Eu pessoalmente, sou favorável a que o país defenda os seus interesses.
No entanto, devo dizer que para defender os nossos interesses á necessário que esses interesses existam, para que depois possam ser defendidos.
Entrar em aventuras disparatadas sem objectivo nenhum, dá sempre mau resultado. Em Africa lutamos durante 13 anos e no fim, já nem entendiamos bem qual era a razão da luta.
A CPLP é uma coisa muito bonita, mas que se depara com problemas de raiz:
1 – Portugal paga.
2 – O Brasil, eventualmente paga.
3 – Os países africanos nem pensam em pagar nada.
Na nossa História temos sempre esta ideia de que devemos defender coisas “etéreas” que ninguém vê.
Os nossos interesses nos países africanos, são relativamente reduzidos. O principal investimento em África chama-se Cabora-Bassa.
Com o dinheiro que Portugal investiu na barragem de Cabora Bassa, tinhamos construido pelo menos quatro barragens de Alqueva, há trinta ou quarenta anos atrás.
De resto que interesses é que temos?
Em Moçambique?
Uns hoteis
Em Angola?
Uns investimentos de alguns “capitães de abril” e de algumas sub-empreitadas que os Angolanos adjudicam a empresas francesas e americanas e que depois vêm sub-contratar (mão de obra qualificada e barata) a Portugal
Em São Tomé?
Uma ou outra roça transformada em “resort” e uns voos da Air Luxor
Na Guiné-Bissau
Não conheço absolutamente nada de relevo, excepção talvez a umas antenas para o operador de telefone móvel.
Em Cabo Verde ?
Provavelmente o unico país em que temos de facto interesses. Desde fábricas de texteis a bancos. Se calhar é por isso que Cabo-Verde é de todos os países africanos de lingua portuguesa, o mais rico.
Do meu ponto de vista, é mais importante para Portugal, o investimento em Marrocos que o investimento em Moçambique. A lingua é importante, mas se para eles não é assim tão importante, então porque é que havemos de insistir na mesma tecla.
No caso do Brasil, por exemplo, acho que os investimentos nas empresas Brasileiras são uma boa opção estratégica, mas não há nenhuma razão para Portugal olhar para a américa Latina e ver apenas o Brasil. O Brasil quando olha para Portugal, independentemente dos laços que existem, não deixa de olhar para os outros mercados.
Além do mais, o Brasil é um país onde não há perigos de convulsões, por isso não necessitamos de proteger nada no Brasil, porque para isso estão lá os Brasileiros.
Se a CPLP, não anda, não é porque Portugal não tente, mas se os outros não mostram nenhum tipo de sinal significativo, então se calhar o melhor é ficar por uma organização de “consulta política” e mais nada.
No entanto, faço uma resalva.
A situação pode mudar uma vez que os governos que estão no poder em Angola e em Moçambique mudem, e chegue ao poder um governo sem complexos. O MPLA, em Angola e a FRELIMO em Moçambique são os mesmos movimentos que encostaram Portugal á parede e que se aproveitaram da situação politica criada com o 25 de Abril (e da qual temos todos culpa) para chegar ao poder e cimentar o seu domínio.
Isso aconteceu em Cabo Verde e muitos dos complexos desapareceram.. Mas tanto quanto sei, em Moçambique até há pouco tempo ainda havia resistências a facilidades na movimentação e compra de terras, porque havia medo de que os portugueses voltassem a Moçambique.
Algumas entidades nesses governos ficam tremendamente irritadas quando se coloca em causa que tenham ganho alguma coisa a Portugal e que a independência tenha sido concedida por Portugal, e não conquistada por nenhum dos movimentos.
Há no entanto uma obrigação que temos perante nós proprios. Essa obrigação é a de garantir que a lingua portuguesa se expande como lingua oficial desses países. Porque essa expansão é necessária como forma de afirmação internacional, tanto de Portugal como desses países. Acho preferível enviar livros e professores que armas, fardamento e soldados.
Cumprimentos