da aliança militar respeitantes ao ano transato, na quinta-feira. No documento com 172 páginas destaca-se a entrada da Finlândia e a da Suécia (concretizada há dias), a popularidade da organização e o reforço do investimento por parte dos Estados-membros na Defesa, a um ano de se chegar à data em que o compromisso de Gales -- gasto mínimo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em Defesa -- deveria ser atingido pelos aliados.

Em 2023, Portugal falhou a meta que o primeiro-ministro António Costa havia definido para 2023 (1,66% do PIB). De acordo com o documento, o nosso país investiu o equivalente a 1,48% do PIB, ainda longe de chegar à fasquia mínima. Mas nem tudo está mal: outro objetivo, o de pelo menos 20% das despesas serem em investimento em equipamento, foi ultrapassado. Tendo em conta a boa opinião da esmagadora maioria dos portugueses sobre a NATO e a concordância em que o país invista mais em Defesa, ao futuro Executivo português não falta apoio para reforçar o orçamento das Forças Armadas.

Se houvesse um referendo aos cidadãos dos países da NATO, um total de 66% escolheriam que o seu país permanecesse na aliança e 12% queriam que saísse. Os portugueses estão no topo dos defensores da permanência (88%), conclui uma sondagem anual realizada pela NATO e que envolve mais de 30 mil inquiridos. Já no que respeita aos compromissos de cada Governo sobre os gastos na Defesa, há também uma larga maioria de suporte, entre os inquiridos dos 32 países, e também em Portugal: 77% dos cidadãos dos países aliados dizem que o investimento do seu país deve manter-se (37%) ou aumentar (40%). Em Portugal, 43% defende a expansão dos gastos militares e 34% a sua manutenção, coincidindo com a percentagem global de apoio do conjunto de países. Só 9% dos portugueses é que defendem um corte nas despesas da Defesa.

Em 2014, sob o impulso do então presidente norte-americano Barack Obama, e na ressaca da anexação da Crimeia por parte da Rússia, os aliados comprometeram-se a atingir 2% do PIB em gastos militares até 2024. Cá chegados, só 11 países cumpriram em 2023 a meta, devendo em 2024 o número subir para 18. Portugal não vai estar no grupo cumpridor. João Rebelo, presidente da Comissão Portuguesa do Atlântico, destaca o facto de o Canadá e a Europa terem investido, desde 2014, mais de 600 mil milhões de euros na Defesa, “um aumento tremendo” e “só em 2023 o aumento foi de 11%, não há um crescimento como este em toda história da NATO”. No entanto, essa reversão do declínio dos orçamentos da Defesa é ainda assim insuficiente. Por cá, o Governo de António Costa comprometeu-se com os aliados em atingir a meta dos 2% do PIB até 2030. No Orçamento do Estado de 2024 está prevista uma despesa para a Defesa de 2,8 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 13,7% face ao ano anterior. Inclui 533 milhões de euros para investimento nos meios e equipamentos das Forças Armadas.

O que fará o próximo Executivo? “Não cumprimos com o objetivo de 2% e estamos longe de o cumprir. Um aspeto que deverá fazer refletir muito o novo Governo sobre as prioridades que deve dar à Aliança Atlântica”, comenta o ex-deputado do CDS. “Após as eleições, o provável futuro primeiro-ministro também considera que, apesar do compromisso, que garante querer cumprir, não será possível atingir este valor no imediato”, reconhece Francisco Proença Garcia, professor de Estratégia do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. “Ao ritmo atual de reforço do investimento não iremos atingir os 2% até ao final da década (ficaremos pelos 1,7%/1,8%)”, prevê Bruno Cardoso Reis, diretor do Doutoramento em História e Defesa do Instituto Universitário de Lisboa e da Academia Militar. “É fundamental, para a nossa credibilidade face aos aliados e para ter em conta um mundo mais conflituoso, que o novo Governo faça um esforço de reforço mais acelerado do investimento em Defesa. Nomeadamente, tendo em contas as lições aprendidas da guerra na Ucrânia e as mudanças tecnológicas em curso”, sugere. “Os compromissos internacionais assumidos são para cumprir ou ficaremos fora do clube como aliados pouco responsáveis e pouco credíveis, deixando o ónus da nossa segurança para os outros. Porém, as opções políticas no atual quadro de necessidades internas implicam grande inovação e criatividade para que se possa cumprir o prometido”, prossegue Proença Garcia.

