Espiões (SIS, SIED, SIRP) na Maçonaria

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Espiões (SIS, SIED, SIRP) na Maçonaria
« em: Setembro 13, 2010, 01:11:04 pm »
http://www.sabado.pt/Multim%C3%A9dia/V% ... naria.aspx

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Altos responsáveis dos serviços de informações juram fidelidade e ajuda a “irmãos” que são políticos, assessores do Governo, empresários e jornalistas. A SÁBADO filmou a entrada para uma Grande Loja Maçónica e penetrou no jogo de espelhos das lojas mais secretas e na teia de influências que exercem na sociedade civil portuguesa. Texto de António José Vilela e imagem de João Pimentel.

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No centro do templo, coberto de panos negros e sob a luz de um candelabro, está um caixão. Lá dentro, um lenço branco manchado de vermelho tapa o rosto de um homem. A cabeça está virada para Ocidente e emoldurada por um esquadro aberto e por um ramo de acácia. A porta do templo abre-se e o mestre-de-cerimónias faz ajoelhar o maçom que entrou de costas na sala. Tudo está preparado para o fazer subir mais um degrau na ordem secreta. O mestre experto aproxima-se e cruza a espada com o bastão do mestre-de-cerimónias acima da cabeça do candidato, formando um esquadro. Ouvem-se, em sequência, as pancadas de três malhetes. “De pé e à Ordem, meus irmãos”, diz o venerável da loja. De uma mesa próxima, em forma de triângulo, exige-se o juramento que o maçom faz de imediato: “Eu, Jorge Jacob Silva Carvalho, de minha livre vontade, na presença do Grande Arquitecto do Universo e desta Respeitável Assembleia de Mestres Maçons, juro e prometo solene e sinceramente nunca revelar a qualquer profano, ou mesmo a qualquer Aprendiz ou Companheiro, os segredos do Grau de Mestre.”

Há muito que o actual director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), a secreta que actua fora de Portugal, disse estas palavras num templo da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP). E reiterou, como se faz sempre nos 33 graus maçónicos, os pactos secretos de silêncio e auxílio: “Renovo a promessa de amar os meus irmãos, de os socorrer e ir em seu auxílio. Se alguma vez me tornar perjuro que, segundo o castigo tradicional, o meu corpo seja cortado em dois e que eu seja desonrado para sempre e que não fique de mim memória junto dos maçons.”

Após o compromisso, o venerável mestre colocou-lhe a espada sobre a cabeça e informou-o em voz alta que a partir de então passava a ter poderes para “comandar” os companheiros e os aprendizes, os dois degraus inferiores da maçonaria. Seguiram-se mais golpes de malhete cruzados com a sequência de palavras de um rito escocês com séculos que lhe passou a contar novos segredos: os cinco pontos perfeitos da mestria, um toque, duas palavras e quatro sinais. O Sinal de Socorro foi um deles. “Se alguma vez te encontrares em grave perigo, chama os irmãos em teu socorro, com o seguinte sinal: atira o pé direito para trás, com o busto inclinado, ergue ambas as mãos acima da cabeça, tendo os dedos entrelaçados, as palmas viradas para cima, e exclama: A. M. O. F. D. V!” Hoje, aos 42 anos, Jorge Silva Carvalho, espião requisitado ao Serviço de Informações e Segurança (SIS) e ex-chefe de gabinete de Júlio Pereira, secretário-geral do Sistema das Informações da República Portuguesa (SIRP), já está a meio dos altos graus da maçonaria (que vão do 4.º ao 33.º) e é apenas um dos responsáveis de topo dos serviços secretos portugueses que fazem parte da GLLP e do Grande Oriente Lusitano (GOL), as duas principais correntes maçónicas portuguesas.

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RITUAIS MACÓNICOS À PARTE, um agente secreto vive da discrição, de códigos e de simulação. O Estado faculta-lhe identificações fictícias, forma-o para se infiltrar em organizações criminais e praticar contra-informação, investiga-lhe a vida profissional e pessoal, exige-lhe declaração de rendimentos e património como a um político e pode dispensá-lo alegando meras “razões de segurança”. Mas fora das paredes do SIS e do SIED há espiões que fornecem fotografias de rosto e se identificam antes de assinarem testamentos espirituais (ver caixa).

