Separatismos em Espanha

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2085 em: Setembro 21, 2017, 06:23:26 pm »
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O Ministério do Interior espanhol – o equivalente ao Ministério da Administração Interna português – pôs em marcha um complexo plano de segurança para o dia marcado para o referendo na Catalunha, 1 de outubro. De acordo com o El Mundo, o planeamento inclui um aumento de polícias e guardas civis nas ruas que pode chegar aos 3 mil efetivos. Estes agentes, que se vão juntar àqueles que já estão destacados na Catalunha, vão assumir-se como a principal força de segurança na região autónoma – acima dos Mossos, a polícia local.

Os Mossos d’Esquadra, ou simplesmente Mossos, são a principal força policial da Catalunha, substituindo largamente a Policía Nacional e a Guardia Civil de outras regiões de Espanha.

Este reforço dos agentes que não Mossos deve-se ao receio do governo espanhol de que a polícia catalã seja passiva no dia do referendo. O planeamento para 1 de outubro permanece blindado e as informações são escassas; Mariano Rajoy quer evitar as fugas de informação e dissipar a ideia de que a Catalunha vai ser tomada pela Policía Nacional e pela Guardia Civil.

Durante as últimas semanas, antes ainda das detenções desta quarta-feira, a Guardia Civil manteve os agentes que habitualmente fazem o “turno de verão” na Catalunha. Além disso, o governo enviou para aquela região unidades de intervenção policial, os especialistas da Policía Nacional encarregados de garantir a ordem pública.

O dispositivo contempla também a colocação de agentes de investigação e de elaboração de diligências. De acordo com o El Mundo, responsáveis da área da Polícia Judicial procuraram voluntários tanto na Unidade Central Operativa da Guarda Civil como na Unidade de Delinquência Económica e Fiscal da Polícia para participar nas investigações abertas pela comissão de atividades criminosas.

Está previsto que em menos de 24 horas chegue à Catalunha um contingente de agentes que está habituado a realizar detenções para que a ação seja mais rápida. Há um grande receio por parte do governo espanhol de que os Mossos possam obstruir investigações e complicar processos de imputação de alegados criminosos.

http://observador.pt/2017/09/21/espanha-ministerio-do-interior-planeia-substituir-os-mossos/

nota: Se o Rajoy queria evitar as fugas de informação e a ideia de que a Catalunha vai ser tomada de assalto pela Guardia Civil e pela Policia Nacional já vai tarde tendo em conta as noticias no Bloombeg 2/3 post acima. Mas até o percebo tendo em conta uma vez em que estive em Madrid na mesma altura em que houve uma greve dos transportes ferroviários locais (cercanias) e não consegui encontrar uma única notícia sobre o assunto nos meios de informação de Madrid. Tomara ele conseguir instalar a lei da rolha fora de Espanha...

Cumprimentos,
 

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NVF

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2086 em: Setembro 26, 2017, 01:50:41 am »
O que é que se passa na Europa e em Portugal face à Catalunha?

https://www.publico.pt/2017/09/23/mundo/noticia/o-que-e-que-se-passa-na-europa-e-em-portugal-face-a-catalunha-1786368

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Não se percebe o que é que se passa na Europa e em Portugal perante os acontecimentos na Catalunha. Ou melhor, percebe-se bem de mais. O governo e a Assembleia catalã pretendem realizar um referendo para perguntar aos seus cidadãos se querem ou não uma Catalunha independente. Do ponto de vista do Estado espanhol, e da Constituição espanhola, o referendo é ilegal, o que implicaria que deste ponto de vista os seus resultados seriam juridicamente nulos. Impedir a realização do referendo é uma coisa de natureza muito diferente e destina-se a impedir não os seus efeitos jurídicos, mas os seus efeitos políticos. Por isso, o problema é eminentemente político e o modo como tem sido tratado é igualmente significativo no plano político.

