Minutos antes de morrer, André Queirós, um ex-pára-quedista de 23 anos residente em Vale Figueira, Almada, apertou a mão ao seu assassino. Eram 23h30 de sábado e o jovem tinha acabado de ver o seu Benfica vencer o Marítimo, rodeado de amigos, numa colectividade de Casal de Santo António, Sobreda de Caparica. Depois do jogo voltou para casa acompanhado de dois vizinhos.Numa zona de moradias foi emboscado pelo homem que tinha encontrado pouco antes. O alegado homicida, um aspirante a fuzileiro, de 21 anos, residente na Sobreda, travou-lhe o caminho com o carro e disparou seis tiros de pistola sobre André e os amigos.Uma bala atingiu o jovem no peito. André Queirós tombou, ainda vivo, e o assassino pôs-se em fuga, acelerando ao volante do seu Alfa Romeo.Família e amigos do ex-pára-quedista contaram ao CM que a partir desse momento se iniciou uma espera angustiante. “Telefonámos para o 112 e pedimos uma ambulância para o levar para o Hospital Garcia de Orta, em Almada”, recordou um dos amigos de André.Hora e meia depois o socorro ainda não tinha chegado. “Foram uns vizinhos nossos a levá-lo para o hospital num carro particular”, descreveu Cátia Queirós, irmã da vítima.André deu entrada à 01h10 no Hospital Garcia de Orta. Ainda recebeu assistência no serviço de Urgências, onde veio a falecer. “Ele morreu devido à gravidade das hemorragias internas”, acrescentou Cátia Queirós.A família do ex-pára-quedista acredita que na origem do crime estiveram “rivalidades entre freguesias”. “O ‘Gazela’ (alcunha do homicida) já tinha estado em Vale Figueira. Eles (os da Sobreda), não gostam das pessoas de Vale Figueira”, explicou a irmã de André Queirós.A brigada de homicídios da PJ de Setúbal, responsável pela investigação, recolheu seis invólucros de munição de pistola, calibre 7,65 mm no local do crime,O ‘Gazela’ acabou por se entregar às autoridades, às 11h30 de domingo, no posto da GNR da Charneca de Caparica.“Levou consigo a arma do crime e assumiu a culpa. Deverá ser amanhã [hoje] presente a um juiz de instrução do Tribunal de Almada”, descreveu ao CM fonte policial.“O ANDRÉ SERVIU O PAÍS NO KOSOVO”A presença da reportagem do CM ontem à tarde em Vale Figueira, Almada, fez levantar uma voz de revolta. Familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho de André, o ex-pára-quedista de 23 anos assassinado no sábado à noite na Sobreda de Caparica, não se conformam com o desfecho trágico que teve a vida do jovem. “O meu irmão foi um militar pára-quedista por vocação, para seguir as pisadas do pai, falecido pouco tempo antes de ele se ter dado como voluntário”, referiu Cátia Queirós, irmã do jovem. André alistou-se nos pára-quedistas aos 18 anos. Ao fim de pouco mais de três anos de vida militar, voluntariou-se para ir para o Kosovo. “O André serviu o país no Kosovo. Para a família e amigos, ele foi um herói”, opinou a irmã. No final do ano passado André Queirós saiu da vida militar e arranjou emprego numa empresa em Paio Pires, Seixal. “Ajudava muito a família”, concluiu Elisabete Queirós, mãe de André.PORMENORESCUMPRIMENTOUm aperto de mão selou a morte de André Queirós. “Antes de morrer o meu irmão encontrou o assassino e apertou-lhe a mão na brincadeira. Minutos depois estava morto”, lamentou Cátia Queirós.TIROSA rivalidade entre Vale Figueira e a Sobreda de Caparica tem sido resolvida à lei da bala. “Por vezes jovens de ambos os lados deslocam-se a território ‘inimigo’. Registaram-se já disparos de caçadeira e pistola, mas sempre sem vítimas”, disse fonte policial.FUNERALO corpo de André Queirós é hoje autopsiado no serviço de medicina legal do Hospital Garcia de Orta, em Almada. O funeral está marcado para terça-feira. Por vontade da família, o jovem vai ser sepultado no cemitério de Feijó, Almada.
