E como vamos de arqueologia de campos de batalha?

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Carlos Rendel

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Re: E como vamos de arqueologia de campos de batalha?
« Responder #30 em: Dezembro 10, 2010, 11:18:54 pm »
Ao lêr os vossos considerandos,e correndo o risco de fugir ao tema em apreço,pergunto: e do sismo de 1755 ? Existe algum espólio com interesse ?  E onde se encontra? É evidente que não é  comparável em capacidade destrutiva um sismo de grau 8 ou 9 (Mercalli) com as emanações gasosas de Herculano e Pompeia e a lava vulcânica.Num futuro que auguremos afastado,dar-nos-à que fazer o Vesuvio  (Itália) e La Cumbre Vieja (Canárias),vulcões que ao despertarem,além da capacidade explosiva,implicam tsunamis gantescos.
Visitei há dias o Campo de Batalha de Aljuarrota,com a recreação da mesma por um sistema de luz e som,e guiado pela descrição da Batalha quase minuto a minuto,pela erudição e vivo entusiasmo do cor. Américo Henriques, que me revelou terem sido encontrados poucos vestígios do combate.
E é tudo.
Cumprimentos.                                                     CR
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Cabecinhas

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Re: E como vamos de arqueologia de campos de batalha?
« Responder #31 em: Dezembro 11, 2010, 05:57:19 pm »

 :mrgreen:
Um galego é um português que se rendeu ou será que um português é um galego que não se rendeu?
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João Vaz

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Re: E como vamos de arqueologia de campos de batalha?
« Responder #32 em: Dezembro 13, 2010, 01:37:47 pm »
Citação de: "Carlos Rendel"
Ao lêr os vossos considerandos,e correndo o risco de fugir ao tema em apreço,pergunto: e do sismo de 1755 ? Existe algum espólio com interesse ?  E onde se encontra? É evidente que não é  comparável em capacidade destrutiva um sismo de grau 8 ou 9 (Mercalli) com as emanações gasosas de Herculano e Pompeia e a lava vulcânica.Num futuro que auguremos afastado,dar-nos-à que fazer o Vesuvio  (Itália) e La Cumbre Vieja (Canárias),vulcões que ao despertarem,além da capacidade explosiva,implicam tsunamis gantescos.

Do desastre propriamente dito (conjugado com maremoto e incêndio) de 1755, não restou muito para conservar, pois a intensidade do sismo foi catastrófica e toda a zona da Baixa foi inteiramente renivelada e terraplenada com o entulho produzido pelo fenómeno e pelas subsequentes demolições das ruínas quando da redefinição urbanística sob Pombal.

O que existe são alguns reduzidos sítios de interesse arqueológico e algum espólio disperso relativos à Lisboa pré-pombalina.


Lisboa no primeiro quartel do séc. XVII (visita de D. Filipe II de Portugal/III de Espanha em 1619)


Lisboa no século XVIII


O limite ribeirinho pré-1755 (imagem superior) situava-se nas imediações da actual estátua equestre do Terreiro do Paço/Praça do Comércio (imagem inferior).
Tudo o que não foi terraplenado e reedificado permanece enterrado no leito do rio ou foi posteriormente destruído em dragagens sucessivas.

No entanto, muitas têm sido as (re)descobertas de diversos períodos históricos anteriores ao terramoto:


Rossio pré-pombalino
As fundações do Hospital Real de Todos os Santos, edificado no final do séc. XV sob D. João II (actual Praça da Figueira) foram desenterradas na década de 1960 em resultado das obras do Metropolitano.

No ano passado, durante as obras de saneamento na Praça do Comércio (antigo Terreiro do Paço), foram encontradas escadarias ao junto ao torreão poente com anel metálico para amarração de barcos (mais recentemente, admite-se que poderão ter sido edificadas já depois do terramoto)...



...assim como restos de um cais de pedra prolongado por pontões de madeira assentes em estacaria (achados destruídos pelo empreiteiro Teixeira Duarte, sem autorização do IGESPAR). Também se descobriu um antigo muro de contenção da margem do rio, que se prolonga por cerca de 20 metros, que irá permanecer enterrado.

Tal como bem indicou Maria Luísa Blot na sua tese de Mestrado Os Portos na Origem dos Centros Urbanos: contributo para a arqueologia das cidades marítimas e fluvio-marítimas em Portugal (Lisboa, 2003), “todo o passado náutico e portuário da cidade de Lisboa se encontra ao alcance de qualquer intervenção numa larga faixa da actual área urbana”, em resultado da evolução artificial de toda a fachada ribeirinha da capital, comprovada com a descoberta de diversos artefactos e embarcações das épocas medieval e moderna. (pp. 114 e pp. 239-240)

Encontram-se outros locais de interesse anteriores ao terramoto na Baixa disponíveis ao público, tais como o Núcleo museológico no edifício do BCP da Rua dos Correeiros.



Alberga vestígios de grande antiguidade, desde a presença fenícia (séc. VII a.C.) até ao período pombalino. Identificou-se este local como parte de um complexo fabril maior estendendo-se até à Rua Augusta, que se alarga para fora do quarteirão do BCP, com mais de duas dezenas de tanques de salga (cetárias) e um mosaico romano (o primeiro a ser encontrado em Lisboa) que se integrava numa área de balneários, assim como ânforas romanas dos sécs. I a III d.C..
Da época muçulmana, existe um forno e alguma cerâmica e da época moderna (Descobertas, sécs. XV-XVI), conserva-se um painel de azulejos que decorava uma casa localizada no espaço ocupado pelo núcleo e também algumas moedas em cobre, nomeadamente ceitis do reinado de D. Afonso V, D. João II (?) e D. Manuel I.
 Finalmente, a famosa estrutura de estacaria em pinho verde da Baixa pombalina, cravada no nível mais recente, sobre a qual se construiram os novos edifícios está também parcialmente visível.

