Portugal pode cair na dependência assistida como Sul Itália

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Marauder

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Portugal pode cair na dependência assistida como o Sul da Itália admite António Borges

DE com Lusa


O economista António Borges admite que Portugal caia numa situação similar à que se encontra o Sul da Itália, que vive das transferências do Norte, o que configura uma realidade de dependência assistida.

O ex-vice-governador do Banco de Portugal, que falava na conferência realizada quinta-feira na Universidade Católica, prevê aquela situação como resultado da perda de competitividade da economia portuguesa.

A perda de competitividade tem-se traduzido na asfixia do sector dos transaccionáveis [bens e serviços que concorrem com os estrangeiros, seja nos mercados externos, seja através das importações].

Considerando a competitividade uma questão central da economia portuguesa, Borges contrapôs que em Portugal "ninguém investe nos sectores expostos [à concorrência internacional]".

Ao contrário, disse, as empresas que estão a operar em áreas protegidas da concorrência estrangeira "nunca estiveram tão bem", e exemplificou com as cotadas bolsistas, que apresentam uma boa saúde, mas que estão na sua maioria protegidas da concorrência.

"As ofertas públicas de aquisição [OPA] ocorrem em sectores protegidos; não há OPA nos têxteis ou no vestuário", comentou.

É esta concentração do investimento no sector não transaccionável que explica o paradoxo aparente de a economia portuguesa apresentar uma das mais elevadas taxas de investimento, enquanto ao mesmo tempo acumula problemas e perde competitividade.

Desta forma, "não se pode dizer que o futuro do País está na moderação salarial, enquanto se fazem aeroportos e auto-estradas", acrescentou.

Borges, que também é um dos vice-presidentes da Goldman Sachs, defende que a saída passa por um novo modelo, em que o crescimento é liderado pelas exportações.

Modelo este que tem a competitividade associada à criação de valor, a ganhos de produtividade, à qualidade e inovação e - enfatizou - à qualidade do investimento, mencionando ainda o papel do investimento directo estrangeiro.

Borges avisou, em todo o caso, que "não se muda nada sem os empresários, mas que estes não estão a investir no sector transaccionável, porque todos os incentivos vão no sentido de privilegiar os protegidos".

Considerou assim que "aqui é que faia falta uma política económica" que travasse os benefícios gozados pelos que estão protegidos da concorrência externa e favorecesse o sector transaccionável.

Esta política económica seria a alternativa à actual, que considerou "errada e contraproducente".

António Borges entende que se instalou no País a ideia de que há dinheiro fácil e que há que gastá-lo.

Esta ideia é errada, disse, porque a lógica do euro, que reduziu, por um lado, as condições de acesso a financiamentos e, por outro, embarateceu o custo do crédito, exigia "uma grande disciplina".

Ora, aconteceu, ao contrário, que "ficou-se com a ideia de que o dinheiro era de graça".

Esta queda dos juros, associada à entrada em vigor da moeda única, acrescida dos fundos estruturais, criou uma situação em que "parece que o País ficou embriagado com a facilidade com que o dinheiro lhe chega".

Acontece que "não é possível gastar dinheiro como se gasta em Portugal nos EUA, na França ou no Reino Unido", disse Borges, aludindo aos países que melhor conhece.

Insistindo muito no ponto da qualidade do investimento, criticou os grandes projectos, atribuiu-os tanto a uma política económica "errada e contraproducente" como à "tentação" de todos os governos pelas grandes obras.

Reconhecedor da seriedade governamental no combate ao défice orçamental e no esforço de sustentar a Segurança Social, contrapôs o que entende ser a insuficiência de esforços.

Prevê em consequência que se esteja a "destruir capital político, mas sem conseguir resultados satisfatórios".

Para António Borges, a leitura da situação conjuntural da economia portuguesa é dominada pela questão da competitividade, da falta desta e da perda da que existe e do refúgio da actividade económica no sector protegido da concorrência externa.

É isto que explica alguns paradoxos como um crescimento económico débil, apesar de a despesa pública se manter, de a competitividade se perder, apesar do investimento elevado, e de aumentarem os sintomas de prosperidade, apesar de a estagnação se prolongar.

