Eis um interessante artigo do Público sobre a crescente contratação de empresas de segurança privadas nos cenários de conflito, especialmente no Iraque.
[Citação]
A Guerra-negócio dos Soldados Privados
Por PEDRO RIBEIRO, Nova Iorque
Quinta-feira, 08 de Abril de 2004
Os quatro homens mortos numa emboscada em Falluja, na quarta-feira [31 de Março], numa acção que a Administração Bush afirma agora não ter sido espontânea e sim planeada por células terroristas ligadas à Al-Qaeda, não eram soldados do Exército americano. Trabalhavam para uma firma de segurança privada, a Blackwater Security Consulting. A sua morte, e a mutilação e exposição dos seus cadáveres, chamou a atenção para um fenómeno crescente no Iraque e em outras zonas do mundo - o uso de empresas particulares nos campos de batalha.
As firmas de segurança privada são os subempreiteiros dos exércitos modernos. Algumas podem ser descritas como redes de mercenários, mas não é esse o caso no Iraque. Aqui, os "privados" não assumem missões de combate nem estão integrados na hierarquia militar. Apesar disso, segundo noticiou o "Washington Post", oito membros da Blackwater estiveram envolvidos nos confrontos com manifestantes xiitas, no domingo, em Najaf. Os paramilitares da empresa asseguraram a defesa do quartel espanhol até à chegada de reforços das forças especiais. Diz ainda o "Post" que essa participação não foi coordenada com o comando espanhol da região, o que estaria a provocar mal-estar junto das forças.
De qualquer forma, não se pode descrever os funcionários destas empresas como civis. Muitos deles estão armados; as suas funções podem incluir tarefas que normalmente podiam ser atribuídas a soldados - guarda-costas de figuras políticas, policiamento de zonas conturbadas, vigilância de edifícios, treino de soldados ou polícias locais.
A Blackwater é um bom exemplo de uma típica firma de segurança. Foi criada em 1998 por dois ex-membros da Marinha americana. Segundo o "New York Times", a sua sede na Carolina do Norte é tão bem equipada que algumas agências policiais americanas mandam lá os seus agentes para treinos.
Os quatro homens que morreram em Falluja eram também exemplos típicos dos funcionários de uma firma de segurança. Todos tinham passado pelas Forças Armadas americanas, com experiência como comandos.
Nas últimas duas décadas, firmas como a Blackwater apareceram por todo o mundo. A principal razão foi os cortes nos orçamentos de defesa nos EUA, na Europa e na ex-União Soviética; inúmeros militares bem treinados viram-se sem emprego, e decidiram levar os seus talentos para o sector privado.
Muitos dos "soldados privados" que estão no Iraque vieram a reboque das empresas contratadas para reconstruir a infraestrutura do país. Firmas como a Bechtel ou a Halliburton recorrem a outras firmas como a Blackwater ou a britânica Global Risk International para garantir a segurança das suas instalações ou dos seus funcionários.
O "outsourcing" é mais barato
Mas muitos dos "soldados privados" são contratados pelo próprio Pentágono; as firmas de segurança no Iraque ou no Afeganistão tiveram a seu cargo missões como a protecção pessoal de Hamid Karzai (Presidente afegão) ou de L. Paul Bremer (administrador civil dos EUA no Iraque) ou a logística e segurança de conferências de imprensa.
Por que é que o Pentágono tem de alugar soldados? Em alguns casos, como o treino de tropas em países dos Balcãs ou da Ásia Central, ou o combate ao tráfico de drogas na América Latina, porque o recurso a tropas uniformizadas poderia criar problemas políticos.
No caso do Iraque, por uma questão de recursos, e de custos. As Forças Armadas americanas colocaram tantos soldados no terreno que já estão a recorrer a números invulgares de reservistas; os "soldados privados" são um suplemento.
Qual é a dimensão do negócio? Os números são difíceis de contabilizar. Michael Cherkasky, presidente de uma firma de segurança citado pelo "Washington Post", avalia em mil milhões de dólares (820 milhões de euros) o montante das receitas das empresas de segurança no Iraque. Um outro perito citado num artigo do PÚBLICO em Novembro, Peter Singer, calculava um número muito maior (100 mil milhões de dólares) para o negócio da segurança privada a nível mundial.
Para os "soldados privados", o risco é grande, como se constatou em Falluja. Ontem, registou-se mais uma morte - um sul-africano a trabalhar para uma empresa de segurança britânica em Kut. Mas as recompensas também são muito grandes: as firmas pagam entre 100 mil e 200 mil dólares por ano, muito mais do que um militar reformado ganharia ao serviço das Forças Armadas americanas.
Em algumas missões particularmente arriscadas, o montante pode atingir vários milhares de dólares por dia. O "New York Times" estima que haja duas dúzias de firmas de segurança no Iraque, que empregam 15 mil "soldados privados".
Podem também ver:
http://www.barryyeoman.com/articles/sol ... rtune.htmlhttp://www.blackwaterusa.com/http://www.nytimes.com/2004/04/04/weeki ... 4glan.htmlhttp://www.nytimes.com/2004/04/02/opinion/02YEOM.htmlhttp://www.cnn.com/2004/WORLD/meast/04/ ... ontractor/http://www.usatoday.com/news/world/iraq ... usat_x.htmhttp://www.motherjones.com/news/feature ... 65_01.html