Transformação da Força Aérea Portuguesa (FAP)

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Transformação da Força Aérea Portuguesa (FAP)
« em: Junho 25, 2008, 02:12:01 am »
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A Transformação
na Força Aérea
Portuguesa*
Tenente-Coronel PILAV Sérgio Roberto Leite da Costa Pereira,
Força Aérea Portuguesa

* Este trabalho é um ensaio académico, reflectindo apenas uma visão pessoal. Para a sua elaboração agradeço a contribuição do corpo docente do IAEFA.
Na publicação deste artigo respeita-se a grafia original.—Nota da ASPJ em português

Força Aérea Portuguesa –
“Ex Mero Motu...”1
A Força Aérea Portuguesa (FAP) é uma instituição militar equilibrada, dimensionada face aos objectivos e necessidades de Portugal e imbuída de um espírito de missão que a torna capaz de cumprir os “altos voos” que a sua missão lhe consigna.

Organizada segundo uma estrutura hierárquico-funcional, apoiada em três comandos principais, Operacional, Logístico e de Pessoal, a FAP conta com cerca de 9 000 homens e mulheres que lhe permitem realizar a seguinte missão:

cooperar, de forma integrada, na defesa militar da República através da realização de operações aéreas e de defesa aérea do espaço nacional;
satisfazer missões no âmbito dos compromissos internacionalmente assumidos, bem como missões de interesse público que lhe sejam especificamente consignadas.
Para cumprimento da missão, compete à Força Aérea especificamente:

 desenvolver e manter a capacidade de defesa aérea do território nacional, de modo a garantir os graus adequados de superioridade aérea;
 
desenvolver e manter a capacidade de exercer a vigilância e controlo no EEINP2, assegurando uma situação favorável à utilização das linhas de comunicação, em cooperação com outros Ramos;
 
 garantir e manter a capacidade adequada de apoio aéreo às forças de superfície, por meio de fogo, reconhecimento e transporte;
 
 garantir e manter uma capacidade ofensiva adequada contra alvos de superfície e submarinos, de dia ou de noite, em condições meteorológicas adversas e com armamento inteligente.
Desde 01 de Julho de 1952 até à actualidade, a FAP sofreu profundas alterações endógenas provocadas quer pela participação em combate3 quer pela necessidade de se adaptar à missão requerida pelo nível político; a sua sua actuação tem granjeado o mais alto reconhecimento, tanto a nível nacional quanto a nível internacional, mostrando, desta forma, ser uma organização dinâmica e em busca de servir o país de modo cada vez melhor.

Presentemente, está de novo imersa num novo projecto de mudança, quiçá o mais ousado até hoje. A Transformação fará com que a FAP e Portugal se unam a seus parceiros e em conjunto possamos enfrentar as novas ameaças.

A transformação:
um desafio necessário
O porquê da transformação na FAP

Que é transformação?

O pensamento militar evoluiu recentemente. O patamar distintivo, que alguns teimam em apelidar de “revolução dos assuntos militares”, situa-se, essencialmente, no foco da concentração do esforço militar. Em vez de uma concentração de força, fala-se agora numa concentração de efeitos. A estratégia da oposição à ameaça deu lugar à estratégia baseada nas capacidades. Esta alteração só é possível se forem utilizadas novas aproximações ao modo como os militares se encontram organizados e como utilizam as suas competências. Uma coisa é certa: a segmentação clássica do espaço-tempo não ajuda. Os domínios espaciais (terra, mar, ar e espaço) interpenetram-se e são bastante porosos. O domínio temporal não se compadece com os ritmos de planeamento a longo prazo, obrigando a pensar que a prontidão pode variar quase instantaneamente. Só existe uma solução: a lógica da rede, ou trabalho cooperativo, que é completamente diferente da lógica espacial.

Para alcançar esse desiderato, várias organizações de Defesa têm projectos de “transformação” que visam, essencialmente, adequar as organizações militares nacionais, próprias de uma Era Industrial cujos estertores são evidentes, aos desafios lançados pela tipologia de uma emergente Era Informacional.

É, pois, o tratamento dado à informação, que deve fluir de um modo adequado entre as diversas componentes de uma organização ou força militar, necessariamente conjunta e pronta para ser combinada, que deve ser o centro do esforço transformador dessas organizações.

