GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS

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Lusitano89

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #135 em: Janeiro 07, 2016, 04:20:28 pm »
A Defesa na Europa em 2016
Alexandre Reis Rodrigues


O ano que estamos a iniciar vai ser muito difícil em termo de relações internacionais e no campo da segurança e defesa. Para James M. Lindsey, será mesmo um ano tumultuoso, com muitos dos problemas que afetaram a estabilidade e paz no mundo em 2015, a manterem-se ou agravarem-se.

Para a Europa, a questão mais proeminente, mas não a única, continuará a ser a originado pela guerra civil na Síria, quer na vertente dos refugiados que continuarão a procurar um destino seguro na Europa, quer no agravamento da ameaça terrorista que as intervenções militares contra o ISIS na Síria e no Iraque, estão a desencadear. A memória dos ataques de 13 de novembro em Paris vão continuar muito vivas e a necessidade de continuar as investigações vão justificar a manutenção de medidas excecionais de segurança.

O Magrebe, em especial a Líbia, e o Sahel, em especial o Mali, continuarão a ocupar grande parte das preocupações europeias podendo não chegar o esforço que a França quase isoladamente tem feito, como o mais ativo país europeu a combater no Sahel o jihadismo.

Para além da instabilidade crescente - quase a atingir o caos - no Médio Oriente, este também com um potencial de repercussões de vária ordem sobre os interesses europeus, na frente leste continuará a dominar a questão ucraniana. A persistência deste problema, como mais um conflito para permanecer sem solução, vai alimentar o atual quadro de agravamento das dificuldades de relacionamento com a Rússia, que insistirá em tentar reaver influências regionais perdidas e recuperar daquilo que considera a “catástrofe” da implosão da União Soviética.

O clima de tensão que se vive nos mares do leste e do sul da China, provocado pela interpretação chinesa do que são os seus direitos nas respetivas águas de jurisdição e diversas disputas territoriais sobre arquipélagos, entre a China e outras potências da região que se queixam de contínuas violações de soberania, vai obrigar os EUA a evitar dispersar recursos que precisam de estar disponíveis para essa região prioritária.

Esta situação e os resultados das desastrosas experiências no Iraque e Afeganistão vão levar os EUA a continuar a declinar o emprego de tropas em conflitos em que não estejam em causa interesses vitais, ficando, quando muito, pelo uso do poder aéreo, que, como é conhecido, pode conter uma crise mas não a resolverá. Esta postura estratégica dos EUA, surgida em janeiro de 2012, sob a ideia da necessidade de reequilibrar o investimento militar na Europa («rebalance the military investment in Europe»), pretende lembrar aos europeus a indispensabilidade de resolver o défice de cooperação que tem vindo a afetar o relacionamento transatlântico.

Não obstante este panorama, ainda não se viu a União Europeia dar um sinal de disponibilidade para reconhecer que, quer a sua forma de lidar com as crises provocadas por estados falhados que se desenvolvem na vizinhança próxima - no essencial baseada no emprego das chamadas ferramentas de soft power -, quer os contributos militares que alguns países europeus estão a dar para combater o radicalismo islâmico, não chegam para resolver as situações, nem representam uma justa divisão de tarefas com os EUA, no seio da Aliança.

Dir-se-á que no presente quadro político em que se vive na União Europeia, dominado pela incapacidade de estabelecer compromissos que permitam definir um trajeto claro, não será possível repor a Europa no caminho de afirmação como ator internacional, capaz de, pelo menos, assumir a responsabilidade primária pela estabilidade e paz na sua vizinhança próxima.

No entanto, convém não esquecer que essa situação não é a causa da irrelevância estratégica a que a União chegou e que está a contaminar a própria NATO. É algo que resulta, em grande parte, de anos de uma deliberada opção por uma postura que não considerou o investimento na Defesa como parte indissociável de uma estratégia de responsabilização pelas suas próprias questões de segurança e de afirmação internacional. Para quem não esteja a par da verdadeira dimensão da precária atenção que o assunto tem merecido aí estão os números do último quinquénio a confirmar uma tendências que se arrasta há mais de duas décadas.

