ZOT e a guerra em Tete

  • 39 Respostas
  • 15770 Visualizações
*

Fencer

  • 10
  • +0/-0
ZOT e a guerra em Tete
« em: Fevereiro 08, 2011, 03:47:13 pm »
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
- Organização da ZOT (Zona Operacional de Tete)
- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)
- Casos e estórias passados na cidade e arredores
- Presença militar portuguesa em Vila Coutinho
- Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
Se alguém me puder ajudar, fico muito grato!
 

*

Cabecinhas

  • Investigador
  • *****
  • 1505
  • Recebeu: 5 vez(es)
  • Enviou: 11 vez(es)
  • +4/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #1 em: Fevereiro 08, 2011, 04:11:43 pm »
Podes por começar a ler o Anjo Branco que tens lá muito bibliografia referente a essa altura.
Um galego é um português que se rendeu ou será que um português é um galego que não se rendeu?
---
 

*

sergio21699

  • Especialista
  • ****
  • 970
  • Recebeu: 29 vez(es)
  • Enviou: 46 vez(es)
  • +21/-22
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #2 em: Fevereiro 08, 2011, 05:28:42 pm »
Acho que no documentário que deu á uns tempos na RTP deu um episódio sobre Tete
-Meu General, estamos cercados...
-Óptimo! Isso quer dizer que podemos atacar em qualquer direcção!
 

*

Fencer

  • 10
  • +0/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #3 em: Fevereiro 08, 2011, 06:00:10 pm »
Citação de: "Cabecinhas"
Podes por começar a ler o Anjo Branco que tens lá muito bibliografia referente a essa altura.

Só se for mesmo a bibliografia, porque em termos históricos o livro é algo frouxo - sou simpático porque fui contemporâneo dele em Tete...

Mas obrigado pela sugestão!
 

*

Fencer

  • 10
  • +0/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #4 em: Fevereiro 08, 2011, 06:01:47 pm »
Citação de: "sergio21699"
Acho que no documentário que deu á uns tempos na RTP deu um episódio sobre Tete

Deu, sim. O problema é que prefiro consultar coisas escritas em vez de estar a tirar apontamentos de programas de TV. Ainda assim, obrigado pela ideia. Vou ver se vejo esse episódio!
 

*

JLRC

  • Investigador
  • *****
  • 2505
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +4/-85
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #5 em: Fevereiro 08, 2011, 08:46:15 pm »
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
-- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)

Eu fiz a minha comissão em Moçambique em Moatize em 1972/74 e posso afirmar que nunca houve um ataque ao quartel de Moatize, nem antes nem depois. Não existia estação de rádio.
Julgo que houve foi um ataque ao aeroporto de Tete, nos fins de 1972, pouco antes de a minha companhia embarcar.
 

*

Fencer

  • 10
  • +0/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #6 em: Fevereiro 09, 2011, 10:29:17 am »
Citação de: "JLRC"
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
-- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)

Eu fiz a minha comissão em Moçambique em Moatize em 1972/74 e posso afirmar que nunca houve um ataque ao quartel de Moatize, nem antes nem depois. Não existia estação de rádio.
Julgo que houve foi um ataque ao aeroporto de Tete, nos fins de 1972, pouco antes de a minha companhia embarcar.

É curioso verificar como a memória nos prega partidas. Eu estava no Aeroclube de Tete durante esse ataque e estava convencido de que o ataque tinha sido mesmo ao Moatize! Assim sendo, altero a primeira parte do pedido de ajuda: alguém sabe mais sobre esse ataque ao aeroporto?

Muito obrigado pela correcção!
 

*

Desertas

  • Perito
  • **
  • 338
  • +0/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #7 em: Fevereiro 09, 2011, 11:45:04 am »
Citação de: "JLRC"
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
-- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)

Eu fiz a minha comissão em Moçambique em Moatize em 1972/74 e posso afirmar que nunca houve um ataque ao quartel de Moatize, nem antes nem depois. Não existia estação de rádio.
Julgo que houve foi um ataque ao aeroporto de Tete, nos fins de 1972, pouco antes de a minha companhia embarcar.