São vendados e iniciados numa ordem que lhes permite usar sinais, passaporte maçónico e cartão de solidariedade no estrangeiro e em Portugal. Em segredo, usam à cintura aventais decorativos e juram fidelidade e auxílio a uma irmandade composta por políticos, assessores de ministros, empresários, polícias, juízes e jornalistas.

Jorge Silva Carvalho é apenas um deles. Integrou a Loja Mercúrio – que iniciou o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morai –, mas acabou por transitar para a Mozart n.º 49, porventura hoje a mais poderosa loja da GLLP e que, segundo documentos internos consultados pela SÁBADO, terá entrado em funcionamento em Setembro de 2006 pela mão de Paulo Noguês, vice-presidente do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação e secretário-geral da Associação de Amizade Portugal/EUA, e pela de António Neto da Silva, empresário, ex-deputado do PSD e presidente daquela associação. Organizações que, juntamente com o Instituto Transatlântico Democrático, dirigido por Rui Paulo Figueiredo (venerável da Loja Mercúrio), têm uma forte presença de maçons entre os dirigentes.

No ano passado, Silva Carvalho desempenhou na Mozart o cargo de venerável, uma espécie de director em funções. É uma loja tão discreta que nem sequer se faz representar em sessões colectivas como o Conselho de Veneráveis e a Assembleia Geral da Grande Loja – que decorreu na sede da GLLP, a 27 de Setembro deste ano, e que foi acompanhada pela SÁBADO (ver caixa e filme). É em salas de hotéis como o Marriott, Vip Zurique ou Penta, ou no 1.º andar de um discreto edifício, na Rua Pereira da Rosa, no Bairro Alto, alugado pelos altos graus da GLLP – designados Supremo Conselho para Portugal –, que se juntam outros “irmãos” membros dos serviços de informações.

Um deles será F. R., um tenente-coronel da GNR que já integrou o SIS e que, em 2007, quando Silva Carvalho era chefe de gabinete do SIRP, foi nomeado por Júlio Pereira director do Departamento de Segurança, um dos novos quatro departamentos comuns do SIS e do SIED. Outro é o operacional J. A., técnico superior de informações do SIS.

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OS TRÊS NÃO RESPONDERAM aos contactos da SÁBADO. O mesmo aconteceu com outros operacionais dos serviços de informações que a SÁBADO detectou a partir do cruzamento de largas dezenas de nomes de maçons mencionados nos documentos internos da GLLP. No SIS, o director de área T. C. tem vários anos de maçonaria e foi inclusivamente eleito venerável da Loja Jerusalém no equinócio de Outono de 2006, cumprindo o mandato até Junho de 2007. Por outro lado, o ex-pára-quedista J. F., funcionário do SIS há mais de 10 anos e actual director de área, é uma conquista relativamente recente da maçonaria. Foi iniciado na Loja Fernando Pessoa da GLLP, para onde entrou juntamente com outros dois aprendizes iniciados entre Outubro de 2005 e Janeiro de 2006, como revela um documento de novas entradas da GLLP. Outro irmão da Loja Mercúrio é R. N. P., um operacional do SIED e membro do Instituto Luso-Árabe.

“A maçonaria é equilíbrio e, por isso, tudo permanece bem desde que não haja uma avalancha de gente dos serviços de informações”, diz à SÁBADO um dos mais influentes maçons da GLLP, solicitando o anonimato. A mesma fonte garante que o número de espiões maçons não deve ultrapassar uma dúzia. “Nas democracias mais maduras, como nos EUA, Inglaterra ou França, é também normal encontrar gente dos serviços de informações nas respectivas maçonarias”, conclui.

