Europa cada vez mais endividadaRTP 22 Jul, 2013, 16:12 / atualizado em 22 Jul, 2013, 16:47
Os países da zona euro não estão a amortizar as suas dívidas, e sim a aumentá-las - tal é a conclusão resultante das estatísticas da Eurostat, que comparam as dívidas europeias no fim do primeiro trimestre de 2013 com o período homólogo do ano passado.
Segundo o apuramento da Eurostat, citado em Der Spiegel, todos os países da zona euro menos dois viram aumentar as suas dívidas no ano que decorreu entre o fim de Março de 2012 e o fim de Março de 2013.
O caso mais grave é o da Grécia, em que as medidas de austeridade de nada têm servido e o famoso hair cut, o perdão parcial da dívida, apenas trouxe um alívio de curta duração. Em março de 2012, a dívida grega cifrava-se em 174 por cento do PIB. O perdão parcial reduziu-a a 136 por cento e o prosseguimento da política de austeridade apontava para reduzi-la a 120 por cento até ao ano 2020.
Acontece que hoje, decorrido um ano, a dívida grega saltou novamente para um nível muito próximo do que era antes do hair cut: 160 por cento. Quanto à meta de 2020, mais vale esquecê-la. E multiplicam-se as vozes de conspícuos economistas que anunciam a inevitabilidade de um segundo perdão da dívida grega, mesmo que Angela Merkel recuse sequer discutir o assunto.
Logo a seguir à Grécia, a dívida maior em percentagem do PIB é a italiana, seguida a curta distância pela portuguesa e pela irlandesa - os três países que continuam a endividar-se mais rapidamente.
Dívidas em percentagem do PIBGrécia - 160
Itália - 130
Portugal - 127
Irlanda - 125
Alemanha - 81,2
Zona euro - 90,6
No conjunto, as dívidas da zona euro agravaram-se durante este ano, de 88,2 por cento do PIB para 92,2 por cento.As duas excepções são a Alemanha e a Estónia, únicos países que estão hoje menos endividados do que há um ano. A dívida da Estónia, que já era pequena, registou um recuo com pouco signficado (de 10,1 para 10,0 por cento).
A dívida alemã, pelo contrário, teve um claro recuo (de 81,9 para 81,1 por cento) - não devido a qualquer especial preocupação de disciplinar as finanças públicas, mas ao facto de a economia continuar em expansão e os juros continuarem muito baixos.
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?ar ... &visual=49Holanda pode provocar o colapso do euroA bolha imobiliária estourou, o país está em recessão, o desemprego sobe e a dívida dos consumidores é 250% do rendimento disponível. O grande aliado da Alemanha na imposição da austeridade por todo o continente começa a provar o amargo da sua própria receita. Por Matthew Lynn, El Economista
Que país da zona euro está mais endividado? Os gregos esbanjadores, com as suas generosas pensões estatais? Os cipriotas e os seus bancos repletos de dinheiro sujo russo? Os espanhóis tocados pela recessão ou os irlandeses em falência? Pois curiosamente são os holandeses sóbrios e responsáveis. A dívida dos consumidores nos Países Baixos atingiu 250% do rendimento disponível e é uma das mais altas do mundo. Em comparação, a Espanha nunca superou os 125%.
A Holanda é um dos países mais endividados do mundo. Está mergulhada na recessão e demonstra poucos sinais de estar a sair dela. A crise do euro arrasta-se há três anos e até agora só tinha infetado os países periféricos da moeda única. A Holanda, no entanto, é um membro central tanto da UE quanto do euro. Se não puder sobreviver na zona euro, estará tudo acabado.
O país sempre foi um dos mais prósperos e estáveis de Europa, além de um dos maiores defensores da UE. Foi membro fundador da união e um dos partidários mais entusiastas do lançamento da moeda única. Com uma economia rica, orientada para as exportações e um grande número de multinacionais de sucesso, supunha-se que tinha tudo a ganhar com a criação da economia única que nasceria com a introdução satisfatória do euro. Em vez disso, começou a interpretar um guião tristemente conhecido. Está a estourar do mesmo modo que a Irlanda, a Grécia e Portugal, salvo que o rastilho é um pouco mais longo.