É por isso mesmo que não compreendo, ou melhor, compreendo bem de mais, por que razão se silencia o debate político e se aceita o modo como o Governo espanhol está a reagir, com prisões, congelamento dos fundos, fecho de sites na Internet, ameaças de todo o tipo e, na prática, ocupação policial de instalações sob jurisdição do governo da Catalunha. Como não se quis invocar o artigo da Constituição espanhola que permitia, na prática, a ocupação policial da Catalunha e a cessação da sua autonomia, para evitar seguir os procedimentos legais da sua aplicação, a actuação governamental espanhola é igualmente de duvidosa legalidade. De novo, voltamos ao problema político que se pode resumir facilmente: os catalanistas esperam uma maioria de votos a favor da independência e os “espanholistas” temem o mesmo resultado. Não adianta dizer na mesma frase que se pensa que, se fossem votar, os catalães recusariam a independência, e impedir o referendo que, nessa presunção, daria uma forte legitimação ao Estado espanhol e um brutal golpe nas aspirações independentistas. De novo, insisto, uma coisa é fazer o referendo e assumir como nulos os seus resultados, fossem num sentido ou noutro; outra é impedi-lo. O impedimento mostra medo do voto, e isso fragiliza muito a posição governamental e dos partidos hostis à possibilidade de independência catalã.

Neste contexto, é perigoso o modo como as instituições europeias estão a actuar, acompanhadas, como é habitual nos momentos mais decisivos, por uma espécie de consenso comunicacional, que faz suceder artigos sobre artigos, noticiários tendenciosos sobre noticiários tendenciosos, contra o referendo catalão. Basta ler a imprensa e ver a televisão espanhola para perceber que não há verdadeiro debate sobre o que se está a passar, mas uma barragem de posições que tem em comum serem todas contra o referendo e a possibilidade da independência catalã. Estamos a falar da comunicação social de um país e uma democracia europeia, e ninguém parece espantado e revoltado com tanta unanimidade agressiva, com os jornalistas a incorporarem na sua linguagem todo o vocabulário e argumentário anti-catalão. Ora, isto não é normal, como não é normal o esforço das instituições europeias para isolarem a Catalunha, as mesmas que aceitaram o referendo sobre a independência da Escócia (que se irá repetir a curto prazo) e agora se calam perante um processo de controlo e manipulação comunicacional e perante a repressão política que se abate sobre a Catalunha. Sim, repressão política, que parece deixar indiferentes todos aqueles que vêm para a rua protestar contra qualquer violação dos direitos e liberdades e muitos dos quais certamente apoiam o referendo curdo pela independência do Curdistão iraquiano e acham abusiva a posição de o impedir por pressão da Turquia.

E depois o argumento da legalidade é o mais hipócrita de todos. A mesma Europa que recusa o referendo catalão participou num processo ilegal de derrube do legítimo Governo ucraniano, apoiando as forças protofascistas que ocuparam a Praça Maidan em Kiev, com a consequência na guerra civil nos Donets, na intervenção russa e na ocupação da Crimeia. Sim, o Presidente corrupto que foi derrubado com o apoio da União Europeia era o Presidente legítimo e eleito da Ucrânia. Por isso, não me venham com argumentos elásticos sobre a legalidade, que ocultam a política. Na Europa já houve, aliás, processos de divisão entre parte de um país unido, como aconteceu na Checoslováquia, e a Europa fecha os olhos a realidades como a da Moldova, onde há dois governos e dois “países”.

O que se passa é que há hoje na União Europeia um traço de autoritarismo sempre que se atinja ou possa atingir o statu quo europeu e nas questões de soberania. Verificou-se no “Brexit”, com ameaças feitas por altos responsáveis da União aos ingleses, cujo efeito foi reforçar o voto de saída, e verifica-se com todo o esplendor na Catalunha. Aliás, nota-se uma coincidência entre o europeísmo mais duro e a hostilidade contra o referendo catalão.

Ora, o independentismo catalão nada tem que ver com o nacionalismo basco mais extremado da ETA, nem sequer com as tentativas da Padânia em Itália. Se, na Catalunha, uma parte importante da direita catalã podia servir de contrabalanço ao independentismo, tal não aconteceu porque o PP foi praticamente varrido da Catalunha e foi afogado nos escândalos de corrupção que acabaram com o catalanismo mais moderado. O resultado foi o crescimento de partidos independentistas, que têm, aliás, uma longa tradição, mas que estão mais no centro-esquerda, e que têm travado uma luta política com os instrumentos da democracia e não com atentados e bombas. Agora que estão sujeitos a repressão, a Europa faz de conta que não vê, porque incorpora plenamente a posição do Governo espanhol.