Cardoso Reis destaca o “reforço muito significativo do investimento em equipamento” que passou de 8% do orçamento da Defesa em 2014 para 22% em 2023. “Isso é fundamental e permitiu pela primeira vez atingir um dos dois objetivos com que nos comprometemos todos na Cimeira de Gales (o de pelo menos 20% em investimento) para ser atingido em 2024. E tem uma tradução prática, por exemplo, num reforço significativo da capacidade de transporte militar e de duplo uso com novos aviões de transporte militar KC-390 em parte fabricados em Portugal nas OGMA”, nota o professor universitário.

F-35 no lugar dos F-16

Bruno Cardoso Reis é da opinião de que se deve começar a pensar na substituição dos aviões F-16 pelos F-35 “a partir do final da década”, elencando “vantagens operacionais, de manutenção e também para contribuir para reforçar as relações bilaterais com os EUA enquanto se chega aos 2%”. Até lá vê como “crucial” o reforço das capacidade ao nível de novas tecnologias da Defesa, em particular drones, bem como meios de defesa antiaérea, de costa e de guerra submarina. “As escolhas políticas têm de ser feitas e explicadas aos cidadãos, e a Defesa, hoje, num quadro internacional de guerra na Europa, deve ser encarada cada vez mais como um investimento, devendo o Estado criar oportunidades e procurar nos incentivos europeus alguns instrumentos financeiros que permitam o desenvolvimento do nosso parque industrial de Defesa, associado à investigação e à inovação, incorporando tecnologia e investimento externo, procurando com esta área também ser gerador de emprego e de riqueza”, defende Proença Garcia, antigo membro do Conselho Estratégico Nacional do PSD.

Do PS, Marcos Perestrello, destaca outro dado, a escassez de recursos humanos. “Os números do relatório, deixam claro que não obstante o reforço significativo feito pelo nosso país no investimento em equipamento militar, as dificuldades no recrutamento são responsáveis por uma quebra relativa da despesa com pessoal militar, o que constitui um fator de preocupação. Esta deverá ser uma prioridade para o novo Governo”, aponta o vice-presidente da Assembleia Parlamentar da NATO. Em janeiro, o Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), formado por dezenas de generais na reserva e na reforma, alertou o Presidente da República e o Ministério da Defesa para a situação “gravosa” e “insustentável” das Forças Armadas, tendo a ministra Helena Carreiras admitido que o número de militares desceu em 2023.


cesar.avo@dn.pt
valentina.marcelino@dn.pt

https://www.dn.pt/2777566451/futuro-governo-tem-apoio-popular-para-reforcar-investimento-na-defesa/
Saudações Aeronáuticas,
Charlie Jaguar

"(...) Que, havendo por verdade o que dizia,
DE NADA A FORTE GENTE SE TEMIA
"

Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas, Canto I - Estrofe 97)
 
Os seguintes utilizadores agradeceram esta mensagem: Malagueta, PTWolf

*

Charlie Jaguar

  • Investigador
  • *****
  • 5398
  • Recebeu: 5333 vez(es)
  • Enviou: 3516 vez(es)
  • +10060/-2642
Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #2998 em: Hoje às 01:17:53 pm »
Artigo de opinião do CEMA no Expresso, só que é exclusivamente para assinantes.

Citar
“Reequacionar o serviço militar obrigatório poderá ser uma medida necessária”, a opinião do Almirante Gouveia e Melo

Vladimir Putin é a resposta ao desleixo coletivo e ao complexo de superioridade da Europa que ditaram políticas erradas no passado. A paz no continente europeu só se realizará com a futura integração da Rússia na economia e na grande estratégia ocidental. Perdida a oportunidade por agora, com Putin tudo será muito, muito complicado

https://expresso.pt/politica/defesa/2024-03-28-Reequacionar-o-servico-militar-obrigatorio-podera-ser-uma-medida-necessaria-a-opiniao-do-Almirante-Gouveia-e-Melo-b0c206b5
Saudações Aeronáuticas,
Charlie Jaguar

"(...) Que, havendo por verdade o que dizia,
DE NADA A FORTE GENTE SE TEMIA
"

Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas, Canto I - Estrofe 97)