França: O possível NÃO à Europa

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papatango

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França: O possível NÃO à Europa
« em: Março 23, 2005, 10:27:40 am »
Não deixa de ser curioso, que na própria França, se esteja neste momento nas sondagens a prefigurar a possibilidade de um voto negativo, no próximo referendo europeu.

No centro da Europa, a França sempre foi um país de considerável importância, quando foi (à força) unificada. O seu poder foi crescendo, até ter chegado ao período napoleónico, onde perdeu o título de maior potência continental, que viria a ser ocupado pela Alemanha e pela União Soviética, enquanto esta durou.

Para muitos franceses, no entanto, essa ideia de que a França é um pais especial (de corrida) continua a fazer sentido.

O que vemos hoje, é ao mesmo tempo uma indicação clara do desnorte que vai pela cabeça dos políticos Europeístas.

Feitas com o objectivo de criar empregos bem pagos, as instituições europeias têm cada vez mais dificuldades em se justificarem a elas próprias. São vistas como organismos obscuros, que controlam parte dos estados membros de fora, sem que as pessoas tenham a possibilidade de eleger quem toma as decisões.

Agora, mesmo a França, o centro de Europa (para os franceses), foi assaltada pela dúvida. A França, com uma economia extremamente regulamentada e estatizada, entendeu que a liberalização económica, implica ter que acabar de uma vez por todas com as suas empresas monopolistas.

A França quer a Europa politica, porque aspira a domina-la, mas não quer a Europa económica, que colocará a nú as suas debilidades, e a sua fraqueza.

Ou seja, o mote dos franceses, é: Faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço”.

Se até os franceses concluem que a Europa os pode prejudicar (e a Europa é um país grande) imaginem o que ocorrerá em Portugal.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Miguel

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« Responder #1 em: Março 23, 2005, 07:39:33 pm »
Espero ver vencer o "Não" porque a constituição seria um desastre para todos...

eu li por alto... e vi varias vezes "liberização dos mercados e serviços publicos, mercado, competitividade etc.. " e nunca vi nenhuma sobre o "Social" nem direito a Reforma nem Salarios Minimos etc....

seja por concluir se a constituição for viabilizada, seremos ainda mais liberais que os EUA....
os Ricos ainda mais Ricos etc...

o problema é a directiva Bolkeinstein, seria um desastre até para Portugal, porque podia-se empregar um trabalhador dos paises de leste a pagar com salarios da Roménia etc.... e os Portugueses ficavem sem trabalhos porque o nosso salario minimo é mais alto , que nos paises de leste.

NON,NEIN,NAO,NO....
 

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JoseMFernandes

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« Responder #2 em: Março 23, 2005, 07:51:54 pm »
Citando textualmente um artigo do editor economico do jornal 'Le Monde', Eric Le Boucher, do fim de  semana passado...