No caso português, a minha perplexidade é ainda maior. Parece que os nossos espanholistas se esquecem da história portuguesa, tão recente como o pós-25 de Abril — já não é preciso ir à defenestração de Miguel Vasconcelos e ao papel da Catalunha na Restauração. Como eu o posso dizer com clareza, e admito que os nossos governantes não possam nem devam fazer, é do interesse nacional que não se dê uma concentração do poder centralista em Madrid, e por isso os portugueses sempre viram com simpatia os processos políticos do catalanismo e do galeguismo — o caso basco, por causa do terrorismo, é diferente — e nunca alinharam com a tradição de uma Espanha unitária imposta contra as autonomias ou as nacionalidades. Foi assim durante a guerra civil espanhola, em que o franquismo, de que em muitos aspectos o PP espanhol é herdeiro, esmagou as experiências federalistas e nacionais, e em que mesmo Salazar olhava com muita preocupação para as pretensões de integrar em Espanha a “anomalia” portuguesa. O mesmo tipo de preocupações se reproduziram depois do 25 de Abril, quando uma parte da reacção portuguesa foi organizar-se em Espanha. Depois, embora sempre com muita discrição, nunca se abandonou a ideia de que uma preocupação do “conceito estratégico de defesa nacional” passava por Espanha. E não era Olivença que preocupava os militares e políticos portugueses, era mais a delimitação das fronteiras nas ilhas madeirenses. Por que é que pensam que os presidentes da República mostram uma vontade de visitarem as ilhas Selvagens (e não é por causa das aves)?

Por todas as razões, os portugueses são historicamente próximos da Catalunha, embora quem leia a comunicação social veja o mesmo alinhamento com o Estado espanhol e a mesma linguagem autoritária que hoje é infelizmente tão comum na União Europeia (lembram-se da Grécia?). O debate tende a ocultar o aspecto político da questão e, por isso, mostra-se uma grande indiferença à repressão, ao unanimismo e manipulação comunicacional, à agressividade da linguagem centralista e, no fundo, a um atentado à legitimidade do governo catalão e da vontade dos catalães.

É porque o referendo é “ilegal”? Nunca vi tanto apelo à legalidade numa questão política conflitual e em que está em jogo uma vontade política que se quer (ou não) expressar pelo voto. E, se não custa perceber que o referendo pode ser impedido à força, já é difícil perceber como é que se vai governar depois a Catalunha. Não será com ofertas de dinheiro... E se novas eleições reforçarem os partidos independentistas funcionando como um referendo também sobre a independência? E no dia 1 não custa perceber que milhares de pessoas vão proteger os locais de voto e as urnas. Como é que se vai fazer? Prender toda a gente? Prender o governo da Generalitat? À luz do que se passou é já uma hipocrisia não o ter prendido. Como é que se vai lidar com a polícia autónoma, com os Mossos d’Esquadra, etc., etc.?

Os catalães mereciam mais dos portugueses. Por interesse nacional, pela democracia e pela liberdade.

José Pacheco Pereira
Talent de ne rien faire
 

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2087 em: Setembro 27, 2017, 10:15:03 am »
Trump quer "Espanha unida"


 

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2088 em: Setembro 27, 2017, 10:26:47 am »
Ouvir um vendedor de opinião pago pelo sistema, como o inenarrável Nuno Rogeiro, a debitar sobre a inconstitucionalidade do referendo (digam aí uma Constituição de um país que permita secessões) reduzindo uma questão politica a legalidades, esse mesmo palhaço que defendeu situações como a do Kosovo e verdadeiras catástrofes como as do Iraque, Síria ou Líbia, em nome do "direito" dos povos de escolherem o seu caminho, dá simplesmente asco.

Falando com alguns amigos catalães, que até são quase todos eles "espanholistas" no sentido que achavam que a Catalunha devia manter-se na Espanha embora alguns com a opinião de uma autonomia alargada, o que notei foi um virar de posição. Estão revoltados com a forma como o governo central está a gerir a coisa e, perante o autoritarismo e prepotência de Madrid criaram anti-corpos contra Espanha.

Creio que essa irritação vai extremar-se e embora não acredite que venha a deflagrar em conflito aberto, a atitude do governo de Madrid fez com que os catalães "indecisos" ou mesmo pró-espanha estejam a passar para o campo independentista.

Vergonhoso é a forma como as coisas estão a ser tratadas pela comunicação social aqui no burgo. 
 
