Guerra cibernética? Maior fabricante de armas da China insulta rival russa no WeChatNorinco está usando as redes sociais para lançar provocações de nível militar contra o tanque mais avançado de sua rival russa
Por Bloomberg
|11h40 | 09-06-2015
(SÃO PAULO) - A China e a Rússia assinaram um acordo no mês passado para não realizar ataques cibernéticos entre si. Aparentemente ninguém avisou à maior fabricante de armas da China.
A Norinco está usando as redes sociais para lançar provocações de nível militar contra o tanque mais avançado de sua rival russa. A empresa utilizou o popular serviço de mensagens WeChat, em maio, para vender seus principais veículos blindados... e insultar a concorrência.
A companhia com sede em Pequim usou como alvo um embaraçoso e amplamente divulgado incidente envolvendo o T-14 Armata, produto mais recente do aparelho militar da Rússia. Um desses tanques de alta tecnologia parou abruptamente na Praça Vermelha durante os ensaios para as celebrações do 70o aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial.
WeChat: China e a Rússia assinaram um acordo no mês passado para não realizar ataques cibernéticos entre si
A provocação foi particularmente irritante porque a Rússia e a China foram as aliadas que sofreram mais baixas naquele conflito mundial.
“A transmissão do T-14 não foi bem desenvolvida, como vimos naquele mau funcionamento durante um ensaio antes do desfile de 9 de maio”, disse a Norinco, em uma postagem em chinês em sua conta oficial no WeChat. “O VT-4 nunca teve um problema como esse até hoje. Nossos tanques, além disso, contam com sistemas de controle de fogo de classe mundial, algo que os russos ainda estão tentando igualar”.
Com a queda na demanda global, a China North Industries Group Corp. está buscando expandir as vendas em economias emergentes da Ásia e da África, onde o conglomerado estatal está esbarrando em fabricantes de armas russos, europeus e americanos já estabelecidos.
A escolha deveria ser óbvia, segundo a empresa chinesa.
Os russos estão cobrando um valor próximo ao de um tanque de guerra Abrams fabricado pela General Dynamics Land Systems, disse a Norinco. A empresa dos EUA produz alguns dos tanques de guerra mais avançados do mundo, sendo que um Abrams custa cerca de US$ 6 milhões, segundo um relatório de 2012 do exército para o Congresso americano.
“Se um cliente internacional quer comprar um novo tanque, ele pode escolher apenas entre a China e a Rússia”, disse a Norinco, em uma postagem em chinês em sua conta oficial no WeChat. “Por que os compradores não consideram os tanques chineses, que têm tecnologias e equipamentos bem desenvolvidos e preços muito mais baixos?”.
O T-14 é produzido pela fabricante industrial OAO NPK Uralvagonzavod, cujos representantes não responderam aos telefonemas em busca de comentário.
‘Prato do dia’
A Norinco e outras fabricantes de armas chinesas postam comparações no serviço WeChat, de propriedade da Tencent Holdings Ltd., que poderiam ser provocativas demais do ponto de vista diplomático para serem publicadas em seus sites, segundo o jornal estatal China Daily.
Em maio, a Rússia e a China decidiram não realizar ataques cibernéticos uma contra a outra. No entanto, mais de um ano depois dos dois países terem assinado um acordo para um gasoduto, negociado há tempos, existem poucos sinais efetivos de concretização da alardeada reaproximação entre eles, afastando a ideia de que os dois países estejam caminhando para uma significativa aliança anti-EUA.
“Esta ainda é, basicamente, uma relação de conveniência”, disse Bobo Lo, associate fellow da Chatham House, cujo livro “Russia and the New World Disorder” (“A Rússia e a Nova Desordem Mundial”, em tradução livre) será publicado em agosto. “Trata-se de chegar a um acordo sobre o que você pode conseguir e não ter medo de aproveitar as oportunidades quando elas surgem”.
Com a postagem de maio no WeChat não foi a primeira vez que a Norinco recorreu a uma estratégia de marketing inovadora.
A empresa oferece conjuntos iniciais de equipamentos de defesa básica -- de todo tipo, de rifles a canhões, bombas guiadas por laser, veículos blindados para transporte de tropas, tanques e drones -- para governos que querem equipar rapidamente suas forças armadas. A mídia chinesa chamou o pacote de “prato militar do dia”.
Com vendas ao exterior de US$ 7,4 bilhões no período de cinco anos até 2013, a China superou a França e se tornou a quarta maior exportadora de armas do mundo, segundo o Stockholm International Peace Research Institute.
http://www.infomoney.com.br/bloomberg/tecnologia/noticia/4091460/guerra-cibernetica-maior-fabricante-armas-china-insulta-rival-russa-wechat