"Os franceses estao com problemas com a Europa, opoem-se a directiva Bolkestein sobre os serviços, lamentam o alargamento, detestam a abertura de serviços publicos a concorrencia, deploram a deriva neo-liberal da Uniao e a 'vitoria inglesa' sem que o seu governo proponha o quer que seja de concreto e aceitavel pelos nossos parceiros para relançar a integraçao.Ameaçam mesmo, segundo algumas sondagens votar contra a Constituiçao.
Na verdade da estratégia de Lisboa os franceses nunca apreciaram os termos nem o conteudo.
Os termos porque a palavra 'competitiva' é entendida como 'concorrencia' e 'supressao de empregos', tomando uma conotaçao liberal, logo negativa.
O conteudo porque a estratégia de Lisboa renuncia  as politicas comuns
e lista 28 objectivos que cada governo deve visar no seu espaço nacional(subir a taxa de emprego, a produtividade,  a pesquisa-desenvolvimento, os investimentos, a limitaçao do efeito de estufa...).Lisboa vira as costas a politica de 'mais integraçao', idealizada pelos franceses, para  reter uma politica de simples coordenaçao e incitamento a partir de Bruxelas.
Os dez novos paises  da Uniao beneficiam fortemente da Uniao tal como esta: o seu crescimento 'dopado' pelos investimentos vindos do Oeste foi de 5% o ano passado, e provavelmente 4,5% este ano, ou seja tres vezes mais que a zona euro.A Gra-Bretanha por seu lado conhece o mais longo periodo de forte expansao desde...1701... data de invençao das estatisticas!!!A Europa do crescimento em 'panne', da subida de desemprego, do sistema social corroido pelos défices, essa Europa do pessimismo, eles nao se reconhecem nela.Essa Europa diz respeito principalmente a tres paises, França, Alemanha e Italia, que pesam 70% do PIB global, estao a retardar o conjunto e aumentar o fosso com os Estados Unidos.vista de Estocolmo, Londres ou Varsovia, a Europa high-tech da iniciativa e do sucesso existe.
Como podem os franceses, alemaes e italianos esperar convencer a 'nova europa' que as suas escolhas sao melhores ? O despeito frances esta ai mesmo, pois perderam a batalha ideologica porque os seus argumentos sao desmentidos pela pobreza dos resultados economicos e sociais.
Se os franceses e alemaes unidos,  conseguiram bloquear provisoriamente a directiva Bolkestein destinada a introduzir a concorrencia entre os serviços, eles estao em vias de perder a parte fiscal.A Alemanha baixou a taxa de imposto sobre as sociedades esta semana, depois da Austria Finlandia e Grécia.As tabelas mais altas sobre o rendimento baixaram na Alemanha e Italia.Os paises do Leste, numa corrida entre eles vao ainda mais longe.
Mesmo se Frits Bolkestein elaborou rapida e em termos demasiado generalistas a directiva, nao ha duvida porém que a Europa precisa de encorajar a concorrencia dos serviços.O grosso do potencial de criaçao de empregos esta ai mesmo.E sem duvida criar um verdadeiro mercado financeiro comum, que force a concorrencia entre bancos, para proveito de todos e da economia em geral.(...)
A fraqueza dos ganhos de produtividade explica dois terços  da diferença de crescimento entre Europa e os Estados Unidos, segundo o Banco Central de Francfort.Como os acelerar? todos estao de acordo que é favorecendo o investimento na informatica e inovaçao...mas como ?
Sera preciso que, e  nesse aspecto a razao talvez esteja também com a 'velha europa', uma politica de pesquisa-desenvolvimento COMUM seja posta em marcha.Sera esse o melhor vector para que os partidarios da integraçao retomem a iniciativa. Assim eles tenham vontade... "
 

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fgomes

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« Responder #3 em: Março 23, 2005, 09:19:45 pm »
Tenho as maiores reservas em relação à constituição europeia e no referendo votarei não, embora não pelas razões francesas.
Quanto ao resto a "Velha Europa" não quer mesmo mudar! A França quer mandar, mas começou a ver que o preço é demasiado alto!
 

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J.Ricardo

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« Responder #4 em: Maio 12, 2005, 02:08:26 pm »
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Deputados alemães aprovam Constituição européia
 
da Folha Online

Deputados alemães aprovaram nesta quinta-feira a Constituição européia, atendendo aos pedidos dos líderes políticos, que defendem a criação de fortes relações entre a Europa e a Alemanha para "evitar a repetição das tragédias do século 20".

O documento recebeu apoio de quase todos os partidos políticos alemães, e foi aprovado por 569 votos, contra 23. Houve duas abstenções. A Constituição deve agora passar pela Câmara Alta do Parlamento [espécie de Senado], em 27 de maio próximo.

Em 28 de abril passado, a Câmara dos Deputados da Espanha ratificou o tratado para aplicação da Constituição.

Em 20 de fevereiro --no primeiro referendo organizado em um país europeu sobre a Constituição-- os espanhóis aprovaram, com 76,73% dos votos o documento. A França será o próximo país da UE a realizar um referendo, em 29 de maio
 

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J.Ricardo

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« Responder #5 em: Maio 13, 2005, 08:43:07 pm »
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Franceses aprovam Constituição européia, revela pesquisa
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da France Presse, em Paris

Um total de 52% dos franceses votaria a favor da Constituição européia se o referendo fosse hoje, segundo uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira que confirma o avanço do "sim" desde o final de de abril, depois de semanas com vantagem para o "não".