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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2089 em: Setembro 27, 2017, 10:50:41 am »
Vergonhoso é a forma como as coisas estão a ser tratadas pela comunicação social aqui no burgo.

Esta e outras... vê Angola! :N-icon-Axe:
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2090 em: Setembro 27, 2017, 12:12:42 pm »
Ouvir um vendedor de opinião pago pelo sistema, como o inenarrável Nuno Rogeiro, a debitar sobre a inconstitucionalidade do referendo (digam aí uma Constituição de um país que permita secessões) reduzindo uma questão politica a legalidades, esse mesmo palhaço que defendeu situações como a do Kosovo e verdadeiras catástrofes como as do Iraque, Síria ou Líbia, em nome do "direito" dos povos de escolherem o seu caminho, dá simplesmente asco.

Falando com alguns amigos catalães, que até são quase todos eles "espanholistas" no sentido que achavam que a Catalunha devia manter-se na Espanha embora alguns com a opinião de uma autonomia alargada, o que notei foi um virar de posição. Estão revoltados com a forma como o governo central está a gerir a coisa e, perante o autoritarismo e prepotência de Madrid criaram anti-corpos contra Espanha.

Creio que essa irritação vai extremar-se e embora não acredite que venha a deflagrar em conflito aberto, a atitude do governo de Madrid fez com que os catalães "indecisos" ou mesmo pró-espanha estejam a passar para o campo independentista.

Vergonhoso é a forma como as coisas estão a ser tratadas pela comunicação social aqui no burgo.

O Nuno Rogeiro de facto é um asno, mas não percebo o que é que defines por sistema... É os sistema político? O sistema financeiro? Político-financeiro? É que o PCP é do sistema, tal como o PNR quando vai a eleições.
Também me dá asco ver pessoas que defendem a auto-determinação da Catalunha, criticarem o Kosovo mas apoiarem a anexação da Crimeia e a ocupação de Donetsk e Lugansk e achar que o Putin é um exemplo a seguir em termos de governação.
Quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras para o ar...

Apoiei a auto-determinação de Timor, critiquei a do Kosovo por naõ estarem reunidas condições de isenção, tal como na Crimeia. Referendos com forças ocupantes a puxar por um dos lados não são legítimas.

Já em relação à Catalunha, a única razão porque não vai dar em guerra civil é porque os catalães avançaram com prepotência em relação às outras regiões, com a história de não querer pagar para o resto da Espanha e portanto estão isolados dentro de Espanha mesmo em relação aos outro movimentos independentistas. E o facto de não ter cordenado com outras forças independentistas o processo.
A questão da legitimidade constitucional é uma fantochada à moda PP, que ainda tem demasiados tiques franquistas. Ainda há pouco tempo, para além da Guardia Civil, fez movimentar os Pizarro para a Catalunha.
 
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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2091 em: Setembro 29, 2017, 12:17:08 pm »
Não se trata de apoiar o referendo ou não, seja ele na Catalunha, no Curdistao, na Crimeia ou em Namek contra o pérfido império Klingon.

Assim como não se trata de defender Putin, apoiar as acções dele na Ucrânia ou na Síria, ou achar que é exemplo ou raio que o parta. Na realidade estou, pura e simplesmente borrifando para o Putin, Rajoy, Trump, etc.
O que me importa é o reflexo que as acções e decisões deles têm sobre o que eu considero serem os interesses de Portugal como Nação e Povo, e depois da Europa, onde estamos enfiados, no tabuleiro global.

Quando, se passam certas linhas e se cruzam certas portas, só porque sim, mandando às urtigas todas as regras escritas e não escritas que mantiveram o equilíbrio da coisa desde 1945, o que se pode esperar é justamente o que se está a ver. Se tu fazes eu também vou fazer e, quando se fala de potencias com capacidade de aniquilação global, o jogo fica mais que perigoso.

O que se passou no Kosovo, que em ganhos estratégicos para o Ocidente foi zero, abriu porta a Abecassias, Ossétias, Curdistões, Catalunhas e sabe-se lá mais o que aí vem, voltando-se contra nós próprios. Isso, caso não saiba, é denominado por "blowback" na gíria.