A transformação aproveitará as capacidades já demonstradas pelos vulgarizados computadores para automatizar as decisões sobre problemas que sejam estruturados; apoiar os comandantes a tomar as decisões nos problemas semi-estruturados, veiculando ora uma determinada consciência situacional ora uma intenção ou decisão de comando proveniente de um problema não estruturado.4 Tudo isto acontecerá a um ritmo extraordinariamente mais rápido do que o anterior. Desta forma é possível que o fog and friction5de que falava Clausewitz deixe de ser um dos problemas na condução das operações militares.

Como transformar

A FAP, como organização militar de um país membro da NATO,6 forçosamente seguirá os seus aliados na tarefa ciclópica da transformação. Presentemente, tem-se por referência o documento NATO “Strategic Vision: The Military Challenge” e estudam-se outros documentos que informam os conceitos para a transformação adoptados por vários países, tais como o “Network Centric Warfare” dos Estados Unidos e da Suécia, “Network Enabled Capability” do Reino Unido, “Multidimensional Manoeuvre” da Austrália e o “Mission Command” da Noruega. De momento ainda não existe um documento produzido que reflicta a visão portuguesa deste assunto.

Um dos modos de divulgar e apelar para a premência deste assunto foi a realização de um “Short Course”, em Julho de 2005 no extinto Instituto de Altos Estudos da Força Aérea (IAEFA), efectuado por uma equipa do SACT,7 em que foi transmitida e aprofundada toda a latitude e amplificação de potencialidades no emprego do poder militar, que a transformação proporcionará à condução de futuras operações.

Para uma Força Aérea, a questão será sempre a da utilização de meios aéreos e de observação do espaço aéreo em arquitecturas de rede aos diversos níveis: estratégico, operacional e táctico. Para já, a jornada nacional sobre a Transformação tem um rumo definido, mas não tem destino certo, porque grande parte dos conceitos e princípios basilares para a concepção e condução da guerra na Era da Informação só agora começam a ser desenvolvidos.

O grande desafio a vencer será, sem dúvida, o de adquirir e operar sistemas de armas, de detecção e de C4ISTAR8 que sejam interoperáveis com os de seus aliados, no quadro da NATO ou da União Europeia (UE).

Interoperabilidade

A interoperabilidade é hoje um conceito de especial relevância, pois nenhum Ramo das Forças Armadas (FFAA) consegue, isoladamente, resolver um conflito a seu favor. Por esta razão, é essencial que todos os participantes consigam comunicar e partilhar informação e, em conjunto, operar os diversos sistemas de armas, de forma a potenciar sinergias face a um objectivo comum. Este desiderato ou exigência não é um tema novo. Já no passado o foi e os exemplos abundam no caso português, recorde-se a Guerra em África nas décadas de 60 e 70 do Século passado. Nesse conflito, os três Ramos das FFAA portuguesas participaram activamente e em conjunto na guerra contra os grupos que reclamavam a independência das ex-colónias. Durante o conflito, muitas medidas foram tomadas no sentido de aumentar a interoperabilidade entre os diversos sistemas das FFAA e o resultado pode ser considerado de muito bom.

Nos dias de hoje, a interoperabilidade é um conceito de ainda maior relevância e actualidade quando consideramos forças de diferentes Estados envolvidos na resolução dum conflito. E quando pensamos em forças militares duma coligação ou da NATO, a interoperabilidade é ainda mais crucial. No actual contexto, poucas nações podem conduzir operações militares isoladamente e mesmo os EUA, apesar do seu imenso potencial bélico, preferem, sempre que possível e por diversos motivos, operar com outras nações. No entanto, verificou-se no passado recente que é difícil obter um nível aceitável de interoperabilidade entre forças dos EUA e forças de outras nações. O fosso existente tem-se alargado, e hoje é ainda mais complicado organizar uma coligação em que exista um número significativo de nações e a interoperabilidade não seja apenas um palavra pomposa. Porém, se ainda é possível falar em alguma interoperabilidade quando consideramos certos sistemas de armas, o mesmo não sucede quando consideramos as capacidades de troca ou partilha de informação. Neste âmbito, verificamos que a ausência de interoperabilidade entre sistemas de informação é considerável. De facto, os EUA estão muito envolvidos numa transformação profunda das suas FFAA, com o objectivo de as elevarem para a Era Informacional. Estilizando, poderemos dizer que os EUA são a locomotiva, enquanto os restantes países são as carruagens.

