Qatar importa jiu-jítsu do Brasil para garantir segurança da próximo Mundial
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Natasha Bin Colaboração especial para o UOL, em Doha (QAT)
A Copa do Mundo de 2022 nem começou e já é considerada a Copa das polêmicas, mas também das oportunidades. Tendo o Qatar como palco, muito se especula sobre clima, cultura e construções faraônicas de um dos países mais ricos do mundo. Para um grupo de 30 atletas brasileiros, porém, é a chance de fazer história que prevalece. E não estamos falando do futebol que abre caminhos no Oriente Médio: o esporte da vez é o jiu-jítsu, que há um ano integra as Forças Armadas do Qatar e emprega brasileiros como instrutores.
O jiu-jítsu no Qatar
(https://conteudo.imguol.com.br/c/esporte/08/2018/09/21/treino-das-forcas-armadas-do-qatar-usa-jiu-jitsu-com-instrutores-brasileiros-1537571403502_v2_615x300.jpg)
Muito popular nos Emirados Árabes, onde o esporte é obrigatório nas escolas, nas forças armadas e na polícia, no Qatar o jiu-jítsu é novidade: chegou há menos de quatro anos pelas mãos de três xeiques adeptos da arte marcial. Percebendo o potencial da luta para a formação militar, o xeique Mohammed Al Thani, integrante da família real, iniciou o projeto de implantação do jiu-jítsu nas Forças Armadas. Para tal, contou com a ajuda do brasileiro Fabrício Moreira, dono da primeira (e única) academia da modalidade no país, que pediu indicações no Brasil sobre possíveis instrutores para se unirem à empreitada. "Quando a minha esposa me contou que eu havia sido indicado, eu nem liguei.
Achei que era brincadeira", lembra Wagner Nunes, proprietário de uma unidade da academia Alliance no Rio de Janeiro. O atleta, tricampeão brasileiro No-Gi e bicampeão sul-americano, foi entrevistado pessoalmente pelo xeique, que veio ao Brasil selecionar o time que implantaria a modalidade no país. Em agosto de 2017, 30 brasileiros embarcaram rumo à capital Doha com a promessa de reconhecimento profissional e financeiro.
(https://conteudo.imguol.com.br/c/esporte/3a/2018/09/21/marcelo-bernardo-um-dos-professores-de-jiu-jitsu-brasileiros-que-estao-treinando-as-forcas-armadas-do-qatar-para-a-copa-1537571184957_v2_300x300.jpg)
Qatar paga mais
Competitivo, o Qatar superou os Emirados Árabes na proposta financeira para atrair os melhores instrutores brasileiros para o país. O pacote inclui casa, plano de saúde e passagem de ida e volta ao Brasil uma vez por ano para toda a família. Em Abu Dhabi, por exemplo, a remuneração média do professor de jiu-jítsu é equivalente a 16 mil reais, já em Doha, o valor passa facilmente dos 20 mil reais. "Aqui temos a melhor estrutura e suporte para os professores no mundo, sem contar a visibilidade por conta do pioneirismo", ressalta Wagner, que dobrou seus ganhos em relação ao Brasil.
Para Marcelo Bernardo, atleta sete vezes campeão europeu e que já ensinou o esporte em Portugal e na Rússia, o Qatar virou o sonho de muita gente. "Quando cheguei, recebia dez mensagens por semana de atletas perguntando como mandavam o currículo". Segundo ele, o esporte tem futuro promissor no país: até dezembro, chegam mais 30 coaches brasileiros. E ainda há espaço para pelo menos mais 200 nos próximos quatro anos.
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O jiu-jítsu e a Copa do Mundo
O principal papel do jiu-jítsu no Mundial de futebol será garantir a defesa pessoal dos cidadãos do Qatar, principalmente do emir, dos xeiques e das demais autoridades. "É um esporte de imobilização. Não é preciso dar soco ou chute. Você vai usar o jiu-jítsu para imobilizar a pessoa e tirar ela dali", explica o carioca Marcelo Bernardo.
