Uma pequena história para ilustrar o cenário do cinema português e a sua relação com as guerras. O meu pai aceitou assessorar Manoel de Oliveira no seu "Non, ou a Vã Glória de Mandar", nomeadamente no que concerne a um acampamento-base na Guerra do Ultramar e a sua disposição.
Todas as dicas que o meu pai passou foram ignoradas, pois não ficava esteticamente bem. A colaboração (não paga, aliás) foi rapidamente concluída.
Obviamente que o Manoel de Oliveira tem o direito de realizar o seu filme da forma que quiser, mas quando sabemos que outros cinemas levam os seus military advisers a sério, ao mínimo pormenor, ficamos a saber porque não há filmes portugueses decentes acerca da Guerra.
O grande problema que impede um filme decente é que a Guerra ainda é vista num prisma ideológico bacoco, passadista e pequeno-burguês, e não um conflito militar puro e simples, já ele cheíssimo das suas complexidades próprias.
Os Maneis e os Josés que viram a sua primeira retrete no quartel, que lutaram na África e que criaram elos eternos com os seus companheiros, esses serão sempre esquecidos, pois a história e o cinema é composto de parisienses e argelinos que por mais que se mordam nunca conseguirão uma sonoplastia de jeito, quanto mais um guião genuíno acerca da guerra.