Bolha imobiliária
Os juros baixos, que antes do mais respondem aos interesses da economia alemã, e a existência de muito capital barato criaram uma bolha imobiliária e a explosão da dívida. Desde o lançamento da moeda única até o pico do mercado, o preço da habitação na Holanda duplicou, convertendo-se num dos mercados mais sobreaquecidos do mundo. Agora explodiu estrondosamente. Os preços da habitação caem com a mesma velocidade que os da Flórida quando murchou o auge imobiliário americano.
Atualmente, os preços estão 16,6% mais baixos do que estavam no ponto mais alto da bolha de 2008, e a associação nacional de agentes imobiliários prevê outra queda de 7% este ano. A não ser que tenha comprado a sua casa no século passado, agora valerá menos do que pagou e inclusive menos ainda do que pediu emprestado por ela.
Por tudo isso, os holandeses afundam-se num mar de dívidas. A dívida dos lares está acima dos 250%, é maior ainda que a da Irlanda, e 2,5 vezes o nível da da Grécia. O governo já teve de resgatar um banco e, com preços da moradia em queda contínua, o mais provável é que o sigam muitos mais. Os bancos holandeses têm 650 mil milhões de euros pendentes num sector imobiliário que perde valor a toda a velocidade. Se há um facto demonstrado sobre os mercados financeiros é que quando os mercados imobiliários se afundam, o sistema financeiro não se faz esperar.
Profunda recessão
As agências de rating (que não costumam ser as primeiras a estar a par dos últimos acontecimentos) já se começam a dar conta. Em fevereiro, a Fitch rebaixou a qualificação estável da dívida holandesa, que continua com o seu triplo A, ainda que só por um fio. A agência culpou a queda dos preços da moradia, o aumento da dívida estatal e a estabilidade do sistema bancário (a mesma mistura tóxica de outros países da eurozona afetados pela crise).
A economia afundou-se na recessão. O desemprego aumenta e atinge máximos de há duas décadas. O total de desempregados duplicou em apenas dois anos, e em março a taxa de desemprego passou de 7,7% para 8,1% (uma taxa de aumento ainda mais rápida que a do Chipre). O FMI prevê que a economia vai encolher 0,5% em 2013, mas os prognósticos têm o mau costume de ser otimistas. O governo não cumpre os seus défices orçamentais, apesar de ter imposto medidas severas de austeridade em outubro. Como outros países da eurozona, a Holanda parece encerrada num círculo vicioso de desemprego em aumento e rendimentos fiscais em queda, o que conduz a ainda mais austeridade e a mais cortes e perda de emprego. Quando um país entra nesse comboio, custa muito a sair dele (sobretudo dentro das fronteiras do euro).
Até agora, a Holanda tinha sido o grande aliado da Alemanha na imposição da austeridade por todo o continente, como resposta aos problemas da moeda. Agora que a recessão se agrava, o apoio holandês a uma receita sem fim de cortes e recessão (e inclusive ao euro) começará a esfumar-se.
Os colapsos da zona euro ocorreram sempre na periferia da divisa. Eram países marginais e os seus problemas eram apresentados como acidentes, não como prova das falhas sistémicas da forma como a moeda foi estruturada. Os gregos gastavam demasiado. Os irlandeses deixaram que o seu mercado imobiliário se descontrolasse. Os italianos sempre tiveram demasiada dívida. Para os holandeses não há nenhuma desculpa: eles obedeceram a todas as regras.
Desde o início ficou claro que a crise do euro chegaria à sua fase terminal quando atingisse o centro. Muitos analistas supunham que seria a França e, ainda que França não esteja exatamente isenta de problemas (o desemprego cresce e o governo faz o que pode, retirando competitividade à economia), não deixa de continuar a ser um país rico. As suas dívidas serão altas mas não estão fora de controlo nem começaram a ameaçar a estabilidade do sistema bancário. A Holanda está a chegar a esse ponto.
Talvez se tenha de esperar um ano mais, talvez dois, mas a queda ganha ritmo e o sistema financeiro perde estabilidade a cada dia. A Holanda será o primeiro país central a estourar e isso significará demasiada crise para o euro.
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