Tensão aumenta, Rússia ordena exercício militar na fronteira
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou hoje a realização de um exercício militar de emergência para testar a prontidão da tropa para combate em todo o oeste do país, numa demonstração de força de Moscovo no meio da tensão com o Ocidente por causa da Ucrânia. A movimentação coincide ainda com o aumento dos confrontos entre manifestantes a favor e contra a Rússia na região autónoma da Crimeia, que questiona a legitimidade do novo governo em Kiev após a destituição do presidente Viktor Yanukovich.
«De acordo com uma ordem do presidente da Federação Russa, as forças do Distrito Militar Oeste foram colocadas em alerta às 14:00 de hoje (10:00 em Lisboa)», disse o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, segundo a agência de notícias Interfax. Putin já ordenou vários exercícios militares sem aviso prévio em diversas partes da Rússia desde que voltou à Presidência, em 2012, argumentando que os militares precisam estar sempre em prontidão, mas desta vez o contexto geopolítico é claro.
O Distrito Militar Oeste faz fronteira com a Ucrânia, onde uma violenta crise política contrapõe grupos pró-Europa e pró-Rússia. Shoigu disse que o exercício será realizado em duas etapas, até 3 de Março, e que também envolve algumas forças na parte central da Rússia. Na república autónoma da Crimeia (de maioria russa), milhares de manifestantes a favor e contra a Rússia entraram em conflito em frente à Rada Suprema (o Parlamento local), na cidade de Simferopol, e começaram a lançar pedras, garrafas e paus. Segundo a imprensa local e russa, houve uma explosão e um grupo de manifestantes está a tentar invadir a Rada, que está a debater se reconhece ou não as novas autoridades ucranianas.
Manifestantes tártaros (pró-Ucrânia) gritam palavras de ordem e procuram impedir a realização da audiência em Simferopol (capital da Crimeia), pois consideram que a maioria pró-Rússia irá propor a separação da região autónoma. De acordo com a imprensa local, nas imediações do Parlamento local, onde desde ontem à noite foi hasteada uma bandeira russa, foram registados pequenos distúrbios entre os dois grupos. Pelo menos uma pessoa ficou ferida
Os deputados têm dificuldades em chegar ao Parlamento e vários soldados estão localizados nas imediações. A Rada debaterá hoje à tarde se apoia as novas autoridades que assumiram o poder em Kiev após a destituição do presidente Viktor Yanukovich. O Legislativo local é dominado pelos deputados pró-russos, já que os tártaros, que defendem a integridade territorial da Ucrânia, são minoria. Na sua opinião, o presidente do Parlamento local, Vladimir Konstantinov, decidiu convocar a sessão extraordinária «sob pressão de forças internas e externas que cultivam a ideia de separar a Crimeia da Ucrânia», disse.
Em Sebastopol, cidade portuária onde existe uma base naval russa, Alexei Chali, o prefeito nomeado pelos manifestantes pró-russos que se concentram na praça central desde o fim de semana assumiu o poder. Uma das suas primeiras decisões foi criar um centro antiterrorista para coordenar os órgãos de autodefesa da cidade face a possíveis ameaças, numa referência à chegada de activistas nacionalistas.
Por enquanto, a polícia e grupos civis instalaram postos de controlo nos acessos à cidade para impedir a entrada de carros e autocarros suspeitos.
O ministro do Interior da Ucrânia, Arsen Avakov, deslocou-se na segunda-feira à Crimeia para tentar acalmar os ânimos.
No domingo, mais de 50 mil pessoas saíram às ruas no porto de Sebastopol para protestar contra as novas autoridades de Kiev. Alguns analistas alertaram para a possibilidade de que, após a deposição de Yanukovich como presidente, regiões pró-russas do leste do país proclamassem a sua desobediência às novas autoridades e iniciassem um processo separatista.
Lusa