O autor espanhol Manuel Guerra, no livro Trama Maçónica, editado este ano em Portugal (Principia), destaca a alegada colaboração maçónica verificada nos anos 90 e durante os governos do PSOE de Filipe González, precisamente quando “foi necessário por mais de uma vez renunciar à alta política diplomática e lançar mão das ligações pessoais de maçons espanhóis com alguns maçons franceses influentes para obter um maior apoio da França na luta antiterrorista contra a ETA. Nessa altura, o chefe dos serviços secretos franceses era Pierre Marion, um destacado maçom francês, membro da Grande Loja Nacional Francesa”.

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A RELAÇÃO PRÓXIMA ENTRE a maçonaria e alguns membros dos serviços secretos está a provocar polémica entre os espiões. Um alto quadro dos serviços secretos garante-_-o: “Há muita gente preocupada com esta situação. Claro que podem existir quebras de segurança, mas o problema maior é se acontece um escândalo qualquer, como o da Universidade Moderna, que começou numa guerra na Casa do Sino, e o SIS e o SIED acabam arrastados por causa de gente nossa que esteja nas lojas maçónicas.”

A SÁBADO dirigiu por escrito um conjunto de questões sobre maçonaria, segurança e recrutamento de espiões aos directores do SIED, Jorge Silva Carvalho, e do SIS, Antero Luís, mas apenas recebeu uma curta resposta do gabinete do juiz desembargador Antero Luís: “Encarrega-me o Senhor Director-Geral de o informar que quaisquer comentários sobre o tema Maçonaria são da competência do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP).” As perguntas seguiram para Júlio Pereira, secretário-geral do SIRP. Ficaram sem resposta até ao fecho desta edição.

Nos últimos anos, a ligação a organizações como a maçonaria ou o Opus Dei tem sido discutida de forma particularmente intensa. Em Inglaterra, o governo de Tony Blair impulsionou um movimento que exigia que os maçons se identificassem quando estivessem a exercer profissões relacionadas com cargos ou serviço público. No sector da justiça, mais de 1400 juízes decidiram voluntariamente divulgar que eram maçons. Em Portugal, no mês passado, a Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), que representa cerca de 1900 magistrados, deu um passo que promete fazer história: “O juiz não integra organizações que exijam aos aderentes a prestação de promessas de fidelidade ou que, pelo seu secretismo, não assegurem a plena transparência sobre a participação dos associados.” O princípio, que não refere especificamente a maçonaria nem diz como será implementado, consta do Compromisso Ético aprovado no 8.º Congresso dos Juízes Portugueses.

“Não adianta nada pedir o registo de interesses para associações secretas. Pretendemos ir mais longe e não permitir a pertença”, diz à SÁBADO o presidente da ASJP, António Martins. “Tivemos a noção de que estávamos a ser exigentes com os juízes. Se isto é uma porta aberta para outras classes profissionais? Serão elas a avaliar a exigência que têm de fazer aos seus membros.”

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ANTÓNIO REIS, GRÃO-MESTRE DO GOL, é peremptório: “Legalmente, ninguém pode ser obrigado a declarar a sua pertença a uma associação de direito privado”. E sublinha que a discussão é até desprovida de sentido em face dos direitos constitucionais sobre a livre associação. “Eu não posso garantir que não haja maçons que ocupem cargos no Estado, incluindo os dos serviços de informações. O que garanto é que não existe nenhuma estratégia da maçonaria para controlar esses ou outros cargos”.

O poder de influência da maçonaria não aparece nas juras de segredo e nos livros dos ritos praticados nas lojas, mas é um tema omnipresente na história da GLLP e do GOL. E muitos maçons têm de o assumir quando menos esperam. Foi o que aconteceu com o maçom Abel Pinheiro, que esteve sob escuta judicial no âmbito do processo Portucale e que foi acusado pelo Ministério Público por tráfico de influências.

