Enfermeiras Paraquedistas
O próximo passo do sexo feminino nas forças armadas portuguesas será dado durante a Guerra Colonial, com a criação de um grupo de enfermeiras paraquedistas, em 1961, podendo essa criação ser atribuída, em parte, à influência de Isabel Bandeira de Mello e às experiencias das enfermeiras paraquedistas francesas (em particular, nas guerras da Indochina e da Argélia).
As origens dos corpos de enfermeiras paraquedistas franceses podem ser encontradas já na década de 30 do século XX, com o surgimento das primeiras “enfermeiras do ar” (que poderiam ser usadas tanto por organismos civis como militares), em 1934, e com a Cruz Vermelha Francesa a iniciar em 1937 a formação dessas enfermeiras em paraquedismo, sendo os primeiros 13 brevets atribuídos em 1938. Com o início da Segunda Guerra Mundial os treinos das enfermeiras francesas viriam a ser interrompidos, sendo apenas em 1949 (4 anos após o fim da guerra) criada oficialmente a “Secção de Enfermeiras Paraquedistas” da Cruz Vermelha Francesa. É logo na década de 1950 que essas enfermeiras recebem o seu batismo de fogo, com a sua participação nas guerras da Indochina e da Argélia.
Em 1956 uma mulher portuguesa, de seu nome Isabel Bandeira de Mello (ficando conhecida como “Isabelinha”), obtém o brevet de paraquedista em França, no Centro Nacional de Paraquedismo de Biscarrose. Conhecendo várias enfermeiras paraquedistas da Cruz Vermelha Francesa (chegando mesmo a receber formação por parte de Jacqueline Domerge, uma famosa enfermeira paraquedista que viria a falecer em serviço na Argélia), começa a desenvolver o projeto da criação de um corpo de enfermeiras paraquedistas portuguesas.
Em 1957, Isabel Bandeira desenvolve os primeiros contactos com o então Secretário de Estado da Aeronáutica (SEA), Kaúlza de Arriaga, reconhecido como o “pai” do paraquedismo militar português, que mostra algum interesse no projeto, embora adiando o mesmo, por pressão de assuntos de maior prioridade.
Será apenas em 1959 (já após Isabel Relvas ter ajudado à criação de legislação reguladora da prática de paraquedismo civil em Portugal, em 1958) que o Chefe de Gabinete do SEA envia ao Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP) o programa original do Curso de Enfermeiras Paraquedistas da Cruz Vermelha Francesa, para ser estudado, traduzido, e modificado de acordo com as necessidades portuguesas. Após uma série de “negociações” relativas ao programa a ser implementado, entre o BCP e a Direção do Serviço de Recrutamento e Instrução (DSRI), fica definido o programa de treino das enfermeiras paraquedistas a 1 de junho de 1959. No entanto é apenas a 5 de maio de 1961, com o Decreto nº 43 663, que viriam a ser oficializadas as primeiras vagas para o quadro de enfermeiras paraquedistas.
A 24 de maio do mesmo ano, a DSRI definia o processo a ser usado nas provas de admissão, determinando que as provas psíquicas e físicas fossem feitas nos mesmos moldes das realizadas para os candidatos masculinos, embora adaptadas às condições peculiares da constituição física da mulher. Entre essas “condições peculiares”, destacavam-se os “Distúrbios psíquicos nos períodos ante e menstrual”, “grande predomínio do sistema pélvico sobre o escapular” e o “grande predomínio dos músculos extensores sobre os flexores”.
Desde 1961 até 1974, ano de término do curso de enfermeiras paraquedistas, viriam a ser formadas 46 enfermeiras paraquedistas, que participariam em todos os teatros de operações da guerra colonial portuguesa, e teriam como ultima missão no exterior a evacuação de civis vindos de Timor para Lisboa, em 1975. Falecera em serviço apenas uma enfermeira, Maria Celeste Ferreira da Costa, atingida pela hélice de um Dornier DO27 quando se preparava para embarcar, a 10 de fevereiro de 1973, na Guiné. Uma outra enfermeira, de seu nome Maria Cristina Justino da Silva, será a única a receber ferimentos graves, tendo sido baleada na cabeça, durante uma evacuação de feridos em combate de Mueda.
Embora o ultimo curso ministrado tenha sido em 1974, o fim oficial das enfermeiras paraquedistas viriam em 1980, com o decreto-lei nº 309/80, que decretava a extinção progressiva do quadro, mantendo a opção das oficiais e sargentos enfermeiras paraquedistas requererem ao chefe de Estado-Maior a passagem para o “quadro do pessoal militar permanente privativo do Corpo de Tropas Paraquedistas”. É a 15 de maio de 2002 que se dá a extinção efetiva do grupo de enfermeiras paraquedistas, com a passagem à reforma de Maria de Lurdes Lobão, que também tinha sido a única enfermeira a ser formada pelo último curso de enfermeiras paraquedistas, recebendo o seu brevet a 25 de agosto de 1974