Com efeito, as restantes nações começam agora, lentamente, a despertar para a realidade e a adoptar algumas medidas que visam reduzir o fosso existente, isto é, juntarem-se ao comboio puxado pelos EUA. Portugal encontra-se nesse grupo de nações. Neste contexto, foi criado na Divisão de Planeamento Estratégico Militar (DIPLAEM) do EMGFA9 um grupo de trabalho composto por elementos das suas várias Divisões e dos Ramos. Este grupo tem por objectivo coordenar, integrar e orientar todos os esforços que estão a ser feitos pelos diferentes ramos das FFAA. Pretende-se, ainda, que este grupo de trabalho venha também a contar com elementos do Ministério da Defesa Nacional (MDN), em particular da Direcção Geral de Armamento e Equipamento de Defesa (DGAED) e da Direcção Geral de Política de Defesa Nacional (DGPDN).

Em particular, a preocupação da Força Aérea prende-se com a necessidade de garantir que os novos sistemas de armas a implementar, sejam interoperáveis com sistemas existentes nos outros ramos, bem como garantir a interoperabilidade em ambiente multinacional, seja no seio da NATO, UE, ou de outro.

Novos sistemas de armas

Os novos sistemas de armas recentemente adquiridos pela FAP estão já imbuídos da ideia de repartir a informação pela rede de comando e controlo, além de garantir a interoperabilidade em ambiente conjunto e combinado. Estes sistemas de armas integram-se nas capacidades definidas pelo Conceito Estratégico da Defesa Nacional, para satisfazerem aos objectivos nacionais e internacionais definidos por Portugal.

Entre os vários sistemas de armas que incluídos na Lei de Programação Militar, para a modernização das FFAA portuguesas, serão destacados três programas: F16 MLU, P3 CUP+** e EH101. O primeiro consubstancia o ponto de partida, em Portugal, da aquisição de sistemas de armas de última geração e transforma os tradicionais conceitos de operação e sustentação na FAP. O P3 CUP+ representa um nicho tecnológico em sistemas de armas de última geração. O EH 101 representa uma mudança de mentalidades no domínio da aquisição, na área de segurança e defesa, por ser adquirido por meio de “leasing operacional”.

** F16 MLU - em inglês, as siglas MLU e CUP significam respectivamente Mid-Life Upgrade e Capacity Upkeep Program. - Nota da ASPJ em português

F16 MLU

Há sensivelmente pouco mais de 15 anos, decorreu a Guerra do Golfo com a operação “Desert Storm”. Nesse conflito empregou-se o F16, entre outras plataformas, na missão ar-ar, bem como na missão ar-solo. O F16 dessa altura (basicamente “idêntico” ao F16A OCU que a FAP opera desde 1994) demonstrou ser uma plataforma altamente eficaz e versátil no desempenho das suas missões.

Se para a execução do primeiro tipo de missão o salto tecnológico não terá sido tão grande, já para a missão ar-solo o mesmo foi extraordinário em pouco mais de 15 anos. O armamento de então caracterizava-se, sobretudo, por ser de queda livre (as chamadas “dumb bombs”) com “relativa” precisão, deixando o “inteligente” para as aeronaves F117 que então faziam a sua apresentação e demonstravam, para além da sua capacidade furtiva, a precisão dos seus ataques. Hoje em dia, fruto das restrições impostas pelo poder político, pela natureza dos conflitos regionais que se têm verificado e pela pressão exercida pela sociedade civil, não faz sentido, nem será autorizado superiormente a utilização de um sistema de armas que não possua capacidade de empregar armamento chamado “inteligente”: sejam as designadas LGBs10ou as JDAM.11

Paralelamente a este facto, as novas tecnologias transformaram os “cockpits” em cabinas altamente sofisticadas (“glass cockpit”), onde a informação é apresentada ao piloto de modo a que a sua consciência da situação táctica possa ser a mais elevada possível e o processo de decisão daí decorrente seja o mais acutilante possível. Tal é conseguido através da apresentação do “battle space” em sistema “datalink” que possibilita a comunicação entre sistemas de armas amigas sobre a situação táctica das acções tácticas.

