D. Nuno Álvares Pereira é o novo santo português

  • 241 Respostas
  • 72876 Visualizações
*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #225 em: Abril 27, 2009, 12:48:31 am »
O Santo Condestável não contestável

Agência Ecclesia, 2009/04/23
Bagão Félix

No meio da parafernália de pequenas, médias e grandes notícias sobre quase tudo e quase nada, foi com alegria que recebi a notícia da canonização de D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável. Como católico e como português. E também pelo facto de a este processo de canonização estar associado o Cardeal português D. Saraiva Martins, de quem, há cerca de três anos, tive a honra de apresentar o livro “Como se faz um Santo”.

É claro que esta simbólica distinção que muito honra a portugalidade no Mundo – mesmo que analisada apenas fora do contexto religioso – não faz manchetes, como fazem à profusão as distinções de um bom jogador de futebol, de um consagrado autor, de um artista de telenovela ou de um empresário de sucesso fulminante. O que anima certos meios de opinião liofilizada e quase sempre desconhecedores da religião é a discussão (?) sobre a natureza do milagre que está associado à canonização do Beato Nuno. Mas o povo, na sua sabedoria genuína e despoluída, já há muito o havia consagrado como o Santo Condestável. Isso mesmo: santo carmelita e condestável chefe militar e primeiro dignitário do Reino!

Agora que os Santos parecem estar “fora de moda” numa sociedade de “zapping”, comportamentalmente hedonista, moralmente relativista e subjugada à “ditadura das banalidades”, o que vem à liça é minimizar a espiritualidade e a transcendência associadas à santidade. Daí que, nesta onda em que é quase compulsivo em certos meios pôr em causa tudo o que emerge no seio da Igreja, o Santo Condestável seja depreciado por alguns como um “contestável santo”…

O que é certo é que D. Nuno Álvares Pereira, cuja vida de verdadeiro patriota não é de todo contestável e nos habituámos a respeitar, é um exemplo num tempo em que o valor da exemplaridade escasseia. Não apenas na sua vida mais religiosa quando após a morte da sua mulher e despojado de todas as propriedades, títulos e honrarias, se tornou carmelita e viveu um tempo totalmente dedicado aos mais pobres entre os pobres, mas igualmente como notável general de uma guerra que nos garantiu a independência seriamente ameaçada.

Ser santo - como o demonstra a vida de Nuno Álvares Pereira - sempre representou uma forma de subversão, traduzida em cada época de modo diverso e como regra vivida na ausência de qualquer forma de poder, que é onde se revela toda a força da presença de Deus. Na sociedade contemporânea em que, no plano da relação com Deus, clamamos muito mas obedecemos pouco, o Santo é uma espécie de novo insurrecto sinalizador e modelo da pureza, da harmonia, da espiritualidade levada à sua mais bela singeleza.No fundo, somos reconduzidos à mais forte constatação: a de que para se ser santo é necessário praticar e, acima de tudo, concretizar o Evangelho. Assim se atinge a perfeição da caridade entendida como a mais elevada medida de amor para com o Criador e para com o próximo. São Paulo haveria de sintetizá-la numa curtíssima expressão: não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim.

A santidade de Nuno Álvares Pereira simboliza a purificação da heroicidade do simples e é a expressão vitoriosa do homem de e para todos os tempos sobre o homem do instante. A santidade sempre foi entendida como a expressão da Graça Divina, mas também da condição livre de se ser pessoa. O Santo Condestável representa, na História de Portugal e do Mundo, este traço de união entre o passado e o futuro, entre a memória e o exemplo, entre a vida pública e a consagração a Deus.