Entre 2008 e 2013, a despesa em Defesa caiu (a preços constantes) de 218 mil milhões para 186 mil milhões de euros (de 201 para 186 a preços correntes). Estarão os europeus dispostos a corrigir esta situação e apresentarem-se na próxima cimeira da NATO (Varsóvia, julho de 2016) sob uma frente pronta a assumir uma mais equilibrada distribuição de tarefas no quadro transatlântico? Se
não estiverem, sairá muito fragilizado, por falta de credibilidade, o esforço que se está a tentar fazer para elaborar uma nova estratégia global da União Europeia para a política externa e de segurança.


Jornal Defesa
« Última modificação: Janeiro 07, 2016, 04:22:22 pm por Lusitano89 »
 

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Pedro E.

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #136 em: Janeiro 10, 2016, 11:07:14 pm »

Putin explica o que vai errado com a Europa

http://www.liveleak.com/view?i=357_1451779536
 

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Pedro E.

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #138 em: Janeiro 12, 2016, 09:05:12 pm »

excelente entrevista de Putin ao jornal alemão Bild (apresentada em 2 partes)

Falou-se dos grandes temas - Rússia, da Alemanha, Nato, Ucrânia, Síria.
Putin expôs o ponto de vista russo nos variados temas com bastante clareza e correctidão.
A Federação Russa está em boas mãos.

Aqui o original

http://www.bild.de/politik/ausland/wladimir-putin/interview-mit-dem-russischen-praesidenten-russland-44091672.bild.html

http://www.bild.de/politik/ausland/wladimir-putin/interview-mit-dem-russischen-praesidenten-44096422.bild.html

Aqui tradução em inglês

http://en.kremlin.ru/events/president/news/51154

http://en.kremlin.ru/events/president/news/51155


 

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olisipo

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #139 em: Janeiro 20, 2016, 08:50:20 am »
 

Noruega "devolve" eventuais refugiados à Rússia e ONU lança aviso
 

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Lusitano89

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #140 em: Janeiro 21, 2016, 11:55:39 am »
Uma nova estratégia para a Europa
Alexandre Reis Rodrigues


A União Europeia vive um contexto de segurança muito diferente do que existia em 2003, quando o então Alto Representante, Javier Solana, elaborou a primeira estratégia de segurança da União Europeia (“A secure Europe in a better world”). Havendo hoje necessidade de encontrar respostas para as novas ameaças e desafios com que a União se confronta faz sentido a iniciativa de fazer uma reavaliação da situação e reformular a estratégia à luz da nova realidade. Mas acresce, presentemente, um novo fator muito relevante que é preciso ter também em consideração: o facto de se ter deixado de poder contar com o tipo de envolvimento que os EUA garantiam no final da Guerra Fria.

A concretização desta tarefa vai ser difícil porque as condições para a levar a cabo estão muito distantes das que seriam desejáveis para encontrar um caminho comum. Ao contrário do que se verificava em 2003, hoje há que contar com várias vozes internas que desafiam o projeto europeu, que resistem a novos passos no sentido de uma maior integração, que não querem ceder mais soberania a Bruxelas e que têm visões distintas sobre os objetivos a atingir no envolvimento europeu nas crises e conflitos que estão a dominar o contexto de segurança (Ucrânia, Síria, Médio Oriente, etc.).

Não obstante estas dificuldades, o objetivo deste projeto, tal como proposto em documento inicial preparado pela Alta Representante,  Federica Mogherini,  é muito ambicioso. Pretende responder à responsabilidade de proteção dos cidadãos europeus e, em simultâneo, promover os interesses e valores universais que a Europa adota («engagement across world regions»). Não são exatamente objetivos novos. A estratégia de 2003 também lembrava que uma União de 25 Estados-membros (número de então),
perfazendo um total de mais de 450 milhões de habitantes e produzindo um quarto do produto bruto mundial, não podia evitar ser um ator global nem fugir às correspondentes responsabilidades, designadamente no campo da segurança.

Visava-se então «uma União mais ativa, mais coerente e mais capaz» mas esse objetivo não só não foi atingido como não se evitou a irrelevância estratégica em que a Europa se encontra presentemente, com a agravamento da degradação das condições que esse nível de ambição pressupõe. A Europa continuou a desarmar-se unilateralmente, a PCSD (Política Comum de Segurança e Defesa da União Europeia) foi perdendo credibilidade e a expressão NATO da relação transatlântica, ao não ter merecido a atenção necessária para a procura de um maior equilíbrio na divisão de tarefas entre os dois lados do Atlântico, está sob o risco de deixar de usufruir da incontestada relevância que sempre teve.