Caro JLRC meu sogro também esteve em Moçambique entre 1972/74 no Daque na companhia de Caçadores 3555 batalhão de Caçadores 3886. Gostaria de saber se possível qual a sua unidade em Moatize .

Um Abraço
God and the soldier all men adore
in time of trouble and no more
for when war is over and all things righted
God is neglected and the old soldiers slighted
 

*

papatango

  • Investigador
  • *****
  • 7484
  • Recebeu: 962 vez(es)
  • +4591/-871
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #8 em: Fevereiro 09, 2011, 09:22:41 pm »
Citar
Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
É provavelmente muito cedo, para se fazerem análises sobre a situação.

Em minha opinião, a ofensiva do Tete foi por um lado, uma tentativa de desviar as atenções das forças portuguesas que tinham sido transferidas para o norte durante a operação Nó Górdio.
Do ponto de vista táctico a operação Nó Górdio foi eficaz, mas do ponto de vista estratégico, se fosse possível demonstrar que os terroristas podiam atacar noutras áreas com facilidade, então seria possível dar a impressão de que Nó Górdio tinha sido um completo fracasso e um gasto inutil de recursos.

Por outro lado a ofensiva no Tete, pretendi demonstrar a capacidade dos terroristas para minar ou impedir a construção da barragem de Cabora Bassa, que era vista como uma afirmação portuguesa de que os portugueses estavam para ficar e por isso faziam ali grandes investimentos.
Tanto quanto se sabe, a FRELIMO nunca conseguiu atrasar significativamente a construção da barragem que ficava bem no centro da província do Tete.

A conclusão que podemos retirar, é que a ofensiva do Tete, foi acima de tudo uma vitória estratégica da FRELIMO, que foi posteriormente utilizada para minar a moral dos portugueses, quer dos militares quer dos cidadãos na Metropole.

A ofensiva, justificou durante muito tempo a já estafada tese de que a guerra estava perdida.
A verdade, é que por um lado no norte, a FRELIMO teve as suas redes desarticuladas, mas como elas tinham a sua base na Tanzania, puderam ser redirigidas através do Malawi.
As relações entre Portugal e o ditador do Malawi, eram muito boas, pelo que se o tempo tivesse permitido, o corte desse tentáculo seria quase certo.

Um dos problemas que a FRELIMO tinha era o atravessamento do Malawi, o outro, eram os militares da Rodésia, que também actuavam na região. A via através da Zambia era mais complicada, porque a FRELIMO não tinha o mesmo tipo de facilidade por parte do governo de Kennet Kaunda da Zâmbia, que tinha do governo tanzaniano de Julius Nierere.

Aliás, li algures (não me lembro onde) que os rodesianos chegaram a queixar-se da ineficiência das tropas portuguesas, que eram muito mais numerosas que as deles, mas que pouco ou nada faziam. Os militares da Rodésia agiam contra os insurgentes da ZANU, mas alegadamente entravam em território português com facilidade. Esta última informação foi-me dada há bastante tempo, por pessoas que ficaram em Moçambique vários anos após a independência.
Aparentemente, os guerrilheiros negros contrários ao governo da Rodésia, tinham o  apoio do Kennet Kaunda, mas a FRELIMO não tinha esse apoio. Portugal e a Rodésia fizeram esforços para coordenar operações contra os dois movimentos, com o apoio logistico da Africa do Sul que fornecia helicópteros PUMA, porque Portugal tinha apenas seis desses helicópteros em Moçambique e só parte podiam ser permanentemente utilizados.