O Beato Nuno de Santa Maria é um exemplo de uma vida ao serviço do outro, alicerçada numa fé inabalável e num espírito de radical caridade. Através dele poderemos entender melhor o caminho da santidade pelo qual a caridade é, ao mesmo tempo, o coração da inteligência e a inteligência do coração, e que só a partir do nosso interior se pode transformar o que nos é exterior. Se há quem congregue sem ensinar e quem ensine sem congregar, o novo santo português ensinou pela universalidade do seu exemplo e congregou na perfeição das suas virtudes. Parafraseando S.S. o Papa Bento XVI, D. Nuno viveu profundamente consciente que “se Deus não está presente tudo se torna completamente insuficiente”. Neste momento em que escrevo, não posso deixar de registar, no plano institucional e político, uma atitude e uma omissão. A atitude de o Senhor Presidente da República, como o mais alto magistrado da Nação, se ter congratulado, em nome de Portugal, e considerado D. Nuno “uma figura maior da nossa história que, no passado e no presente, deve inspirar os portugueses na busca de um futuro melhor”. A omissão e o silêncio do lado do Governo e de alguns partidos políticos, sempre tão pródigos e rápidos em felicitar outras personagens nem sempre significantes e em formular votos de congratulação por dá cá aquela palha.

É recorrente nestas alturas usar-se e abusar-se do argumento da separação compulsiva entre o Estado e a Igreja. A louvável e imperativa neutralidade religiosa do Estado não pode, porém, transformar este num Estado anti-religião.A laicidade do Estado não implica a laicidade da sociedade. A sociedade é plural no sentido religioso e é perigoso confundir sistematicamente, neste plano, Estado e Sociedade.

A separação do Estado e da Igreja também não significa neutralidade por omissão, indiferença, abstenção, ignorância ou desconhecimento dos fenómenos religiosos e muito menos hostilidade.Mas no caso de D. Nuno Álvares Pereira não se exige do Estado que o homenageie como santo católico. Apenas, que o sinalize para as gerações vindouras como grande, ilustre e exemplar português.

A História faz parte do presente e do futuro, embora, como um dia escreveu Miguel Torga, “os nossos governantes não querem saber da História. Para eles tudo começa na hora em que assumem o poder”Em suma: o Beato Nuno é agora consagrado universalmente como o São Nuno de Santa Maria. O povo vê assim confirmado pelo Papa o nome de um incontestável Santo Condestável!"

António Bagão Félix
 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #226 em: Abril 27, 2009, 02:29:34 pm »
Citar
Camâra Clara na RTP2
Programa sobre Nuno Álvares Pereira

:G-Ok:

Foi dos programas mais interessantes que vi sobre este tema.
A partir do minuto 3:10 temos ainda uma pequeno excerto do filme "Aljubarrota", disponível para visualização no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota.
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8530
  • Recebeu: 1623 vez(es)
  • Enviou: 684 vez(es)
  • +940/-7278
(sem assunto)
« Responder #227 em: Abril 27, 2009, 08:22:32 pm »
http://combustoes.blogspot.com/

27 Abril 2009
Santo Condestável
 
 
A vida do Santo Condestável é orgulhosa réplica ao anti-herói que hoje se exalta como exemplo. Não é, pois, de estranhar que tantos desertores medalhados e promovidos às culminâncias do Estado, tantos objectores de consciência e tantos arranjistas tenham saído à liça para macular o herói português de sempre com defeitos e até, pasmemos, com as mais descabeladas insinuações sobre o património que Nuno Álvares Pereira teria acumulado no rescaldo da Revolução de 1383-85. Uns, menos atrevidos, nele só querem ver o cavaleiro da Idade Média tardia, entranhado da ética cavaleiresca. Outros, cujo horizonte e gabarito se limita à exaltação da vida entre a gamela e os negócios, minimizam-lhe as qualidades intemporais do arrojo e destemor reduzindo-o a um caudilho militar ou, pior, a um ambicioso manipulador que "fez" D. João I para destruir a velha nobreza que tomara partido por Castela. De Nuno Álvares conheço razoavelmente a bio-bibliografia oitocentista e novecentista, mas às interpretações hodiernas da grande figura prefiro, de longe, por que mais impressivas e exaltantes, a Crónica do Condestável (1526), o Condestável de Portugal (1610), de Francisco Rodrigues Lobo e El Heroe Portugues : vida, haçañas, vitorias, virtud, i muerte d'el Excelentissimo Señor, el señor D. Nuño Alvares Pereira, Condestable de Portugal , de António de Escobar.


