A situação na Adjária está mais calma porque parece que o Abachidze se pôs a mexer e renunciou ao cargo de governador provincial, acabando com o impasse e a guerra de nervos mantida com o governo central de presidente Saakashvili. Esperemos que assim seja e não hajam confrontos.
[CITAÇÃO]
público on-line 05-05-2004 - 23h09
Geórgia: líder independentista da Adjária demite-se
Aslan Abachidze partiu para o exílio acompanhado de Igor Ivanov
Aslan Abachidze, líder separatista da república autónoma da Adjária, no sudoeste da Geórgia, demitiu-se esta noite do cargo, cedendo ao ultimato que lhe foi feito esta manhã pelo Presidente, Mikhail Saakashvili.
O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro georgiano, Zurab Jvania, e confirmado pouco depois pelo próprio Presidente numa declaração ao país: "Georgianos: Aslan fugiu, a Adjária está livre".
Minutos antes, a AFP noticiava que o dirigente separatista abandonou de avião Batumi, a capital provincial, para destino incerto.
Segundo um jornalista da agência noticiosa francesa, que testemunhou a partida, Abachidze viajou acompanhado de Igor Ivanov, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e actual secretário do Conselho de Segurança Nacional da Rússia.
Ivanov chegou a Batumi algumas horas antes, respondendo a um pedido das autoridades de Tbilissi, a fim de mediar o conflito entre o dirigente separatista e o novo Presidente georgiano. Esta é a segunda vez que Ivanov intervem na Geórgia, depois de em Dezembro do ano passado, ter convencido o então Presidente, Eduard Chevardnaze, a demitir-se, numa altura em que milhares de pessoas exigiam nas ruas o seu afastamento.
Abachidze foi escoltado até ao aeroporto por 150 paramilitares da sua guarda pessoal, alguns dos quais banhados em lágrimas. Em declarações à AFP, os homens leais ao dirigente separatista afirmaram que ele lhes pedira para se renderam às autoridades federais, a fim de evitar uma guerra civil.
Conflito agudizou-se com chegada ao poder de Saakashvili
As conhecidas ambições independentistas de Abachidze, senhor absoluto na Adjária, há muito que o colovam em rota de colisão com Tbilissi.
Desde a sua chegada ao poder, nas eleições presidenciais de Janeiro passado, o novo Presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, anunciou a sua intenção de pôr fim ao feudo de Abachidze, considerado próximo da Rússia, país que mantém na estratégica Adjária — situada nas margens do Mar Negro — várias bases militares.
O conflito entre os dois atingiu o ponto máximo no domingo passado, quando milícias paramilitares fiéis ao dirigente independentista dinamitaram as principais pontes e estradas que ligam a república ao resto da Geórgia, temendo uma demonstração de força de Tblissi.
Perante esta iniciativa, as autoridades georgianas deram dez dias para que Abachidze se demitisse e desarmasse as suas forças, ameaçando com uma intervenção armada na zona. O prazo foi esta manhã encurtado para algumas horas, depois de ter sido noticiado que os separatistas tinham minado o porto de Batumi, o maior do mar Negro.
Entretanto, o Presidente georgiano anunciou ter colocado teporariamente aquela república autónoma sob a sua tutela, ao mesmo tempo que o Ministério do Interior enviava tropas helitransportadas para a região, a fim de desarmar os paramilitares.
Saakachvili garantiu ainda que, para "evitar um banho de sangue", aceitava conceder imunidade completa ao dirigente separatista, autorizado a abandonar a república juntamente com a sua família.
Ao início da tarde, perto de sete mil pessoas manifestaram-se em Batumi para exigir a demissão do dirigente, que durante anos geriu de forma ditatorial a região, apoiado nos paramilitares e nas forças do departamento do Interior.
Horas depois, o Ministério do Interior georgiano garantia que os departamentos do Interior e da Segurança da república se colocaram ao lado das autoridades federais, ao mesmo tempo que a quase totalidade da polícia adjare aceitava o controlo de Tbilissi. Ainda assim, alguns paramilitares optaram por resistir até ao fim. Ao início da noite eram audíveis alguns disparos em Batumi, mas a horas depois a calma regressou à cidade.