(nota: Foi a pensar neste tipo de operações que Portugal comprou mais de 20 aviões CASA AVIOCAR, que como grande parte do material adquirido não chegou de facto a ser utilizado na tal guerra que estava perdida)

Na verdade, acredito que muitos dos comandos portugueses achavam que não precisavam fazer praticamente nada.
Ocorre que ao optar por atacar no TETE, a FRELIMO cometeu o mesmo erro que o MPLA e a FNLA cometiam em Angola:
Para realizar uma operação os insurgentes tinham que percorrer centenas ou milhares de quilometros  e carregar o armamento às costas. Uma força com este problema, acaba vendo a sua operacionalidade muito reduzida. Eventualmente esta análise e apreciação táctica da situação, faria com que fosse preferível deixar a FRELIMO andar de um lado para o outro a carregar armas, porque o efeito real na vida das populações era mínimo.

No máximo eles realizavam uma operação de vez em quando e o objectivo dessas operações, é o de desonortear os militares ocidentais, e po-los a caçar gambusinos.
Foi a táctica utilizada contra os americanos no Vietname.
Os portugueses aparentemente fosse por inércia, fosse por falta de meios, fosse para evitar mais operações nó górdio, fosse por achar que não valia a pena, acabaram por não seguir essa via.

A ideia de que a guerra podia ser ganha, tentando ganhar o apoio das populações, enviando médicos e dando auxilio às aldeias isoladas, estava a começar a ser aceite por muita gente.

Era aliás o maior terror dos instrutores soviéticos, que nunca desenvolveram uma estratégia eficaz contra esta táctica.

Não precisaram.
Ganharam a guerra na secretaria em Lisboa, em 25 de Abril de 1974
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

*

JLRC

  • Investigador
  • *****
  • 2505
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +4/-85
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #9 em: Fevereiro 10, 2011, 12:04:22 am »
Citação de: "Desertas"
Caro JLRC meu sogro também esteve em Moçambique entre 1972/74 no Daque na companhia de Caçadores 3555 batalhão de Caçadores 3886. Gostaria de saber se possível qual a sua unidade em Moatize .

Um Abraço

2.ª Cart do Bart 6220.
 

*

Desertas

  • Perito
  • **
  • 338
  • +0/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #10 em: Fevereiro 10, 2011, 01:00:32 am »
Ok JLRC !

Obrigado.
God and the soldier all men adore
in time of trouble and no more
for when war is over and all things righted
God is neglected and the old soldiers slighted
 

*

Fencer

  • 10
  • +0/-0
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #11 em: Fevereiro 10, 2011, 10:37:06 am »
Citação de: "papatango"
Citar
Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
É provavelmente muito cedo, para se fazerem análises sobre a situação.

A ideia de que a guerra podia ser ganha, tentando ganhar o apoio das populações, enviando médicos e dando auxilio às aldeias isoladas, estava a começar a ser aceite por muita gente.

Era aliás o maior terror dos instrutores soviéticos, que nunca desenvolveram uma estratégia eficaz contra esta táctica.

Não precisaram.
Ganharam a guerra na secretaria em Lisboa, em 25 de Abril de 1974

Muito obrigado pela sua análise, Papa Tango. Tem toda a razão, é cedo para fazer uma análise, tantas são as opiniões divergentes! Acho que daqui a uns 200 ou 300 anos será possível escrever algo de preciso sobre o assunto!
 

*

papatango

  • Investigador
  • *****
  • 7484
  • Recebeu: 962 vez(es)
  • +4591/-871
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #12 em: Fevereiro 10, 2011, 03:43:24 pm »
Acho que não serão necessários 200 anos. Os teóricos ou especialistas destas coisas, afirmam que o período de distanciamento típico é de 50 anos.
Passados 50 anos podemos começar a fazer análises mais coerentes e mais racionais sobre o que se passou, acredito que esse período é cada vez maior, à medida que a comunicação social, o cinema e a televisão, mantêm a realidade da guerra mais viva durante mais tempo.