O verdadeiro milagre de Nuno Álvares foi o de formalizar o patriotismo. Onde antes havia comunidades dispersas, vínculos e suzeranias, feudatários e pendões e caldeiras, Nuno Álvares fez uma comunidade de destino, insuflou-lhe unidade e libertou-a do tempo pequeno dos interesses. O milagre português confunde-se com Nuno de Santa Maria. Antes dele, para além dos "factores democráticos", pouco mais havia que uma lealdade dinástica, um território-património, um Estado que se confundia com as necessidades dos reis. Depois de Nuno Álvares, o Estado passou a ser um nós e os reis passaram a ser reis portugueses. Tudo isto confunde os marxistas e os capitalistas, que só entendem a nação ou como "superestrutura" ideológica ao serviço de "interesses de classe" ou como necessidade "sexy", que a não vingar, aceita a mudança "sexy" das fidelidades bem pagas, o confortozinho da alcova e da mesa bem servida. Portugal foi e é uma nação pobre. Milagre foi o de haver conseguido fazer tanto com tão pouco e, depois, com tanto medo à solta, projectar Portugal para fora da Europa, dando-lhe um destino e uma missão que continua, queiram ou não os tribalistazinhos filoeuropeus, a confundir-se com as sete partidas do mundo. D. Nuno não é uma personagem literária; existiu e é vulto inspirador para tantos que teimam em permanecer portugueses - isto é, nós - num tempo de penumbra e demissão.

Publicada por Combustões em 27.4.09
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

*

Lancero

  • Investigador
  • *****
  • 4213
  • Recebeu: 83 vez(es)
  • +74/-3
(sem assunto)
« Responder #228 em: Abril 27, 2009, 09:11:44 pm »
Citação de: "Luso"
http://combustoes.blogspot.com/


Grande banda sonora  :guitar:
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8530
  • Recebeu: 1623 vez(es)
  • Enviou: 684 vez(es)
  • +940/-7278
(sem assunto)
« Responder #229 em: Abril 27, 2009, 09:20:31 pm »
Citação de: "Lancero"
Citação de: "Luso"
http://combustoes.blogspot.com/

Grande banda sonora  :wink:
Tem graça que cada vez dou mais valor a esses sons que desprezava há uns bons anos atrás.

Que lhe pareceu o Blogue, Lancero?
Considero-o muito bom.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

*

Lancero

  • Investigador
  • *****
  • 4213
  • Recebeu: 83 vez(es)
  • +74/-3
(sem assunto)
« Responder #230 em: Abril 27, 2009, 09:47:57 pm »
Tenho um fraquinho por tudo o que diga à partida que ali não se diz mal de Portugal.

PS - O meu pai tem guardada a colecção de singles em vinil. Conheço-as todas  :D
A que ouvimos todos os natais (não sei porquê...) - http://www.youtube.com/watch?v=NkS0G9S3vTw
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #231 em: Abril 28, 2009, 01:10:09 pm »
Trocar a cruz pela espada
Paulo Mendonça




Ocorreu no passado Domingo em Roma na Praça de S.Pedro a canonização de D. Nuno Álvares Pereira, que desde há bastante tempo tinha já ascendido à condição de Santo, canonizado não pelo Papa mas pelos cidadãos portugueses.

A relação entre Deus e a guerra, existe desde que as sociedades adoram divindades e a elas recorrem para auxílio em situações onde a vitória não é assegurada.
São famosas as oferendas aos Deuses feitas pelos generais do império romano, que faziam sacrifícios aos deuses de Roma, mas também aos deuses dos inimigos, para aplacar a sua ira.

A Igreja normalmente considera Santos, os fieis que se destacaram pelo seu comportamento exemplar, quanto ao seguimento das regras e procedimentos dessa mesma Igreja.

