Os portugueses, sempre esquecidos
...Onde estão os Portugueses ? Nem sinal deles. Uma ou outra alusão discreta a Macau, um ou outro apontamento de margem, sempre impreganado pelo desprezo e por uma quase determinação em fazer esquecer que todos os outros europeus - sobretudo os jesuítas "italianos", "franceses", "belgas" (pasme-se) - com os seus telescópios, os seus relógios, autómatos, pincéis e artifícios encantatórios para os olhos do Trono de Jade - entravam em Pequim via Macau, via Portugal e graças ao Padroado. Uma nota de rodapé - uma bagatela - para o papel histórico dos diplomatas portugueses de sotaina. Foi graças ao Padre Pereira que a China dos Qing escapou a uma quase certa invasão russa. Através do tratado de Nerchinsk, o czar de Todas as Rússias e o Filho do Céu estabeleciam um modus vivendi que durante século e meio preservaria as fronteiras do Império do Meio às arremetidas ocidentais. Em última instância, foram os jesuítas [portugueses] que refrearam a perigosa aproximação da Europa. Mas nada disso rezam as obras de divulgação. Um ódio de estimação anti-português aflora, contudo, em textos bem mais cotejados por eruditos e académicos. Lembro L'Europe chinoise (1 e 2), de René Étiemble, um devastador tratado em que saímos em tiras, insultados, redicularizados e enxovalhados por um acérrimo defensor da cultura francesa, a tal que, chegada ao Vietname, tratou de se impor a chicote, trabalhos forçados e confiscações fundiárias; a tal que, numa das invasões da China pelas "potências", pegou fogo ao Versalhes Chinês (Palácio de Verão de Qianlong).
Só para completar a informação, as naus e respectivas tripulações portuguesas levaram dois grandes jesuitas estrangeiros, são eles São Francisco Xavier (partiu para Oriente em 1540) e Matteo Ricci (em 1578) que depois foi para Beijing via Macau claro, porque a entrada na China por um Ocidental não era muito facilitada, pois eram tomados como feiticeiros e intrusos de índole perigosa.
Voltando ao tópico da Batalha naval de Diu, o efeito psicológico foi arrasador segundo Oliveira Martins «porque os indianos, meditando e observando, reconheceram que a armada portuguesa não era só invencível para eles; era também, para os rumes do Egipto e para a artilharia de Veneza e Ragusa. Saturnino Monteiro salienta, ainda que
esta batalha naval foi a mais importante de toda a História da Marinha Portuguesa e uma das mais importantes da História Naval Universal no entanto sublinha que se os portugueses não fossem um povo que pouca atenção presta à sua História maritima, é provavél que sentissem em relação à Batalha naval de Diu um sentimento semelhante ao que nutrem os espanhóis por Lepanto, os ingleses pela Batalha do Nilo ou Trafalgar e os japoneses por Tsushima.