Também na situação da Ucrânia, diga lá o que outra potência faria numa situação daquelas? Perder o principal porto de águas quentes de toda a frota e ficar com bases da OTAN a 300 kms da capital, havendo nada mais que uma planície limpa até lá? Os políticos da UE e dos USA foram meter-se num jogo que arrepiou, até à medula, a esmagadora maioria dos planificadores militares e muito contida foi a resposta russa, para desespero de certos falcões que queriam sangue a monte para poder vender aos idiotas do Povo um conflito que tinha tudo para acabar mesmo mal. Com uma Europa novamente dilacerada por um conflito e a ponte ente as potencias asiáticas e a Europa arrasada quem ganharia com isso? Não seria Portugal, certamente e uma nova Silk Road é pesadelo para alguém do outro lado do "lago"

Assim como a tempestade de esterco que se tornou o ME. Quem ganhava com aquilo? Quem é que ficou com o flanco sul completamente exposto e a ter de levar com vagas de milhões de refugiados que, milagrosamente, não têm um tusto para comer mas conseguem pagar milhares de € ou $ aos traficantes que os passam para a Europa? De onde são e quem finacia as ONG que "comparticipam" as passagens dos refugiados?

Quando escrevi aqui, vai para uns largos anos, que deveríamos apostar num eixo Ocidente-Turquia-Irão em detrimento do Ocidente-Israel-Arábia Saudita, para evitar o que se veio a passar e afirmando que se não o fizéssemos, seria Moscovo a tomar o lugar, era com isto em mente.

Quanto à Catalunha tivesse o governo espanhol tomado uma acção como o de Londres, convocado um referendo quando os independentistas eram uma minoria, tinha safo a coisa, calava outras regiões e assegurava uma legitimidade politica que, agora perdida, tenta manter com legalidades, ameaças e força bruta.
Por muita simpatia que tenha pelos catalães, mais que não seja porque a Restauração conseguiu-se devido a eles, uma Espanha em instabilidade politica e económica é péssima para Portugal.

 
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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2092 em: Setembro 29, 2017, 12:44:58 pm »
Lembro-me de quando tu escreves-te acerca desse possível eixo Ocidente-Turquia-Irão e pensar que tinhas abusado na dialéctica. Agora vejo os Russos a fazerem isso mesmo...

Talvez se tivesse sido feito à uns anos, a besta do Erdogan não tivesse se tornado no que é hoje.

Agora temos problemas atrás de problemas, a Rússia de um lado, refugiados pelo outro e a Turquia pelo outro... estamos encurralados e a extrema-direita/esquerda estão a aproveitar para ganhar influência por toda a Europa.
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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2093 em: Setembro 29, 2017, 01:32:57 pm »
Não se trata de apoiar o referendo ou não, seja ele na Catalunha, no Curdistao, na Crimeia ou em Namek contra o pérfido império Klingon.

Assim como não se trata de defender Putin, apoiar as acções dele na Ucrânia ou na Síria, ou achar que é exemplo ou raio que o parta. Na realidade estou, pura e simplesmente borrifando para o Putin, Rajoy, Trump, etc.
O que me importa é o reflexo que as acções e decisões deles têm sobre o que eu considero serem os interesses de Portugal como Nação e Povo, e depois da Europa, onde estamos enfiados, no tabuleiro global.

Quando, se passam certas linhas e se cruzam certas portas, só porque sim, mandando às urtigas todas as regras escritas e não escritas que mantiveram o equilíbrio da coisa desde 1945, o que se pode esperar é justamente o que se está a ver. Se tu fazes eu também vou fazer e, quando se fala de potencias com capacidade de aniquilação global, o jogo fica mais que perigoso.

O que se passou no Kosovo, que em ganhos estratégicos para o Ocidente foi zero, abriu porta a Abecassias, Ossétias, Curdistões, Catalunhas e sabe-se lá mais o que aí vem, voltando-se contra nós próprios. Isso, caso não saiba, é denominado por "blowback" na gíria.