É por isso que a canonização de D. Nuno Alvares Pereira tem um significado curioso, pois afinal, por muitas que tenham sido as obras piedosas do agora Santo e por muito demonstrada que tenha sido a sua humanidade e o seu respeito e devoção por Deus, é impossível dissociar D. Nuno Álvares Pereira daquilo que o distinguiu para a História: O facto de ter sido um líder militar.

E não foi um líder militar qualquer.

Num país que como Estado Independente conta já com quase 900 anos de História, e que encontra as raízes da sua identidade mais remota nas lutas dos povos da Lusitânia contra o império romano, muitos são os líderes militares que se destacaram, normalmente na afirmação dos direitos desse povo ou povos do ocidente da Península Ibérica.

D. Nuno Álvares Pereira, como Condestável e chefe militar das forças do Reino de Portugal, numa altura em que a sua existência era colocada em perigo, é provavelmente um dos mais destacados de entre os destacados chefes militares portugueses.

Durante a crise dinástica de 1383-1385, e dentro do contexto da guerra dos 100 anos, em que a França e a Inglaterra se digladiavam, tendo a França o apoio do reino de Castela e a Inglaterra o apoio de pelo menos parte de Portugal, a existência do pequeno reino do ocidente peninsular esteve em causa.

Tivesse Portugal sido derrotado em Aljubarrota e o rei escolhido por grande parte do povo - o Mestre da Ordem de Avis, aclamado Rei D. João I de Portugal - sido morto aprisionado ou privado do reino, o mais provável, é que Portugal fosse hoje nada mais que uma triste região descaracterizada e morta, dentro da grande nação castelhana, que hoje conhecemos como Espanha.
Esse foi aliás o destino da Galiza e do Reino de Leão, completamente descaracterizados.

Podemos dizer que graças a D. Nuno Álvares Pereira, nos livrámos de fazer parte desse erro da História que se conhece como Estado Espanhol.

A batalha de Aljubarrota, marco absoluto da aspiração de um povo à Liberdade e ao Direito de Existir, ganha assim mais um símbolo, reconhecido pela própria Igreja.

Há curiosamente um outro símbolo, bastante mais simples, popular e impossível de canonizar.
Trata-se do símbolo representado pela Padeira de Aljubarrota, que representa a raiva incontida dos portugueses, perante a violação da sua terra por estrangeiros que aqui chegaram vindos de Espanha para a roubar, para a violar e para a conspurcar com a sua presença.

Não parece ser de todo impossível que tenha sido a violência da reacção popular e a perseguição sem quartel que foi movida aos castelhanos depois dos fatídicos 30 minutos de batalha (em que o enorme exercito castelhano-francês foi desbaratado) que esteja entre as razões da conversão de D. Nuno Alvares Pereira, que conforme se aprendia nos livros de História trocou a espada pela cruz.

Muito poderão dizer os Homens da Igreja, sobre as benfeitorias e a devoção do agora S. Nuno Álvares Pereira.

Mas, acima de tudo, há que ter em consideração que se trata de um Santo da Igreja, que como português lutou pelo Direito de um povo a ser Livre.

Saibamos portanto ser dignos da lição que se nos oferece para estudar.
Devemos ter a capacidade de trocar a espada pela cruz, de perceber que a violência gera violência e que é preferível a Paz à Guerra. Sempre assim foi.

Saibamos no entanto também estudar o significado dos actos.

Podemos trocar a espada pela cruz, mas não devemos nunca achar que chegámos ao fim da História e que Portugal nunca mais precisará ser defendido.

Desenganem-se os pacifistas falsos, que querem acreditar cegamente na bondade de vizinhos ou supostos aliados.

D. Nuno Alvares Pereira trocou a espada pela cruz.

Mas se não soubermos entender o que está em jogo, se não formos capazes de defender aquilo que representa a ideia de Portugal, então não seremos dignos nem de D. Nuno, nem de Padeiras, nem de D. Afonso Henriques.

Não seremos dignos de nada, se quando for necessário, não percebermos que se há momentos em que é preciso trocar a espada pela cruz, também haverá no futuro momentos, em que será preciso trocar a cruz pela espada.