Os europeus vão certamente responder positivamente para a concretização do mandato dado à Alta Representante pelo Conselho Europeu tendo em vista a elaboração, até junho deste ano, de uma nova estratégia para substituir a de 2003. Será obviamente um processo interessante de seguir dado o número e qualidade de pessoas que serão envolvidas mas temos que esperar para ver se os Estados membros estão, desta vez, preparados e sobretudo determinados em fazer com que a nova estratégia funcione. Não houve essa preocupação com a anterior e os resultados estão à vista.

Para que esse desfecho não se repita há que fazer algum trabalho prévio que não se tem visto abordar com um mínimo de profundidade. Dou um exemplo que além de especialmente relevante é emblemático e que, em qualquer caso, precisa de ser tratado haja ou não uma revisão estratégica: o da parceria estratégica com a NATO. Se não for, serão remotas as possibilidades de se alterar o que quer que seja.

Parece-me óbvio que o nível de ambição de ator global que a União Europeia tem anunciado não é compatível com a manutenção de fórmulas de cooperação com a NATO que foram desenvolvidas precisamente sob o receio de que a então emergente PCSD da UE iria ameaçar a existência da Aliança. Ao contrário do que visava nessa altura a administração Clinton, o que pretendem presentemente os EUA é que a Europa se responsabilize primariamente pela sua área próxima, assumindo assim a sua parcela de responsabilidades. Se a Europa não conseguir responder positivamente a essa obrigação elementar, que é obviamente independente do que os EUA pensam sobre o assunto, então nenhum sentido prático faz estar a reclamar o caminho para ser um ator global.

A pergunta a que é preciso responder é a de saber se os europeus estão dispostos a rever com a NATO os conceitos em que se procurou basear a parceria estratégica acordada em 2002 e seguir uma linha mais assertiva no que respeita à segurança da sua vizinhança próxima. É um facto que o “Acordo Berlim Plus”  e o “Princípio NATO First” correspondem a conceitos que já ninguém se mostra interessado em relembrar para qualquer utilização prática. Mas se a intenção é alterar a atual postura de quase total dependência em relação à NATO (melhor dizendo, aos EUA) então esses conceitos, independentemente da reduzida importância que têm hoje, terão que ser substituídos por outros que “marquem” inequivocamente a mudança.


> http://database.jornaldefesa.pt/organizacoes_internacionais/ue/JDRI%20172%20210116%20estrategia%20europeia.pdf
 

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olisipo

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #141 em: Janeiro 23, 2016, 03:08:33 pm »
 

Mais de 40 migrantes mortos no mar Egeu 
 

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #142 em: Janeiro 27, 2016, 10:33:44 am »
 

Parlamento dinamarquês aprova polémica reforma da lei de asilo
 

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #143 em: Janeiro 27, 2016, 10:40:35 am »
 

Amnistía Internacional e ONU condenam reforma da lei de asilo em Dinamarca
 

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #144 em: Janeiro 27, 2016, 11:42:16 am »
 

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #145 em: Janeiro 27, 2016, 04:55:12 pm »
 

Centenas de migrantes pisam solo europeu
 

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #146 em: Janeiro 28, 2016, 08:54:58 am »
 

Crise migratória: Atenas diz que isolar a Grécia não é construtivo
 

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olisipo

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #147 em: Janeiro 28, 2016, 09:03:11 am »


Alemanha: Iraquianos fogem do "exílio de lata"
 

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mayo

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #148 em: Janeiro 28, 2016, 09:20:36 am »
Boa viagem !        :G-bigun:

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Re: GEOPOLÍTICA EUROPEIA NOS CONFLITOS ACTUAIS
« Responder #149 em: Janeiro 28, 2016, 02:57:11 pm »
Os desafios de segurança na Europa e a nova estratégia da UE
Alexandre Reis Rodrigues


A Europa está confrontada com uma realidade no campo da segurança e defesa que julgava ter ficado definitivamente afastada com o fim da Guerra Fria. Ruiu o sonho de ver o mundo à sua volta como um ambiente benigno de natureza cooperativa e desapareceu a esperança de que bastaria mostrar-se como uma espécie de superpotência moral, quando muito saber fazer uso do seu potencial de “soft power”, para conseguir ser um ator global, com um modelo de governação que os outros tentariam copiar.