Pormenorizou inclusive que a Porsche teve em Portugal uma das suas maiores taxas de crescimento de vendas.

Convicto de que "Portugal caminha para uma economia dual - há alguns que nunca estiveram tão bem e outros que não vêem qualquer futuro -", Borges avançou ainda a existência de diferenças sectoriais e regionais.

"Há uma discrepância extraordinária entre o sentimento de prosperidade que se sente em Lisboa e a insegurança económica que se vive no resto do País", disse.

A conferência da Universidade Católica integrou o dia da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais e antecedeu a entrega do Prémio Carreira à sua licenciada Isabel Jonet, actual presidente do Banco Alimentar Contra a Fome.


de:
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 45686.html

Hum...algumas infos não são novas....que a crise não chega a todos já nós sabemos muito bem!!!
 

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Jorge Pereira

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« Responder #1 em: Maio 07, 2006, 09:15:21 pm »
Quando é que sua excelência, Dr. António Borges, avança para a liderança do PSD? :wink:
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Luso

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« Responder #2 em: Maio 07, 2006, 09:37:50 pm »
Com toda a franqueza, Jorge, penso que há que ser cauteloso com  António Borges. Não ata nem desata; tende para o políticamente correcto, fala mas não se apresenta, teórico e jogador (com o Durão) etc.
Nas entrevistas , Borges pode parecer que sabe de tudo - e certamente sabe algumas coisas, mas quando se lhe pergunta medidas concretas ele fecha-se em copas.
Quando lido com políticos tendo a ser maroto e pergunto-lhes quais as são as suas opiniões e como pensam agir. - Ai as respostas - quando as dão! :mrgreen:
Não crei que o PSD já tenha emenda, infelizmente.
Creio que todas as associações ou organismos têm que ter um mínimo de massa crítica de qualidade e de credibilidade que lhes dá verdadeira razão de ser. E esse mínimo já não é encontrado no PSD, partido que agora é dominado por clientelas MUITO fortes e que eliminam ou ostracizam quem fôr contra o status quo . Por isso é que sou muito pessimista quanto ao futuro, dada a falta de alternativas ao regime actual.
O PSD é oco e vai implodir por falta de credibilidade.
Falta de credibilidade que afecta TODOS os partidos portugueses, sem excepção.
O tacticismo, a cobardia, a corrupção, o políticamente correcto e o amiguismo são cancros que tudo estão a corroer.
A luz que vejo ao fundo do túnel é mesmo a do combóio...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Jorge Pereira

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« Responder #3 em: Maio 08, 2006, 11:34:06 pm »
Luso:

Não penso que o António Borges tenda para o politicamente correcto: em várias entrevistas que deu não hesitou em apontar claramente os erros, suas causas e consequências (no seu entender e em diversos sectores), tanto de governos socialistas como social-democratas, no presente e no passado. Lembro-me até de ter referido em certa altura que um crescimento económico de 3% ao ano para Portugal era um objectivo pouco ambicioso. Em relação às suas capacidades, penso que o seu curriculum fala por si.
O facto de ainda não avançar terá provavelmente a ver com o tempo que ainda falta para as próximas eleições legislativas: quando estas se aproximarem estou convencido que será um dos candidatos. Esperemos.

Em relação ao PSD penso que muita coisa começa a mudar. O pouco que ainda conheço deste partido permite-me chegar à conclusão que há muita gente de bem que quer de facto servir o país. Pode não parecer, mas começa a existir uma espécie de “caça às bruxas” aos oportunistas e aos que querem servir-se do partido, movimento este que se alimenta principalmente das camadas mais novas dos seus filiados. A tendência penso que tenderá a ser esta: afastamento dos oportunistas e corruptos que fazem dos partidos (todos eles) organizações quase mafiosas e que colocam em causa a sua própria existência e até a do próprio regime democrático, e a sua sucessiva renovação por elementos da sociedade que de facto queiram servir o país. Não há outro caminho.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Luso