Podemos hoje, por exemplo, perceber que ao contrário do que nos contaram durante muito tempo, o Salazar e o Franco não tinham nenhum entendimento especial e que as duas ditaduras ibéricas tinham na realidade apenas relações institucionais e débeis. O Salazar, a contragosto suportava o Franco e o Franco a contragosto suportava o Salazar.
Só passados esses anos, puderam ser publicados livros em que se explica que não só Portugal nunca colaborou com as tropas rebeldes de Franco (ao contrário do que afirmou Mário Soares), como ainda por cima o próprio Franco tinha planos para invadir Portugal.

Mas já passaram mais de 70 anos desde esse periodo. A ideia geral que vamos criando sobre a História dos anos 30 aos anos 50 é hoje diferente da que tinhamos logo a seguir a 1974. Aliás chega a ser perigoso o entendimento da verdade histórica, pois isso leva a que muitos portugueses tenham criado a ideia disparatada e absurda de que se vivia melhor em Portugal no tempo da ditadura que hoje.

Mas para o período do inicio dos anos 70 ainda não passou tempo suficiente. Pode-se dizer uma grande quantidade de coisas, mas as águas ainda não assentaram.

Dou-lhe um exemplo:
Não podemos ter uma ideia de facto fundamentada sobre o que foi a guerra que alguns chamam Colonial e outros Ultramarina, enquanto as televisões ainda passarem imagens sobre o sofrimento dos soldados em África. Essas imagens, como as que vimos recentemente na SIC, não permitem o raciocinio frio e objectivo.

A única coisa que sei, é que falando com alguns dos filhos dos combatentes da FRELIMO em Moçambique, eles são quase todos unanimes em afirmar «off the record», que dificilmente a FRELIMO teria conseguido trazer a guerra até Lourenço Marques. Poderiam fazer algumas operações mais vistosas, mas não tinham capacidade para de facto criar uma sensação de insegurança nas populações do sul de Moçambique, nomeadamente a população branca que se concentrava no sul entre Lourenço Marques e a Matola e que vivia nas provincias de Lourenço Marques, Inhambane e Gaza, as quais eram praticamente um mundo à parte.

Para os portugueses de Moçambique que viviam em Lourenço Marques, o Moçambique deles acabava na Beira, que era a cidade mais a norte.
O resto, era Quelimane e Nacala, que praticamente já não estavam em Moçambique.

Também seria de extrema importância estudar as relações entre os colonos e os militares portugueses vindos da metrópole.
Havia um ressentimento enorme entre os portugueses que viviam em Lourenço Marques e nas provincias do sul contra os soldados portugueses.
Esse ressentimento continua até hoje, e acredito que se falar com pessoas que tenham vindo de Moçambique, muitos vão confirmar que a imagem que se passava dos portugueses que vinham da metrópole era a de um exército de bêbados.

Quanto à operação do Tete propriamente dita, ela não tem especial relevância no Museu da Independência em Maputo, onde apenas existem uns mapas e diagramas gerais sobre as operações e combates que ocorreram durante a guerra.
O museu foi inaugurado pelo próprio Samora Machel em 1978, quatro anos após o finam da guerra.

Estava lá exposto, em 2007 por exemplo, o carro utilizado pelo Eduardo Mondlane, exactamente como estava em 1974.
Sobre as alegações de que Mondlane caiu resultado de uma luta interna dentro da FRELIMO, entre os pró ocidentais e a linha radical comunista, NEM UMA PALAVRA.

Os silêncios ainda falam muito alto. Qual seria a estratégia de Mondlane se não tivesse sido morto ?
As opções de luta escolhidas pelos conselheiros soviéticos foram as melhores ?

A opção por atacar na região de Tete, com o objectivo de mostrar que os Portugueses estavam a ser expulsos e não conseguiam construir Cabora Bassa teria sido certa ?

