Imprensa critica diplomacia russa por causa de Alexandra
A diplomacia russa está a ser alvo de fortes críticas na imprensa devido à sua participação no processo de entrega de Alexandra à mãe biológica.
«O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, que colaborou na devolução de Alexandra à mãe biológica, optou pela posição de patriotismo informativo. O tom das declarações dos seus funcionários é clara: não é preciso fazer da mosca um elefante. Embora fosse mais correcto dizer: fazer de um elefante uma mosca, em que se transformou a transferência da menina para a Rússia», escreve o diário Moskovski Komsomolets.
Na quinta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia acusou órgãos de informação russos e portugueses de publicarem «artigos claramente provocatórios» sobre este caso.
«Não é importante o futuro da criança, que de facto caiu noutro mundo e que nem sequer fala russo, porque, ao que tudo indica, a mãe não falou com ela até aos seis anos. O importante é conservar a imagem de grande potência. Por isso é preciso, pelo menos por enquanto (se é possível! por favor!), não bater na criancinha em frente das câmaras. E não falar com os jornalistas com a voz embrulhada a uma mesa coberta com as nossas iguarias nacionais», ironiza o diário.
Escreve o Moskovski Komsomolets: «As nossas autoridades e órgãos de informação oficiais parecem ter desaprendido a olhar para a situação de forma simplesmente humana. Por isso, na realidade, hoje, a imagem da Rússia é salva não por funcionários indiferentes e jornalistas patrióticos, mas por pessoas simples».
O diário tem em vista a onda de simpatia para com o casal de acolhimento português na Internet russa.
O jornalista Serguei Parkhomenko foi ainda mais cáustico aos microfones da rádio Eco de Moscovo, considerando que Alexandra foi separada da família de acolhimento para «levantar em mais meio milímetro a dignidade nacional russa».
«E receio muito que estes jogos, "Traz uma criança para a Rússia a qualquer preço" e "Jogo da criança russa", se tornem populares entre os diplomatas e funcionários consulares russos em todo o mundo... Para o burocrata, o principal é apenas agradar às chefias. Ele não se preocupa com mais nada», sublinha o jornalista.
Os canais de televisão, incluindo o NTV, que iniciou a discussão ao mostrar as imagens de violência sobre Alexandra, deixaram de abordar este tema.
Apenas na Internet se podem encontrar posições favoráveis a Natália Zarubina, a mãe de Alexandra.
«O problema dos que exigem que a menina seja devolvida a Portugal consiste em que eles propõem criar um precedente mundial de renúncia aos direitos paternais e começar um processo universal de redistribuição das crianças segundo o princípio da eugénica», escreve Olga Sagareva no jornal electrónico Novie Khroniki.
«Ou seja, retirar todas as crianças às mães alcoólicas associais, às mães pobres, infectadas com o virus da SIDA em África e enviá-las para Portugal, para os tios e tias ricas. Retirar todas as crianças africanas aos países e entregá-las a Madonna e Angelina, enviá-las para os Estados Unidos, para o Pólo Norte», sublinha.
A menina, de seis anos e filha de uma imigrante russa, estava à guarda de uma família de Barcelos, em Portugal, há quatro anos, mas uma decisão do Tribunal da Relação de Guimarães, confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça, determinou a sua entrega à mãe.
O pai, um imigrante ucraniano, vive actualmente em Espanha. A criança, que fala apenas português, passou recentemente a viver com a mãe e a avó numa cidade russa, a 350 quilómetros de Moscovo.
Lusa