' A Ordem de Cristo' em destaque...

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JoseMFernandes

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' A Ordem de Cristo' em destaque...
« em: Maio 15, 2005, 12:19:59 pm »
O primeiro numero da revista francesa 'Histoire et Images Medievales' de Abril-Maio 2005, dedica o seu dossier a  'Tomar:dos templarios aos cavaleiros de Cristo', ao qual consagra também a sua capa (a nossa conhecida cruz vermelha e branca da Ordem de Cristo a toda a largura, sobre foto da  charola do Convento e titulo
 TOMAR -Refuge de l'ordre du Temple  Naissance de l'ordre du Christ).
O autor do dossier é Benoit Beaucage, historiador medievalista e professor na Universidade de Quebec, com muitas fotos, mapa e plano da 'fortaleza-convento'.
Passo a traduzir e transcrever, alguns excertos do artigo:

"Foi depois de ter cuidadosamente escolhido o sitio que Gualdim pais, mestre da Ordem do Templo em Portugal, e o rei Afonso Henriques, companheiros de armas e amigos, decidiram erigir em 1160, numa colina dominante sobre o rio Nabao, o castelo que se iria tornar a sede dos Templarios.A fortaleza ocupava um local estratégico, vigiando a velha estrada romana de  Santarém a Coimbra, artéria vital do pais, e constituia igualmente um posto de defesa avançado que mantinha a segurança da zona reconquistada sobre as terras ocupadas por muçulmanos."
"Sede da Ordem do Templo em portugal, depois dos Cavaleiros de Cristo a fortaleza e o convento de Tomar vao ser como a 'ponta-de-lança' das expediçoes que esses monges-soldados levaram a cabo contra os infiéis, inicialmente no territorio portugues e depois nos longinquos mares do sul."
"Quando por volta de 1040,os cristaos começam a reconquista da Peninsula Ibérica, o reino de Portugal ainda nao existia, senao numa forma embrionaria, no interior do reino das Asturias.Com efeito a oeste deste reduto cristao do norte de Espanha de onde nascerao os estados de Leao,Castela e Aragao, existe um condado qualificado de terra ou provincia de Portucale, do nome da sua principal aglomeraçao.
Foi pois mais de 50 anos antes que as cruzadas começem no Proximo-Oriente, que se desencadeou uma outra guerra santa, cujo objectivo prosseguido durante séculos sera de devolver aos cristaos a integralidade da peninsula.Combatentes estrangeiros, entre os quais franceses, vieram participar no esforço de guerra, e um deles, Henrique de Borgonha, casa com Teresa, filha do rei de Castela e recebe de seu sogro, em 1096, o condado de Portugal.Seu filho Afonso, vencedor dos Mouros, proclama-se rei em 1140 e ve o seu novo estatuto confirmado pelos vizinhos e o papa.O seu longo reinado é marcado pela luta incessante que desenvolve contra as forças muçulmanas; na sua morte em 1185, o vale do Tejo esta nas suas maos e as cidades de Santarém e Lisboa estao conquistadas.E neste contexto que tem lugar a implantaçao de diversas ordens religiosas militares."
 