Também na situação da Ucrânia, diga lá o que outra potência faria numa situação daquelas? Perder o principal porto de águas quentes de toda a frota e ficar com bases da OTAN a 300 kms da capital, havendo nada mais que uma planície limpa até lá? Os políticos da UE e dos USA foram meter-se num jogo que arrepiou, até à medula, a esmagadora maioria dos planificadores militares e muito contida foi a resposta russa, para desespero de certos falcões que queriam sangue a monte para poder vender aos idiotas do Povo um conflito que tinha tudo para acabar mesmo mal. Com uma Europa novamente dilacerada por um conflito e a ponte ente as potencias asiáticas e a Europa arrasada quem ganharia com isso? Não seria Portugal, certamente e uma nova Silk Road é pesadelo para alguém do outro lado do "lago"

Assim como a tempestade de esterco que se tornou o ME. Quem ganhava com aquilo? Quem é que ficou com o flanco sul completamente exposto e a ter de levar com vagas de milhões de refugiados que, milagrosamente, não têm um tusto para comer mas conseguem pagar milhares de € ou $ aos traficantes que os passam para a Europa? De onde são e quem finacia as ONG que "comparticipam" as passagens dos refugiados?

Quando escrevi aqui, vai para uns largos anos, que deveríamos apostar num eixo Ocidente-Turquia-Irão em detrimento do Ocidente-Israel-Arábia Saudita, para evitar o que se veio a passar e afirmando que se não o fizéssemos, seria Moscovo a tomar o lugar, era com isto em mente.

Quanto à Catalunha tivesse o governo espanhol tomado uma acção como o de Londres, convocado um referendo quando os independentistas eram uma minoria, tinha safo a coisa, calava outras regiões e assegurava uma legitimidade politica que, agora perdida, tenta manter com legalidades, ameaças e força bruta.
Por muita simpatia que tenha pelos catalães, mais que não seja porque a Restauração conseguiu-se devido a eles, uma Espanha em instabilidade politica e económica é péssima para Portugal.


Temos a mesma preocupação relativamente aos equilíbrios e aos interesses de Portugal e da Europa.
Mas os equilíbrios de 1945 foram ditados por duas potências externas à Europa e portanto eram precários. Prova disso foi a implosão da própria União Soviética e a debandada dos seus países satélites. O ponto de equilíbrio não é permanente e estável, está sempre a deslocar-se. Todos os actores tentam puxar esse ponto para o seu lado. Por vezes a única forma de encontrar esse equilíbrio é uma guerra, que é o que a História nos mostra... Principalmente na Europa. E muitas vezes os eventos que levam a esse momento são controlados não pelos actores principais, mas pelos secundários ou até pelo gajo que faz as sandes para o Brad Pitt.

Os problemas na Ucrânia têm mais a ver com a incompetência e corrupção de Yanukovych, ou até mesmo com a ligação histórica com a Polónia do que com a intervenção da Rússia ou dos EUA antes do Maidan. Óbvio, que as grandes potências não são inocentes, mas achar que há uma mão omnipresente americana ou russa em toda a merda que acontece é igual a achar que há um Deus a aceitar discos pedidos. Muitas vezes as potências limitam-se a reagir aos acontecimentos (os EUA são óptimos a não ver a merda antes de estarem mergulhados nela e quando tentam pensar estrategicamente raramente fazem alguma coisa de jeito) e os líderes têm de tomar decisões imediatas com pouca informação ou má informação. Como sabes, na maioria das vezes as decisões apressadas dão em merda (Duvido que o Putin tenha pensado que a esta hora ainda estaria atolhado no Donbass ou que os americanos tenham pensado que o Iraque lhes ia custar tantos biliões de dólares e dores de cabeça).

Eu continuo a dizer que Putin perdeu a Ucrânia mais por culpa dele do que dos americanos. Se tivesse tido paciência estratégica, os ucranianos apoiantes do Ocidente iam degladiar-se entre si e mais cedo ou mais tarde ele conseguia meter lá um Yanukovych mais inteligente para segurar a situação.
A única razão porque isso ainda não aconteceu é porque as elites corruptas ucranianas estão com medo do que lhes pode acontecer se cederem agora à Rússia o que quer que seja. O Yanukovych conseguiu fugir, estes podem não ter essa sorte.
As elites ucranianas estão fortemente ligadas à Rússia e não lhes interessa nada um país com justiça e com um mercado aberto e querem voltar ao "business as usual".
O problema é que o povo está farto, e sendo relativamente jovem e com um nível de literacia alto é mais complicado de manter na linha.