A transição do F16A para o F16MLU, na FAP, poder-se-á equiparar, sem exagero, ao salto que foi dado há 12 anos com a introdução do F16A no seu inventário. Além disso, o F16MLU vem acrescentar a capacidade ADX/FBX-P12 necessária para poder fazer face às exigências da guerra moderna. Esta situação trará uma vantagem extraordinária, já que o potencial de partilha de informação táctica em tempo real, seguro e sem recurso à comunicação de voz, aumenta grandemente a eficácia de um sistema de armas como o F16MLU, integrando múltiplos sistemas de armas dissimilares da ordem de batalha (terrestre, aérea, marítima).

As características sumárias anteriores conferem, actualmente, um grau adequado de interoperabilidade com outras forças, condição essencial e fundamental para operar em futuros conflitos. Altos responsáveis afirmam que, por exemplo, sem Link 16 e sem armamento de precisão não há possibilidade de integrar forças em qualquer coligação, considerando os riscos de baixas e a incapacidade de respeitar as restrições ao nível dos danos colaterais.

Pelo potencial do sistema de armas F16MLU e pelo factor de expansão que ainda tem (permanente possibilidade de actualização do “software” que integra toda a panóplia de sistemas aviónicos) este meio constitui para a FAP um salto muito elevado em capacidade, uma vez que coloca Portugal, em paridade com as congéneres forças aéreas europeias e da NATO.

P3 CUP+

O meio que mais se enquadrou nas novas exigências da guerra assimétrica foi inquestionavelmente o Maritime Patrol Aircraft (MPA), pois através de programas intermédios de modernização, vimo-lo aumentar, consideravelmente, as suas capacidades naturais e, consequentemente, passar a operar, para além do seu ambiente tradicional—o mar, em missões sobre terra.

Perseguindo este desidrato, o programa português de modernização do P3, designado por CUP+, consiste em adicionar capacidades, oriundas dos requisitos operacionais nacionais, ao programa CUP holandês. O programa CUP constituiu-se como a adaptação aos requisitos operacionais holandeses, dos programas intermédios da marinha dos EUA: AIP (ASuW Improvement Program) e BMUP (Block Modification Upgrade Program).

Assim, e numa perspectiva da salvaguarda dos Interesses Nacionais Permanentes e Actuais, quer em operações estritamente Nacionais quer integrado em Forças Multinacionais, onde o enfoque é colocado nas capacidades de C4ISTAR, Interoperabilidade, Guerra Centrada em Rede e Recolha e Disseminação de Informação, fazendo uso de um sistema de arquitectura aberto e de tecnologia de última geração COTS (Commercial Off-The-Shelf) e GOTS (Government Off-The-Shelf), o programa de modernização do MPA português consiste em melhoramentos ao nível dos subsistemas associados ao C4ISTAR. Melhoramentos ao nível do sistema de armamento através da modernização do subsistema de controlo do míssil Harpoon (HACLCS) e da introdução da capacidade de utilização do míssil Maverick, para além da introdução dos sistemas de sobrevivência, nomeadamente MWS13 e CMDS,14 controlados por um sistema de guerra electrónico EWS,15 farão do MMA16 P-3 CUP+ o “ABCCC17 de Portugal”.

EH 101

A introdução do sistema de armas EH 101 é considerada uma alavanca transformadora dos processos organizacionais, de trabalho e de decisão. Uma das mais valias deste programa foi o recurso à figura de locação operacional (leasing), absolutamente ímpar nas FFAA portuguesas, que trouxe uma visão inovadora sobre o processo de aquisição e manutenção de sistemas de armas adquiridos sob esse regime.

