"Napoleão e Portugal"

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JoseMFernandes

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"Napoleão e Portugal"
« em: Maio 16, 2006, 08:38:11 am »
Gostaria de salientar a notícia da edição em português deste livro de Nicole Gotteri, que ainda nao li (espero adquirir a edição original francesa, de 2004) e  parece ter alguma importancia nao só para os que se interessam sobre o tema das guerras napoleonicas mas também  de maneira geral sobre a Historia de Portugal.
Segue a transcriçao de um artigo do suplemento Mil Folhas do jornal PUBLICO de 13/5/2006:

Citar
Como Napoleão não conseguiu vencer o "vespeiro português"

Francisco Neves


Foram más e pouco mudaram desde a monarquia de Versalhes ao império Napoleónico as relações entre a França e Portugal. Napoleão nunca entendeu a especificidade do pequeno país da Península Ibérica e a tentativa da sua "integração europeia" esbarrou na diplomacia ambígua dos fracos e numa profunda tradição atlantista, que ainda hoje perdura. É, em esboço, a tese da arquivista e paleógrafa Nicole Gotteri em "Napoleão e Portugal", da editora Teorema.
Responsável, desde 1974, por acervos documentais do regime saído da Revolução Francesa, a historiadora Nicole Gotteri sentiu-se, segundo afirma numa entrevista, "fascinada pelo conflito ibérico, talvez a mais terrível das campanhas" napoleónicas. A aventura portuguesa do guerreiro francês tem sido o "parente pobre" da historiografia revolucionária e napoleónica. "No entanto - explicou a autora numa conferência na Sorbonne, em 2002 -, Portugal, país com dimensões reduzidas e com um governo frágil, representou, mais que qualquer outro Estado da Europa, um obstáculo à vontade imperial tão mais invencível quanto parecia poder ser facilmente neutralizado. Foi a grande e funesta ilusão que Napoleão acalentou. A sua ignorância da Geografia e da história de Portugal arrastou-o para projectos irrealistas, cujo fracasso era previsível."
As peripécias desse descalabro, em boa parte recorrendo à correspondência oficial e diplomática do momento, são aqui descritas. É o retrato de uma visão de Portugal, olhado como mero peão no grande confronto franco-britânico, e de um Portugal à beira da ruína que chegou a ver a casa real fugir e que perdeu temporariamente a soberania sobre a Madeira. A autora descreve a série de incidentes antifranceses ocorridos em Portugal e sublinha a diplomacia dúbia de um país vacilante entre duas superpotências, a sua "habitual táctica dilatória". Mas que, como escrevia Junot, no momento da verdade "declarar-se-á a favor de Inglaterra porque é o único meio para não morrer à fome". Como sublinha também a má preparação das invasões (o exército francês vê-se por mais que uma vez obrigado a mandar fazer milhares de sapatos para os soldados) e a violência do "vespeiro português", onde raramente se hesitava em matar os franceses feridos que ficavam para trás.
As "construções abstractas que o Imperador, fechado no seu gabinete, oferecia aos generais presentes no terreno" só ajudou a uma acumulação de malogros. O imperador "não possuía senão uma perspectiva sumária sobre o estado preciso de Portugal", escreve a autora. Ele "sempre desprezara as forças insurrectas com as quais os seus exércitos se haviam batido. Não fazia a menor ideia da mobilização popular".
Num país de rastos, saqueado de bens e gentes, o povo e as elites não se entendem. Os mais simples, dominados por uma igreja colaboracionista, apegam-se ao sebastianismo recorrente dos momentos de crise. Conta Gotteri que um morador da Rua das Taipas encontrou um dia um ovo de galinha com a inscrição V.D.S.R.D.P.. Queria dizer "Viva D. Sebastião, Rei de Portugal". "Este "milagre" quase provocou uma rebelião no bairro, onde a tropa [de Junot] teve de dispersar cerca de 2000 pessoas"....
Quando a guerra acaba, muitos portugueses que haviam servido o imperador ficam a residir em França. São os "afrancesados", um grupo culturalmente mais aberto e evoluído relativamente ao panorama ideológico dos primeiros tempos da paz em Portugal. Concluiu a autora que nas terras lusas "a luta contra o invasor desembocará numa defesa ardente da religião, do absolutismo real, do poder senhorial. Neste aspecto, a intervenção militar de Napoleão e o seu malogro resultaram, a curto prazo, numa verdadeira contra-revolução, evolução inversa à verificada em Espanha".
No final, a insinuação ocupa menos de uma página, a historiadora francesa põe em dúvida o apego de Portugal à Europa continental em benefício da "dispendiosa aliança inglesa". "Que dizer" - escreve - "da escolha manifestada pelo governo de Lisboa, em 2003, sem a menor ambiguidade e aquando da crise iraquiana, em que alinhou muito naturalmente pela posição de Londres, senão que o historiador pôde verificar, mais uma vez, a admirável coerência de uma geopolítica alicerçada em três séculos, exactos, dum atlantismo exemplar, inalterável cânone diplomático no qual as chancelarias europeias poderiam meditar proveitosamente?" O rápido comentário final, merecia, se calhar, mais desenvolvimento.
A edição portuguesa merecia, sem dúvida, uma revisão menos leviana - há páginas onde as muitas gralhas fazem cair de borco a leitura de uma tradução onde não brilha a fluidez das frases.