A ilusão funcionou durante algum tempo mas não resistiu às crises que se foram desenvolvendo na sua vizinhança próxima, em especial a anexação da Crimeia e a invasão da Ucrânia pela Rússia, e às ameaças ao clima de estabilidade interna e à segurança do seu estilo de vida, provenientes do terrorismo jihadista e, em geral, da crise dos refugiados. Afinal, o sistema internacional continuava anárquico e sem conseguir contar com uma ONU com autoridade acima dos estados para garantir a segurança.

Malgrado muitos alertas que foram sendo dados ao longo do tempo, a Europa nunca assumiu que para proteger a ordem internacional que foi ajudando a criar teria que apoiar concretamente os EUA na tarefa de a garantir. Em vez disso, limitou-se a procurar a sua força e capacidade de influência na manutenção de uma relação privilegiada com os EUA, numa postura de potência que Jan Techau designa por “derived power”. Foi caindo na irrelevância estratégica, desenlace que se agravou a partir do momento em que a União teve que limitar e depois suspender (de momento, até 2019) a opção do seu alargamento como instrumento estratégico.

Não é obviamente à falta de uma estratégia que se deve este desfecho. Essa estratégia existe desde 2003, foi reafirmada em 2008, e, não obstante as críticas que agora lhe fazem os defensores da nova estratégia, não estava seguramente errada. Se estivesse, não teríamos a estratégia que agora se procura desenvolver, a visar, no essencial, os mesmos objetivos. Isto é, uma Europa como ator global, uma União mais ativa, mais coerente e mais capaz, usando a terminologia de 2003. O desfecho errado aconteceu porque, por diversas razões, a Europa não conseguiu operacionalizar a sua estratégia, passando do nível dos grandes princípios para as orientações práticas concretas.

Se não nos debruçarmos sobre as causas do desfecho atrás referido e limitarmo-nos à elaboração de uma nova estratégia não teremos garantidas as condições necessárias para que o documento tenha o esperado impacto politico na promoção dos valores que a UE advoga e na defesa dos interesses que precisa de proteger. Sabemos que a atual Alta Representante para a Política Externa e Política de Segurança, ao contrário da sua antecessora, é uma entusiasta deste processo mas isso, por si só, não chega para afastar as razões de pessimismo que Chaterine Ashton tinha em relação a este assunto e que, no Fórum Económico Mundial de Davos, presentemente em curso, políticos das três principais potências europeias não hesitaram em expressar as suas preocupações.

Com a Europa dividida sobre o destino que pretende atingir e sobre o caminho para lá chegar, muitos mostram-se céticos quanto à oportunidade de iniciar, sob estas condições, uma revisão estratégica. Outros, porém, defendem que pode estar precisamente nestas circunstâncias a oportunidade para levar todos a procurar soluções para os obstáculos que têm impedido a União Europeia de se afirmar globalmente.

Parece-me a mim que fica implícito, nesta segunda perspetiva, que não se devem saltar etapas, mesmo as difíceis, para entrar diretamente na elaboração do texto. Ou seja, é necessário tratar previamente as questões que mais influenciarão ou de que mais dependem as opções a fazer. No campo da segurança e defesa há uma certamente incontornável: a da parceria NATO/EU, cujos termos, conceitos e princípios em que assenta, elaborados há mais de duas décadas sob pressupostos radicalmente diferentes dos que temos hoje em cima da mesa, não têm, presentemente, aplicabilidade prática.

Se não se definir, previamente, como se pretende encarar a eterna questão da partilha de responsabilidades entre a NATO e a União Europeia, não me parece que reste espaço para definir o que quer que seja de útil na nova estratégia global da União Europeia, para além da esperada recomendação em investir mais na Defesa. Mas para isso não deveria ser necessário todo o esforço de elaborar uma nova estratégia.


> http://database.jornaldefesa.pt/organizacoes_internacionais/ue/JDRI%20173%20290116%20europa.pdf