O problema desse tal eixo é que há actores secundários que têm agendas que entram em colisão. A Turquia há anos que financia grupos salafistas e os actuais líderes sonham com um Império Neo-Otomano, o que entra em colisão com as próprias fronteiras da UE. Mantêm o discurso que querem entrar na UE apenas para manter as elites controladas, mas isso já está a mudar, agora que já controlam o país com mão de ferro.
A vaga de refugiados também tem muito o dedo dos turcos. Primeiro, porque andaram a dar uma mãozinha aos rebeldes na Síria. Segundo, porque facilitaram durante muito tempo as redes ilegais de imigração. Aliás, há estórias a circular da ligação de alguns políticos do AKP ao tráfico de heroína e de pessoas...
O Irão, não vejo porque seria uma mais valia para a Europa.
Mais a Turquia está a meter-se numa grande alhada. Está rodeada por bases russas e tem interesses distintos aos da Rússia. Erdogan é um animal político mas, como a maioria dos ditadores, tem mais interesse na sua sobrevivência política do que na sobrevivência a longo prazo do Estado turco.

A Rota da Seda não nos interessa para nada. O que é do nosso interesse é precisamente evitar a rota por terra (como o foi no tempo dos Descobrimentos) e forçar uma rota pelo Canal do Panama. Quanto mais merda acontecer na Ásia Central, melhor para nós.
Por outro lado a rota marítima, mantém a China na defensiva (enquanto constrói uma Marinha capaz) e impede avarias militaristas que possam surgir devido a arrufos no Comité Central.
« Última modificação: Novembro 23, 2017, 10:55:59 am por Falcão »
 

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2094 em: Setembro 29, 2017, 04:14:50 pm »
"O Nuno Rogeiro de facto é um asno, mas não percebo o que é que defines por sistema... É os sistema político? O sistema financeiro? Político-financeiro? É que o PCP é do sistema, tal como o PNR quando vai a eleições."

Para quem tanto escreve, e para tanta "geopolítica" não sabe o que é o "sistema"? ;)

Já agora, alguém pode explicar porque é que a Catalunha, com tanta ânsia independentista, quer aderir à União Europeia?
Tal como os fervorosos independentistas da Escócia?
É que é estranho, saírem de uma para depois irem para outra.

Quanto a Portugal, quem é fraco alinha pelo discurso do mais forte. Se fossemos três vezes mais fortes aí talvez pudéssemos "bufar" se isso fizesse sentido.
Mas como é cómodo ser fraquinho...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 
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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2095 em: Setembro 29, 2017, 04:22:58 pm »
"Assim como não se trata de defender Putin, apoiar as acções dele na Ucrânia ou na Síria, ou achar que é exemplo ou raio que o parta. Na realidade estou, pura e simplesmente borrifando para o Putin, Rajoy, Trump, etc.
O que me importa é o reflexo que as acções e decisões deles têm sobre o que eu considero serem os interesses de Portugal como Nação e Povo, e depois da Europa, onde estamos enfiados, no tabuleiro global."


"Subtilezas", Troop.
Pura e simplesmente não podes partilhar de alguns valores que ele defende, por tacticismo ou não. Aliás, os outros podem agir pragmaticamente que isso já é considerado legítimo, mas enfim...
Portanto o que é bom para os "ocidentais" - ou melhor para quem activamente trabalha para a sua destruição - é defender o aborto (apesar da reduzida taxa de natalidade, consequência das políticas e propaganda cultural), promover a homossexualidade, o feminismo histérico, a "culpa histórica" dos povos europeus, os migrantes, etc, etc, etc...
- Ora isso é que é fino, caramba!

« Última modificação: Setembro 29, 2017, 04:25:24 pm por Luso »
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 
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Lusitan

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2096 em: Setembro 29, 2017, 06:16:20 pm »
"O Nuno Rogeiro de facto é um asno, mas não percebo o que é que defines por sistema... É os sistema político? O sistema financeiro? Político-financeiro? É que o PCP é do sistema, tal como o PNR quando vai a eleições."

Para quem tanto escreve, e para tanta "geopolítica" não sabe o que é o "sistema"? ;)

Já agora, alguém pode explicar porque é que a Catalunha, com tanta ânsia independentista, quer aderir à União Europeia?
Tal como os fervorosos independentistas da Escócia?
É que é estranho, saírem de uma para depois irem para outra.

Quanto a Portugal, quem é fraco alinha pelo discurso do mais forte. Se fossemos três vezes mais fortes aí talvez pudéssemos "bufar" se isso fizesse sentido.
Mas como é cómodo ser fraquinho...