 
Citar
"A historia destas ordens na peninsula ibérica em geral e em Portugal em particular, é caracterizada por dois factos essenciais: o primeiro é que ao lado de ordens de recrutamento internacional como os Templarios e os Hospitalarios - cuja presença esta atestada desde muito cedo na peninsula- se juntaram ordens analogas mas com vocaçao 'nacional', dedicadas localmente às diversas tarefas da longa Reconquista.O outro facto principal, foi que desde o inicio, as necessidades desta guerra interminavel incitaram os monarcas dos diversos reinos ibéricos a tentar utilizar ao maximo os recursos materiais e humanos de todas as ordens, incluindo as 'internacionais', as quais originalmente estavam dirigidas para a defesa da longinqua Terra Santa."
(...)
"Os primeiros sinais tangiveis de uma presença permanente da ordem do Templo no reino, datam de 1143, ano em que um templario frances Hughes de Martone, foi designado como procurador do Templo em Portugal.No ano seguinte a pequena guarniçao templaria do castelo de Soure, é desfeita num confronto com tropas mouras de Santarém.Em 1147 os Templarios desforram-se, ao participarem na conquista desta cidade, e a ordem obtem do rei, como prémio do seu esforço, a faculdade de receber todos os direitos devidos em Santarém a titulo religioso.
No fim dos anos 1150, sob o comando de Gualdim Pais, provavelmente o primeiro mestre portugues dos Templarios no reino, começa o extraordinario crescimento da ordem.Durante essa década, a ordem recebe do rei um importante area agricola no confluente do Nabao e do Zézere, iniciando entao a construçao do castelo de Tomar, que viria a ser  a sede dos Templarios em portugal, e depois dos seus sucessores, a ordem de Cristo.Uma dezena de anos mais tarde, no quadro de uma vasta dotaçao de terras ao sul do Tejo, mas sem reais efeitos posteriores, o rei insiste para que os recursos da Ordem apenas sejam utilizados exclusivamente no reino especialmente com objectivo de prosseguir a reconquista."(...)
"O rei Dinis inquieto com rumores que o papa pensaria beneficiar a ordem dos Hospitalarios com os bens dos Templarios(os Hospitalarios, uma ordem internacional lembre-se, estavam fortemente implantados na margem sul do Tejo e atribuir-lhes os bens temporais templarios da margem norte do mesmo rio dar-lhes-ia uma tal densidade de implantaçao nesta zona estratégica que eles seriam perfeitamente capazes de fazer sombra a autoridade real).Apos varias discussoes o rei obtem em 1319 que o patrimonio do Templo passe para uma nova ordem, verdadeiramente portuguesa."
"A bula fundadora concedida pelo papa Joao XXII em 14 de Março de 1319 proclama primeiramente o nascimento da nova ordem que é designada com o nome de 'Milicia dos Combatentes de Cristo', transferindo para esta Milicia todos os antigos bens e direitos dos Templarios, mas colocando-a sob a autoridade eminente do abade de Alcobaça, da (entao) diocese de Lisboa.A bula  preve o direito de visita do abade cisterciense a todas as casas da ordem de Cristo, ao qual os seus mestres deverao prestar juramento de fidelidade, prevendo ainda a bula papal que na sua vacatura, alguém simultaneamente militar e religioso, professo expresso dessa nova ordem deveria ser escolhido para mestre."(...)
"Os motivos da expansao portuguesa parecem ser tanto profanos quanto religiosos.A burguesia das cidades que apoiou a tomada do poder pelo rei Joao, parece encontrar-se cada vez mais estrangulada dentro do reino.Quanto ao Exército, mantido em pé de guerra durante mais de trinta anos contra o vizinho castelhano, parece tentar encontrar um novo campo de manobra.Enfim, como a reconquista tinha entretanto acabado ha século e meio, (desde 1250) mas com a ideologia da cruzada no Oriente ainda largamente veiculada pelo papado e certos monarcas do Ocidente, a vontade de luta contra os infiéis esta ainda bem presente, especialmente nos mais velhos dos cinco filhos do rei."
"Uma das consequencias deste confronto com o Islao em que o papado se envolve, é o privilégio acordado ao soberano portugues de poder confiar a administraçao- e portanto os proventos- das tres ordens militares 'nacionais' a tres dos seus filhos.
Assim, a partir de Outubro de 1418, D.Joao, apenas com 18 anos recebe o titulo de administrador da Ordem de S.Tiago, e pouco tempo depois D.Henrique entao com 20 anos é nomeado para o mesmo posto na Ordem de Cristo, enquanto o mais novo, D.Fernando obtém o mesmo estatuto na ordem de Avis.A partir de entao nas maos do principe Henrique, que a Historia conhece sob o titulo de Navegador, as importantes riquezas da antiga ordem dos Templarios vao ser de novo afectadas a luta contra os infiéis.Contra os muçulmanos de Marrocos primeiramente, mas sobretudo ao longo das costas de Africa, dobrando a ponta sul do continente e embora nao atinjam o hipotético reino de Prestes Joao, eles alcançarao as Indias"


O artigo evidencia também a importancia de outras ordens (Calatrava, Avis, Santiago, Hospitalarios...), a expansao ultramarina e conquista de Ceuta, destacando que essa expansao exigiu um esforço desmesurado da parte dos portugueses  que  com o tempo atingiriam a plenitude das suas capacidades.
Cito " O abade de Witte, numa série de artigos publicada hà varios anos na Revue de l'Histoire Ecclesiastique notou cerca de 69 bulas papais referentes a expansao portuguesa no séc XV, e destas mais de dois terços correspondiam a luta contra o Islao especialmente a conquista de Ceuta bem como os recursos que seria necessario consagrar para manter o dominio portugues sobre esses territorios.A luz dessas bulas, constata-se que essa extraordinaria e brilhante expansao (coup d'éclat) exigiu  durante décadas um longo e continuado esforço, e viria em breve a atingir os seus limites."


Relembra-se na revista que "o Convento de Tomar foi expropriado pelo Estado em 30 de Julho de 1832 e todos os seus preciosissimos bens vendidos em hasta publica como bens nacionais".

Nas informaçoes praticas  (horarios de visita, fecho anual etc) o site http://tomar.com.sapo.pt  vem referenciado, mas na verdade ainda nao o visitei pormenorizadamente.Sugerem também a visita da Sinagoga de Tomar, o aqueduto de Pegoes(que servia o castelo), e naturalmente Batalha e Alcobaça.
Penso que os leitores do magazine(essencialmente francofonos) certamente terao apreciado e lhes podera despertar um interesse redobrado em conhecer o Convento de Tomar(aqui para nos: perante a terrivel situaçao financeira portuguesa, quantos mais vierem, melhor  :) ), que como a revista salienta depois de o descrever  "tudo aqui concorre para fazer deste castelo um monumento notavel e como tal reconhecido patrimonio mundial pela Unesco, em 1984 ".