O helicóptero EH 101, de facto, traz consigo um conjunto de capacidades verdadeiramente inovadoras e, para acomodar essas capacidades, a FAP teve, de alguma forma, de se transformar. Por exemplo, o dispositivo da FAP teve de ser alterado, nomeadamente com a criação de um destacamento na Base Aérea nº 4, no arquipélago dos Açores, em substituição da esquadra de voo actualmente existente e que opera o SA 330 Puma. Também ao nível da política de recursos humanos, principalmente na área da manutenção, houve que introduzir uma série de alterações que se conjugam para que se atinja uma exploração mais eficiente dos recursos humanos envolvidos. Finalmente, na componente operacional, o EH 101 vai criar dois tipos de missões novas, com a introdução da capacidade de busca e salvamento em combate (CSAR) e de helicópteros na vertente de fiscalização de embarcações de pesca na Zona Económica Exclusiva, em colaboração com a Marinha de Guerra portuguesa e com a Inspecção Geral das Pescas.

Também as capacidades de detecção, de comunicações e de interoperabilidade do EH 101 fazem desta plataforma um elemento potencialmente fulcral na operação conjunta das FFAA portuguesas. Embora o Comando e Controlo continue a estar centralizado no Comando Operacional da Força Aérea, o EH 101 possui todas as características para ser empregue exaustivamente em operações de cariz expedicionário, em conjunto com outras forças.

Também desta forma, o conceito de transformação está a deixar de ser um conceito estranho à FAP e a começar a ser integrado na sua estrutura e processos de decisão. O “Merlín” assume-se pois como um banco de ensaio para que o processo de transformação seja estendido a toda a estrutura da FAP e, como nicho tecnológico na capacidade de CSAR, representará uma mais-valia disponível também para a NATO e para a UE.

A transformação e os recursos humanos

É cada vez mais significativa a ideia de que a transformação só acontece se houver uma valorização efectiva dos recursos mais críticos—as pessoas—criando um processo porventura antagónico, mas imprescindível, em que se tem que “aprender e desaprender”. Acima de tudo, pretende-se abandonar o cenário estereotipado em que somente alguns dão as respostas e as soluções, fazendo com que na Organização todos os outros se sintam inibidos de propor e participar das mudanças que se impõem, simplesmente porque se habituaram a operar para cumprir tarefas, em vez de operarem sentindo-se parte dessa tarefa. Este comprometimento surge sempre que as pessoas percebem que se lhes vai pedir algo em que elas realmente acreditam e em que estão interessadas. Quer dizer, se exigirmos o cumprimento—mudança orientada, conseguiremos certa mudança—mas ao fazê-lo, certamente vamos amputar processos mais profundos que levam ao comprometimento, condicionando assim, a possibilidade de emergir uma atitude de mudança espontânea e auto determinada.

Na FAP pretende-se portanto fomentar um novo quadro de pensamento, num ambiente em que o êxito na execução dos programas em que estamos envolvidos exige, cada vez mais, um elevado profissionalismo e uma intensa dedicação das pessoas, em paralelo com as actividades necessárias para garantir a operatividade dos meios, de modo a cumprir a missão atribuída.

O recrutamento e a formação deverão reflectir, também, a necessidade de se compatibilizarem com a elevada tecnologia associada aos novos equipamentos e sistemas de armas. Certificando todo este processo de formação interna, a FAP tem já os seus cursos e acções de formação reconhecidos pelo sistema de educação nacional e pela UE, garantindo deste modo elevado nível de formação profissional. Não obstante esta dinâmica, urge, sobretudo, dinamizar os processos de valorização e dignificação do factor humano, sempre baseados em princípios de ética, rigor e transparência, validados pela realização de cada militar e de cada civil, aos diversos níveis, em que a sua atitude de bem servir e de assumir responsabilidades como ser humano e como militar serão reconhecidos.

Ter-se-á que formar, organizar e operar em função de capacidades e competências, acreditando que saberemos como fazer melhor, dando a todos oportunidade para que contribuam com sua parte para uma Força Aérea de excelência. Em suma: a actual estrutura exige ajustes que permitam racionalizar os recursos escassos e construir uma Força Aérea Centrada na Missão, que constitua uma cooperação relevante para a segurança e defesa, pese embora as ameaças e riscos emergentes exigirem forças expedicionárias e meios de apoio flexíveis e modulares, de fácil e rápida projecção, auto-sustentáveis e com elevado grau de sobrevivência.

Finalmente, fica a certeza de que a adesão a esses objectivos e referências estarão na génese da Transformação necessária, criando algo que poderemos considerar uma nova dinâmica organizacional: “as pessoas mudam desde que sejam conduzidas a mudar, mas ficarão também cada vez mais dependentes da necessidade de mudança, esta, por sua vez, inexoravelmente ligada a uma nova, mas simples, forma de liderança—a capacidade de produzir a mudança.