A 6 de Março de 2005, seis dias antes da tomada de posse do novo governo socialista, Abel Pinheiro ligou ao irmão social-democrata Rui Gomes da Silva, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares do governo de Santana Lopes. Na conversa gravada, os dois concordavam que José Sócrates (que tomaria posse a 20 de Março) estava a prejudicar a irmandade do GOL, não nomeando nenhum maçom para lugares de decisão política. O diagnóstico incluía outro ponto: a afronta iria deixar vulnerável o futuro governo. Nessa conversa, Abel Pinheiro chegou a dizer que a maçonaria era o verdadeiro poder no País, anunciando de seguida que acabara de ser iniciado o socialista José Magalhães (actual secretário de Estado da Administração Interna). E referiu-se à sua loja, a Convergência, como “O Gabinete”, nome pelo qual era conhecida durante os governos de António Guterres.

Ali tinham assento “irmãos” como o presidente do Tribunal Constitucional, Luís Nunes de Almeida, António Vitorino, Vitalino Canas, José Nuno Martins ou Henrique Monteiro, actual director do Expresso.

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ABEL PINHEIRO CAIU EM DESGRAÇA NO GOL por falar de mais, mas Rui Gomes da Silva continua bem rodeado de irmãos na sua própria loja, a poderosa Universalis. Foi esta a loja do GOL, com cerca de 60 irmãos, que conquistou há cerca de um ano o espião Heitor Romana, um histórico do SIS que fundou informalmente os serviços de informações portugueses em Macau e que chegou a director-adjunto do SIEDM, a secreta externa que o actual SIED substituiu. No ano passado, foi nomeado por Júlio Pereira e tomou posse como director de Recursos Humanos dos dois serviços de espionagem portugueses. Heitor Romana encontrou na Universalis um outro homem das informações, José de Almeida Ribeiro, o adjunto que José Sócrates requisitou ao SIS para o seu gabinete – e que também não respondeu ao contacto por email feito pela SÁBADO.

Na Universalis juntam-se espiões irmanados com políticos, como os sociais-democratas Rui Gomes da Silva e Miguel Relvas, como o director da ASAE, António Nunes, como o gestor e vice-presidente dos CTT, Pedro Santos Coelho, como o socialista ex-secretário de Estado da Saúde José Miguel Boquinhas, como jornalistas como Emídio Rangel e António Borga ou como universitários como José Adelino Maltez e António Costa Pinto.

É no GOL que também estão outros, ainda que discretos, operacionais dos serviços de informações portugueses. C. G. é técnico superior e um histórico do SIS. Está há largos anos no GOL e é visto como muito próximo do anterior candidato a grão-mestre, Filipe Frade, o representante do rito francês na maçonaria irregular. Outro espião é N. C., ex-director regional do SIS Madeira, que transitou para o actual SIED em 2004 e que ali chegou a gerir o todo-poderoso departamento das fontes secretas. Em 2008, já na direcção de Jorge Silva Carvalho, foi colocado como antena na embaixada portuguesa em Madrid.
 

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Luso-Efe

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Re: Espiões (SIS, SIED, SIRP) na Maçonaria
« Responder #1 em: Setembro 19, 2010, 12:35:21 am »
Bombástico.

Bem vindo ao fórum, os Portugueses precisam de ser informados destas manigancias.
Chamar aos Portugueses ibéricos é 1 insulto enorme, é o mesmo que nos chamar Espanhóis.

A diferença entre as 2 designações, é que a 1ª é a design. Grega, a 2ª é a design. Romana da península.

Mas tanto 1 como outra são sinónimo do domínio da língua, economia e cultura castelhana.

Viva Portugal
 

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pedrojoao

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Re: Espiões (SIS, SIED, SIRP) na Maçonaria
« Responder #2 em: Outubro 06, 2010, 09:22:05 am »
Este texto está simplesmente fantástico. Já por várias vezes pensei sobre estes assuntos e sempre tive muita curiosidade em conhecer melhor os meandros da maçonaria a influência que esta tem na nossa sociedade e política. E pelos vistos tem bem mais do que o que se possa imaginar. Quanto a mim está na altura de todos pensarem no que isto significa e que rumo pode tomar...

para ficar a conhecer melhor: http://www.maconariaportugal.com/