A História não acabou, e voltará a repetir-se.

Área Militar

 

*

Lancero

  • Investigador
  • *****
  • 4213
  • Recebeu: 83 vez(es)
  • +74/-3
(sem assunto)
« Responder #232 em: Abril 30, 2009, 03:28:22 pm »
Citar
Canonização: Português adapta Batalha de Aljubarrota para jogo de tabuleiro em homenagem ao condestável
 

    Lisboa, 30 Abr (Lusa) - O condestável Nuno Álvares Pereira, recentemente canonizado, é o herói de um novo jogo de tabuleiro que recria a Batalha de Aljubarrota, uma iniciativa que visa ensinar os mais novos através da diversão.  

 

    O "inventor" de jogos de tabuleiro Gil Orey decidiu avançar agora com a este novo jogo, que dará destaque à figura do agora São Nuno Álvares Pereira, procurando "dar a conhecer a sua importância e mostrar aquilo que é ser português".  

 

    "O objectivo é fazer com que as pessoas percebam a importância desta batalha, que foi determinante para que hoje fôssemos portugueses", disse à Lusa Gil Orey, sublinhando que não pretende incutir nenhum "ódio" aos castelhanos e, por esse motivo, nenhuma peça do jogo faz a referência ao país vizinho.  

 

    "Quero que este jogo retrate apenas o espírito português", acrescentou.

 

    O autor explicou que a ideia surgiu o ano passado, quando visitou a Fundação Batalha de Aljubarrota, decidindo também ele criar uma forma "lúdica" de mostrar aquilo que foi o conflito militar, ao mesmo tempo que "adultos e crianças pudessem brincar".  

 

    Gil Orey admitiu que o interesse em fazer este jogo não está relacionado com a recente canonização de D. Nuno Alvares Pereira, reconhecendo no entanto que se trata de uma "feliz coincidência" e que serve "obviamente" para realçar a importância militar do Santo Condestável nesta batalha.  

 

    "As pessoas agora ouvem falar na Batalha de Aljubarrota e associam de imediato a D. Nuno Alvares Pereira, o que as leva a ficar mais atentas e interessadas", salientou.  

 

    Depois de "muitas horas a queimar pestanas" - recordou o autor - a elaboração deste jogo implicou ainda a colaboração de outros intervenientes para testar o seu resultado e que ajudaram a "afinar as regras", para que o "Aljubarrota" se tornasse um jogo "consistente e divertido".  

 

    Este não é o primeiro jogo deste inventor que, através da sua empresa "Gil Orey Design", já criou outros jogos de mesa relacionados, por exemplo, com o forte dos Oitavos, em Cascais, com o concelho de Loures e com o Marquês de Pombal, encomendado pela Câmara Municipal de Oeiras, todos eles seguidores de uma vertente histórica.  

 

    Questionado sobre a opção de um jogo de mesa tradicional em vez de um jogo de computador, Gil Orey explicou que teve o cuidado de preservar a componente interactiva, realçando que este jogo pretende combater o "isolamento" dos jogos de computador e incentivar o convívio entre as pessoas.  

 

    "Creio que todos reconhecem que existe essa vantagem de um jogo de tabuleiro que é juntar as pessoas à volta de uma mesa e estar a conviver", acrescentou.

 

    O "Aljubarrota" dá então a oportunidade de reviver os principais acontecimentos que marcaram este momento decisivo para a independência de Portugal, destinado a todas as famílias e que vai estar disponível ao público já no final deste ano, explicou, o autor, sugerindo o jogo como uma "boa oferta para o próximo Natal".  
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #233 em: Maio 02, 2009, 04:36:58 pm »
Falta de sentido patriótico e de dignidade do Estado
João Mattos e Silva *


Qualquer Nação que se preze venera os seus heróis. Vejam-se as nações mais modernas: os Estados Unidos da América ou o Brasil, por exemplo, que não perdem um feito, que não esquecem uma data relevante para a sua afirmação nacional, que elevam aos "altares da pátria" quem contribuiu para a sua independência, ou as suas conquistas ou, pelo menos, o engrandecimento do País perante o mundo. E não é para "tapar com a peneira", como dizem os nossos irmãos brasileiros, os erros, os crimes, os momentos menos felizes da sua vivência colectiva. É para apontar exemplos aos seus concidadãos, é para suscitar orgulho na sua nacionalidade, é para cimentar o amor pela terra em que nasceram e pelo povo a que pertencem, sem o qual não há sentimento de serviço nacional e sentido de cidadania.