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Napoleão e Portugal
Autor: Nicole Gotteri
Tradutor: Paula Reis
Editor: Teorema
314 págs.,


 

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rjales

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(sem assunto)
« Responder #1 em: Maio 19, 2006, 04:48:44 pm »
Aqui a conferencia de Nicole GOTTERI, dia 06/04/02 na Sorbonne :
http://perso.wanadoo.fr/cerclouisdenar/on_line/Napoleon_et_le_Portugal.htm

O texto esta em Francês, fala do fracasso das tropas francesas em Portugal por causa dos erros de Napoleão e de seus generais, e da acção dos ingleses, omitindo bastante o papel militar e diplomatico de Portugal.

Não deixa de ser interessante, assim como um bom trabalho de historiador.



Cumprimentos
Rogério
 

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papatango

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« Responder #2 em: Maio 20, 2006, 08:43:43 pm »
É um texto interessante, e curioso.

Infelizmente, a origem francesa, explica o ponto de vista da autora.

É sintomático, que no fim do texto, explique todo o atraso português com o tratado de "Metween" "?" e não a invasão francesa, que deixou o país completamente devastado.

Segundo o raciocinio desta senhora, a destruição na Russia com a invasão alemã, deve ter sido provocada pelos sovietes e não pelas tropas alemãs.

Infelizmente, fico com a impressão (posso estar completamente enganado) de que se trata de mais uma francesa "pedante" incapaz de reconhecer a m*** que os franceses fizeram, e a miséria pestilenta que transportaram com eles.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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P44

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« Responder #3 em: Maio 22, 2006, 02:45:16 pm »
Citação de: "papatango"
É um texto interessante, e curioso.

Infelizmente, a origem francesa, explica o ponto de vista da autora.

É sintomático, que no fim do texto, explique todo o atraso português com o tratado de "Metween" "?" e não a invasão francesa, que deixou o país completamente devastado.

Segundo o raciocinio desta senhora, a destruição na Russia com a invasão alemã, deve ter sido provocada pelos sovietes e não pelas tropas alemãs.

Infelizmente, fico com a impressão (posso estar completamente enganado) de que se trata de mais uma francesa "pedante" incapaz de reconhecer a m*** que os franceses fizeram, e a miséria pestilenta que transportaram com eles.
Cumprimentos


Mais um comentário nada racista, xenófobo e preconceituoso... :roll:
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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papatango

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« Responder #4 em: Maio 22, 2006, 03:44:31 pm »
P44 :
Para deixar de ser xenofobo e preconceituoso, devo fazer o quê?
Calar-me?

- Dizer que de facto as invasões francesas foram muito boas?

- Que até foi bom as invasões terem morto 100.000 e 200.000 portugueses, porque eramos muitos e assim os franceses fizeram-nos um favor desbastando a população?

Eu tenho, (e pensava eu que tinhamos todos) razões para apontar o dedo aos franceses sim senhor.

E quando uma francesa, fala da guerra na peninsula, e explica o atraso português com os tratados com os ingleses, sem referir que (eventualmente)  o atraso tem a ver com o facto de as invasões francesas não terem deixado pedra sobre pedra, isso é o quê?

Se não se trata de uma francesa pedante, trata-se de o quê?

Como é que você analisa o facto?

Eu acho que se calhar não analisa.
E esse é o problema...

É sempre complicado ter opiniões, e não ter problema em se dizer o que se pensa. Corre-se o risco de ser criticado.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Luso

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« Responder #5 em: Maio 22, 2006, 11:22:13 pm »
Osprey "The Lines de Torres Vedras"



Osprey "Fuentes de Onoro"

Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...