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« Responder #4 em: Maio 09, 2006, 12:08:15 am »
Espero que tenha toda a razão, Jorge...
Eu é que já não acredito com muita facilidade em sumidades com curriculum (simplificado em http://www.uc.pt/gats/Apresentacoes/abo ... borges.pdf). Borges desiludiu-me quando ficou por trás da Ferreira Leite.
Prefiro um tipo que avance à frente das hostes do que atrás destas. O sentimento é básico mas há urbanidades que em mim não colam.
Além disso há demasiado academismo e demasiada convivência com gente ilustre, douta e poderosa. Pergunto-me se conhecerá os canhões que travam/minam este país e se saberá lidar com eles.
Na minha modesta opinião, o "espírito do tempo" deve ser combatido mais com o "cacete" que com diplomacia e apelos à razão.
Mas já agora permita-me recuperar algumas das suas palavras...

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Lembro-me até de ter referido em certa altura que um crescimento económico de 3% ao ano para Portugal era um objectivo pouco ambicioso.


Quando ouço um político a dizer que as metas são pouco ambiciosas, fico logo de pé atrás. É que geralmente as metas por outros traçadas já são demasiado ambiciosas para os recursos mas sobretudo para as capacidades de gestão disponíveis. E isto é recorrente. Vê-se no governo com os orçamentos rectificativos e "projecções".
À micro-escala lembro-me de um plenário municipal em que os partidos políticos competiam entre si para ver quem mais se lembrava de equipamentos a instalar num concelho. Sem pensar em orçamento, como se estivessem a escrever uma carta ao Pai Natal. Ou seja, ambição todos podemos ter agora daí a conseguir realizar já vai uma grande distância.

Pessoalmente, o meu futuro voto só irá para aquele que falar violentamente. Não falo de um agitador mas de alguém que fale verdade e que não insulte a minha inteligência.

Mas concedo-lhe um ponto: além de Borges (que a imprensa leva ao colo, para minha suspeita) que mais haverá?
Não vejo ninguém.
E a luz ao fundo do túnel está a aproximar-se rápidamente! :shock:
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NVF

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« Responder #5 em: Maio 09, 2006, 01:22:13 am »
Concordo com a posicao anterior do Luso — convenceste-me! Se pensarmos bem, este e' so' mais um tipo — como tantos outros — que nunca produziu nada e, que eu saiba, nunca trabalhou numa empresa, ie, nao faz puto ideia da realidade empresarial: Banco de Portugal, vida academica e consultoria (a area mais improdutiva que se pode imaginar). E' muito facil ser-se academico e consultor: mandam-se uns bitaites e toda a gante acha que es o maior, mas a realiade empresarial e' muito diferente.
Talent de ne rien faire
 

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Jorge Pereira

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« Responder #6 em: Maio 09, 2006, 05:04:40 pm »
http://www.uc.pt/gats/Apresentacoes/abo ... borges.pdf).

Bom, eu não estou aqui para defender ninguém, especialmente alguém que mal conheço, mas ó NVF, dizer isso do percurso do António Borges é no mínimo redutor. Repare bem nas instituições e países envolvidos.

Não é por aí que surgem as minhas dúvidas. Estas surgem naquilo que o Luso também referiu:

Citação de: "Luso"
Pergunto-me se conhecerá os canhões que travam/minam este país e se saberá lidar com eles.


É aqui que reside, na minha opinião, o busílis da questão. É alguém com pouca experiência politica e que teria que enfrentar tremendas pressões, tanto dentro como fora do partido. No entanto, se conseguisse formar uma equipa coesa, e se ao mesmo tempo conseguisse passar uma mensagem nua e crua para a opinião publica, penso que poderia vencer estas resistências.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Luso

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« Responder #7 em: Maio 09, 2006, 05:36:49 pm »
Citar
No entanto, se conseguisse formar uma equipa coesa, e se ao mesmo tempo conseguisse passar uma mensagem nua e crua para a opinião publica, penso que poderia vencer estas resistências.


Exacto. Falem verdade, sejam justos e deem o exemplo. Assim estou convencido que os cidadãos seriam capazes de corresponder.
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NVF

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« Responder #8 em: Maio 09, 2006, 11:55:00 pm »
Pode ser redutor, mas e' o que a experiencia profissional me tem ensinado. Nao penso que AB seja diferente de outros academicos e consultores com quem me cruzei profissionalmente e nao so'.
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