Por essa Europa fora assiste-se, entre as nações mais velhas do velho continente, ao culto dos heróis nacionais, que não se fica apenas pelas celebrações das efemérides oficiais, mas se revela no estudo das suas biografias, das épocas históricas em que se afirmaram, dos feitos que cometeram, ou obras que realizaram, empenhado o Estado em fomentar e em apoiar todas as iniciativas.

No Portugal desta III República não. Os únicos heróis, cujos feitos parecem comover quem está à frente do Estado, parecem ser os revolucionários do 5 de Outubro, mesmo os carbonários que assassinaram um Rei, um Príncipe Real e um Presidente da República, ou os do 25 de Abril. E nem todos. Para muitos dos que nos têm governado ou são candidatos a governar, a História de Portugal começou em 1974. Quando muito em 1910. Dir-se-á que é uma reacção natural à II República que usou e abusou dos heróis nacionais e dos feitos históricos do passado para construir e justificar o regime autoritário que instituiu. Fraca desculpa, quando sobre o fim desse período da história do regime republicano já passaram trinta e cinco anos!

A Igreja Católica, pela vontade do seu Pontífice máximo, o Papa, e depois de um processo de séculos que Espanha entravou por razões exclusivamente políticas, decidiu canonizar - com base numa cura cientificamente inexplicável, comprovada por homens da ciência, muitos dos quais não católicos, que foi atribuída à sua intercessão - o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, Beato Nuno de Santa Maria desde 1929, herói da independência nacional na crise de 1383-1385.

Reconhecido e aceite pelo povo como santo, ainda em vida, D. Nuno Álvares Pereira destacou-se pela sua devoção como cristão, pelas atitudes, que hoje diríamos humanitárias, e são afinal fundamentalmente cristãs, face aos inimigos de Portugal que combateu, pelas doações do seu imenso património que fez aos mais humildes dos seus companheiros de armas e aos mosteiros que acolhiam os pobres, pelo despojamento e humildade que demonstrou quando decidiu de tudo prescindir, no auge do seu poder e da sua glória, e entrar na Ordem do Carmo, para prosseguir o seu aperfeiçoamento espiritual e servir os que nada tinham.

Sem a acção militar de D. Nuno Álvares Pereira, enquanto comandante dos exércitos portugueses, sem o seu sentido de estratégia e sem as tácticas que fez adoptar face a um adversário muito mais poderoso e numeroso, sem a sua determinação patriótica, que chegou a roçar a desobediência ao Rei, Portugal poderia ter perdido a sua independência face a Castela e aos reinos ibéricos. A História poderia ser bem outra.

Anunciada a canonização pela Santa Sé, qual foi a posição do Estado e dos partidos portugueses? Um tímido comunicado da presidência da República, outro envergonhado e tardio do Governo, o apoio com votos contra e declarações de voto dos deputados do partido do governo a um voto de congratulação proposto corajosamente por um partido da oposição, o CDS, que o PSD acompanhou, a abstenção do Partido Comunista e o patético e ridículo voto contra do Bloco de Esquerda, a coqueluche da burguesia envergonhada e com complexos de culpa, em nome da separação entre o Estado e Igreja.

