Notícia de hoje no Diário Insular:
Maior autonomia e tecnologia mais avançada facilitam trabalho dos militares
Aviões C-295 reforçaram capacidade de fiscalização do mar da Força Aérea
A Força Aérea fiscaliza, por exemplo, atividades ilícitas, pesca ilegal, poluição e tráfego marítimo. Com os C-295 é possível fazer em seis horas, o que antes demorava três dias.
É talvez a missão menos conhecida da Força Aérea, até porque muitas vezes nem é visível aos olhos da população, mas é de enorme importância para várias entidades. A vigilância marítima, por via aérea, teve uma evolução significativa nos últimos anos e a tecnologia permite hoje recolher informações vitais para autoridades inspetivas e de segurança. DI acompanhou um dia de missão da esquadra 502, a bordo de um C-295.
Ao todo foram 1100 milhas percorridas em cerca de seis horas e meia de missão. Uma tarefa que seria impossível com os antigos Aviocar.
A aquisição dos C-295, com tecnologia de ponta, e a modernização dos P3, veio facilitar a vida dos militares, que ainda assim se desdobram para dar resposta à vasta Zona Económica Exclusiva portuguesa.
“Com o Aviocar precisava de três missões de cinco horas cada uma para fazer o que fiz agora numa missão de seis”, adiantou a DI o responsável pela missão, que decorreu esta semana nos Açores.
Para além da maior autonomia, que permite mais horas de voo, o C-295 tem uma velocidade superior e os sensores agora utilizados têm maior alcance e permitem cobrir uma área maior.
“Conseguimos cobrir uma enorme área, com uma alta taxa de cobertura e conseguimos identificar positivamente todos os alvos na área de operações”, salientou.
Nos Açores, o tráfego aéreo é menor do que noutras zonas do território nacional, mas a área de fiscalização é muito vasta e há outras dificuldades. “A área é muito grande e temos de gerir bem a situação da meteorologia com a autonomia de que dispomos para tentar exponenciar ao máximo a cobertura da área. Esse para mim é o maior desafio”, salientou o militar.
A missão que DI acompanhou foi um exemplo desse desafio. Ainda assim, foi possível identificar visualmente três embarcações de pescas, duas em faina e uma em rota, um cargueiro e vários veleiros.
“Tivemos de nos desviar várias vezes quer em altitude, quer com os rumos para conseguirmos ultrapassar a meteorologia mais adversa”, explicou o responsável.
Este tipo de missões tem sempre em conta quatro áreas de intervenção: a fiscalização da pesca, a deteção de atividades ilícitas, como emigração ilegal e tráfego de estupefacientes ou armas, a poluição do mar e o tráfego marítimo.
A maior parte da recolha de informações é enviada para outras entidades, mas há casos em que a Força Aérea pode emitir autos de notícia, por exemplo, se for detetada pesca num local em que não é permitida.
Felizmente, nem sempre são detetadas irregularidades, mas por vezes evitam-se possíveis acidentes, como aconteceu desta vez. Um navio mercante navegava sem o sistema de identificação ligado. A partir do C-295, a Força Aérea contactou-o, numa vertente educacional, e o comandante corrigiu o problema.
“Se nós não tivéssemos feito esta missão, provavelmente aquela embarcação iria continuar a navegar sem o AIS ligado, porque o comandante admitiu que não se tinha apercebido dessa situação, o que poderia mais à frente, por exemplo, causar um acidente”, salientou o militar, explicando que um cargueiro daquela dimensão não consegue detetar um veleiro à sua frente, a menos que o identifique neste sistema.
Para a Inspeção Regional das Pescas, que também acompanhou esta missão, o trabalho da Força Aérea é de enorme importância. Numa situação ideal, haveria um avião destinado à fiscalização das águas estacionado nas Lajes, mas à falta de recursos, a Região tenta otimizar os que existem o mais que pode.
“Seria ótimo ter cá um avião com esta capacidade todos os dias, mas isto envolve oito pessoas a bordo, combustível, tempo de voo… É importante fazer cada vez mais e ser eficiente e é isso que temos tentado fazer nos últimos anos”, frisou Rogério Ferraz, Inspetor Regional das Pescas.
Nos últimos oito anos, a Força Aérea detetou apenas duas situações irregulares, uma que se veio a comprovar de uma embarcação a operar numa área proibida. No entanto, o cruzamento de informação entre a Força Aérea, a Marinha, a Inspeção Regional das Pescas e as autoridades policiais é crucial.
Segundo Rogério Ferraz é cada vez menos comum encontrar embarcações sem licenciamento ou operações em áreas proibidas, ainda que se detetem outras situações irregulares mais pormenorizadas com gravidade. Há cerca de dois ou três anos que não são detetadas situações de invasão das 100 milhas por embarcações estrangeiras
http://www.diarioinsular.pt/