Segundo a pesquisa dos institutos TSN-Sofres/Unilog, divulgada pelo jornal Le Monde, a rádio RTL e a rede de televisão LCI, 48% das pessoas consultadas votaria contra o tratado constitucional, mas 27% ainda se declara indecisa.

A pesquisa mostra que os simpatizantes do Partido Socialista estão bastante divididos, enquanto 81% do partido de direita no poder aposta no sim.

De acordo com a consulta, 69% dos franceses se declara "seguro" do voto na consulta popular, contra 29% que considera uma eventual mudança de opinião antes de 29 de maio.

No início da semana outras duas pesquisas apontaram uma ligeira vantagem do "sim" sobre o "não", até então majoritário, o que mostra o efeito da grande campanha do governo em favor do projeto continental.

Segundo as pesquisas, o tratado constitucional seria aprovado por uma estreita margem, assim como o que aconteceu em 1992 com o Tratado de Maastricht sobre a união monetária.
 

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Pantera

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« Responder #6 em: Maio 16, 2005, 02:21:03 pm »
Tb digo não á Europa porque acima de tudo sou nacionalista!!!Podemos ter um exército único europeu sem o tratado da União Europeia!!!

Portugal sempre!!!

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papatango

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« Responder #7 em: Maio 25, 2005, 11:54:50 pm »
Parece que o "não" voltou outra vez a liderar as pesquisas de opinião.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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fgomes

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« Responder #8 em: Maio 26, 2005, 10:50:28 pm »
O discurso do Presidente Chirac no estilo, ou "Sim" ou o "Caos", é capaz de ter efeitos contraproducentes!

No entanto fez uma afirmação curiosa, de que a constituição europeia aumenta o poder da França! Concordo plenamente e é uma das razões porque sou contra esta constituição!
 

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papatango

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« Responder #9 em: Maio 30, 2005, 11:16:10 am »

A decisão francesa de votar “Não”, à constituição europeia, embora contraditória (do meu ponto de vista parte dos franceses votou “Não” pelas razões erradas), dá lugar a uma discussão mais ampla.

A verdade, é que a ideia de Europa, é extremamente longínqua para muitos países europeus. Para uns, é uma forma de receber dinheiro, para outros é uma forma de garantir os regimes democráticos, para outros é uma forma de garantir mercados abertos para os produtos dos seus países, e para outros ainda, não quer dizer absolutamente nada.

Para dar um exemplo, quem estiver nas ilhas portuguesas dos Açores, chega mais depressa a Nova Yorque ou Washington que a Varsóvia, Vilnius ou Estocolmo.

Quando Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia, aderiu a um grupo de países, que tinham acordado em abrir as suas fronteiras, à circulação de produtos, e à circulação de pessoas. As ajudas dadas por esses países, ajudaram a dinamizar a economia portuguesa. A economia modernizou-se e isso deve-se claramente à Europa.

Mas agora, já não se trata da Comunidade Económica, mas sim da União Europeia, e isso, é algo bastante diferente. Trata-se da velha ideia de franceses e alemães, de criar ou recriar o império de Carlos Magno, que em si, tinha mais ou menos o objectivo de recriar o império Romano.

É aí, que do meu ponto de vista está o problema.
A constituição, à partida, não coloca em causa, o Estado-Nação e a independência e soberania dos países que constituem essa União Europeia. Mas o que é preocupante, é que parece deixar a porta aberta para isso.
Parece deixa a porta aberta para que num futuro a longo prazo, se dilua artificialmente a identidade nacional dos países constituintes, criando a ideia de que somos todos iguais e amigos.

Só que, tal construção será sempre feita num sentido. Quando se misturam 10 partes de tinta azul com uma de tinta vermelha, qual será a cor dominante ?

Quando a constituição vigorar em pleno, e se um país estiver em desacordo, então será demasiado tarde. A regra da maioria, implica que as decisões da União serão tomadas, mesmo que sejam contra os interesses de um dos Estados.

