Boas,
Não sendo marinheiro ou expert de assuntos navais, vou deixar aqui a minha humilde e modesta opinião acerca do estado actual da Armada. Já visito estas páginas há muito tempo, antes com outro nome, mas contribuo poucas vezes para as discussões. Espero ser agora mais construtivo.
Sendo esta uma crítica à realidade actual é natural que apresente contornos menos positivos, não entendam como uma visão de um pessimista que só sabe enumerar falhas.
A prioridade da nossa Armada deveria ser a fiscalização e o apoio a todas as actividades económicas que ocorrem na nossa ZEE, bem como a prevenção e o auxílio de acidentes inerentes à navegação. A defesa da integridade do território, a projecção de forças e a demonstração de força e presença no âmbito da nossa esfera de influência são também importantes mas, e quanto a mim isto é claro, no panorama geostratégico actual não são uma prioridade.
Ora, a parte que eu considero prioritária é exactamente aquela que se encontra mais desfalcada. Dispomos actualmente de 4 patrulhas (absoletos), 4 hidrográficos (a precisar de substituição), e 6 corvetas, que também cumprem missão de fiscalização e patrulha, já em fim de vida. Apenas 2 novos NPO.
Para realizar esta tarefa em pleno, a Armada deveria contar com 10 patrulhas costeiros, 6 NPO e 3 navios multimissão. Não tendo os patrulhas capacidade de operar no arquipélagos, seriam substituídos pelos NPO com o correspondente acerto nas quantidades dos respectivos navios.
Para além disso, em finais de 2013, Portugal ainda não dispõe de (pelo menos) um LPD para projecção de força e apoio em situações de desastre natural. Acerca deste ponto, não sei dizer se o LPD tem obrigatoriamente de ter doca, ou se isso é limitativo do ponto de vista monetário, mas creio que seria melhor ter 2 navios de 10 000 ton que apenas um de maiores dimensões.
Em relação à Defesa propriamente dita, há 2 submarinos novos e 5 fragatas (cujo fim de vida será simultâneo e aponta para 2030. Neste requisito creio que o ideal seria termos 4 subs e 4 fragatas mas, como disse antes, seria secundário na minha perspectiva.
Resumindo:
Ideal - 10 patrulhas costeiros, 6 NPO, 3 MPV
2 LPD
4 submarinos, 4 fragatas
Actual - 0 patrulhas costeiros, 2 NPO, 0 MPV
0 LPD
2 submarinos, 5 fragatas
Estou a utilizar um esquema muito redutor para simplificar a equação. Não esquecendo, obviamente, que a substituição do AOR e dos hidrográficos é, paralelamente, uma questão essencial. E não estou a incluir na lista as aeronaves, partindo do princípio que seriam as orgânicas acrescidas dos aviões de patrulha e transporte e dos helis SAR.
Não sei se a minha visão vos parece irrealista. Focando o investimento no que eu considero mais importante, seria facilmente possível ter capacidade para controlar e fiscalizar a nossa ZEE, o que não acontece actualmente. Para terem uma pequena amostra do que falo, este ano pude observar em plena luz do dia, tal como as centenas de pessoas que se encontravam na praia e que tiveram a oportunidade de se indignar, um barco espanhol a arrastar a 50 metros da areia em total impunidade. E depois vem a PM passar multas ao velhote que andava a apanhar conquilhas com uma cesta.
Senão vejamos, e vou utilizar estes exemplos apenas por estar mais familiarizado com eles, não por achar que sejam os melhores, mas são certamente meios capazes e adequados.
10 patrulhas
ou
ou
Nunca excederiam os 15M por navio. Iguais às LFC dos ENVC na prática, com a mesma autonomia e arma de 30 mm (a Oto Melara podia ser tranversal às LFC e NPO) e a mesma velocidade 25 Kn.
6 NPO,
não deveriam exceder os 50M cada.
3 MPV
Cerca de 40M cada navio.
Perfaz um total de 570 Milhões de euros de investimento.
Ressalvo uma questão de crucial importância que é o facto de este tipo de navios poder ser construído nos ENVC. Um conhecido meu que lá trabalhava e que chegou a ir à holanda por causa das LFC nunca demonstrou grande apreço pela Damen mas a verdade é que se há 13 anos atrás se tivesse estabelecido uma parceria (oferecendo inclusive uma posição de accionista), e havendo vontade da marinha e dos (des)governos, poder-se-iam ter construído todos estes navios na última década. Para além disso, há a exportação, devemos relembrar que Brasil, Angola e Cabo verde adquiriram navios como os que menciono nos últimos anos.
Outra questão pertinente é que eles também têm a classe Enforcer que poderia ser a base para os LPD portugueses, para além de AOR e navios de investigação. Isto é apenas uma ideia... envolve a manutenção de uma indústria de construção naval e a geração de emprego... ideia pouco realista, eu sei...
Em relação aos subs e fragatas, dois apontamentos. É fácil perceber que 2 subs é pouco, mas a verdade é que se escolheu o modelo ideal para a Armada, o que já não é mau. Seria preferível no entanto assegurar a componente do parágrafo acima antes de adquirir os subs, mas isso é apenas a minha opinião. As fragatas tem o problema de ter todas a mesma "idade" o que, quando chegar a hora da substituição, será um problema bicudo, e essa é apenas a visão de quem tenta pensar com alguma antecedência.
Agora um pequeno capítulo à parte do tópico.
Opções nos últimos 10 anos da Armada:
- Compra dos 2 U-214 por 700 M - na perspectiva optimista. Não sei se alguém sabe ao certo o valor do contracto, acho que nem o PPortas..
- Compra das Karel Doorman por 200 M. Para aumentar o número de fragatas de 3 para 5 porque... são necessárias mais fragatas a precisar de modernização...
- Anulação/adiamento a título indefinido das LFC, dos restantes NPO e do NPL.
[Com estes milhões (900) adquiria-se não só as LFC, os NPO e os MPV como também o AOR, 1 LPD e alguns navios hidrogáficos modernos.]
Estes contractos são da FAP mas interessam directamente à Marinha.
Compra dos P3 holandeses por 200 M. Alternativa, comprar C-295M com o dobro do tempo de vida útil pelo mesmo valor?
Compra dos EH101 por 300M sem contracto de manutenção(?). Alternativa, comprar menos unidades com manutenção para obter melhor operacionalidade? Adquirir menos EH101 e alguns AW139 mais com maior economia e disponibilidade operacional?
Ainda mais off-topic, será que não faria sentido a FAP ter King Air para transporte em vez dos Falcons, e AW139 para SAR e MEDEVAC? Será que a FAP não poderia alocar os seus helis ao serviço do INEM (com a respectiva comparticipação do MAI) em vez de este alugar helis a privados? Se não estou em erro, com o dinheiro gasto nos contractos anuais do INEM, a FAP pagava os helis em dez anos..
Agora que penso nisso, poderia continuar e perguntar porque é que o Exército não escolheu um modelo de sucesso e com provas dadas que também podia ser construído em Portugal, o AMV, e foi pelo Pandur com os resultados que estão à vista...
Bem, fico por aqui, já me alonguei demasiado...
Com os melhores cumprimentos!