Em qualquer outro país normal, toda a sociedade se teria desdobrado em manifestações de júbilo por um seu herói nacional ter sido reconhecido como santo pela Igreja Católica, mesmo por parte daqueles para quem a santidade não tem qualquer valor. Celebravam o Estado laico e o povo em geral o seu herói, celebravam a Igreja Católica e os seus fiéis o seu santo. Por cá não. Em nome de uma falsa liberdade religiosa e de complexos revolucionários centenários e mais recentes, tenta-se que os católicos não façam muito barulho em volta de D. Nuno Álvares Pereira, joga-se o jogo do empurra para saber quem representará o Estado nas cerimónias no Vaticano e assobia-se para o lado. Não é uma questão de Estado; é uma questão de falta de sentido patriótico e de dignidade do Estado Português.

* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.

Diário Digital
« Última modificação: Maio 03, 2009, 02:29:34 am por André »

 

*

Açoriano

  • 720
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #234 em: Maio 02, 2009, 05:11:01 pm »
Citação de: "André"
Portugal poderia ter perdido a sua independência face a Castela e aos reinos ibéricos. A História poderia ser bem outra.

Anunciada a canonização pela Santa Sé, qual foi a posição do Estado e dos partidos portugueses? Um tímido comunicado da presidência da República, outro envergonhado e tardio do Governo, o apoio com votos contra e declarações de voto dos deputados do partido do governo a um voto de congratulação proposto corajosamente por um partido da oposição, o CDS, que o PSD acompanhou, a abstenção do Partido Comunista e o patético e ridículo voto contra do Bloco de Esquerda, a coqueluche da burguesia envergonhada e com complexos de culpa, em nome da separação entre o Estado e Igreja.
Uma autêntica vergonha por parte do Estado e o BE ainda votou contra, incrível, tal como diz a notícia, se não fosse a acção militar de D. Nuno Álvares Pereira a história podia ser outra e hoje estes chupistas não estariam todos a mamar do orçamento, impostos de todos nós, não teriam cada um o seu tacho à nossa custa.
Sentido patriótico e de dignidade?
O herói nacional deles é o dinheiro.
 

*

Açoriano

  • 720
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #235 em: Maio 02, 2009, 05:14:46 pm »
 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #236 em: Maio 04, 2009, 08:16:19 am »
Já que as televisões se alheiam de realizar um documentário em condições sobre a vida de Nuno Álvares Pereira, valha-nos a vontade de alguns portugueses:

CONDESTÁVEL DE PORTUGAL
http://www.youtube.com/watch?v=BVY2GNfKD7E

Grande vídeo!
 

*

rpedrot

  • Membro
  • *
  • 26
  • +0/-0
um outro eventual santo
« Responder #237 em: Maio 09, 2009, 11:24:17 pm »
boas noites,

encontrei na enciclopédia luso brasileira a referencia a um santo padre gonçalo da silveira. que esteve para ser santo mas que o processo de canonização foi interrompido pelo conflito diplomático com a santa sé, no reinado de d joao V.

alguém sabe mais sobre este assunto?
"Se se observar sempre uma mesma coisa, não é possível vê-la" Antonio Porchia
 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #238 em: Maio 30, 2009, 12:46:31 am »
Canonização de Nuno Álvares: Último Acto

Por João José Brandão Ferreira

«Ameaçava chuva o dia 26 de Abril. Mas o astro-rei, tendo certamente em conta a transcendência da cerimónia, decidiu-se a enviar os seus raios de luz e calorento afago.

A cerimónia decorreu simples e com o decoro próprio da Santa Madre Igreja. Há, no entanto, a destacar as palavras de Sua Santidade ao referir-se à figura de D. Nuno. Foram sem dúvida as mais importantes de todas e extravasaram até o âmbito religioso, como foram as referências às evidências histórico-políticas da consolidação da independência e da importância dos Descobrimentos (e não “encontro de culturas”). E não se coibiu de o chamar de “herói”. A Santa Sé bem sabe a importância que tal teve para a expansão do cristianismo no mundo. A Igreja, de facto, é universal, mas uma grande parte dela é portuguesa ou teve por base a missionização portuguesa. Outra evidência que ficaria bem à classe política e ao episcopado português ter sempre presente. Portugal, para além de ser um dos três únicos países a cuja realeza foi atribuído um título pela Santa Sé – o Cristianíssimo Rei de França; Muito Católica Majestade (espanhola) e a Nação Fidelíssima (nós), é o único país do mundo que ostenta um símbolo cristão na sua bandeira – os escudetes em forma de cruz, que representam as cinco chagas de Cristo e os 30 dinheiros da traição de Judas – e isto desde o início da nacionalidade.