Obviamente que eu tenho uma definição de "sistema" político, económico, etc. Estranho é quando é usado como termo vago para criticar tudo aquilo que não gostamos. Porque um partido que defende uma ideologia onde eu me revejo faz tanto parte do sistema como um partido que defende uma que eu abomino. Não deixo, no entanto, de defender o sistema que permite a coexistência dos dois e a livre expressão das suas visões políticas, desde que dentro da legalidade.
Em democracia, os valores e leis tendem a reflectir a vontade da maioria do povo duma Nação. Eu posso não gostar ou até achar uma carneirada uma determinada posição política, mas não deixo de a considerar legítima.
Há partidos políticos que vivem de questões fracturantes, e sem elas perdem capacidade de mobilização, o problema é quando os partidos do arco da governação vão na cantiga para ganhar votos e se põem a mexer em leis que não representam a vontade do povo ou quando usam estas questões para mandar areia para os olhos dos portugueses.
Para mim há questões mais importantes do que homossexualidade, aborto, etc. Mas essas não estimulam paixões nem ódios. E são muito incómodas porque poderiam levar a que se questionasse investimentos e a paragem de determinados fundos. Agora, o problema não é o sistema, é a iliteracia política dos portugueses que votam no clube e não nas políticas.

Agora vamos À parte dos valores... Até hoje ainda ninguém me mostrou que valores é que o Putin defende... até porque a maioria desta conversa da defesa da família, da cultura, da homossexualidade, etc. esbarra facilmente com a realidade, que é muito mais chata do que citar umas notícias da Sputnik ou dum site manhoso de extrema-direita.
Não vi nunca um político ocidental responsável ou com cargo de chefia defender o acto do aborto! O que foi defendido é que o aborto deve ser feito em segurança e a mulher deve ter o direito a decidir dentro dum prazo legal se quer ou não prosseguir com uma gravidez. O que se fez foi legislar uma situação que existia, que toda a gente sabia que exisitia, mas que era praticada na clandestinidade e que muitas vezes levava À morte das mulheres que o praticavam (aí já não conta a taxa de natalidade... mas a taxa de mortalidade). O aborto é hoje legal em determinadas circunstâncias, e pasme-se, desde 2008 que tem vindo a descer o número em Portugal.
Mais... de nada serve parir putos a torto e a direito para os deixar a passar fome ou entregá-los a Casas Pias. A forma de combater o aborto não é proibi-lo, mas sim criando condições para que os pais os queiram/possam criar.
Promover a homossexualidade é uma piada? Quem é que promove a homossexualidade? Os professores na escola? Os políticos que andam atrás das crianças para as desviar? É uma cena que põem nas vacinas?
Os migrantes? Antes da Expo98 Portugal recebeu milhares de imigrantes indocumentados e não se falava em nada, agora que vieram uma centena de refugiados para Portugal isto é que vai ser que vamos ser invadidos pelos monhés com bombas de caril!!!
Se estamos a falar de integração, isso é outra questão, que concordo que não tem sido feita de forma correcta. E na minha opinião isso acontece porque as elites normalmente vivem em mundos multiculturais e não entendem que entre a população as raízes contam, e quando estas são postas em cheque, levam a conflictos.
Não me parece ver grande culpa histórica aqui por Lisboa... E também não tenho visto muitas exibições de "feminismo" histérico. Talvez aí para os seus lados seja diferente...
 

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Lusitano89

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2097 em: Setembro 29, 2017, 09:24:42 pm »
País Basco segue de perto referendo na Catalunha


 

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2098 em: Outubro 01, 2017, 07:16:33 pm »
O governo espanhol conseguiu o que não queria. Como o tempo da rolha já lá vai, ver policia a carregar sobre bombeiros e idosos, ver um quase conflito entre unidades de "mossos d'esquadra" e guardia civil, com os últimos a ter de recuar nas intenções para evitar sangue, acabou com o que restava de legitimidade politica do governo central.

Para além disso serviu para virar a favor da independência uma boa fatia dos que eram neutros ou unionistas. Bom trabalho.
 

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Lusitano89

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Re: Separatismos em Espanha
« Responder #2099 em: Outubro 03, 2017, 11:17:18 pm »
Rei de Espanha denuncia "comportamento irresponsável" dos dirigentes catalães