Imaginem uma situação:
Um destes dias, há um problema na Guiné-Bissau. Um referendo fantoche organizado pelos franceses, aceita a integração da Guiné no Senegal. Debatem-se os interesses de Portugal e da França, e é difícil encontrar uma solução. Ao nível da União Europeia, é necessário tomar uma decisão, sobre a intervenção de forças Europeias, que é necessária, conforme acham os franceses, e desnecessária do ponto de vista dos portugueses.

A França, consegue a maioria de votos e de países, para aprovar uma moção em favor da intervenção favorável ao Senegal.
Portugal, vota contra, mas está sozinho, ou com um numero reduzido de apoios.

A União Europeia, não pode impedir Portugal de fazer o que a sua soberania mandar, mas a União Europeia mandará tropas para a Guiné,. Para apoiar a anexação da Guiné-Bissau pelo Senegal. O que vai acontecer?
Vai prevalecer a lei do mais forte?
Seria Portugal capaz de agir contra a U.E.?
Estaríamos mesmo, segundo a Constituição Europeia, a violar a constituição, devendo ser punidos?

Não sei, portanto, em que medida deveremos entrar numa carruagem que, indo por este caminho, no futuro ameaça trucidar-nos.

Quais são as soluções, e qual será o caminho, é necessário ver, porque o Não da França inviabiliza completamente a actual constituição, e a dimensão do Não  (cerca de três milhões de votos) impede uma solução como a da Dinamarca, que, para a ratificação do tratado de Maastricht, fez um segundo referendo para que ganhasse o Sim.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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fgomes

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« Responder #10 em: Maio 30, 2005, 01:55:12 pm »
Involuntáriamente os franceses prestaram um grande serviço à Europa!É altura de deixar de lado o projecto insensato de restaurar o império de Carlos Magno e todas as loucuras federalistas!

Vive la France!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1
 

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emarques

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« Responder #11 em: Maio 30, 2005, 03:42:00 pm »
Citação de: "papatango"
A União Europeia, não pode impedir Portugal de fazer o que a sua soberania mandar, mas a União Europeia mandará tropas para a Guiné,. Para apoiar a anexação da Guiné-Bissau pelo Senegal. O que vai acontecer?
Vai prevalecer a lei do mais forte?
Seria Portugal capaz de agir contra a U.E.?
Estaríamos mesmo, segundo a Constituição Europeia, a violar a constituição, devendo ser punidos?

Segundo uma leitura (um pouco superficial, reconheço) do tratado em causa, Portugal não estaria em violação de política europeia, porque as decisões sobre a política externa da União teriam que ser decididas por unanimidade.
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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Luso

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« Responder #12 em: Maio 30, 2005, 05:17:51 pm »
PêTê, és o meu herói!
Obrigado por nos explicares essas coisas para as quais eu não tenho a mínima paciência - mas que serão eventualmente muito importantes.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Dinivan

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« Responder #13 em: Maio 30, 2005, 05:45:39 pm »
Ha sido una verdadera pena lo que ha pasado en Francia. Solo espero que en el resto de países (excepto el Reino Unido) se apruebe, y después de reformar el gobierno (y una eventual dimisión de Chirac) se vuelva a convocar un referendum en Francia y acabe aprovándose.
 

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papatango

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« Responder #14 em: Maio 30, 2005, 10:14:16 pm »
Citação de: "emarques"
Segundo uma leitura (um pouco superficial, reconheço) do tratado em causa, Portugal não estaria em violação de política europeia, porque as decisões sobre a política externa da União teriam que ser decididas por unanimidade


Porém, pelo que já li, só serão de decisão por unanimidade, aquelas questões que forem consideradas como restritas e exclusivas da decisão dos estados membros.
Portanto, nada nos garante que, com uma constituição absolutamente obtusa , mal escrita e passivel de mill interpretações, amanhã, o que eu aqui escrevo não possa ocorrer.

Esse é o principal problema, a constituição é tão confusa, que, como qualquer documento confuso, pode ser interpretado de várias maneiras. pode então gerar-se então uma batalha juridica, que pode paralisar as instituições europeias, e quando isso acontecer, prevalecerá a lei do mais forte.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...