Porque é que no Museu da Revolução, com tanta imagem sobre a repressão, e sobre a patriótica vitória sobre os portugueses e a marcha de Samora Machel, não há nenhuma menção ao facto de os portugueses terem conseguido construir a barragem, que era o maior e mais impressionante sinal de que tinham vencido de facto a FRELIMO ?

Como é que os portugueses conseguiram construir uma barragem, que era na altura a maior obra de construção civil do continente africano, no meio de uma província onde decorria a tão famosa Ofensiva do Tete ?

Se a operação no Tete tivesse sido um sucesso, porque é que o maior símbolo português na província e em todo o continente africano, não foi afectado, quando foi declarado como alvo primordial ?

Enfim, há muito, muito, muito pano para mangas.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

*

PILAO251

  • 184
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +0/-1
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #13 em: Fevereiro 10, 2011, 11:06:49 pm »
Caro PT.
Não conheço o Museu de Maputo, mas conheço o de Luanda.
Nem um, nem outro devem ser referencia para coisa nenhuma.
 

*

papatango

  • Investigador
  • *****
  • 7484
  • Recebeu: 962 vez(es)
  • +4591/-871
Re: ZOT e a guerra em Tete
« Responder #14 em: Fevereiro 11, 2011, 12:27:38 am »
Bom, eu não conheço o de Luanda, mas o que é importante no museu, pelo menos no de Maputo, não é o que lá está escrito, mas sim o que lá não está escrito.

É por isso que à medida que o tempo passa,  e quando vamos tendo tempo para juntar as várias peças, é impossível não ficar com uma ideia muito diferente sobre o que foi a realidade da guerra e na maioria dos casos, aparece-nos uma ideia e uma imagem diferente da que nos têm vendido.

Importante:
Diferente mesmo da imagem que nos têm vendido naqueles episódios do Joaquim Furtado, que são apresentados como um documentário isento.

Sobre a ofensiva do Tete, a própria Frelimo não dá uma especial importância à operação. Fala apenas em levar a guerra a TODO o país, embora os próprios mapas que eles lá colocam, mostrem que a maior concentração de acções foi no Nordeste de Moçambique e na área junto ao lago Nyassa.
A FRELIMO não foi capaz de levar a guerra a todo o Moçambique e hoje estou convencido que a ofensiva do Tete, foi apenas o que eles conseguiram e puderam organizar para continuar a existir.

De resto a FRELIMO não existia no sul do país, onde estava a maior parte da população.
A ofensiva do Tete, não pode ser dissociada de Cabora Bassa e Cabora Bassa está lá, a mostrar o que a ofensiva do Tete conseguiu.

Em 2007, o presidente de Moçambique declarou numa entrevista, que finalmente Moçambique controlava a barragem de Cabora Bassa.
Não deixa de ser engraçado e irónico, quando por vontade do partido dele, a barragem não existiria hoje.



De qualquer forma o mais interessante será provavelmente discutir o que foi feito para evitar as acções da FRELIMO, ou então para reduzir a eficácia das acções da FRELIMO.
Sei por exemplo que a FRELIMO tinhas terríveis problemas logísticos e que muitas vezes não atacava os portugueses porque só tinham algumas catanas.
Mal sabiam eles, que muitas das tropas portuguesas que eles tinham medo de atacar, em vários casos não tinham praticamente, munição para as G3, e que havia pelotões em que apenas o comandante de pelotão tinha arma, havendo depois um ou dois tiros para cada soldado português, se tanto.

Nós também tinhamos terríveis problemas logisticos. Conseguia-se algum apoio através da utilização de avionetas AUSTER, com motor de 130cv  que praticamente serviam só para entregar correio e as Dornier Do-27 com motor de 270cv que não tinham capacidade para carregar quase nada e eram quase apenas uma forma de entregar correio e coisas mais urgentes, ou efectuar alguma evacuação médica.

A chegada dos AVIOCAR, por pequenos que fossem, teria sido uma revolução.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...