Em um ano atuando nas Forças Armadas, os 30 coaches brasileiros já formaram mais de mil cadetes em defesa pessoal, incluindo qataris que integrarão a tropa de choque que vai atuar na Copa de 2022. Servir o exército é obrigatório no país por pelo menos um ano e, desde o ano passado, o jiujítsu também se tornou mandatório aos cadetes, que treinam três horas por dia, quatro vezes por semana. "O nosso trabalho é focado em defesa pessoal para a Copa, não estamos formando competidores. Isso virá depois de 2022", ressalta
Marcelo.
O fator psicológico do esporte também agrega na formação militar. "O jiu-jítsu traz autoconfiança e vai fazer com que eles estejam aptos para agir em qualquer situação que surgir", confirma Wagner. O grupo de brasileiros atua junto aos ingleses na formação tática da tropa de choque que vai garantir a segurança no mundial. "Mostramos que o jiu-jítsu é a luta mais eficaz e pode ajudar na contenção de multidões, por exemplo".
Clima e cultura são adversários
Ao aterrissar no país, já é possível sentir um dos primeiros desafios da experiência no Oriente Médio: o clima desértico. "É um calor intenso. Já cheguei a pegar 55 graus", lembra Marcelo, que trocou o frio da Rússia pelas altas temperaturas do Qatar. O idioma também é uma dificuldade, já que nem todos os árabes falam inglês.
Mas é o sedentarismo dos alunos que mais surpreende os professores brasileiros. "O maior desafio é vencer a preguiça, tanto pelo horário da aula como pelo fato de eles nunca terem feito atividade esportiva", conta Wagner. A primeira aula de jiujítsu do dia começa às 5h da manhã, antes mesmo de os cadetes tomarem o desjejum. "Eles acordam por volta das 4h para rezar e já seguem para o treino, mas a vontade da maioria é voltar a dormir".
Além de ensinar defesa pessoal, os coaches tentam mudar o estilo de vida dos jovens árabes, que não costumavam ter educação física na escola. "Estamos tentando tirar aquele vício deles de serem sedentários, de saírem da frente do videogame e do celular", defende o coach Marcelo. Outro fator que se soma à preguiça é o desconhecimento, já que o esporte não faz parte da cultura da população. "Você sai do Brasil e vê todo tipo de nacionalidade querendo aprender jiu-jítsu. Aqui é um trabalho avesso. Primeiro, temos que mostrar para eles o que é o esporte para, então, eles quererem treinar. Às vezes, é mais psicológico do que físico", conclui. E depois de um ano de projeto, o coach já vê resultados. "Muitos saem do exército e querem continuar treinando".
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FONTE: https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2018/09/24/qatar-importa-jiu-jitsu-do-brasil-para-garantir-seguranca-da-proxima-copa.htm
Combate Tático Desarmado
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Teste duríssimo para os contendores, a competição Combate Tático Desarmado é, nas palavras de um competidor, “o mais próximo de uma briga de rua”
O Combate Tático Desarmado foi concebido por mim através de um corpo de experiências e ideias adquiridas em 30 anos praticando modalidades de combate corpo a corpo, sendo 25 anos de prática dedicada exclusivamente ao Jiu Jitsu, sete anos lutando MMA, e uma experiência no Exército.
E como sempre apreciei sobremaneira o combate real e tudo aquilo que estivesse correlacionado, quis o Senhor do destino que eu conhecesse o Jiu Jitsu, o que me despertou enorme simpatia pela prática já no primeiro contato; e mesmo depois de tanto tempo treinando, ainda mantenho a mesma empolgação do dia em que iniciei.
De forma alguma seria ousadia minha dizer que o Jiu Jitsu desenvolvido pela família Gracie é a melhor plataforma de combate tático desarmado que existe, e, com os ensinamentos do mestre Hélio Gracie de um combate real, mais a minha necessidade de treinar, competir e estudar o real combate, algo direcionava a minha atenção para o desenvolvimento de uma competição de Jiu Jitsu com poucas e diferenciadas regras, usando roupas do dia a dia.
E, assim, iniciou-se uma verdadeira saga mental e física para criar algo que se tornasse a máxima da legítima defesa, e com o passar do tempo, vi que era possível não apenas desenvolver, mas inovar criando uma competição que pudesse simular uma ocorrência policial ou um ambiente de guerra.