E, claro, na Rua da Prata, as estruturas subterrâneas descobertas em 1773 e classificadas por alguns autores como “termas”, nas imediações do antigo espaço portuário do antigo esteiro do Tejo, a que são associáveis as cetárias. A localização das fábricas de salga romanas descobertas na Rua Augusta sugere o aproveitamento da praia fluvial que se estendia ao longo do antigo esteiro, tendo esta instalação sido efectuada sobre vestígios anteriores de ocupação ibero-púnica.



E ainda na Casa dos Bicos (actual Fundação José Saramago), construída no séc. XVI por D. Brás de Albuquerque (filho do célebre Governador da Índia D. Afonso de Albuquerque) o pavimento transparente exibe em permanência os achados de funndações medieval cristã e romana. Conserva em exibição igualmente um pequeno espólio arqueológico.

Nas intervenções efectuadas na Praça do Município nas proximidades das Taracenas ou Tercenas medievais (estaleiros de galés), foi posto a descoberto um conjunto de cavernas – que serviam para armar o “esqueleto” de um navio – parcialmente trabalhadas que apenas necessitariam de acabamentos para utilização no estaleiro naval. Uma destas peças, um fragmento de quilha que aparentemente já servira, poderia aguardar uma reutilização.
João Gachet Alves, "Approche archéologique d'un chantier naval médiéval: la découverte des vestiges d'architecture navale de la Praça do Município, Lisbonne, Portugal", dissertation de Maîtrise en Archéologie, Université de Paris I - Sorbonne, Paris-Lisbonne, 2002, p. 95.
Parece-me, antes, que a zona do achado corresponde, mais precisamente, às "Casas" de armazenamento de madeira para construção naval erguidas nos meados do séc. XIV sob D. Afonso IV, e o respectivo Campo das Galés, tendo sido substituídas pela Armaria instalada sob D. João II no final do séc. XV, de acordo com um estudo que permanece muito pouco utilizado. José de Vasconcellos e Menezes, "Tercenas de Lisboa - II", in Lisboa: Revista Municipal, Lisboa, 2.ª Série, n.º 17 (3.º trimestre de 1986), pp. 3-14 e "Tercenas de Lisboa - III", in Lisboa: Revista Municipal, Lisboa, 2.ª Série, n.º 19 (1.º trimestre de 1987), pp. 3-14.



Planta e antevisão do projecto de requalificação da Ribeira das Naus

Muito provavelmente (e na sequência natural destas escavações), a recém-aprovada requalificação do espaço ribeirinho da Ribeira das Naus irá fornecer mais alguns vestígios do principal estaleiro naval do antigo reino.


Citação de: "Carlos Rendel"
Visitei há dias o Campo de Batalha de Aljuarrota,com a recreação da mesma por um sistema de luz e som,e guiado pela descrição da Batalha quase minuto a minuto,pela erudição e vivo entusiasmo do cor. Américo Henriques, que me revelou terem sido encontrados poucos vestígios do combate.

Aconselho a visita à exposição da reconstituição virtual 3D de Lisboa pré-1755 actualmente no Museu da Cidade.

Em 2004 foram descobertas valas comuns de vítimas do terramoto no antigo Convento de Jesus (actual Academia das Ciências), próximo ao Bairro Alto. Um breve trabalho académico de análise forense está disponível online.
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
Pero de Magalhães de Gândavo, História da Província Santa Cruz, 1576
 

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João Vaz

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Re: E como vamos de arqueologia de campos de batalha?
« Responder #33 em: Dezembro 15, 2010, 03:54:35 pm »
...vale a pena visitar ainda os seguintes sítios de escavação/exposição:

- O Núcleo Arqueológico do Castelo de São Jorge (inaugurado em Março passado)


...que integra um "bairro islâmico" dos sécs. XI-XII e ocupações de outros períodos que remontam à Idade do Ferro.
Complementado pelo núcleo museológico que abriu há mais de um ano, também no Castelo e que reúne muito do espólio encontrado durante as escavações, entre cerâmicas, moedas e outros objectos do quotidiano de todas as ocupações (fenícia, romana, até à época moderna, sécs. XV-XVIII), onde se incluem as ruínas do Palácio dos Condes de Santiago (sécs. XV-XVIII, que ruiu com o terramoto de 1755), que se sabe ter sido construído sobre o anterior Paço dos Bispos.

- O Claustro da Sé de Lisboa

...onde ficou exposta a grande densidade histórica dos vários níveis de ocupação.







- O Museu do Teatro Romano




Site oficial, que também conta com uma reconstituição 3D do complexo edificado na época do Imperador Augusto.
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
Pero de Magalhães de Gândavo, História da Província Santa Cruz, 1576
 

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Luso

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Re: E como vamos de arqueologia de campos de batalha?
« Responder #34 em: Fevereiro 03, 2011, 10:48:21 pm »
Encontrada em escavações no campo de batalha de Demjansk...

Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...