Pedro Braz TeixeiraPortugal, protectoradoPenso que Vasco Pulido Valente não exagera ao escrever: "ninguém reparou que o país sofreu a maior humilhação nacional deste último século". Rui Ramos diz-nos que Portugal passou à condição de protectorado a 10 de Maio de 2010 (uma data a colocar a par do "5 de Outubro, 28 de Maio e 25 de Abril") e que "perante o mau governo dos últimos 15 anos, talvez seja de dizer: ainda bem". Campos e Cunha não tem dúvidas: "uma vez que não nos sabemos governar, é melhor aceitar a tutela."Mas será que as condições impostas pelos "colonizadores" serão as mesmas que as que resultariam de um bom Governo português? Mesmo que fossem, é evidente que existe um abismo de diferença entre um adulto que assume a opção de emagrecer para aumentar a sua saúde e um adolescente a quem os pais impõem um dieta.Considero que um bom Governo português (no plano económico) deveria tentar alcançar dois objectivos e respeitar duas restrições. Os objectivos, que contribuem para o nosso bem-estar, deveriam ser: alcançar o pleno emprego e aumentar o nosso potencial de crescimento. Poder-se-ia acrescentar um terceiro objectivo - diminuir a desigualdade - mas vou simplificar, visto que a conjuntura também não ajuda. As restrições, que garantem a sustentabilidade dos objectivos, deveriam ser: controlar as contas públicas e controlar as contas externas.O meu primeiro medo é que os "colonizadores" ignorem os objectivos por completo e se concentrem nas restrições. Os "colonizadores" querem lá saber se os portugueses são felizes ou não, só querem é que nós paguemos as contas. É evidente que os "colonizadores" não nos vão obrigar a tomar medidas para alcançar os objectivos, mas isso não impede o governo do protectorado de as tomar. Mas, pelo menos no curto prazo, faz sentido presumir que o governo do protectorado continuará a ser mau, caso contrário não nos teria conduzido à condição de protectorado, nem teria adjudicado a auto-estrada do Pinhal Interior nem meio TGV. A propósito, o que é que a Procuradoria-Geral da República está à espera para investigar estas concessões? Se isto não suscita suspeitas, o que é que suscita suspeitas?O meu segundo medo é que os "colonizadores" se concentrem nas contas públicas e ignorem ou subvalorizem as contas externas. Isto produziria o mais frustrante dos cenários. Até 2013, os portugueses sofreriam sacrifícios duríssimos para controlar as contas públicas mas, exaustos, estariam animados na esperança de que os sacrifícios estariam a chegar ao fim. Devo dizer que estariam algo iludidos porque este PEC, mesmo na versão revista, não contém reformas estruturais da despesa, pelo que não resolve o problema.Mas o pior de tudo seria acordar em 2013 a ver o fim da consolidação orçamental e os "colonizadores" (e os investidores internacionais) a exigirem que então voltássemos os nossos esforços para controlar as contas externas. E os portugueses, completamente derreados, a levarem em cima com um segundo pacote draconiano. Mas porque é que não nos avisaram disto antes? Porque é que perdemos tanto tempo em que podíamos estar a tomar medidas?É improvável que os investidores esperem por 2013 para tomar consciência da insustentabilidade das nossas contas externas, com a nossa dívida externa a continuar a sua trajectória explosiva de 110% do PIB em 2009 para 130% do PIB em 2013. De qualquer forma todo o tempo que passar sem que os problemas do défice externo sejam atalhados será tempo irremediavelmente perdido.Parece assim (mas que surpresa...) que o ideal seria termos um bom governo, mas que a condição de protectorado é, ainda assim, preferível à de sermos (muito) mal governados.Economistahttp://pbteixeira.blogspot.com/Assina esta coluna mensalmente à quarta-feira
Campos e Cunha"Passámos a ser um protectorado da Alemanha"O primeiro ministro das Finanças de José Sócrates diz que Portugal passou a ser uma "espécie de protectorado da Alemanha"; que a situação financeira do país chegou a um ponto que "não imaginaria que fosse possível"; que as medidas de austeridade aprovadas na semana passada são o "dobro do que seria necessário se tivessem sido iniciadas em Dezembro" e que daqui a cinco anos ainda vão continuar a ser necessárias.Eva GasparO primeiro ministro das Finanças de José Sócrates diz que Portugal passou a ser uma “espécie de protectorado da Alemanha” , o que não é necessariamente mau; que a situação financeira do país chegou a um ponto que “não imaginaria que fosse possível”; que as medidas de austeridade aprovadas na semana passada são o "dobro do que seria necessário se tivessem sido iniciadas em Dezembro" e que daqui a cinco anos ainda vão continuar a ser necessárias.Em entrevista à revista “Visão”, Luís Campos e Cunha confessa que, apesar de ser frequentemente apelidado de “tremendista” e de “pessimista”, nunca imaginou que fosse possível o país resvalar para a situação em que está. “Como português, tenho pena, mas passámos a ser uma espécie de protectorado da Alemanha, do ponto de vista financeiro. Mas quando os nativos não se sabem governar, uma boa dose de colonialismo não deixa de ser saudável”.A culpa, diz, é de “quem está a Governar”, mas também de “alguns partidos” que não perceberam que a situação do país “era, de facto, grave”. “É preciso que os portugueses percebam que o Estado vive, há vários anos, numa situação parecida com o esquema da Dona Branca. Ou seja paga a dívida e os juros com nova dívida. É como se uma família pagasse a prestação da casa com o cartão de crédito”.A “factura” vai levar anos a ser paga. “Julgo que daqui a cinco anos vamos ter, certamente, outro pacote de medidas austeras, parecido com o que acaba de ser anunciado”.Campos e Cunha prevê ainda que o sector bancário, que está debilitado, seja alvo de ofensivas do exterior e não disponha de capacidade para se “defender dessa concorrência, por pura e simplesmente não terem balanço para poderem competir na concessão de crédito”. “Por alguma razão Ricardo Espírito Santo Salgado [CEO do BES] pediu [ao Governo] para adiar os grandes projectos, pois não os podia financiar, possivelmente por não ter balanço contabilístico para o fazer”.O antigo vice-governador do Banco de Portugal, professor da Faculdade de Economia da Universidade Nova e actual presidente da SEDES antecipa ainda que o Governo dure apenas mais um ano, achando “provável” que Pedro Passos Coelho, que o tem “surpreendido pela positiva”, seja a curto prazo o novo chefe de Governo .