Na continuidade das informações descritas nas linhas acima, criei uma área de competição totalmente hostil, que é um tatame coberto com grossa camada de barro e pedra, algo nunca antes visto, e os competidores deste literal palco de guerra seriam os mais qualificados “cascas grossas”, aqueles que são conhecidos como a ponta de lança na defesa da sociedade, os operadores de segurança pública e forças armadas.
É inevitável que durante os combates ocorram lesões, pois, conforme já disseram alguns operadores que participaram do evento, “é o mais próximo de uma briga de rua”.
Esteja sempre pronto, pois é parte do protocolo encarar a realidade de um combate (ipsis litteris) e também as suas consequências.
Dificuldade extrema
O Combate Tático Desarmado não foi desenvolvido para ser fácil, fato que merece ser observado e está relatado nas linhas abaixo.
É um teste difícil, lutar em uma competição que terá o atrito de barro, pedras, usar coturno e uniforme tático, e, se vencer, seguir adiante com cortes e outras lesões, fadiga, e a cada nova luta enfrentar um adversário ainda mais difícil que o anterior, que está sedento pelo próximo combate e espera uma vitória assim como um predador espera pela sua presa.
O público costuma apresentar um olhar de espanto, preocupação, e até um certo medo, pois são reações notadamente perceptíveis de quem tem o primeiro contato com o Combate Tático Desarmado, já que em um primeiro momento, é difícil entender, aos olhos do senso comum, como se entreter com guerreiros combatendo em um cenário surreal, um tanto quanto atípico para os moldes competitivos convencionais aos quais estão acostumados, e que continua chamando a atenção para uma das regras, que obriga dar continuidade mesmo com as roupas rasgadas ou sem o coturno, caso saia durante o combate.
Mas o olhar de espanto do público agora cede espaço para admiração, pois são testemunhas oculares de combates de alta intensidade.
Mas tal espanto também se manifesta naqueles que participam lutando no evento pela primeira vez, pois enquanto o público tem seu senso comum literalmente invadido por uma grande carga de adrenalina e emoções que os fazem vibrar e curtir cada queda ou finalização aplicada, os guerreiros competidores também recebem seu saldo de emoções com altas doses de reações químicas acontecendo em seus corpos, com picos de adrenalina e cortisol resultando em um estado profundo de atenção máxima fazendo-os entrar no modo “lutar pra vencer até as últimas consequências”, comportamento comumente conhecido por “mentalidade de combate”.
Tempos difíceis
Durante os combates surgem cortes e outras lesões, e notadamente os comandantes das instituições que estes operadores representam, o público presente e também os telespectadores, seguem atentos na competição ao admirarem a força e tenacidade que estes operadores demonstram, e isto só faz com que o espírito meritocrático se manifeste incontestavelmente nos campeões de cada edição, que se diferenciam não só pelo seu alto nível técnico de combate corpo a corpo ou condicionamento físico, mas por apresentarem um grau elevadíssimo de uma conduta resiliente, fruto de uma mentalidade diferenciada que os faz ser “os primeiros entre os iguais”, fenômeno resultante de uma expressão que diz, “a mente sobre a matéria”.
O evento é difícil, meritocrático ao extremo, e tenham a certeza de que foi realmente desenvolvido para ser um teste ingrato, mas quem o vence, pode ter por um breve momento (até a edição seguinte) a certeza que suas capacidades técnicas e convicções de combate corpo a corpo estão atualizadas, e pode, sim, ser considerado um mestre do Combate Tático Desarmado.
O Combate Tático Desarmado como competição de Jiu Jitsu para policiais e forças armadas trará ao competidor o entendimento de que seu tempo deve ser dedicado ao treinamento, seja ele de âmbito físico ou intelectual (o equilíbrio entre ambos é o indicado), e o adestramento bélico e de combate corpo a corpo deve ser encarado de maneira ímpar, pois o homem em sua essência deve estar sempre preparado para eventuais guerras.
Portanto, tenha consciência de que o resultado deste processo servirá não apenas para sustentar sua vida nos momentos mais difíceis, mas também a integridade daqueles que o ombreiam diariamente, ao passo em que tudo isso honra a sua existência, a instituição representada, apraz seus comandantes e, por fim, Você será um dos guardiões dos valores morais que nem o tempo conseguirá apagar. Compreenda que “só o Jiu Jitsu salva” [1].
Um brinde aos tempos mais difíceis, pois eles são nossos melhores mestres.
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