Não é, aliás, a actual cura da Srª. D. Guilhermina, tida como milagrosa, que fez a Santidade de D. Nuno. Foi toda uma vida pautada pelos valores cristãos, em que não se conhece mácula, tanto na paz como na guerra; e o reconhecimento popular, desde a sua morte, que justificam plenamente a distinção ora concedida. E disso fez o Papa eco apontando D. Nuno como exemplo para toda a Igreja como, de resto, já o seu antecessor Pio XII o tinha feito em plena Segunda Guerra Mundial apontando-o como modelo a seguir por todos os combatentes.

Por isso confessamos o nosso “gozo” ao ter ouvido um padre alemão comentar para os seus amigos ou familiares que tinha sido canonizado um general português – “Ein portugiesischer General”…

Tem alguma razão o Sr. Cardeal Patriarca quando disse, na missa na Igreja de Santo António dos Portugueses, que a canonização não deveria servir propósitos políticos. Eu diria que “partidários” ficaria melhor, pois exaltar a figura de D. Nuno – e ela está longe de se esgotar no campo religioso – é exaltar um português de renome e concomitantemente a terra a que pertence e isso não deixa de ser um acto político. Por outro lado ignorar o que se passa também é uma atitude política. Não dá para se ficar neutro.

Porque a Santa Sé é um Estado e o Papa a sua cabeça, fez bem em agradecer a presença da comitiva oficial portuguesa chefiada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros. A delegação era condigna, mas não estava para ser assim. Para registo, convém dizer que o Governo apenas se queria fazer representar pelo nosso embaixador no Vaticano e foram precisas algumas manobras de bastidores, ao que se consta da própria presidência da República (o PR não podendo estar presente, quis fazer-se representar pelo Chefe da Casa Militar), e não só, para que a delegação estivesse compostinha e com uma representação militar. A talhe de foice, deve também referir-se não ser razoável que os homens do Exército tenham ido e voltado num espaço de tempo que não lhes deixou margem para tomarem banho e mudarem de camisa. Pobrezinhos, mas não tanto…

Pena, também, que nada estivesse organizado para juntar os portugueses em Roma, a fim de puderem tomar parte nas actividades em conjunto. A mobilização também não foi grande e possivelmente não houve capacidade para mobilizar as comunidades de emigrantes das redondezas. O cartão que dava acesso ao recinto com cadeiras trazia inexplicavelmente o nome de D. Nuno, Alvares escrito com “z”, dando ideia de uma espanholidade que faria o Santo dar voltas no túmulo. Pormenores que não são despiciendos e que convém esclarecer para que não medre o dito popular de que “não acredito em bruxas, mas lá que as há, há”.

E como teria sido bonito que o altar onde se realizou a missa de canonização tivesse uma guarda de honra de cadetes da Academia Militar, que escoltariam a imagem ou relíquia que representasse o novo Santo de volta à Pátria num avião com a Cruz de Cristo. Mas tal exigiria outros dotes e interesses que, contemporaneamente, estão ausentes do governo da Nação.

As cerimónias finalizaram, já no dia 28, com uma missa de acção de graças na Igreja de S. Maria em Transpontina, por parte da comunidade carmelita vinda de todo o mundo. Coube ao Prior Geral da Ordem do Carmo, Padre Fernando Millan – espanhol – fazer o elogio da vida de D. Nuno Álvares. E fê-lo bem.

Na realidade, são insondáveis os desígnios do Senhor.»
 

*

Cabeça de Martelo

  • Investigador
  • *****
  • 20259
  • Recebeu: 2991 vez(es)
  • Enviou: 2243 vez(es)
  • +1342/-3464
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.