O órgão de transformação

A transformação nos processos de decisão e operação da FAP é, sem dúvida, um longo caminho, difuso e de difícil configuração. Para isso, contribui a natureza profundamente conservadora da instituição militar, que o é por necessidade e tradição. Os conceitos de transformação são, normalmente, objecto de desconfiança, porque são estranhos à mentalidade militar tradicional.

Uma forma de introduzir e embeber o conceito de transformação nas estruturas militares será aproveitar a dinâmica proporcionada pela introdução de novos sistemas de armas que, exactamente porque são novos, vêm “perturbar” as estruturas e métodos de trabalho tradicionais.

Como anteriormente mencionado, foi criado na DIPLAEM um grupo de trabalho composto por diversos elementos das diferentes Divisões e com elementos dos três Ramos. Este grupo tem por objectivo coordenar, integrar e orientar todos os esforços que estão a ser realizados pelos diferentes organismos das FFAA, no que se refere a transformação. Aproveitando esta actual dinâmica, e posteriormente à coordenação inicial para concentração de esforços, entende-se que este órgão deveria passar para subordinação directa do CEMGFA,18 constituindo-se como órgão central para a Transformação.

A sua missão deverá ter vários campos de actuação que, necessariamente, se repercutirão nos Ramos, onde também deverá ser criado um organismo executor da política específica para a transformação. Os campos de intervenção a explorar deverão centrar os seus esforços e dinamizar as mudanças nas seguintes áreas que, ao mesmo tempo, deverão ser dotadas de uma idiossincrasia nacional:

Formação e Treino;
Doutrina, Planeamento e Simulação;
Pessoal;
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação.
Para já, uma certeza: a influência da Era da Informação nas ciências militares voltou a revolucionar o pensamento militar. Assim, este processo constitui um desafio difícil e exigente que a FAP e as FFAA portuguesas saberão vencer, unindo-se também, neste propósito, aos seus aliados.

Juntos, NATO e Europa caminharão com determinação para um futuro pleno de paz e esperança.

Notas
1. EX MERO MOTU—é uma expressão em latim que quer dizer: “À menor solicitação...” e é o lema da Força Aérea Portuguesa desde sua criação, pelo Decreto-lei de 1 de Julho de 1952.

2. EEINP—Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente. Caracterizado pelo espaço marítimo e continental formado por Portugal Continental, arquipélago de Madeira e arquipélago dos Açores, com suas respectivas Zonas Económicas Exclusivas

3. A FAP integrou a força combinada de combate (mais de 500 aviões e helicópteros) que esteve presente nas antigas colónias portuguesas na África (Angola, Guiné-Bissau, Moçambique), de 1961 a 1976. Realizou, ali, milhares de missões aéreas, especialmente interdição aérea, apoio aéreo aproximado, transporte aéreo e TASMO. Ultimamente participou nos conflitos na Bósnia, Kosovo, Afeganistão (NATO) e em Timor Leste (ONU).

4. Esta nova metodologia combina o método científico, que está presente nas Guidelines for Operational Planning, lógica capaz de ser processada por computador, com arte militar inerente à capacidade de comando, realidade não tangível.

5. Carl von Clausewitz, Da Guerra

6. NATO—Organização do Tratado do Atlântico Norte.

7. SACT—Comando Estratégico Aliado para a Transformação

8. C4ISTAR—Command and Control, Communication, Computers and Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance.

9. EMGFA—Estado-Maior General das Forças Armadas.

10. LGB—Laser Guided Bombs.

11. JDAM—Joint Direct Attack Munition.

12. Air Defense -All Weather/Fighter Bomber - All Weather

13. MWS—Missile Warning System.

14. CMDS—Counter Measures Dispensing System.

15. EWS—Electronic Warfare System.

16. MMA—Multi-Mission Maritime Aircraft.

17. ABCCC—Airborne Command and Control Center.

18. CEMGFA—Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.



http://www.airpower.maxwell.af.mil/apji ... reira.html

Ja com algum tempo mas importante, daqui vemos que os nossos P-3C não vao ter capacidade AEW.